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domingo, 24 de dezembro de 2017

Natal : atualizando o seu sentido e nos transformando

Dentro da Tradição Cristã, o Natal celebra o nascimento de Jesus. Essa história é cheia de subversões, luta das mulheres, dos pobres, das crianças. Essa é uma história que, inclusive, celebra o diálogo entre as religiões e condena a violência do Estado. Feliz Natal!
Henrique Vieira( Pastor, professor e teólogo)




Jesus desafiou a ordem política, econômica e religiosa da época. Foi preso, torturado e assassinado como herege, desviado, imoral, escandaloso. Esse é o Jesus que tantas vezes parte da Igreja tenta esconder. Contudo esse é o Jesus do Evangelho: subversivo, revolucionário!



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natal, hoje e sempre: Frei Cláudio Van Balen

Minha foto

Frei Cláudio Van Balen :

NATAL, HOJE E SEMPRE


Natal convoca todos para integrar o
sagrado no profano.
Motivar para a cidadania é o sentido do Natal.
Servir a Deus no próximo é valorizar o Natal.
Semear bênçãos no cotidiano faz
acontecer o Natal.

Natal: em infância e velhice, Deus se faz oferta.
Confraternizar o viver é partilhar o amor do Natal.
Natal se atualiza em gestos de promover excluídos.
Exercer a dignidade de cidadão é valorizar o Natal.

Natal se realiza no socorro aos esquecidos
e ignorados.
Natal se festeja ao aquecer relações fraternas.
Ao nos solidarizar em desafios
celebramos o Natal.
Ternura no serviço do poder enobrece o Natal.
Conscientizar da responsabilidade é
ensaiar o Natal.

Natal se realiza por unir pessoas e partilhar bens.
Assumir a vida em seus desafios é concluir o Natal.
Ao envolver outros no perdão, acontece o Natal.
Celebrar a gratidão é aplaudir o Natal.

Natal convoca e educa para construir igualdade.
Natal é braço estendido, horizonte ampliado.
Ao se promover amor e justiça, anuncia-se o Natal.
Natal nos mobiliza a fim de investir nossos dons.

Natal pede que, zelosos, demos rumo ao viver.
Sem diminuir oposições, deturpamos
o sentido do Natal.
Reconciliados no bem fazer, solenizamos o Natal.

Natal confraterniza pacíficos e pacifica adversários.


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Jesus Nasceu em uma Ocupação, por Frei Rodrigo Péret

Do Fala Chico:
 
Por Frei Rodrigo Péret
 
 

A história desta foto: Esse menino dormia sereno na véspera do despejo das famílias de sem teto, do MTM - Movimento Terra e Moradia, acampadas, no bairro Ipanema na cidade de Uberlândia (MG), neste ano de 2014. 

Hoje, igual a essa criança, mais de 8 mil famílias, estão ocupando várias áreas em Uberlândia. Estão acampados buscando moradia. Querem um lote de terra para nossas famílias. Buscam fugir do aluguel. Procuram uma casa, um lar. 

Os pássaros tem seus ninhos, os animais suas tocas.

Nesse tempo de Natal, nós recordamos que chegada a hora de Maria dar a luz, ela e José procuraram um lugar, um abrigo, mas não encontraram,. Bateram em muitas portas e lhes foi negado um abrigo. Tiveram que ocupar uma estrebaria (um curral) e ali nasceu um menino, Jesus, que foi  envolvido em panos e colocado num cocho, numa manjedoura.

Nosso Salvador nasceu numa ocupação. Certamente uma ocupação diferente. Uma ocupação de um só casal, uma mulher grávida, prestes a dar a luz. Pode parecer para nós uma pequena ocupação, mas aquele casal representa, na verdade, toda humanidade. De certo não ficaram ali, mas aquele menino ocupou nossos corações, nossas vidas e nossa história. E aquela família se tornou o modelo para todas as famílias da humanidade. A natureza os acolheu com alegria, uma estrela anunciou o seu nascimento, os animais naquela estrebaria assistiram ao nascimento. Os pobres pastores vieram visitar, anunciados pelos anjos, e ate os reis vieram adorar o menino, e respeitaram o Deus Menino, numa ocupação.

Deus assumiu nossa fragilidade, por amor quis ser como nós. Herodes tremeu em seu poder, teve medo da frágil criança, nascida numa ocupação de um curral, na pequena vila de Belém.


O projeto de salvação que esse menino trouxe exige para nós conversão, exige partilha para que a justiça aconteça e sua presença se realize entre nós. O livro dos Atos dos Apóstolos nos dá um exemplo de como viver esse projeto: "Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Apossava-se de todos o temor, pois numerosos eram os prodígios e sinais que se realizavam por meio dos apóstolos. Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos." (At 2, 43-47). 

Feliz Natal!!!!!

Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natal: O Divino entre Nós

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Frei Gilvander Moreira


Estamos no meio do turbilhão de uma crise plural: política, econômica, ecológica, ética, das Instituições etc. Urge recriarmos relações éticas e estruturas de fraternidade para que a crise plural não nos impeça de caminhar, ainda nesta vida, para o bem.
 
Em tempo natalino e em todos os dias do ano novo, como vivenciarmos então relações éticas que viabilizem (mais do que transformação) a transfiguração das instituições e de nós mesmos?
 
A desconexão cultural existente entre o ser humano e a natureza ameaça ambos e não pode continuar. “Salvemo-nos com o Planeta”. Devolvamos ao Natal seu caráter de celebração da vitória da vida projetada para solidarizar pessoas e povos, religiões e culturas em torno da causa da Paz, Shalom!
 
Advento, expectativa para a grande festa. Natal, o divino a nos envolver. Celebramos Deus irrompendo de dentro da história humana, em Jesus de Nazaré. Em tantos que o precederam e cuja riqueza partilha e, depois, em tantos que sorveram a riqueza de seu Evangelho a favor de povos e culturas.
 
Em Jesus de Nazaré, Deus se fez frágil como um bebezinho dependente, que precisava ser amado. Ele também precisou ser alimentado, cuidado... amado e desejado...Caso contrário, ele não seria humano... Jesus não nasceu Cristo; se tornou Cristo, ungido, filho de Deus. “Humano assim só poderia ser divino”, exclamou o papa Paulo VI. Jesus se fez ecumênico, aberto ao outro, a todos.
 
Conviveu e burilou a dignidade e a grandeza em nós. Ele anunciava, por seu modo de ser e de agir, o seguinte: “Veja o vigor, a missão, o divino existente em cada ser humano, nas comunidades e nas culturas. Não busque fora o que fervilha em você e nos outros. É das relações (humanas, ecológicas) que a inspiração e idealismo de libertadores brotam.” Na Encarnação de Deus na história, no galileu de Nazaré, se misturam cotidianamente fé e política, sagrado e profano, pessoal e social, céu e terra.
 
Sem dualismos, com o nascimento de Jesus ficou decretado cultivar a unidade que há de reinar na imensa vastidão dos infinitos pontos que entrelaçam a vida.

Natal, portanto, é tempo - ao reverenciar o evento-Jesus – de vislumbrar e assumir em toda criança – de preferência em pobres, doentes e excluídas de toda cultura e religião, de cores e de etnias - um símbolo da presença amorosa de Deus.
 
O Natal pode ser terapêutico, uma vez que contemplar a presença divina no que é simplesmente humano e em cada criatura, ser vivo que compõe a biodiversidade.
 
O Natal do Nazareno seja nosso natal. Natal como irrupção da luz e da força divina presente no humano e em todas as criaturas, essa grande comunidade de vida, da qual fazemos parte.
 
Com Dom Hélder Câmara, abramos o coração e exclamemos: Que Tua mensagem se torne carne de nossa carne, sangue de nosso sangue, razão de ser de nossa vida. Que ela nos arranque do comodismo da boa consciência! Seja exigente, incômoda; pois, então, nos trará paz profunda, paz diferente, a tua paz”.
 
Sejamos Natal: dádiva do Deus amor nas relações humanas e ecológicas. Eis uma rica oportunidade que vale a pena abraçar. Cada pessoa, todo grupo se engaje na construção da paz e da justiça em seu meio, inserindo na História algo do Deus libertador a congraçar-nos em universal fraternidade.
 
É hora de encarnarmos a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não quer que lhe seja feito”. Ou seja, mais do que um pensar ético, um agir ético é imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e as pessoas.
 
Que cada pessoa expresse a outra seus votos de um feliz e abençoado Natal - com a amplidão e a profundidade de uma saudação indiana, namastê: o Deus que está em mim saúda o Deus que está em você. Alegremo-nos em restituir ao mundo a sacralidade histórica da criança de Belém em prol de vida com boa qualidade em famílias e instituições.
 
Frei Gilvander Moreira *
 
* Carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor de teologia Bíblica, assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina
 
 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Receita de Natal, por Frei Betto






Receita de Natal
 
FREI BETTO
 
Natal é o momento de voltar a ser menino. Abandonar tudo aquilo que, em nós, não é próprio da infância: vingança, mágoa, ressentimento, lembrança de coisas más, ambições desmedidas... Se tais sentimentos existem numa criança é porque fizemos dela um adulto precoce.

Naquele Menino, Deus entrou em nossa história pela porta dos fundos. Não como filho de César ou do faraó. Mas de um carpinteiro e uma camponesa. Filho de uma família tão pobre que não encontrou lugar em Belém. Teve de nascer como um sem-terra, no cocho, lá onde se guardam animais. Quantas vezes Jesus não encontra lugar também no presépio do nosso coração! Este impregna-se de vaidade, ódio, prepotência, sem que haja lugar para o filho de Maria e José. O próprio Jesus adverte: "Felizes os que têm espírito de pobre" (Mt 5, 3).

Celebrar a irrupção de Jesus é nos fazermos presentes ao outro, imagem e semelhança de Deus. Na medida que somos presentes a outras vidas, como dom gratuito, reatualizamos o verdadeiro sentido do Natal.

Os relatos natalinos do Evangelho incluem até figuras consideradas impuras pela mentalidade da época, como os pastores, primeiros adoradores do Menino. Hoje, falar em pastores, sobretudo para quem não vive numa sociedade rural, soa poético. Na época, pastor era uma profissão vergonhosa, pois lidava com carne de animais. Seria uma humilhação a filha de alguém se casar com um deles. E, no entanto, aqueles que eram marginalizados foram os primeiros a se aproximar do Menino.

Nas representações do Natal, destaca-se a estrela de Davi. Trata-se de um símbolo astrológico. Júpiter simbolizava o rei dos astros; Saturno, o planeta do povo judeu; e Peixes, a constelação do fim dos tempos. Portanto, ao unir Júpiter e Saturno numa conjugação na constelação de Peixes, procurou-se ressaltar que entre o povo judeu (Saturno) nasceu o rei (Júpiter), que veio realizar, na época de Peixes, a plenitude dos tempos.


Andamos em busca de um presente, o amor que sacia o coração; queremos nos abrir para que o divino irrompa em nossas vidas





Assim, a Bíblia quer mostrar que, de alguma forma, a revelação divina perpassa todos esses sinais, simbolismos, arquétipos, fatores culturais e espirituais que existem na história dos povos. E são utilizados no relato evangélico para anunciar: o menino Jesus é o filho de Deus entre nós.

Francisco de Assis sugeria que, no Natal, distribuíssemos carnes a todos, pois nessa noite celebramos o grande acontecimento histórico: "O Verbo se fez carne..." Dizia ainda Francisco que deveríamos espalhar sementes pelos campos, distribuir alpiste aos pássaros, dar comida aos pobres e nos presentear mutuamente, num gesto sacramental de que, nessa noite, Deus se fez presente entre nós. 

Assim, o presente que nos damos uns aos outros reproduz sacramentalmente o presente que Deus, nosso pai e nossa mãe, nos dá em nosso irmão Jesus. A noite de Natal é de alegria para quem sente no coração o eco divino. E de tristeza quando o coração busca essa ressonância e não encontra. Ainda que nos encham de presentes, de comidas e de bebidas, fica um vazio, uma ponta de tristeza. Mas esse travo não é de todo negativo. É o sinal de que temos fome de Deus, de que ainda perdura em nós a voracidade pelo transcendente.
 
Essa melancolia que nos acomete na época do Natal, como se algo estivesse faltando, malgrado as comemorações e os presentes, é o apetite espiritual não saciado. De fato, andamos em busca de um grande presente, o amor que sacia o coração. Queremos nos abrir, não para que Papai Noel entre por nossas janelas, mas para que o divino irrompa em nossas vidas.
 
Para quem vai celebrar o Natal, pode-se escolher entre duas receitas. Receita para fazer uma festa: tomar um punhado de gente, misturá-lo em torno de uma grande mesa, acrescentar comida e bebida sem sabor de comunhão, agitar com bastante música, rechear com muitos presentes e servir, como se fosse Natal, essa festa como outra qualquer.
 
Receita para fazer um Natal: tomar um grupo de irmãos ligados pela mesma fé, unidos numa única esperança. Juntar Cristo a eles. Deixar fermentar até nascerem o homem e a mulher novos. Servir evangelicamente a quem tem fome e sede de justiça.

(Texto de Dezembro de 2001) 

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 56, é escritor e assessor de movimentos pastorais e sociais, autor da biografia de Jesus "Entre todos os homens" (Ática), entre outros livros.
 
 
 


domingo, 21 de dezembro de 2014

Menino Jesus era uma criança pobre e sem-teto

Por Jacques Távora Alfonsin
O significado histórico do nascimento de Jesus Cristo, uma criança pobre sem-teto, cuja mãe estava muito mal abrigada, como acontece com mendigas, contando apenas com o marido para assisti-la, é cada vez menos lembrado.
O interesse econômico-comercial em explorar o fato para ganhar dinheiro, desde quando percebeu a história ter mudado até o calendário para celebrar o acontecido, fez com que a figura patética do papai Noel, hoje, seja muito mais destacada e venerada do que a do Menino Jesus.
Nem a prova de que o tal velho testemunha uma antiga e arraigada tendência cultural nossa de só considerar coisa ou comportamento importado como bons e respeitáveis, o natal prossegue imitando aqui até o frio do hemisfério norte nesta época do ano. São Nicolau, então, cuja generosidade para com os pobres inspirou esse velho, desse também não se cogita.
Há quem dependure chumaços de algodão na árvore natalina para imitar a neve, a decoração das casas se esmere em lembrar gelo acumulado mesmo que a temperatura ambiente esteja perto dos trinta graus. Para alimentos, doces e bebidas, a mesma coisa. Tudo bem pesado, caro e quente como se o calor daqui precisasse de um suplemento alimentar que o acentuasse.
Embora as circunstâncias daquele nascimento permaneçam as mesmas, em favelas, vilas periféricas das cidades, acampamentos improvisados de gente pobre e miserável, migrantes e refugiados aqui mesmo no Brasil e em todo o mundo, o mercado conta com um poder sedutor de consumo suficiente para esconder e até negar essa realidade. Para toda a freguesia, a festa exige despreocupação e esquecimento disso.
Mesmo as coisas mais desnecessárias e supérfluas, geralmente as mais caras, ele aproveita a época do natal para impor compras e vendas “justificadas” como indispensáveis fortalecendo uma cultura generalizada e paranóica de um consumismo avassalador, capaz de, como a sua própria denominação induz, consumir tudo. Até a paz e a tranquilidade do ano que vem para aquelas pessoas comprometidas com as dívidas assumidas para isso.
O natal virou, por isso, uma feira caótica destinada ao cumprimento de conveniências sociais, impostas como necessárias, ora para inspirar gente bem intencionada, com a oferta de um mimo que alegre um/a parente ou um/a amigo/a, ora para alimentar vaidades ou garantir que a/o presenteada/o se lembre, no futuro, que a “boa educação” obriga uma troca equivalente.
Tudo completamente alheio à celebração de um aniversário que, paradoxalmente, é o de uma pessoa que ela própria se fez doação, um presente, esse sim, a toda a humanidade. Para a pobreza do Menino recém nascido, como para todas as crianças que ainda vêm ao mundo agora sem assistência médica e um atendimento basicamente digno para a acolhida carinhosa de uma nova vida, aquela forma de celebrar o natal é escandalosa e debochada.
Quem festeja o natal indiferente às causas e aos efeitos de um sistema socioeconômico gerador de partos como o da mãe do Menino Jesus, parece não ter entendido nada do quão revolucionário, desde o nascimento, mostrou-se o testemunho de vida daquela Criança para toda a humanidade. O direito de nascer e de viver com dignidade nem precisaria de expressão legal se o amor testemunhado por Ela fosse assumido como um modelo simples e prático de convivência fraterna e solidária entre todas/os.
As Constituições dos países ditos civilizados, como o nosso, reconhecem a necessidade de se “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (Artigo  3º, Inciso III, da nossa Constituição). Então, mesmo para quem não tem fé na encarnação de Deus naquela Criança, o fato de quanta gente ainda vai passar esse natal sem um teto que lhe abrigue, quantas mães ainda terão de parir suas/e/seus filhas/os em acampamentos improvisados, cortiços, subhabitações e favelas, não permite esconder a injusta desigualdade que a celebração do natal revela entre a distância daquele fundamento republicano e a sua efetividade concreta, refletida na grande diferença  existente  entre os berços dos bons hospitais e a manjedoura.
Embora as estatísticas, a respeito, variem segundo os critérios que as inspiram ou manipulam, sabe-se não ser pequeno, muito menos admissível como “normal” esse número.  Nascer como nasceu o Menino Jesus, portanto, constitui uma interpelação permanente das causas econômicas, políticas e sociais responsáveis por nascimentos que denunciam, passados milênios, como do respeito ao ser humano, de qualquer condição, etnia, renda, ou outra qualquer diferença, ainda carece toda a sociedade.
Em vez de historiar o natal, por tudo isso, como um acontecimento passado, conveniente apenas para a troca de presentes, parece de todo conveniente “historicizar” esse nascimento, isto é, revivê-lo como acontecendo hoje, aqui e agora, muito menos pela troca de presentes e muito mais pelo seguimento do exemplo da Criança, pelo doar-se em vez de doar, pela partilha do abraço, do beijo, do carinho, da alegria festiva, mas também pela prestação de serviço a quem, por força da injustiça social semelhante à que Ela sofria em sua época, nada disso recebe.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal feliz só com solidariedade, justiça e paz, diz Frei Rodrigo Péret

Feliz Natal com Solidariedade, Justiça e Paz!!!!!

Natal , por J. B. Libânio



Jesus nasceu num dia, num lugar, em circunstâncias concretas. Fascina-nos esse lado de acontecimento histórico bem definido e limitado. É a humanidade situada que prende o Verbo nas malhas do tempo e do espaço.

             Mas Jesus nasce também cada dia na nossa vida. Há um Natal de sempre. Por ser um Natal de sempre, vela-nos e desvela-nos simultaneamente o mistério divino. Vela-nos, porque nos deixa surpresos e perplexos diante da pequenez de uma criança-sacramento da divindade. Revela-nos, porque só pode ser de Deus a originalidade de assumir a forma humana de uma criança para manifestar-se.
                   No Natal de hoje, concreto e situado, ele é antes uma pergunta que uma resposta. Onde Jesus está a nascer? Outrora foi na manjedoura. E hoje? Ele nasce debaixo dos viadutos, no meio dos meninos de rua, nas periferias da miséria urbana, nas favelas, nos acampamentos dos Sem-terra, nos galpões dos catadores de papel e em tantos outros lugares da exclusão humana.
                   Os pastores de hoje são tantos e tantos, que, quer nas pastorais, quer em projetos humanistas, se aproximam dessas pessoas na intenção pura do acolhimento, sem juízo e sem pretensões salvadoras. Exatamente no espírito da voz do anjo interior que lhes diz que nesses lugares lhes "nasceu hoje um Salvador" (Lc 2,11)) e não que eles nasceram salvadores.
                   Natal é a lição da humanidade de Deus no sentido de que Deus na pessoa do Verbo assumiu nossa humanidade e de que o coração de Deus se vestiu de "humanidade" (Tt 3,4). Paradoxo de nossa linguagem! Para exprimir a faceta da misericórdia, da bondade, da benevolência, da delicadeza, da acolhida por parte de Deus usamos o termo "humanidade", como se nós humanos fôssemos exemplos de tais virtudes.
                   Mas na carta a Tito, Paulo quis marcar o escandaloso contraste entre a absoluta grandeza de Deus e nossa miséria, não pela distância, mas, pelo contrário, pela capacidade infinita de Deus de aproximar-se de nós, cabendo na fragilidade de uma criança. Deus nos surpreende não pelo poder a modo dos grandes desse mundo, mas pela simplicidade, pela fraqueza, pela gratuidade indefesa de nascer menino.
                   Natal supera a simples memória do evento. Insere-nos na onda do mistério, do "sacramentum", diria S. Leão Magno, ao anunciar e realizar a presença da salvação entre nós na forma mais cativante da comunhão por parte de Deus de nossa humanidade.
                   Além do Natal de Belém, dos infinitos natais na história, a Igreja celebra cada dia o Natal na Liturgia Eucarística. É nesse momento que percebemos o presente que Jesus nos fez. Antes de tudo, de ter vindo à terra, nascendo. Além disso, de continuar nascendo no Sacramento até o final dos tempos pelo ministério de sua Igreja e nela de seus sacerdotes.  Se a festa de Natal se celebra uma só vez por ano, os natais eucarísticos se multiplicam. Se somos gratos pelo Natal anual, mais ainda devemos sê-lo pelos natais de cada Eucaristia.
 
Texto de 2007
João Batista Libânio é teólogo e jesuíta