sexta-feira, 13 de março de 2015

Sem medo das palavras: é hora de definir bem os lados, por João Paulo

Sem medo das palavras

Do Brasil de Fato:
"No momento é bom deixar límpido: vivemos a luta de classes, temos esquerda e direita, pobres e ricos, verdade e mentira" 
 

Por João Paulo

Há a história dos vencedores e a dos vencidos. Entre as duas, infelizmente, parece dominar no Brasil uma certa tendência à conciliação. Mas na vida, como na política, as coisas são o que são, não o que dizem delas. O atual momento, entre outras ações inadiáveis, está convocando todos a tomar a palavra em sua expressão mais explícita e verdadeira. Como o personagem de García Márquez em “Cem anos de solidão”, talvez tenha chegado a hora de escrever o nome das coisas para que possamos reconhecê-las.
 
No Brasil, há uma direita perigosa, golpista, reacionária e que detesta não apenas a incipiente ascensão social, mas os pobres. É uma aversão essencial, um ódio que se mostra pela vontade de exterminá-los, se não do mundo, pelo menos de seu raio existencial de ação. E pobres, mesmo com a suavidade da expressão “nova classe média”, continuam existindo, não por determinação dos deuses, mas pela mão dos homens que os exploram para ser cada vez mais ricos. 
 
No país também existe preconceito racial, violência contra as mulheres, desprezo pelas minorias. Somos uma sociedade que exclui, maltrata e criminaliza a miséria. Que mata jovens pretos e pobres – e acha que isso é normal –, que defende o mérito para depois lançar mão dos privilégios, que detesta gente. A recente exacerbação da onda de raiva social tem origem em todos esses comportamentos que, antes relativamente constrangidos, agora se assumem de forma orgulhosa na boca da elite branca. O nome disso é barbárie. 
 
A defesa da desmontagem do Estado social e da distribuição de renda que vem se articulando nos últimos 12 anos é mais que uma oposição de projetos, é um esforço reativo para anular conquistas em nome de valores que definem a primazia do mercado. Assim, mesmo que com argumentos pretensamente técnicos, o que está por trás é um ataque ao emprego, ao crescimento do salário mínimo e às garantias trabalhistas. A palavra para isso é exploração. 
 
Além disso, a imprensa hegemônica brasileira é mentirosa, monopolista, induz a falsas conclusões em nome da “opinião pública” (como dizer que “os brasileiros” bateram panelas contra a presidenta, e não alguns brasileiros – e era dever da mídia se esforçar para identificá-los por padrões sociológicos e políticos para informar bem a seu leitor), dramatiza e estimula ações antidemocráticas. As palavras certas para isso são manipulação e mentira.
 
Nos momentos de tensão, é preciso deixar a tendência à conciliação de lado e se esforçar para definir bem os lados. É dessa clareza de posições que será possível, nas instâncias adequadas – a rua, o parlamento e até mesmo a Justiça – a emergência da política com seu conflituoso raio ordenador. No momento é bom deixar límpido: vivemos a luta de classes, temos esquerda e direita, pobres e ricos, verdade e mentira. 
 
E, certamente, serão as palavras, tanto quanto as ações, que definirão as manifestações que tomam conta do Brasil a partir de hoje. De um lado os ricos, direitistas, golpistas, mentirosos, preconceituosos e antidemocratas vão gritar coisas tipo “vaca”. É o padrão de sua educação política e moral. De outro, os pobres, de esquerda, defensores da dignidade humana e da democracia vão levar palavras em defesa do país, de suas instituições e do poder que emana do povo. 
 
A hora, sem medo da verdade, é de defender o mandato de Dilma Rousseff, mesmo com as contradições de seu governo. E seguir pressionando para que ele avance nas mudanças urgentes - taxação das grandes fortunas, reforma agrária, cerco ao rentismo, democratização dos meios de comunicação - e para que seja feita uma profunda reforma política no país.
 
 

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