sexta-feira, 20 de março de 2015

A mídia conservadora, Janot, Youssef, Aécio e a Lista de Furnas

Dois artigos comentam o vídeo em que o doleiro Alberto Youssef  afirma, em seu depoimento na delação premiada, o envolvimento de Aécio Neves no recebimento de propinas através de uma das diretorias de Furnas. O primeiro artigo é do jornalista Fernando Brito e o segundo de Luís Nassif.

¨A única ditadura que existe, mesmo, no Brasil, é a da mídia.
Os grandes jornais fizeram silêncio quase absoluto diante do vídeo em que ele expõe a informação que Aécio dividia com o PP as “mesadas” de uma diretoria de Furnas.¨ (Fernando Brito)

¨Para setores relevantes da opinião pública, o MPF tem lado, pela resistência em atuar em casos envolvendo o PSDB. E pelos vazamentos seletivos, aceitos passivamente por Janot.¨ (Luís Nassif)



Artigo de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:


YOUSSEF E AÉCIO: O SILÊNCIO QUE GRITA DA MÍDIA BRASILEIRA



A única ditadura que existe, mesmo, no Brasil, é a da mídia.

Estamos em tempo de ruas cheias, fervor cívico, indignação popular contra a corrupção, não é?

O que diz Alberto Youssef, o ladrão que virou oráculo da verdade é o bastante para demolir reputações, prender, quase para linchar alguns.

Alguns, mas não a outros.

Os grandes jornais fizeram silêncio quase absoluto diante do vídeo em que ele expõe a informação que Aécio dividia com o PP as “mesadas” de uma diretoria de Furnas.

Um ou outro, discretamente, fala num “ouviu dizer”, “suposto”, “alega” e outros melindres que jamais se fez em relação a qualquer outro.

Um vago “sabiam” em relação a Lula e Dilma deu capa da Veja na véspera das eleições.

O “Aécio levava US$ 100 mil por mês” dá notinhas evasivas.

E olhem que não é um “vazamento”, não é o trecho de um documento, mas um vídeo, com toda a sua carga chocante.

Mesmo interrogado por um promotor que, além de “trocar” diversas vezes no nome de José Janene por José Gen0íno – ah, o que vai na alma de nossos promotores! – não se preocupa em perguntar que diretoria, em que negócios, e outras informações objetivas, o vídeo é mais que notícia, seria manchete em qualquer país onde houvesse uma imprensa livre e independente.

Afinal, é um candidato presidencial, “dono” de 51 milhões de votos, que é diretamente acusado de receber propinas.

Vejam bem: não doações para a campanha eleitoral, mas “mesada”!

Mais, de uma empresa que tinha em seu Conselho de Administração ninguém menos que o pai de Aécio, Aécio Ferreira da Cunha, que ficou lá no Governo Fernando Henrique Cardoso e nos primeiros anos do governo Lula!

Isso não merece sequer investigação, não é, Dr. Janot?

Não precisa mais censor.

O seu direito de saber dos fatos, agora, está completamente vinculado a que seja da conveniência do cartel da mídia.

Ou de que você os procure em matérias pequenas, no meio do texto ou em referências esparsas.

Não se trata mais de “parcialidade”.

É silêncio.

Se alguém quer saber como é que uma ditadura encobre a corrupção, olhe para o que está acontecendo.


 

Leia o artigo abaixo do jornalista Luís Nassif:
 
 

 
Errou o Procurador Geral da República Rodrigo Janot ao não pedir abertura de inquérito contra o senador Aécio Neves.
 
Primeiro, porque na delação do doleiro Alberto Yousseff havia indícios suficientes para a abertura de inquérito. Conforme o PGR cansou de alertar, pedido de inquérito não significa condenação nem incriminação de ninguém. É apenas um procedimento de levantamento de provas, em cima de indícios. Se nada for encontrado, arquive-se; se forem encontradas provas, proceda-se à denúncia, que poderá ou não ser aceita pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
 
Em seu depoimento oral, Yousseff apresenta dados objetivos de fácil apuração.
 
*  Diz que Aécio Neves recebia propinas através de uma diretoria de Furnas, segundo relato do finado deputado José Janene (PP), que também tinha uma diretoria por lá.
 
*  Informa por onde passava o dinheiro da propina, a empresa Bauruense.
 
*  Informa o valor presumido da propina, de US$ 100 mil mensais.
 
*  Informa a possível destinatária da propina.
 
*  Diz basear-se nas conversas que tinha com Janene e com o proprietário da Bauruense.
 
Ora, com base nessas informações, bastaria requerer a quebra de sigilo da Bauruense, analisar seus extratos e balanços e fazer o mesmo da suposta ponta recebedora.
 
Tinha razão o Ministro Teori Zavaski quando comentou com pessoas próximas que foram abertos inquéritos com elementos muito menos robustos do que aqueles que constavam contra Aécio.  Ele não entrou em juízo de valor, se deveria ou não ter sido solicitado o inquérito. Apenas comparou condições.
 
O segundo erro do PGR foi não considerar que, ao livrar Aécio do inquérito, ele reforçou a manipulação política da Lava Jato. E aí reside o grande risco: valer-se da operação não para corrigir desvios históricos, mas apenas como ferramenta de ataque político.
 
O grande fator de legitimação do trabalho da Lava Jato - e do Ministério Público Federal em geral - é a isenção. Para setores relevantes da opinião pública, o MPF tem lado, pela resistência em atuar em casos envolvendo o PSDB. E pelos vazamentos seletivos, aceitos passivamente por Janot. É só comparar o depoimento de Alberto Yousseff sobre Aécio com o que foi dito sobre Dilma - com o que saiu na mídia na véspera das eleições.
 
Pode ser fama injusta, mas é real.
 
O pedido de abertura de inquérito contra Aécio teria a tripla finalidade de mostrar isenção, reduzir seus ímpetos golpistas e desmanchar a hipocrisia histórica da política brasileira para quem o jogo político se resume aos "seus ladrões"  e aos "meus operadores de bem".
 
A consequência dessa piscada de Janot está aí: o probo Aécio pedindo o fim do partido adversário, devido ao recebimento de propinas.




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