sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Morangos Silvestres: assista o filme e leia a interpretação do famoso filme de Ingmar Bergman

Smultronstället (Morangos Silvestres) é um premiado filme sueco de 1957, do gênero drama, escrito e dirigido por Ingmar Bergman. O título original, em sueco, refere-se ao lugar onde se encontram morangos silvestres.
Veja o filme e leia a interpretação do filme.




Clique abaixo para assistir o filme:

Morangos Silvestres [Filme Completo - Legendado] - YouTube

www.youtube.com/watch?v=TQIbFVoriD8

''Morangos Silvestres'' (Smultronstället), Suécia, 1957, dir.Ingmar Bergman /Drama. 


Análise:
Ingmar Bergman, o conceituado e influente realizador sueco, é um exemplo de como o surrealismo entra no cinema. É frequente na sua obra encontrarmos sonhos, alegorias, simbolismo, ou passagens ilógicas, como modos de contar uma história. Não se podendo chamar aos seus filmes surrealistas (afinal o surrealismo puro era apenas uma aspiração dos anos 20 do século XX), estes elementos são fundamentais no cinema de Bergman.
Exemplo de tal uso de elementos surrealistas é o filme “Morangos Silvestres”, a história de Isak Borg, um homem de ciência, em fim de vida (interpretado com elegância pelo antigo realizador Victor Sjöström), que perante a ideia da morte faz uma reavaliação da sua vida.
Uma longa viagem de carro é o terreno fértil para o contacto mais próximo com a nora Marianne (Ingrid Thulin), que o acompanha e o despreza. Serve também para conhecer e reencontrar pessoas que surgem ou partilham parte do seu caminho, e despoletar memórias e sonhos sobre o passado. Através de todas essas incidências Isak apercebe-se de que é visto como um homem frio, egoísta e cruel, cuja vida de cientista fez dele um observador sem envolvimento emocional com os que o rodeavam. Compreende assim como os caminhos seguidos e as escolhas passadas o afastaram de quem amava, o impediram de viver, e impossibilitaram de ter relações felizes com os outros.
O filme intercala sonhos e memórias com as situações que ocorrem durante a viagem, mas mesmo estas, embora no terreno do realismo, têm a sua componente simbólica, e veja-se alguns exemplos.
A nora Marianne, ao falar a Isak da sua possível separação do filho deste, Evald (com quem Isak é tão parecido), é para o velho professor, o relembrar do seu casamento falhado. Os jovens a quem Isak e Marianne dão boleia, representam a juventude e inocência, não sendo por acaso que a rapariga se chama Sara e é interpretada pela mesma actriz (Bibi Anderson) que interpreta a outra Sara, o amor de juventude de Isaak. Também esta Sara é jovial, inocentemente sonhadora, e cortejada por dois homens. Atente-se na despedida final e no “Não esquecerei” de Isak, quando Sara lhe declara o seu amor, e temos uma das muitas interdependências entre o passado e o presente. Por fim o casal Alman, encontrado no caminho, após um acidente de automóvel, é o recordar das brigas entre Isak e a sua falecida esposa.
Mas se estas cenas (em que se poderia incluir a visita à mãe de Isak, e o reconhecimento na bomba de gasolina – num cameo do jovem Max von Sydow), estão no campo do realismo, o surrealismo é trazido pelos vários sonhos de Isak.
O primeiro, várias vezes imitado por outros autores (ver por exemplo Woody Allen), mostra-nos um relógio sem ponteiros, uma cidade vazia, um homem sem rosto, uma carruagem sem cocheiro, que choca insistentemente contra um poste, símbolos de solidão, frieza emocional e teimosia. O sonho culmina num caixão caído por terra, onde o morto não só puxa Isaak, como se revela como sendo ele próprio. No segundo sonho Isak é submetido a um teste que não compreende. É acusado de ser culpado, é interrogado sobre regras da medicina, obrigado a ler um texto sem sentido, tem de analisar ao microscópio o seu próprio olhar, e por fim tem de diagnosticar uma morta que volta à vida para se rir dele. De notar que o examinador é o Sr. Alman, e a esposa morta a Sra. Alman. É levado de seguida para ver a esposa a traí-lo, assistindo à raiva desta por saber que nem isso irá provocar emoção em Isak. A sua pena é a solidão. A culpa são as mortes (figurativas) que causou com precisão cirúrgica.
Este olhar de fora para acontecimentos passados proporciona vários olhares sobre a juventude de Isak, em que este ora observa, ora participa, falando com Sara (a já citada Bibi Anderson), que nos revela que embora Isak seja o homem ideal com quem casar, ela prefere o calor e aventureirismo do seu irmão. Isak está presente nestes momentos da juventude como idoso, e é como idoso que é tratado. Alguém que nunca se soube emocionar, abrir, dar, e por isso foi sempre um velho, como o relembra a prima e amante Sara, na cena do espelho.
Mas se o filme é uma viagem (tanto exterior, como interior), ela surge-nos como uma razão de mudança. E esta é visível na relação para com Marianne, que aos poucos passa a gostar do velho sogro. Essa mudança expressa-se na necessidade de Isak de acreditar que a vida do filho será diferente da sua, e vê-se como tenta construir novas pontes, seja no carinho para com a sua governanta, ou no olhar final que dirige às memórias da sua família.
Os sonhos, as memórias, as conversas, as incidências do caminho trouxeram a Isak toda a paz que a sua vida e carreira (ou o prémio vazio que fora receber) nunca conseguiram dar, e que surge agora, antes da morte que parece insinuar-se. Por isso a última imagem do filme é o rosto agora tranquilo de Isak, no seu leito, resplandecendo com uma nova paz.
Vencedor do Urso de Ouro de Berlim e dos Globos de Ouro nos EUA, “Morangos Silvestres” toca-nos pelo olhar sincero e humano sobre uma vida, numa história nostálgica e bucólica, onde a inter-relação entre sonhos, memórias e encontros, ficou como uma lição de Bergman (de toques autobiográficos), tantas vezes seguida por outros autores.

Interpretação do filme "Morangos Silvestres" - Ingmar Bergman.

Por Verusa Silveira
Médica Psiquiatra 

Psicoterapeuta Junguiana e Transpessoal 


Interpretação do filme Morangos Silvestres, uma obra prima do grande diretor sueco Ingmar Bergman, escrito e dirigido em 1957.

Recebeu prêmio no Festival Internacional de Berlim como melhor filme em 1958 (Urso de Ouro).

Em 1960 recebeu o (Globo de Ouro) na categoria de melhor filme estrangeiro.

Elenco Principal:
Victor Sjostrom – Prof. Isak Borg
Bibi Anderson – Sara
Ingrid Thulin – Marianne
Gunnar Björnstrand — Evald Borg
Björn Bjelfvenstam — Viktor
Julian Kindahl –Agda
Folke Sundquist – Anders
Naima Wifstrand – Sra Borg, mãe de Isak

O filme trata de uma jornada interior de um cientista médico de 78 anos de idade, que compartilha seus sonhos e lembranças de infância e juventude, sendo rico em simbolismo, vivenciado através de seu Processo de Individuação ou transformação, que pode ser deflagrado a qualquer momento da vida, até mesmo na velhice próximo da morte, que, aliás, é uma grande chance para o salto quântico. No filme, a mobilização se dá através de sonhos que são grandes mensageiros do inconsciente, estados alterados de consciência com visões e imagens do passado e recordações, encontros inesperados e acontecimentos sincrônicos. A mobilização provocada por esses mecanismos criaram possibilidades de encontro com suas próprias máscaras comportamentais e com a sombra.

Essa narrativa inicia com Isak em seu escritório, fazendo reflexões sobre sua vida, ao lado de um cachorro de porte aristocrata e sua postura corporal e fácies demonstra melancolia. Considera-se um velho meticuloso e difícil na convivência. Afastou-se do social e tem uma boa empregada Agda que cuida do seu cotidiano para sua sorte, durante 40 anos. Sua mulher é falecida há muitos anos. Tem uma mãe muito idosa e também vive só e permanece ativa. Tem um filho médico casado há 06 anos e não tiveram filhos.

Isak está se preparando para uma viajem à Lund, cidade onde ele irá receber um prêmio de Doutor Honoris Causa pelos cinqüenta anos de carreira como médico bacteriologista e professor exemplar.

Na véspera da viagem ao deitar, sonhou:

Durante sua caminhada matinal, ele entrava numa parte desconhecida da cidade e se perdia nas ruas desertas e solitárias com casas em ruínas num ambiente bem nebuloso.

Ele avista no alto de uma construção, pendurado na parede, um relógio grande sem ponteiros e faz uma conexão com seu relógio de bolso também sem ponteiros. Segue caminhando perdido e avista de costas um homem de chapéu e, sobretudo, semelhante a sua forma de se vestir. Vai em sua direção e o toca, aparecendo um homem sem boca e olhos como um fantasma bem ameaçador; em seguida sangra e se dissolve no chão.
O relógio badala. Aparece numa esquina uma carruagem fúnebre, com dois cavalos negros, carregando um caixão. Suas rodas ficam presas no lampião de luz da rua e se soltam, vindo na direção do sonhador, despedaçando-se na parede. A carruagem vira e o caixão abre e aparece o moribundo com as mãos abertas chamando Isak e seu rosto se assemelha ao dele.

O cenário do sonho são ruas desertas e casas em ruínas, que se refere ao espaço psíquico do sonhador nesse momento: deserto, solidão e destruição, instinto de morte prevalecendo.

Os personagens são ele mesmo, o homem sem face, e o defunto.

O relógio é um mecanismo que marca o tempo. Este no caso não pode mais fazê-lo porque está quebrado. Não há mais tempo. No inconsciente não existe tempo.

Através dos sonhos, podemos observar acontecimentos do passado, presente e futuro.

Ele acorda perplexo, amedrontado, abatido diante do sonho e decide cancelar a viajem de avião e dirigir seu próprio carro numa viagem longa de Estocolmo a Lund. Sua empregada se surpreende com a nova decisão, pois já estava preparada para acompanhá-lo. Marianne, sua nora, pede para ir junto e ele concorda.

Todas as imagens desse sonho expressam a morte.

O sonhador, um idoso, está finalizando um ciclo de sua vida, se reavaliando diante da grande travessia. O medo lhe impulsionou a assumir a direção de seu carro, se transformando em ato de coragem e teve a solidariedade da nora que também enfrentava uma crise crucial no casamento e precisava desabafar.

Acompanhar nossos sonhos traz elaborações importantes para nossa vida.

O personagem escutou seu sonho e quis contar para sua nora que não deu importância.

Durante a viagem, ela o acusou de egoísta e de que seu filho não o amava e que ela tem pena dele. Diante do abatimento, Isak decide revisitar a casa de veraneio de sua infância. Um local integrado com a natureza, defronte a um belíssimo lago com um píer de madeira. O espaço pitoresco é um canteiro de morangos, inspiração para o título do filme que se encontra no centro da vegetação frondosa.

Marianne vai se banhar no lago e Isak mergulha em suas lembranças de infância. Ele é o filho mais velho dos 10 irmãos. Sua mãe é uma mulher muito forte, autoritária, fria, dura, com feições masculinas. O pai parece ausente nas suas recordações.

Isak está bem sensível ao seu inconsciente e surgem lembranças fortes, como se fossem visões, com sua participação consciente.

Diz: “É possível que eu tivesse ficado sentimental e tivesse me interessado por coisas da minha infância”.

Essa frase demonstra que ele está saindo da razão lógica que era seu estilo de vida para observar suas emoções e intuições.

Lembranças:

Isak está submerso em seu mundo interior quando vê diante de si, no canteiro de morangos silvestres, Sara sua prima, antiga paixão de sua vida, colhendo morangos numa cesta para dar de presente ao tio que fazia aniversário. Sara é uma moça bela e sedutora; ele vê seu irmão se aproximando e a seduzindo, dando-lhe um beijo.

Ela está conflitada entre os dois irmãos que a amam, sendo Isak rejeitado, criando uma marca em sua alma, uma ferida que ele não superou.

As recordações continuam com o almoço do aniversário, com sua mãe bem autoritária dando ordens a todos e criticando as atitudes na mesa. Sara é acusada de flertar Sigfrid, irmão de Isak, e ela nega em soluços. Sai da mesa e uma das primas a acompanha e ela confessa que se sente culpada em relação à Isak que é honesto, fino, sensível, lê poesias, fala da vida após a morte e gosta de tocar piano.

O personagem era um homem muito sensível e foi se enrijecendo com o passar do tempo, se identificando com a persona para se defender de suas frustrações.

Ele recorda com muita dor, esses acontecimentos.

Sincronicamente, coincidência do destino, aparece uma jovem na sua frente, bem vivaz, de nome Sara e lhe pede carona. Ele conta que teve uma namorada chamada Sara que hoje tem 75 anos e casou com seu irmão e tem 06 filhos.

Sara está acompanhada de dois jovens e Isak concordou com a carona, estando agora com 05 passageiros. Ela falava e sorria com facilidade sendo noiva de um deles. Repete-se um triângulo amoroso no contexto.

Em uma curva, surge outro automóvel em alta velocidade em direção a eles, capotando e seus ocupantes, um casal, saem ilesos do carro, porém discutindo muito com sérias acusações. Isak os convida a levá-los em seu carro e a discussão continua, havendo agressões físicas.

A tensão do casal criou desarmonia para os viajantes e sua nora pediu que eles se retirassem.

A crise conjugal mobilizou os conflitos que todos estavam passando em relação aos seus afetos do passado e do presente, se tornando insuportável.

Isak abria seu coração à medida que incluía varias pessoas diferentes, num convívio íntimo de uma viagem de carro. Sua nora dividia com ele a direção do carro e era mais amável com todos.

Um dos rapazes era músico, tocava violão, falava de religião e de Deus, e iria ser pastor. O outro acreditava na ciência e iria ser médico. Durante o percurso, houve discussão e agressão física entre os dois. Cada um queria impor sua verdade. O que estava oculto nessa briga é a disputa por Sara que está confusa em sua decisão. Isac rememora seu conflito amoroso e também aspectos de sua personalidade dividida.

Os encontros que temos na vida são oportunidades e funcionam como espelhos de nossa alma pelos aspectos positivos ou sombrios da realidade.

O personagem Sara veio despertar em Isak, o amor Eros através da vida que ela irradiava com sua alegria espontânea e inocente de sua alma jovem e com desejo de amor ardente.

Isak despertou sua Anima, o arquétipo do feminino inconsciente no homem, responsável pela afetividade e expressão dos sentimentos, a partir da segunda metade da vida, onde a busca de dar um sentido à existência se torna mais intenso. Isak ficou mais vivo, participativo e amistoso. Ele redescobre o prazer e a alegria de viver.

A nora, também aspecto de sua anima, uma mulher inteligente que o confronta no seu masculino e ele aceita à medida que desenvolve afeto por ela e também a intenção de resgatar o filho. A relação foi se humanizando e havia uma harmonia entre eles.

Sara diz que é virgem e fuma cachimbo no carro; Isak aceita tudo e diz que os dois homens a amam. Vemos que ele está perdoando o passado e se reconciliando.

Chegam a Lund e vão ao posto de gasolina abastecer o carro. Um casal de jovens, donos do posto, o reconhece como médico da cidade que ajudou muita gente. Isak fica surpreso com o reconhecimento trazendo uma dose de otimismo e confiança para sua entrada nesta cidade onde exerceu a medicina com dedicação. O casal deu de presente a gasolina e disseram que o novo filho terá seu nome em sua homenagem. Isak diz que gostaria de ser o padrinho. Os gestos de afeto se multiplicam durante o percurso.

O grupo decide almoçar bem alegre, estando Isak bem integrado com os jovens, sorrindo e relaxado. Bebe vinho, fuma cachimbo e conta suas histórias nessa cidade como médico.

O rapaz imaginativo Anders cita um texto:

“Quando tal beleza se manifesta em cada veio da criação... como deve ser bom ser a primavera imortal.”

Victor diz que não deveriam mais discutir Deus ou Ciência nesta viagem.

Anders diz que “o homem vê a morte com medo.”

Perguntam a opinião do professor, que prefere ficar calado e diz:

“Onde está o amigo que procuro em toda parte?
O amanhecer é a hora da solidão e do carinho.
Quando o dia se vai...
Ainda não o encontrei.”

Anders diz:

“Um fogo invade meu coração,
Sinto sua presença.”

O Senhor é religioso?

Isak responde:

“Vejo sua Glória poderosa onde nascem as flores.
As flores têm perfume,
E as montanhas se elevam.”
Marianne diz:

“Seu amor está no ar que respiro.
Ouço sua voz sussurrando no vento do verão.”

Foi um almoço inspirado e a energia puer entusiasmada dos jovens se integra ao senex, o idoso onde prevalece a prudência e reflexão. Essa complementaridade proporcionou a transformação de todos.

Isak vai visitar sua mãe que reside na casa maior da cidade. Marianne o acompanha.

A mãe o recebe orgulhosa do título, o parabeniza, porém cria um constrangimento típico de sua personalidade ríspida ao pedir que a mulher se retire, imaginando que se trata da sua esposa já falecida há muito tempo, se referindo ao sofrimento que ela causou em toda a família. Trata-se de uma idosa amarga, ressentida, fria, calculista. É também um aspecto de sua anima mais importante, pois se trata de sua mãe, modelo da anima do homem.

Ela mostra uma caixa onde guarda recordações da família e Isak pede um porta-retrato onde ele está com a mãe e o irmão Sigfrid. Esse fato demonstra que ele já pode aceitar e perdoar o irmão fazendo parte do caminho da redenção antes de morrer.

Ela mostra uma boneca à sua nora que a carrega. Antes, ela a critica por não estar com o marido e não ter tido filhos. Ela exibe sua árvore genealógica com 10 filhos, 20 netos e 15 bisnetos. Diz que só lhe procuram para pedir dinheiro emprestado e estão ansiosos para receberem a herança e ela não morre.

É uma velha solitária e apesar de ter uma família numerosa, o único neto que a visita é Evald, marido de Marianne.

Na despedida, ela pede ao filho que leve um presente para o neto que vai fazer 50 anos, filho de Sigfrid e Sara. É um relógio de bolso sem ponteiros igual ao do sonho. Isak fica perplexo diante da coincidência já prenunciada no sonho revelando acontecimentos futuros.
Despedem-se da gélida anciã e encontram os dois rapazes próximos ao carro lutando fisicamente pela discussão de idéias entre religião e ciência.

A viagem prossegue e Isak está muito cansado e sonha dentro do carro.

“Vê no céu uma revoada de pássaros negros e logo em seguida avista o canteiro de morangos e Sara reaparece com um espelho pedindo que ele se veja como um velho assustado que logo morrerá, e ela tem uma vida pela frente. Pede desculpas se o ofendeu. Ele aceita suas agressões e ela coloca novamente o espelho em sua frente pedindo que não desvie o olhar e informa que vai se casar com seu irmão e que ele tente sorrir.

Como dói, ele diz. Ela se despede desqualificando-o mais ainda, correndo no campo em direção a um berço onde estava seu filho e o acalenta. “Estou aqui com você; não tenha medo”. Sara e o filho entram na casa. Repete-se a revoada dos pássaros e Isak vê através de uma janela Sara e seu irmão se encontrando amorosamente, fazendo um drinque numa refeição que parece uma celebração. A lua cheia aparece no céu. Isak olha para o berço vazio, vê a cena amorosa e olha para o céu como se implorasse algo.

Bate com insistência numa porta e se fere com um prego. Aparece um homem que o reconhece como Prof. Borg e o manda entrar. É um inspetor que vai testar sua capacidade profissional. Abre-se uma nova porta e caminham num longo corredor em direção a uma nova porta, onde existe um auditório e seus companheiros de viagem estão sentados.

O inspetor o interroga se trouxe seu livro e manda que ele identifique uma bactéria no microscópio. Ele não consegue ver nada. O inspetor diz que o primeiro dever de um médico é pedir perdão. Ele indaga se foi acusado de culpa e pede clemência durante o exame. O inspetor pede que ele faça o diagnóstico de uma paciente e ele diz que está morta. O rosto é semelhante à mulher do casal que ele deu carona; ela ri muito alto, zombando de si.

A conclusão do exame é que ele é incompetente.
Sua esposa faz acusações e ele terá que confrontá-la.

Andam por uma floresta e aparece sua mulher acompanhada por um homem que a toma nos braços com violência e a possui. O inspetor mostra que ele guardará essa imagem.
A mulher dialoga com seu amante e acusa o marido de frio e sente culpa de traí-lo.

O inspetor indaga: Percebe o silêncio?
Tudo se foi.
Qual será a pena?
A Solidão.

Isak diz para sua nora ao acordar que sonhou e “estou morto apesar de vivo.”
Ela está mais receptiva para escutá-lo.

Continuam suas elaborações através dos sonhos, aparecendo Sara um aspecto de anima cruel o desqualificando e rompendo sua ilusão amorosa, mostrando sua real escolha.

O espelho simboliza a possibilidade de enxergar a verdade.

A criança é um símbolo do Self e pode estar representando o acolhimento de uma nova atitude. O sonhador vê o encontro amoroso de Sara com seu marido e filho. É provável que ele esteja incorporando uma nova visão com aceitação da realidade. Um ciclo se fecha e o inconsciente lhe transmite mensagens para que o consciente se transforme e se recrie.

O inspetor é uma parte sua que julga e pune seus atos, desqualifica e lhe impõe um isolamento. Isak está reavaliando sua consciência e é muito rigoroso. Os personagens que assistem seu exame também são aspectos seus que estão lhe observando. O seu casamento e a morte da esposa estão passando por novas investigações.

Ele comenta seu sonho com a nora e esta confessa que seu marido também está morto vivo e tem apenas 38 anos.

Marianne recorda um diálogo com Evald dentro do carro onde informa que está grávida e este abomina a idéia de ter um filho. Ela diz que vai assumi-lo. Ele sai do carro numa tempestade e pede que ela opte entre ele e o filho. Diz: “Eu fui um filho indesejado de um casamento infernal; acho essa vida, um lixo”. Retornam ao carro e ele confessa que o necessário da vida é morrer. O sogro a ouve atentamente e diz que ela pode fumar e indaga como poderia ajudá-los. Ela responde que não quer continuar vivendo desse jeito. Esse diálogo remete ao Princípio de Thanatos, que simboliza destruição.

Nesse mesmo instante, os jovens aparecem na janela do carro bem alegres, cantando, e oferecem um ramalhete de flores do campo a Isak comemorando sua vitória como pessoa bem sucedida.

Vemos nessa cena a atitude oposta de Thanatos a Eros que é desejo de viver, construir, criar.

Estão chegando à reta final da viagem e são recebidos por Evald e Agda que hospedam os rapazes que irão assistir à cerimônia quase fúnebre tal a formalidade e as vestes negras dos participantes, desfilando para receber o prêmio numa catedral. Ele é coroado como um rei, simbolizando poder máximo que um ser humano pode alcançar. Os jovens acompanham da rua sorrindo, totalmente informais.

Isak pensa nos acontecimentos do dia e decide que irá escrever tudo que observou e vivenciou dizendo que havia uma “casualidade memorável” nos fatos.

Recolhe-se para dormir bem cansado e pede a Agda para se chamarem pelos seus nomes, tentando humanizar e criar intimidade na relação e esta se recusa dizendo que ele deve se comportar na idade dele e mantém o limite de empregada fiel que o serve com muito amor.

Os rapazes fazem uma serenata de despedida e Sara declara que o ama muito “hoje, amanhã e sempre”.

Essa declaração de Sara no presente é essencial ajudando na cicatrização do seu passado. É um aspecto de anima positiva.

Evald e Marianne se preparam para ir a um baile e o salto do sapato quebra e ela volta para trocá-lo. Observamos um simbolismo de mudança de base representada pelos sapatos.

Isak chama seu filho para um diálogo e pergunta sobre suas decisões em relação ao casamento e ele diz que não pode viver sem ela.

Marianne agradece ao sogro pela companhia e diz que gosta muito dele, que retribui o afeto com abraço e carinho.

Isak pensa deitado em sua cama: “Quando fico preocupado ou triste, tento relaxar com as lembranças de minha infância”.

Aparece Sara no local comum de encontro e diz que não sobrou nenhum morango. Titia quer que eu procure seu pai.

Ele recorda a preparação para velejar na ilha. Diz que não encontrou nem o pai nem a mãe. Sara se oferece para procurá-los. Vão pegar o veleiro no píer; andam de mãos dadas no campo aberto de flores, bem luminoso. De longe, avistam o pai e a mãe. O pai pesca e ela está mais distante, sentada defronte ao lago.

Através dessas últimas lembranças, Isak reintegra o masculino e o feminino dentro de si, o arquétipo do pai e da mãe.

Ele acorda sorrindo com seu olhar de idoso reconciliado e em paz com sua vida.

Isak faz uma ressignificação de sua história com a ajuda dos sonhos e colaboração do destino colocando essas pessoas em seu caminho para lhe ajudarem a resgatar o amor que estava escondido numa persona austera, rígida, fria e uma sombra anti-social, mal humorado, pesado, sem desejo de viver, com o coração fechado. Sua afetividade foi sendo resgatada através do reconhecimento e aceitação de sua generosidade e compaixão como médico e ser humano, seu amor pela natureza que foi expresso através de poemas, sua sensibilidade pela arte possibilitando abertura para compartilhar a vida. Ele se reencontra com um nível mais profundo de sua consciência, a anima , ponte para o self, arquétipo da união, responsável pela integração dos vários aspectos de sua personalidade.

Agora ele já pode fazer a grande travessia com mais confiança na vida e não temer a morte.

Cinema no Consultório
realizado em 11/11/2010.

Focalizadora: Verusa Silveira
 (Coordenadora do Núcleo de Estudos Junguianos BA)





quarta-feira, 28 de outubro de 2015

CPMF pode ser ferramenta de combate à sonegação, diz Márcio Pochmann



Segundo economista, estudos estimam que 10% de todo PIB brasileiro equivale à sonegação que o Estado deixa de arrecadar, mas ressalta que o governo deve reduzir carga tributária sobre os mais pobres
por Redação RBA 
OSWALDO CORNETI/FOTOS PÚBLICAS
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Valores que foram sonegados já cobririam as contas públicas e poderiam ser investidos em outras áreas
São Paulo – “A CPMF é adequada, porque ajuda a enfrentar um problema sério no Brasil: a sonegação fiscal”, afirma o economista Marcio Pochmann sobre a possível volta da tributação. Em comentário hoje (28) naRádio Brasil Atual, o presidente da Fundação Perseu Abramo diz que o rombo deixado pela sonegação é um dos grandes problemas da sociedade brasileira. “Estudos realizados estimam que 10% de todo PIB brasileiro equivale à sonegação que o Estado deixa de arrecadar. A Receita Federal indica que a cada quatro pessoas, apenas uma declara imposto de renda.”
O economista conta que um dos pontos positivos da contribuição sobre movimentações financeiras, é o baixo custo de sua introdução no país. Porém, ressalta que muitas pessoas não são favoráveis a mais uma tributação. “É importante que o governo, ao defender a CPMF, reduza alguns impostos que atinjam os mais pobres no nosso país.”
Pochmann lembra que pessoas com maior poder financeiro são mais isentas de tributações do que os mais pobres. “Por exemplo, o IPVA: as pessoas que possuem automóvel pagam o imposto sobre a propriedade do veículo. Isso não ocorre para quem detém helicóptero, aviões ou lanchas. A tributação no Brasil pega as pessoas com menos recursos, e libera os mais ricos. Além da tributação indireta, que é aquela que está embutida nos preços dos produtos o pobre, proporcionalmente à sua renda, termina pagando o mesmo tributo que alguém mais rico. Poderíamos ter um imposto mais efetivo que seria uma tributação sobre os ricos.”
Ele afirma ainda afirma que um dos principais erros do Brasil é de que a sonegação não é tratada como crime. “Nos casos de corrupção, na maioria das vezes, estão envolvidos os recursos públicos, e o imposto é um dos recursos que não está sendo pago por ser sonegado e isso não é visto como crime.”
Ouça:

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

¨O Quarto Poder - Uma outra História¨, entrevista de Paulo Henrique Amorim falando sobre seu livro



 Entrevista com o jornalista Paulo Henrique Amorim, que fala do livro que acaba de lançar, "Quarto Poder, Uma outra História". No livro, com cerca de 500 páginas, Paulo Henrique relata memórias de 50 anos de atividade profissional, episódios protagonizados pelos grandes veículos de comunicação e os poderes de Brasília.

Clique abaixo para assistir a entrevista no programa ¨Questão de Honra¨ na TV Assembleia do Ceará:  

QUESTÃO DE ORDEM | Paulo Henrique Amorim - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=j5w6l3i8kYU
21 de set de 2015 - Vídeo enviado por TVAssembleiaCeara
QUESTÃO DE ORDEM | Paulo Henrique Amorim .... Atuação Do Quarto Poder Segundo Paulo Henrique Amorim

domingo, 25 de outubro de 2015

Pedro Patrus: BH está à venda?

O Tempo:


A cidade à venda?

Por Pedro Patrus

Privatizar, privatizar e privatizar. É assim que a atual administração tem se posicionado e agido com relação à cidade. A terceirização dos parques começa a dar os primeiros passos com os editais que foram abertos no Diário Oficial do Município (DOM), em parceria-público-privada (PPP). A atitude da prefeitura vai possibilitar que a empresa vencedora da licitação fixe preços para o acesso aos parques públicos da capital.
A raiz do problema é bem mais profunda. A PBH tem atuado de forma excludente, elitista e higienista. O trabalhador que tem poucos programas de lazer gratuitos vai ter que gastar mais com os passeios em família. O Zoológico, o Parque Municipal e o Mangabeiras recebem mais de 100 mil pessoas por final de semana. Cobrar pelo acesso a esses equipamentos públicos impossibilitará que as famílias de periferia possam usufruir destes espaços.
A ação da prefeitura é de não administrar nada e dar sinal verde a iniciativa privada para que ela possa explorar os espaços públicos. Já que o poder público não consegue gerir os parques, a sua saída disfarçada é da política neoliberal do estado mínimo, transferindo para o mercado a sua gestão. Isso já acontece nas Unidades de Educação Infantil – UMEIS – com muitas críticas dos profissionais da educação, gerando muito lucro para a Odebrecht. Além da gestão do sistema de Transporte Público entregue aos empresários e na terceirização do Hospital do Barreiro. Aliás, já temos Projetos na CMBH para a venda do subsolo do centro da cidade para estacionamentos, terceirização da política da Assistência Social e dos Cemitérios públicos.
O absurdo se arvora em uma política deliberada de entrega ao mercado. Ou seja, privatizam o lucro e socializam o prejuízo para toda a sociedade, inclusive para os mais pobres. Se pudermos fazer uma conta mínima: uma família de baixa renda composta por quatro pessoas. No fim de semana eles pagam oito passagens no total (a PBH sinalizou para que o reajuste volte: R$3,40); vão ao cinema: R$15 por pessoa, sem direito ao lanche. Uma família de baixa renda gastará de 15 a 20% do salário mínimo. O gesto da administração é que pobre fique em casa. Será que voltaremos ao tempo de ao invés ter uma cidade inclusiva teremos uma cidade dos ricos e a periferia abandonada? Quem vai querer privatizar a periferia? Criaremos assim, um muro de segregação e guetização. Nessa linha, os serviços voltados para quem pode pagar serão bem feitos, enquanto os serviços de pobres deixem aos pobres.
Uma cidade que deveria ter o símbolo da união e inclusão vai virar de novo uma cidade divida, na contramão de uma cidade democrática! É seguirmos a máxima da música “Pare o mundo que eu quero descer”: “ter que pagar pra nascer, ter que pagar pra viver, ter que pagar pra morrer”. A prefeitura não desenvolve seu papel, precariza os serviços e cria as condições para que o mercado “nos salve”. Colocaremos nossa cidade à venda? Somos contra isso! Somos a favor de uma cidade democrática, inclusiva e para todos. Ou será que também terceirizaremos o cargo de prefeito em uma licitação para administradores competentes, tirando do povo o direito, ou o “transtorno”, da eleição dos seus dirigentes?
Vereador Pedro Patrus – PT


sábado, 24 de outubro de 2015

Corte no orçamento do Bolsa Família é inaceitável



Por Paulo Moreira Leite:

É Preciso Defender o Bolsa Família Agora

Ameaçado por um corte de R$ 10 bilhões no orçamento de 2016, todo esforço em defesa do Bolsa Família será pequeno enquanto houver qualquer tipo de ameaça a um programa que tirou o país do mapa da Fome da ONU e atende 13 milhões de famílias que residem na fronteira da pobreza brasileira.
Não há truque retórico possível para se defender qualquer redução nos recursos de um programa que ganha urgência e atualidade na medida em que a crise econômica começa a assumir uma face dolorosa e feroz. A simples hipótese de que se cogite cortar 35% das verbas já é um escândalo em si.
O fato de que a proposta de redução tenha partido do relator-geral do Orçamento Renato Barros (PP-PR), cuja localização política fica clara até no plano doméstico -- sua mulher é a vice-governadora de Beto Richa, tucano de alta plumagem reeleito em 2014 para o governo do Paraná -- ajuda a entender uma parte do problema. A outra parte envolve o conjunto da situação política.
Mesmo considerando, em função do caráter absurdo e impopular, que uma proposta desse tipo tem grandes chances de ser derrotada pelos parlamentares, até pelo receio natural de serem punidos pelo eleitorado, ela demonstra que o país enfrenta um momento de ofensiva geral contra os direitos e conquistas recentes.
É a agenda fora de lugar. Em vez de debater caminhos para tirar o país da crise -- o que nunca se fez por iniciativas pouco inteligentes como reduzir o poder de consumo de grandes maiorias -- tornou-se obrigatório, pela conjuntura, defender aquilo que se tinha como assegurado e garantido. Em se tratando do Bolsa Família, envolve uma epopéia política cujo valor é mais celebrado do que compreendido.
Diz respeito não só ao cumprimento do artigo 3o. da Constituição, que define que "erradicar a pobreza e a marginalização" constituem "objetivos fundamentais" da Republica. Mas contribuiu para construir um sistema de bem-estar social num país onde a desigualdade é uma aberração. Numa nação onde os pobres e miseráveis sempre foram responsabilizados pela própria condição, a grande mudança permitida pelo programa foi redefinir quem deve assumir a responsabilidade por essa questão.
A obrigação constitucional de enfrentar a miséria deixou de ser uma opção de governantes, ou mesmo uma tarefa a ser executada por instituições filantrópicas, para ser assumida como dever pelo Estado. A mudança política foi essa. A mesma instituição que paga aposentadorias pelo INSS e responde -- ou pelo menos deveria responder -- pela saúde e educação também encarregou-se do combate à miséria. Os benefícios recebidos deixaram de ser atos de benemerência ou expressões de bondade ou solidariedade, para se definirem como expressão de direitos devidos toda pessoa que se enquadra em padrões definidos objetivamente.
Por cima do indispensável reforço nas condições materiais de vida que os benefícios do Bolsa proporcionam, construiu-se uma existência diferente por parte de brasileiros e especialmente brasileiras -- a esmagadora maioria dos destinatários do programa são mulheres -- que, pela posse de um cartão que lhes permite fazer compras com regularidade, ganharam um novo valor em suas comunidades. Passaram a ser tratados como pessoas confiáveis, revela o livro Vozes do Bolsa Família -- Autonomia, Dinheiro e Cidadania, elaborado a partir de 150 entrevistas no Piauí, no norte de Minas, nas periferias de São Luís e Recife, pelos professores Walquiria Leão Rego e Alessandro Pinzani.
Em doze anos de história, que deveriam ser festejados na terça-feira passada -- anunciado na mesma semana, o projeto de cortar R$ 10 bi ajuda a lembrar quem quer continuar mandando no país -- o Bolsa Família é produto de duas forças opostas. Sempre contou com o apoio absoluto e integral da população e enfrentou o ataque permanente das camadas de cima. As lendas negativas foram derrotadas e desmascaradas. A ultima é a versão de que o governo não terá R$ 10 bilhões para pagar a conta dos pobres e miseráveis. Num país que voltou a pagar os juros mais altos do mundo, apenas os dois maiores bancos privados tiveram um lucro maior do que isso nos seis primeiros meses de 2015. Deu para entender, certo?

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Por sonegação, Brasil vai perder R$ 550 bilhões em 2015

Brasil 247:






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Estimativa do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz) aponta que a sonegação fiscal já evadiu R$ 418 bilhões do Brasil em 2015; valor deve atingir R$ 550 bilhões até o fim do ano, segundo o Sonegômetro, criado pela entidade; valor é quase o dobro do orçamento do ano para os ministérios da Saúde e da Educação, juntos: R$ 121 bilhões e R$ 103 bilhões, respectivamente; "É esse dinheiro que alimenta a corrupção, o financiamento ilegal de campanhas eleitorais", afirmou Achilles Linhares, presidente do Sinprofaz; Segundo dados do Ministério da Fazenda, o país tem hoje um estoque de R$ 1,5 trilhão na dívida ativa


Rodrigo Gomes, da RBA - O Sonegômetro chegou à capital paulista revelando que por sonegação fiscal já evadiram R$ 418 bilhões do Brasil em 2015. O valor deve atingir R$ 550 bilhões até o fim do ano, segundo estimativa do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz), que criou o contador. O valor é quase o dobro do orçamento do ano para os ministérios da Saúde e da Educação, juntos: R$ 121 bilhões e R$ 103 bilhões, respectivamente. E oito vezes mais que o estimado pelo governo federal para fazer o ajuste fiscal, que é de R$ 66 bilhões.
"Isso é muito grave. O país vive uma recessão econômica e nós temos esse descaso com um volume imenso de recursos. Dinheiro que deixa de entrar nos cofres públicos, de financiar a saúde, a educação e projetos sociais importantes. E que fica concentrado nas mãos de poucos grandes sonegadores que causam esse prejuízo para o Brasil. É esse dinheiro que alimenta a corrupção, o financiamento ilegal de campanhas eleitorais", afirmou Achilles Linhares, presidente do Sinprofaz.
Segundo dados do Ministério da Fazenda, o país tem hoje um estoque de R$ 1,5 trilhão na dívida ativa. Desses, R$ 395 bilhões pertencem a apenas 500 devedores, dentre os 200 milhões de brasileiros. Entre eles, a mineradora Vale (R$ 41 bilhões), a Carital Brasil – antiga Parmalat – (R$ 24 bilhões) e o Bradesco (R$ 4,8 bilhões).
Segundo Linhares, o principal órgão de combate à sonegação, a Procuradoria-Geral da Fazenda nacional, está sucateado e não tem estrutura nem procuradores suficientes para fazer o trabalho de localizar os devedores e seus bens.
"Nesse processo devíamos contar com apoio de servidores. Mas essa estrutura não existe. Os próprios procuradores têm de fazer essa busca. Existe uma proporção de 0,7 servidor de apoio para cada procurador. No Ministério Público e na magistratura existe um corpo técnico que vai de dez a 20 servidores por membro. Os sistemas tecnológicos também são obsoletos", denunciou.
Além disso, o corpo de procuradores tem, pelo menos, 400 vagas em aberto. "Nós temos dificuldade em entender por que o governo, mesmo sabendo desse volume tão alto de recursos, continua sucateando os órgãos responsáveis pelo combate à sonegação", lamentou o procurador. Segundo o Sinprofaz, para cada R$ 1 investido, a procuradoria retorna cerca de R$ 800 aos cofres públicos, identificando e cobrando sonegadores.
Outro ponto atacado pelos procurados é a necessidade de realizar uma reforma tributária, tanto para simplificar o sistema, como para que ele seja mais eficiente. "O emaranhado de normas que compõem o sistema tributário brasileiro acaba favorecendo a sonegação. Nós precisamos simplificar o sistema por meio de uma reforma tributária, de modo a permitir que o pequeno empreendedor tenham menos burocracia para vencer seus desafios, ao mesmo tempo em que dificulta o trabalho dos grandes sonegadores", afirmou Linhares.
Para ele, a injustiça fiscal é gritante no Brasil, pois não existe progressividade nos tributos. "Mesmo o Imposto de Renda, que constitucionalmente devia ser progressivo, nós temos uma tributação inicial muito baixa, atingindo uma parcela da população que devia ser isenta. E as alíquotas não avançam muito, chegando ao nível máximo muito cedo", disse.
Hoje, no caso Imposto de Renda, são isentas as pessoas que ganham até R$ 1.903,98. E a alíquota mais alta (27,5%) começa em R$ 4.664,68. Ou seja, tanto quem recebe R$ 5 mil quanto quem recebe R$ 50 mil paga o mesmo valor de impostos. "Mas quem ganha menos acaba pagando mais, porque a tributação brasileira incide principalmente sobre o consumo. Todos compram arroz e feijão e pagam o mesmo imposto. Quem ganha mais, proporcionalmente, paga menos", explicou Linhares.
Para desenvolver o Sonegômetro, os procuradores utilizam dados oficiais do Ministério da Fazenda, cruzando a estimativa da arrecadação, o crescimento do PIB e o efetivamente arrecadado. Também são considerados outros estudos de arrecadação tributária. A base de dados inicial foram os relatórios tributários da Fazenda do ano de 2011, que são atualizados ano a ano.


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Lindbergh afirma que confissões de FHC desmascaram hipocrisia de tucanos no caso Petrobras


Lindbergh “Geraldo Brindeiro foi nomeado três vezes por FHC, sem eleição. Na quarta nomeação, ficou em sétimo lugar e foi reconduzido. Se fosse o governo do PT que fizesse isso, este Brasil caía”Em tempos de tanta “hipocrisia e indignação seletiva”, o anunciado lançamento do livro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre os primeiros anos de seu mandato pode fazer bem à memória do País, acredita o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que nesta quarta-feira (21) destacou alguns trechos da obra, antecipados em reportagem do jornal O Globo. O livro  confirma, por exemplo, que FHC conhecia um esquema de corrupção na Petrobras desde 16 de outubro de 1996, mas optou por não tomar providências para não prejudicar a tramitação da lei que flexibilizou o monopólio estatal do petróleo. 
Para Lindbergh, as revelações de FHC demonstram duas coisas: primeiro, a corrupção na Petrobras começou muito antes dos governos petistas — e os tucanos, hoje “indignados”, não fizeram nada para detê-la, apesar de saberem de sua existência. Segundo, o ex-presidente cometeu o delito de prevaricação, já que qualquer pessoa em exercício de função pública tem o dever de denunciar qualquer ato ilícito de que tome conhecimento. “Esse é o caso típico de prevaricação. Você é avisado e não faz nada!”, protestou o senador petista, em pronunciamento ao plenário, nesta quarta-feira (21). FHC sabia e não fez nada.
Segundo as memórias de FHC reproduzidas pelo jornal, naquela data o então presidente foi avisado de que a Petrobras era um “escândalo”. Embora constatasse que o caso requeria intervenção na estatal, decidiu não tomar essa providência. O alerta foi feito pelo dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamim Steinbruch, que havia sido nomeado para o Conselho de Administração da estatal.
Citado pelo Globo, FHC explicou que a decisão de não intervir na Petrobras para estancar o “escândalo” ocorreu porque não queria “mexer [na empresa] antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso”, além de buscar “pessoas competentes para botar lá”. Como lembrou Lindbergh, foi exatamente em 1996 que o jornalista Paulo Francis fez denúncias sobre a corrupção na Petrobras.
“Agora é o presidente Fernando Henrique Cardoso que reconhece que foi avisado por Benjamim Steinbruch de escândalos na Petrobras; que ele teria de intervir e que não houve intervenção porque estava havendo a discussão da lei do petróleo naquele período. Ora, por que tratam disso como se os escândalos tivessem surgidos agora”, cobrou Lindbergh.
Ainda segundo o livro de memórias de FHC, o ex-presidente não gostou da atuação da Polícia Federal na investigação do chamado “escândalo da pasta rosa” e qualifica como “mesquinharia” o fato de a PF ter chamado a depor no inquérito o então deputado Luís Eduardo Magalhães. “Aquilo deixou Antônio Carlos Magalhães [pai do deputado] enfurecido”. Para alívio de FHC, a “mesquinharia” foi travada: "Em todo caso, o procurador colocou um ponto final nisso."
O procurador, destacou Lindbergh, era “o velho engavetador geral da República, Geraldo Brindeiro”. O senador petista destacou a diferença de tratamento dado por FHC aos órgãos de Estado em relação aos governos petistas. No caso do procurador-geral da República, tem sido prática petista nomear para o cargo sempre o mais votado da lista tríplice elaborada pelo conjunto de procuradores.
“Isso não acontecia antes. Geraldo Brindeiro foi nomeado três vezes por Fernando Henrique Cardoso, sem eleição. Na quarta nomeação, houve uma eleição, ele ficou em sétimo lugar e foi reconduzido assim mesmo”, lembrou Lindbergh. “Se fosse um governo do PT que fizesse isso, este Brasil caía”, comparou o senador.
Em relação à Polícia Federal, a diferença fica ainda mais clara: nos oito anos do governo FHC  foram realizadas 48 operações da Polícia Federal—uma média de seis por ano. Entre 2003 e 2014, primeiros anos dos governos petistas, a média de operações da PF foi de 220 por ano. “Foram 2.400 operações até 2014. Em 2015, a média de operações da Polícia Federal é de 1,7 por dia. Vai dar 400 por ano. Agora, imaginem naquele período: seis investigações por ano! A Polícia Federal não agia, não tinha estrutura, não tinha autonomia”, rememorou Lindbergh.
O senador cobrou o reconhecimento à postura da presidenta Dilma, que jamais buscou qualquer interferência nos órgãos de fiscalização e criticou a indignação seletiva dos que “passam a mão na cabeça desse deputado Eduardo Cunha, que não tem condições de continuar presidindo a Câmara”, apenas para tentar assegurar a instalação de um processo de impeachment contra Dilma.
Lindbergh, porém, tem convicção de que a maioria dos brasileiros consegue enxergar além dessas manobras. “Tenho certeza de que o Brasil está entendendo o que está acontecendo. Nessas duas semanas a máscara da oposição, do PSDB, caiu”.
Cyntia Campos


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Marty McFly chega em 2015 mas acha que é 1955: " De Volta para o Futuro"





Racismo, xenofobia e intolerância: Marty McFly chega em 2015 mas acha que é 1955

Sensacionalista:

O dia 21 de outubro de 2015 vem sendo aguardado por fãs da trilogia “De volta para o futuro” desde os anos 80. O dia finalmente chegou e Marty McFly pousou seu DeLorean no tão sonhado futuro. Mas ao contrário de carros e skates voadores, Marty só encontrou retrocesso.
Marty testemunhou um pedido de boicote a um novo episódio de um clássico do cinema só porque o protagonista é negro. Marty viu um haitiano ser assassinado em Santa Catarina e observou milhares de imigrantes sofrendo com fome e com frio nas fronteiras da Europa.

Por onde olhou Marty viu a imagem do atraso: gente pedindo a volta da ditadura, gente dizendo que família tradicional só pode ser formada por um homem e uma mulher, gente apanhando por causa da orientação religiosa e sexual. McFly teve certeza de que a máquina do tempo deu problema mais uma vez e ele foi parar em 1955, ou antes, bem antes.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Campanha internacional em defesa de tribo isolada na Amazônia

Índios Kawahiva sem contato com o homem branco são flagrados na Amazônia (Rede ... Clique na frase acima e assista o vídeo


O movimento internacional pelo direito dos povos indígenas, Survival International, acaba de lançar uma nova campanha global em defesa de uma tribo brasileira. Trata-se dos últimos Kawahiva não-contatados que vivem na floresta amazônica no Mato Grosso.


Brasília (Rádio Vaticano) – O movimento internacional pelo direito dos povos indígenas, Survival International, acaba de lançar uma nova campanha global em defesa de uma tribo brasileira. Trata-se dos últimos Kawahiva não-contatados que vivem na floresta amazônica no Mato Grosso.
De acordo com a Survival, as ameaças à sobrevivência da tribo se intensificaram nos últimos 30 anos. Isso coloca os Kawahira em risco de extinção.
Em 2011, agentes da Funai registraram o encontro com a tribo, até então isolada no coração da floresta amazônica. As imagens deste encontro podem ser vistas no vídeo especial da campanha.
Por meio do site do movimento em defesa da tribo, é possível participar da campanha enviando um apelo ao Ministro da Justiça do Brasil para que demarque o território de Rio Pardo. (RB)


domingo, 18 de outubro de 2015

“Casas de Belo Horizonte”: Um resgate do legado arquitetônico da cidade




Quem anda por Belo Horizonte pode encontrar pelas ruas inúmeras casas e prédios antigos que enfeitam e trazem um ar saudosista à cidade. Em meio às novas construções de aparências modernas e acinzentadas, os velhos prédios resistem – mesmo que, às vezes, sufocados por tanta modernidade – e compõem o cenário da capital.
“Casas de Belo Horizonte” é um projeto ainda em desenvolvimento que tem como objetivo despertar, por meio de fotos, o interesse das pessoas pelas casas antigas da cidade, que representam um grande patrimônio arquitetônico e histórico a ser valorizado. Arquiteto e Fotógrafo, o autor do projeto, que prefere manter sua identidade em sigilo, iniciou as postagens em seu perfil pessoal e ao perceber repercussão positiva, decidiu expandir as publicações para uma página específica do tema.


Foto: Página Casas de Belo Horizonte
Foto: Facebook/Casas de Belo Horizonte

As construções antigas estão por todas as partes de Belo Horizonte, e há décadas criam ligações entre épocas, famílias, pessoas e gerações, por isso, carregam em suas paredes muitas histórias pra contar. Como forma de resgatar as memórias “adormecidas” e despertar o olhar das pessoas para obras que muitas vezes passam despercebidas, a página – que funciona também como espaço para identificar essas casas – publica junto às fotos um breve relato sobre a origem e funcionamento das construções, que em alguns casos chegam a ultrapassar um século de idade. “Há alguns casos de leitores que apresentam algum vínculo familiar ou pessoal com a história das casas, o que é muito positivo”, relata o responsável pela página.
Em apenas uma semana a página alcançou mais de 40 mil acessos no facebook e tem despertado grande interesse do público pelos projetos arquitetônicos da cidade, “O apoio dos leitores superou muito as expectativas iniciais e temos recebido várias mensagens de pessoas interessadas no projeto, bem como indicações e sugestões de residências a serem fotografadas” conta o organizador.


Foto: Facebook/Casas de Belo Horizonte
Foto: Facebook/Casas de Belo Horizonte

“Percebemos que o projeto tem uma boa receptividade e, de acordo com a evolução e interesse na página, pensamos que é possível expandi-lo para outros formatos e mídias complementares.” O “Casas de Belo Horizonte” não conta com nenhum apoio financeiro e não tem vínculo com nenhuma instituição pública ou privada, mas caso a demanda seja crescente, podem procurar parcerias e suporte financeiro.
Por Marina Rezende/ jornal Contramão, do Centro Universitário UNA