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domingo, 23 de setembro de 2018

Amédée Péret e Annete - Emperaire no sítio arqueológico pré-histórico onde foi encontrado o crânio de Luzia

Das 20 milhões de peças do Museu Nacional no Rio de Janeiro, devastado por um incêndio, os brasileiros lamentam em particular a perda de Luzia, "a primeira brasileira" , que  viveu  cerca de 12 mil anos atrás nessa parte das Américas e foi descoberta em Minas Gerais.

Os restos mortais de Luzia foram encontrados na década de 1970 pela antropológa  Annete Laming Emperaire. 

Annette Laming - Emperaire se dedicou à sua paixão pelas pesquisas e escavações, que lhe trouxeram ao Brasil e como diretora de pesquisas da École Pratique des Hautes Etudes, de Paris, Annette foi, nos anos 1970, coordenadora científica da missão franco-brasileira de Lagoa Santa, e atuou no abrigo de Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo, na Grande BH. 
Nesse local foi possível, pela primeira vez, obter a datação mínima para pinturas rupestres brasileiras e encontrou o fóssil humano com datação mais antiga do país, a Luzia.

Registro do encontro

O diretor do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais  (Iepha/MG), o arquiteto Luciano Amédée Péret acompanhando os trabalhos da equipe franco-brasileira, chefiada por Annette Laming - Emperaire no sítio arqueológico na região de Lagoa Santa.

     Luciano Amédée Péret com Annette Emperaire


Amédée Péret com pesquisadores da missão franco-brasileira  (primeiro à direita: André Prous). No encontro o diretor do Iepha/MG reafirmou o apoio do instituto e do Estado aos trabalhos dos pesquisadores.









A missão franco-brasileira em Lagoa Santa, sob a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), ficou na região entre 1974 e 1976 e concentrou as escavações principalmente na Lapa Vermelha de Pedro Leopoldo. Foi nessa caverna que Annette encontrou Luzia, cujo crânio estava no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ) que foi consumido pelo fogo entre a noite de domingo (02/09) e a madrugada de segunda-feira (03/09).

Um riquíssimo acervo foi destruído, composto, entre muitas peças, pelos milhares de vestígios arqueológicos retirados da gruta Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo, na Grande BH, e levados para  o Museu, na década de 70.

Em 1998, a primeira mulher da América, como entrou para a história, ganhou um rosto e uma história. Ao fazer o levantamento de coleções de fósseis no museu, o antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo (USP), fez estudos aprofundados sobre os ossos e providenciou a datação, que é de 11,4 mil anos.

Um dos grande méritos da missão franco-brasileira foi resgatar a importância , no cenário científico mundial, de Lagoa Santa, onde Peter Lund, em mais de quatro décadas, coletou mais de 12 mil fósseis, os quais foram enviados, em 1845, ao rei da Dinamarca. 


Linha do tempo

1801 – Nasce na Dinamarca Peter W. Lund, que viveu 46 anos na região de Lagoa Santa e é considerado o pai da paleontologia, arqueologia e espeleologia brasileiras


1832 –Lund (1801-1880) faz as primeiras descobertas de fósseis em cavernas e abrigos de Lagoa Santa


1845 – Lund envia ao rei da Dinamarca a coleção de fósseis encontrados na região de Lagoa Santa


Década de 1950 – Pesquisadores da Academia Mineira de Ciências e do Museu Nacional do Rio de Janeiro retomam as escavações na região


1974 –Missão franco-brasileira, chefiada por Annette Laming Emperaire (1917-1977), faz escavações, até 1976, em Lagoa Santa

1975 – Annette Laming encontra na Lapa Vermelha IV o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo com datação do Brasil

1998 – Antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, estuda e data (11,4 mil anos) o crânio de Luzia



segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Annette Emperaire e a descoberta do fóssil humano mais antigo do Brasil: Luzia




Foto: A arqueóloga Annette Laming Emperaire e o diretor do Iepha/MG Luciano Amédée Péret na época dos trabalhos arqueológicos na região de Lagoa Santa.


Annete Emperaire chefiou missão franco-brasileira que encontrou o fóssil humano mais antigo do país na região de Lagoa Santa, conhecida como Luzia.


 A missão franco-brasileira em Lagoa Santa, sob a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), ficou na região entre 1974 e 1976 e concentrou as escavações principalmente na Lapa Vermelha de Pedro Leopoldo. 
Foi nessa caverna que Annette encontrou Luzia, cujo crânio estava no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ). 

Em 1998, a primeira mulher da América, como entrou para a história, ganhou um rosto e uma história. Ao fazer o levantamento de coleções de fósseis no museu, o antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo (USP), fez estudos aprofundados sobre os ossos e providenciou a datação, que é de 11,4 mil anos. 

 O arqueólogo e antropólogo Walter Neves, coordenador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), não foi o responsável por ter resgatado esse antigo esqueleto de um sítio pré-histórico, mas foi graças a seus estudos que Luzia, assim batizada por ele, tornou-se o símbolo de sua teoria de povoamento das Américas: o modelo dos dois componentes biológicos.
Formulada há mais de duas décadas, a teoria advoga que nosso continente foi colonizado por duas levas de Homo sapiensvindas da Ásia. A primeira onda migratória teria ocorrido há uns 14 mil anos e fora composta por indivíduos parecidos com Luzia, com morfologia não mongoloide, semelhante à dos atuais australianos e africanos, mas que não deixaram descendentes. A segunda leva teria entrado aqui há uns 12 mil anos e seus membros apresentavam o tipo físico característico dos asiáticos, dos quais os índios modernos derivam.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Homenagem da Radio Inconfidência aos 90 anos de Luciano Amédée Péret: IEPHA - Memória Viva de Minas

O programa Revista da Tarde, da Rádio Inconfidência AM 880, apresentado pela jornalista Débora Rajão, com a participação do técnico do Iepha Beto Mateus no quadro IEPHA: Memória Viva de Minas homenageou o arquiteto Luciano Amédée Péret pelos seus 90 anos. Participei do programa lembrando a trajetória profissional de meu pai e a sua dedicação a preservação do Patrimônio Histórico de Minas Gerais. Confira o bate-papo clicando abaixo:



O quadro IEPHA: Memória Viva de Minas começou o ano de 2018 com uma comemoração muito especial. Foram lembrados os 90 anos do arquiteto Luciano Amédée Péret, que comemorou a data juntamente com a família no dia 07 de janeiro. Para relembrar a trajetória profissional e homenagear um dos fundadores do IEPHA, a apresentadora Déborah Rajão e o técnico do Iepha Beto Mateus receberam o filho de Luciano, o dentista Luiz Ricardo Amédée Péret.

 Ao lado da jornalista Débora Rajão e do técnico do Iepha Beto Mateus


No bate-papo, Luiz Ricardo lembrou fatos importantes protagonizados por seu pai, nascido em Belo Horizonte em 07 de janeiro de 1928, na proteção do patrimônio cultural mineiro, dentre eles a restauração do adro e capelas do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, na cidade de Congonhas, em que Luciano trabalhou juntamente com o paisagista Roberto Burle Marx. Em sua passagem pelo IEPHA, Amédée Péret ocupou o cargo de diretor-executivo a partir da fundação da instituição em 1971 até o ano de 1979, quando assumiu a presidência até o ano de 1983, durante o governo Francelino Pereira. Nesse período coordenou diversas restaurações de prédios e monumentos em Minas Gerais, com a administração dos maiores recursos até hoje investidos na preservação do patrimônio cultural mineiro. Nessa época, ocorre a histórica intervenção para a instalação de centenas de vigas metálicas para manterem o Palácio da Liberdade em pé, ameaçado que estava pela movimentação do terreno.


Luciano Amédée Péret completou 90 anos no dia 7 de janeiro e comemorou com familiares

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

BH 120 anos: De onde vieram os materiais para a construção da nova Cidade?

Prof. Luciano Amédée Péret vai completar 90 anos em                                   janeiro de 2018

Belo Horizonte completa 120 anos e recupero  um artigo do meu pai, sobre a procedência dos materiais empregados na construção da cidade. Mais do que uma curiosidade histórica o relato mostra as dificuldades e desafios que os construtores da nova capital tiveram que enfrentar.

O professor e arquiteto Luciano Amédée Péret, na ocasião do aniversário de 96 anos de Belo Horizonte, em 1993, escreveu este artigo mostrando um novo aspecto do trabalho realizado na construção da nova Capital; respondendo a uma indagação: qual seria a procedência dos materiais de construção empregados na nova cidade?

O objetivo do artigo foi, a partir de alguns dados históricos, demonstrar o esforço feito pelas gerações passadas, também por este ângulo.

Notícia Histórica sobre a Construção de Belo Horizonte 

Por Luciano Amédée Péret*

Belo Horizonte, a cidade criada para sede do Governo do Estado de Minas Gerais, completa 96 anos (hoje, 120 anos). Agigantou-se apresentando novas características; e hoje é uma grande metrópole, com qualidades e defeitos inerentes ao seu crescimento. Diante da sua potencialidade e grandeza, perdeu aquela finalidade exclusiva de ser unicamente cidade sede do Governo.

Ao pesquisar a história de sua construção, pelos idos de 1895 a 1897, uma indagação nos ocorreu: Qual a procedência dos materiais de construção empregados na nova Capital? Várias vezes tivemos nossa atenção voltada para os métodos construtivos adotados naquela época, a falta de mão de obra especializada e, principalmente, os materiais a serem empregados.

O historiador Padre Francisco Martins Dias, na sua obra "Traços Históricos e Descritivos de Belo Horizonte", em 1897, afirmava:
"Quem com espírito perspicaz e observador, estuda o movimento da construção da nova cidade, aonde as circunstâncias de lugar, de tempo e de pessoas, vê a ordem e a harmonia que reina, o andamento regular de todos os serviços, admira-se e conclue reconhecendo que verdadeiramente Deus têm protegido a Nova  Cidade de Minas desde os seus primeiros fundamentos".

" Memória  Histórica  e Descritiva de Belo Horizonte", escrita por Abílio Barreto, nos dá a notícia dos fatos que se desenrolaram para a construção da nova Capital. Historiador dedicado, que em dois livros - História Antiga e História Média - desta cidade, alinhou com zelo, carinho e honestidade os episódios verificados nas regiões do Curral D'el Rei, até a inauguração da nova Capital do Estado de Minas Gerais, a cidade de Minas, depois Belo Horizonte.

No presente artigo procuramos esclarecer e contribuir com alguns dados históricos, para não nos esquecermos do passado, mostrando um novo aspecto do trabalho encentado pelos mineiros, na luta heróica travada a curto prazo que tornou possível a mudança da Capital, proporcionando novos dimensionamentos ao Estado de Minas Gerais.

Respondendo à indagação feita sobre a procedência dos materiais de construção, tivemos a resposta ao consultarmos, no Arquivo Público  Mineiro, a documentação ali existente.  Os edifícios públicos  e as casas dos funcionários públicos, bem como todo o equipamento destinado ao abastecimento de água e instalações elétricas foram importados de diversos países da Europa e dos Estados Unidos.

Um documento mostra a origem da escada nobre do Palácio Presidencial, hoje chamado Palácio da Liberdade, vinda da Societé Anonyme Ateliers de Construction Forges & Acierés de Bruges - Bélgica, no "Argentina", no mês de maio de 1897.
Em outro documento - ofício n. 652, de 16 de novembro de 1896 consta que no vapor Atála vinham para o Palácio  Presidencial  quatro caixas pesando 720 kg, marca Acierés Bruges - Rio de Janeiro, Palácio  C.C.N.C.M. , conforme a nota de expedição. Eram mais duas escadas destinadas ao Palácio em construção.

Os ofícios mencionados eram dirigidos ao delegado do Tesouro Nacional pelo secretário  da Agricultura, Francisco Sá  e ao ministro da Fazenda, pelo presidente do Estado  Chrispim Jacques Bias Fortes. Ambos solicitavam, em nome do Governo de Minas Gerais, isenção de direitos aduaneiros de importação  na Alfândega do Rio de Janeiro, bem como a devolução da importância  já  paga, a fim de liberar com rapidez  a mercadoria.  A escada nobre do Palácio  da Liberdade  é patenteada tendo uma plaqueta com a seguinte inscrição: Eyenwerk Joly Wittenberg D. R. Patent.

Percorrendo a documentação sobre as providências  tomadas em relação às construções que estavam sendo realizadas pela C.C.N.C.M. , isto é, Comissão  Construtora  da Nova Capital de Minas, encontramos  os nomes dos vapores que trouxeram  os materiais destinados  a Belo Horizonte.  Assim sendo, verificamos que o material  elétrico destinado  à iluminação pública fora adquirido  nos Estados Unidos e na Inglaterra. No mês de julho de 1897, o vapor Coleridge trazia, procedente  de Nova York, tubos de ferro para instalação elétrica - 1.000 tubos e 655 isoladores. Da Inglaterra veio material para o encanamento  e respectivos acessórios, destinados à instalação da luz elétrica, embarcados no vapor Bellaina.

Para a decoração dos edifícios, no vapor Olinda, chegaram seis fardões de papelão, destinados aos edifícios públicos e procedentes da França. Também para decoração, não só dos edifícios públicos, mas também das casas dos funcionários, veio material procedente de Hamburgo, Alemanha.

Em 23 de junho de 1897, pelo vapor Cintra, vieram  seis caixas, contendo 36 peças de algodão cru, destinados à decoração dos tetos dos edifícios públicos.

Também o material de pintura foi todo importado: cento e dez barricas de óleo de linhaça; seis caixas com tintas e tubos; seis fardões de papelão  e uma caixa de "aluminium", encomendados a Benedict - Schonfeld em Hamburgo, Alemanha, e embarcados nos vapores Bellanock ( de Londres) e Buenos Aires ( de Hamburgo).

Destinado ao abastecimento de água, foi adquirido material da "The Brasilian Contrects Corporation Limited", embarcado em Glasgow, no vapor Nosmyth, em março de 1897. Pelo vapor Biella vieram de Londres quatro caixões, com torneiras de metal para distribuição de água, em abril de 1897.

Pelo vapor Cavour, vieram 15 colheres para chumbação, procedentes de Londres, destinadas, também, ao serviço de abastecimento de água.  O vapor Taylor trouxe material sanitário, louças, WC, mictórios, etc.

O cimento veio de Londres, no barco "Premier", em 21 de abril de 1897, segundo o ofício 543.

Em documento datado de 11 de fevereiro de 1897 lê-se o seguinte:
"Nova Capital
"Secretaria de Agricultura, 11 de fevereiro de 1897.
"Ofício 101
" 3a Secção
"Ao delegado fiscal do Tesouro Federal
"Peço-vos encaminhar ao seu destino, procedido de vossa informação, o ofício dirigido pelo Sr.  Presidente do Estado ao ministro da Fazenda,solicitando isenção de direitos aduaneiros de importação da Fazenda na Alfândega do Rio, para uma ponte artística  adquirida na Europa e destinada à Nova Capital do Estado.
"Incluo a 1a via da respectiva factura, conforme estabelece a circular n.48, de 30 de abril de 1896.
"S. e F.
" Dr. F.de Sá.
" No ofício 653, vê-se referência a esta ponte artística, encomendada ao engenheiro Jos Jaegler, destinada à Nova Capital do Estado, vinda pelo vapor Atala, com 328 volumes, pesando 36.736,5 kg, tendo a marca "Acieries de Bruges".

O material destinado ao ramal férreo da Nova Capital veio pelo vapor Flaxman, também importado.

Em 4 de janeiro de 1897, o vapor Newton trazia zinco em chapas.

Os primeiros hidrômetros aqui instalados, em número de 450, marca Frager, e os respectivos sobressalentes, destinados ao abastecimento d'água, foram importados e transportados pelo vapor Paranaguá (Ofício 322).

O edifício do necrotério, do cemitério do Bonfim  teve seu material de cobertura e decorações  importados da Bélgica.  Pelo ofício n. 595 anotamos: "cinco caixas contendo material destinado ao Necrotério  da Nova Capital, vindos no vapor Ville de S. Nicolás".

A escada da Secretaria da Agricultura, hoje de Obras Públicas veio da Acierés de Bruges, da Bélgica, pelo vapor Caravellas.

A escada da Secretaria da Finanças, hoje da Fazenda, também provenientes da Bélgica, foi transportada pelos vapores  Ville de Buenos Aires e Colônia (Ofício 380 - Dr Bias Fortes).

As vigas Joly em duploT aplicadas nas obras das secretarias e do Palácio da Liberdade  foram transportadas por diversos vapores, entre os quais o Ville de Montevideo.

De Liverpool, na Inglaterra, pelo vapor Orapesa, anotamos as seguintes mercadorias: três mictórios  "Adamant", de barro esmaltado, completos, idem de louças "Cardinal"; cinco mictórios de louça branca, completos; sete lavatórios de louças branca, completos; 49 cisternas de ferro fundido.

Para o edifício da Imprensa Oficial diversos materiais  foram embarcados pelo vapor Buffon, bem como material para decoração  transportado pelo vapor Olinda.

Ainda podemos mencionar, vindo de Nova York, material elétrico  transportado pelo vapor Buffon (ofício n. 60) e pelo vapor Galileo (ofício n. 603).

Poderíamos ainda mencionar os materiais vindos da França, como a telha francesa de Marseille, ou a madeira, o pinho proveniente de Riga o que deixaremos como assunto de outra notícia.

Desejamos mostrar quanto esforço foi feito pelas gerações passadas, que, enfrentando tantas dificuldades, conseguiram, com ordem, harmonia e gosto, construir a nossa Belo Horizonte, que chegou a ser também chamada Cidade Jardim.
  
*Luciano Amédée Péret 
Foi professor e diretor da Escola de Arquitetura da UFMG, foi diretor executivo e presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de MG (IEPHA), membro do Instituto Histórico e Geográfico de MG, foi diretor da FUMEC, foi diretor da Escola de Belas Artes da UFMG

terça-feira, 10 de junho de 2014

Palácio dos Despachos se transforma em Casa Fiat de Cultura


Por Luiz Ricardo Péret

Foi inaugurada nesta segunda-feira, 9 de junho, a nova sede da Casa Fiat de Cultura em Belo Horizonte, Minas Gerais. A Casa Fiat de Cultura, que em seus oito anos de atividades conquistou o público com grandes realizações, alcançando mais de 600 mil visitantes, aceitou o convite de integrar o Circuito Cultural Praça da Liberdade, implantando novas instalações no simbólico Palácio dos Desapachos. A novidade dá fôlego e vigor à programação cultural de Belo Horizonte em local de mais fácil acesso, em edifício que compõe o conjunto arquitetônico e histórico do Palácio da Liberdade. O público continuará a apreciar exposições inéditas de importantes coleções e acervos de museus do Brasil e do mundo, sempre com acesso gratuito. Para marcar a ocasião, a Casa Fiat de Cultura apresenta a exposição Barroco Itália Brasil – Prata e Ouro, que promove relevante diálogo entre a arte que nasceu na Itália e floresceu em Minas Gerais.

luciano_amedee_peretLuciano Amédée Péret

Projetado pelo arquiteto Luciano Amédée Péret, em 1967, durante a gestão do Governador Israel Pinheiro, o Palácio dos Despachos foi construído para abrigar o serviço administrativo do Estado, uma vez que o espaço do Palácio da Liberdade se tornou insuficiente para acomodação de um número elevado de pessoal.

O prédio apresenta características da arquitetura modernista, com andares livres e estrutura autônoma. A fachada é protegida da insolação por brise-soleil e o acabamento no hall principal é em mármore Marta Rocha.

 Durante décadas, o Palácio dos Despachos foi marcado por importantes atos e decisões governamentais. O prédio faz parte do complexo do Palácio da Liberdade.

Após uma série de pesquisas e um intenso trabalho de especialistas sobre a melhor forma de manter a estrutura do edifício e aproveitar seu espaço, deu-se início às obras que transformaram o Palácio dos
Despachos na atual sede da Casa Fiat de Cultura. Durante dois anos, profissionais técnicos, administrativos e operacionais, ligados às áreas de Engenharia, Arquitetura, Patrimônio, Urbanismo e Museologia, dedicaram-se ao desafio. Após o desenvolvimento e aprovação dos projetos, foram mais nove meses para a execução da obra, que envolveu mais de 100 profissionais em um  total de 104 mil horas trabalhadas. Na restauração das áreas tombadas foram empregados mão de obra especializada e materiais de alta qualidade nos 6 mil metros quadrados do espaço, que se divide em cinco pavimentos, sendo 1,4 mil metros quadrados destinados à área expositiva. 

A solenidade de inauguração da Casa Fiat de Cultura iniciou-se com o pronunciamento do seu presidente José Eduardo de Lima Pereira, que afirmou:   

José Eduardo de Lima Pereira

 “Não miramos em um público específico. Gostaríamos de encher as galerias não só de fãs entendidos de arte, mas de gente de todas as idades e tipos”
Ressaltou também o projeto do Palácio dos Despachos executado pelo arquiteto Luciano Amédée Péret, em 1967, que apresenta uma estrutura robusta que permite à Casa Fiat realizar hoje com segurança exposições de grande porte.
  

Vera de Castro Amédée Péret, representando seu marido, o arquiteto Luciano Amédée Péret (que não pode comparecer), e demais autoridades, como o Governador Alberto Pinto Coelho e o Presidente da Fiat Chrysler para a América latina Cledorvino Belini , participaram do descerramento das placas referentes às obras de 1967 e de 2014





                                                    A placa referente às obras de 1967



                                         Placa referente inauguração da Casa Fiat de Cultura

                                     

Para abrir o calendário e as atividades deste ano, a Casa Fiat traz a exposição Barroco Itália Brasil - Prata e Ouro. A mostra vai exibir gratuitamente quarenta esculturas barrocas dos mais importantes acervos italianos e brasileiros. Inaugurada a dois dias do início da Copa e no ano em que se homenageia o bicentenário de morte de Aleijadinho (1738-1814), ícone do barroco nacional, a atração será também uma boa oportunidade para apresentar aos turistas um período marcante da arte e da história de Minas Gerais.

Conhecida pelas formas rebuscadas e pela maneira dramática de retratar personagens da iconografia cristã, a escultura barroca nasceu na Itália, no fim do século XVI, e chegou ao Brasil no século seguinte. “A abundância do ouro em Minas Gerais influenciou o estilo e favoreceu a exuberância das esculturas que vemos hoje em nossas cidades históricas”, explica o curador e ex-prefeito de Ouro Preto Ângelo Oswaldo. Responsável pela parte brasileira da exposição, ele escolheu vinte peças de madeira de grandes nomes da arte no estado. Dezoito são de ícones como Mestre Valentim, Mestre de Piranga e do próprio Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. As outras duas são dos artistas contemporâneos Alfredo Ceschiatti (1918-1989) e Maurino de Araújo. A metade italiana da mostra foi organizada por Giorgio Leone e Rossella Vodret e reúne vinte peças de prata vindas de importantes coleções, como a do Museu do Tesouro de São Genaro, em Nápoles. Foram selecionados bustos e esculturas de até 2,20 metros de altura, como a Santa Rita de Cássia, de Luigi de Luca.



Divulgação

Data: de 10.06.2014 até 07.09.2014
   
A mostra inédita reúne, pela primeira vez no mundo, obras que apresentam ao público a face luminosa da escultura barroca italiana do século XVII e de grandes artistas do Barroco mineiro e brasileiro que traduzem a riqueza histórica e artística do período colonial.

Clique abaixo e assista ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=PC1hzCBmPmk&feature=player_embedded
Miniatura1:41 Casa Fiat de Cultura inaugura nova sede no Circuito Praça da Liberdade por Jornal da Alterosa      

      

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Casa Fiat inaugura espaço de exposições de arte no antigo Palácio dos Despachos

Casa Fiat inaugura sede na Praça da Liberdade com grande exposição sobre o barroco

Após oito anos no Belvedere, instituição ocupará o antigo Palácio dos Despachos

por Raíssa Pena | Veja BH
Victor Schwaner/Odin

O painel Civilização Mineira (à esq.), de Portinari, a Livraria da Casa e o Café Frau Bondan: atrações do hall

A partir de terça (10), não dá mais para reclamar que é “fora de mão”. Após oito anos de funcionamento no Belvedere, a Casa Fiat de Cultura vai se mudar para o antigo Palácio dos Despachos, integrando o Circuito Cultural da Praça da Liberdade. A rede de museus - que, em dezembro, também passará a contar com o Oi Futuro - recebeu mais de 780 000 pessoas em 2013. Com a chegada do centro cultural, a expectativa é atingir 1 milhão de visitantes em 2014. Recordista em público de exposições de arte em Beagá e com localização privilegiada, a nova Casa Fiat deve formar filas cada vez maiores em sua porta. “Não miramos em um público específico. Gostaríamos de encher as galerias não só de fãs e entendidos de arte, mas de gente de todas as idades e tipos”, diz o presidente José Eduardo de Lima Pereira.

Instalado atrás do Palácio da Liberdade, o Palácio dos Despachos funcionou como sede administrativa do governo de Minas Gerais. Lá era o lugar de atos oficiais (como o que autorizou a vinda do complexo industrial da Fiat para Betim), de entrevistas coletivas com o governador e de armazenamento de papéis, muitos papéis. Pensando no volume e no peso dessa papelada, o arquiteto Luciano Amedée Péret projetou em 1967 uma estrutura robusta que permite à Casa Fiat realizar hoje com segurança exposições de grande porte. O edifício de cinco andares abriga no hall o painel Civilização Mineira, pintado por Candido Portinari (1903-1962) em 1959 e inteiramente restaurado no ano passado. Ainda na entrada ficam a Livraria da Casa (a mesma do Centro Cultural Banco do Brasil) e uma unidade do Café Frau Bondan. No 3º e 4º andares estão os espaços expositivos, cada um com 700 metros quadrados. A fachada, as mangueiras centenárias do jardim e a Capela de Santana, localizada no pátio posterior, são tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Construída em 1957 a pedido da então primeira-dama do estado, Francisca Bias Fortes - a Dona Queridinha -, a pequena igreja também vai integrar as atividades da Casa Fiat. A capela será preparada para abrigar concertos de música clássica a partir de 2017, quando devem ser inaugurados um restaurante e um auditório subterrâneo com capacidade para 250 pessoas.
Para abrir o calendário e as atividades deste ano, a Casa Fiat traz a exposição Barroco Itália Brasil - Prata e Ouro. A mostra vai exibir gratuitamente quarenta esculturas barrocas dos mais importantes acervos italianos e brasileiros. Inaugurada a dois dias do início da Copa e no ano em que se homenageia o bicentenário de morte de Aleijadinho (1738-1814), ícone do barroco nacional, a atração será também uma boa oportunidade para apresentar aos turistas um período marcante da arte e da história de Minas Gerais.

Conhecida pelas formas rebuscadas e pela maneira dramática de retratar personagens da iconografia cristã, a escultura barroca nasceu na Itália, no fim do século XVI, e chegou ao Brasil no século seguinte. “A abundância do ouro em Minas Gerais influenciou o estilo e favoreceu a exuberância das esculturas que vemos hoje em nossas cidades históricas”, explica o curador e ex-prefeito de Ouro Preto Ângelo Oswaldo. Responsável pela parte brasileira da exposição, ele escolheu vinte peças de madeira de grandes nomes da arte no estado. Dezoito são de ícones como Mestre Valentim, Mestre de Piranga e do próprio Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. As outras duas são dos artistas contemporâneos Alfredo Ceschiatti (1918-1989) e Maurino de Araújo. A metade italiana da mostra foi organizada por Giorgio Leone e Rossella Vodret e reúne vinte peças de prata vindas de importantes coleções, como a do Museu do Tesouro de São Genaro, em Nápoles. Foram selecionados bustos e esculturas de até 2,20 metros de altura, como a Santa Rita de Cássia, de Luigi de Luca.

E vem mais Itália por aí. Estão em andamento as negociações de uma grande exposição do Renascimento italiano para o ano que vem. Para o primeiro semestre de 2016, a Casa Fiat trará pinturas de Artemisia Gentileschi (1593-1656), uma das discípulas de Caravaggio que integraram a exposição Caravaggio e Seus Seguidores, em 2012. Desta vez, pelo menos, as filas de espera terão vista para a Praça da Liberdade.

Barroco Itália Brasil - Prata e Ouro.
Casa Fiat de Cultura. Praça da Liberdade, 10, Funcionários, ☎ 3289-8900.
Terça a sexta, 10h às 21h; sábado, domingo e feriados, 14h às 21h. Grátis. Até 7 de setembro. A partir de terça (10).

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Palácio da Justiça: a restauração de 1963 e o tombamento em 1977


 Por Luiz Ricardo Péret

No dia 16 de janeiro de 2014 o Palácio da Justiça Rodrigues Campos, edifício-sede do Poder Judiciário Mineiro e de inestimável valor arquitetônico, histórico e cultural da cidade de Belo Horizonte, irá fazer 102 anos. Vamos lembrar um pouco da sua história:

O Palácio da Justiça Rodrigues Campos faz parte do conjunto de edifícios públicos projetados para a nova capital de Minas Gerais, inaugurada em 1897.

A Restauração concluída em 1963

 De 1958 a 1963 o Palácio da Justiça passou por restauração, concluida pelo arquiteto Luciano Amédée Péret. Em seu interior vários quadros, florões dos lustres  e decorações em gesso, nos tetos, foram restaurados pelo escultor, pintor e professor José Amédée Péret.

Quando da inauguração do Palácio da Justiça, após as obras de restauração, o Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, à época, José Alcides Pereira proferiu as seguintes palavras :  
¨ Não seríamos justo e até faltaríamos ao cumprimento do dever se deixássemos de fazer referência ao executor destas obras, o arquiteto Luciano Amédée Péret, designado para dirigir este serviço, ele fez ver ao Secretário que não se tratava de simples reforma de um prédio, mas sim de restauração ou recuperação de um Palácio dos melhores e mais importantes que lhe foi cometida, e, afirma é este o resultado do seu trabalho, em que ficaram bem patenteadas a sua capacidade profissional, a sua idoneidade artística, a sua energia e a sua probidade. Nós, o eminente colega e prezado amigo Desembargador Pedro Braga, que me deu inestimável ajuda, e eu, acompanhamos de perto a atuação vigilante e competente do Dr. Luciano Amédée Péret e, não lhe podemos regatear os melhores e mais francos elogios ¨.
( Discurso publicado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais) 



O Tombamento em 1977

A partir de pareceres e relatórios de responsabilidade do arquiteto e, então, diretor executivo do IEPHA/MG Luciano Amédée Péret, o governador Aureliano Chaves assinou o decreto estadual nº 18641, de 10 de agosto de 1977, efetivando o tombamento do Palácio da Justiça Rodrigues Campos, situado à Avenida Afonso Pena 1420. Foi inscrito nos Livros do Tombo de Belas Artes (Livro II) e do Tombo Histórico (Livro III), que incluiu também seu terreno, as luminárias no arranque da escada nobre; um quadro a óleo do Barão do Rio Branco, pintado por Cesar Bacchi, em Paris, em 1912; duas estatuetas representando ¨Aurora¨ e ¨Crepúsculo¨, esculpidas por Math  Moreau, em Val dOsne, Paris; duas cadeiras de espaldar alto, procedentes de Fórum do interior do Estado; cadeiral e relógio do Salão Nobre; um quadro a óleo de D. Pedro II.

Foto: Arquiteto e diretor executivo Luciano Amédée Péret  na sede do Iepha/MG, à época na rua da Bahia - foto: Assis Alves Horta.
Acervo Luciano Amédée Péret


A seguir a matéria de Gustavo Werneck
Publicação: 14/01/2012  no Jornal Estado de Minas    
    







Construção integra conjunto arquitetônico da Avenida Afonso Pena e tem alegorias romanas e em seu interior possui escada importada da Bélgica.

Justiça seja feita: um dos mais belos, elegantes e, principalmente, bem preservados prédios de Belo Horizonte fica na Avenida Afonso Pena, nº 1.420, no Centro. Em estilo neoclássico, foi inaugurado em 16 de janeiro de 1912. O Palácio da Justiça Rodrigues Campos foi projetado pelo arquiteto italiano Raphael Rebechi e construído pelo engenheiro José Dantas e o coronel Júlio Pinto Coelho, formando hoje, com o Automóvel Clube (1927) e o Conservatório de Música (1926), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos conjuntos arquitetônicos de realce da capital.

“O Palácio da Justiça é um patrimônio dos mineiros. Ele se mantém conservado, sem alterações, da mesma forma como foi construído. Há o elevador original, a escada importada da Bélgica e outros elementos. No início abrigava também o fórum”, diz o desembargador Lúcio Urbano, que foi presidente da casa entre 1998 e 1999, trabalhou mais de 30 anos nesse endereço e é autor do livro Síntese histórica do Tribunal de Justiça. O prédio de dois pavimentos, 31 metros de altura e pintado de azul-claro, é tombado, desde 1977, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural Municipal de BH (1994).


MUDANÇA




O Juiz Marcos Caldeira Brant revela que o TJMG foi transferido para BH em 1897.
Pesquisador da história da Justiça brasileira e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, o juiz Marcos Henrique Caldeira Brant, da 11ª Vara Criminal/Fórum Lafayette, conta que tudo começou em julho de 1897, antes da inauguração da capital. Naquela época, o Tribunal da Relação, antigo nome do TJ, foi transferido de Ouro Preto para BH e, durante sete meses, funcionou no segundo andar da Secretaria do Interior (depois Secretaria de Educação e agora Museu das Minas e do Metal), na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul. Em março de 1898, novas mudanças, com a transferência para o imóvel destinado inicialmente ao ginásio, depois escola normal e atual Instituto de Educação, na Rua Pernambuco. Nesse local, ficou 14 anos.

“Se fosse construído hoje, o Palácio da Justiça, que demandou dois anos e 100 operários para ser erguido, custaria R$ 43 milhões”, diz Caldeira Brant, fazendo um comparativo com os gastos no início do século 20. Ele explica que no governo de Wenceslau Braz (1868-1966), em 1909 e 1910, foi sancionada a Lei nº 499 abrindo crédito de 330 contos de réis para construção do Palácio da Justiça, a fim de sediar o Tribunal da Relação. “Mas o custo final foi mais do que o dobro dessa importância”, afirma o juiz. A inauguração se deu no governo de Bueno Brandão (1858-1932), de 1910 a 1914, sendo presidente do TJ o desembargador Antônio Luiz Ferreira Tinôco.

No começo, o prédio abrigava a Justiça de segunda e primeira instâncias. No segundo andar, funcionava o Tribunal da Relação e, no primeiro, o fórum da comarca da capital, então com 38.822 habitantes e um único juiz de direito.




Artistas

Muitos artistas estrangeiros participaram da decoração interna e externa do prédio, entre eles os irmãos escultores italianos José e Alfredo Morandi, responsáveis pela ornamentação do interior; Madame Bellagamba, que cuidou do mobiliário; J. Bescaal (pintura parietal); e L. Pescini, que executou o vitral representando a Justiça (deusa grega Têmis), fabricado pela Casa Conrado, de São Paulo.

Um detalhe importante, diz o juiz, é que, na fachada lateral direita, as frisas superiores em baixo-relevo representam alegorias à Justiça romana. “Em um século, o Palácio da Justiça sofreu intervenções necessárias à manutenção, mas sem afetar a originalidade. De 1958 a 1963, foi desocupado para restauração, concluída pelo arquiteto Luciano Amedée Peret – na ocasião o TJ ficou instalado no nono andar do edifício do Banco de Credito Real, na Rua Espírito Santo.

Em 1964, o Palácio da Justiça, sob a presidência do desembargador José Alcides Pereira, recebeu a denominação de Rodrigues Campos, em homenagem ao seu 17º presidente (1930 a 1939), pai do ex-governador e então senador Milton Campos. “Admirar os detalhes construtivos da elegante edificação, como o sistema estrutural, portas, janelas, ferragens, vitrais, telhado, cúpula, forros, pisos, ornamentos, frisas, frontões, colunas, capitéis, escadas, gradis e guarda-corpos, é redescobrir muitos encantos artísticos e arquitetônicos”, diz Caldeira Brant.


                Salão Nobre do Palácio da Justiça


LINHA DO TEMPO



Uma das primeiras sessões da corte superior na nova sede foi feita no início do século 20
1897– Instalação provisória do Tribunal da Relação, antigo nome do Tribunal de Justiça (TJMG), transferido de Ouro Preto para o segundo andar da Secretaria do Interior, na Praça da Liberdade

1898 – Mudança do Tribunal da Relação para o prédio destinado inicialmente à Escola Normal e Instituto de Educação, na Rua Pernambuco

1909 – Em outubro, é aberto crédito de 300 contos de réis para construção do Palácio da Justiça

1912 – Em 16 de janeiro, é inaugurado o Palácio da Justiça, edifício- sede do TJMG

1958 – Desse ano até1963, o Palácio da Justiça passa pelo processo de reforma e restauração

1964 – Em janeiro, o prédio é reinaugurado com o nome de Palácio da Justiça Rodrigues Campos

1977 – Em agosto, o prédio é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG)

1988 –Criado o Museu da Memória do Judiciário Mineiro, com mobiliário, processos, documentos históricos e objetos
Saiba mais
Decreto imperial

O Tribunal da Relação de Minas Gerais foi criado, em 1873, por decreto do imperador dom Pedro II (1825-1891) e instalado em Ouro Preto em fevereiro de 1874. Com a transferência da capital, o Judiciário foi o primeiro dos três poderes a se estabelecer em Belo Horizonte, mas, ainda sem sede própria, funcionando em vários locais até 1912. Hoje, no prédio da Avenida Afonso Pena, estão a Justiça de segunda instância e a Memória do Judiciário Mineiro (Mejud/TJMG).
O Palácio da Justiça é um patrimônio dos mineiros. Ele se mantém conservado, sem alterações, da mesma forma como foi construído

sábado, 19 de outubro de 2013

Nos Primórdios do IEPHA/MG


Por Luiz Ricardo Péret

¨ Minas Gerais possui um dos maiores e mais significativos acervos do patrimônio histórico e artístico brasileiro. Em seu território situam-se mais de 60% dos bens culturais que constituem esse patrimônio. No estado sempre existiu uma consciência do valor de sua história e de seu patrimônio. Ainda em 1773, no poema Vila Rica, Cláudio Manuel da Costa já exaltava a beleza e o esplendor dos templos, chafarizes e pontes da antiga capital, chegando inclusive a compará-la a Roma, pela grandeza e riqueza de seus monumentos.

Arquitetos, mestres-de-obras, pintores, escultores e artífices de toda espécie criavam com o seu talento e perícia profissional um acervo artístico - principalmente de arte religiosa - que, além de ser usufruído pelos mineiros daquele tempo, veio a se tornar também a grande herança cultural legada às gerações futuras. Por meio da ação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), muito se impediu da destruição desse patrimônio, pelos homens ou pela ação do tempo¨.
( iepha.mg.gov.br)


                                 
Dr. Renato Soeiro (à esq.) - Diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional  e o Prof. Luciano Amédée Péret - Diretor Executivo do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerrais, em reunião na sede do IEPHA/MG, no ano de 1974. 


A criação do IEPHA

A criação do Iepha, em 1971, se deu a partir da determinação do Governo Federal de criar nos estados e municípios estruturas que ampliassem e dessem condições operacionais à atuação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Sphan (atual Iphan). Essa determinação foi registrada pelo chamado “Compromisso de Brasília”, assinado, em 1970, pelo Governo Federal e por governadores ou representantes de 22 estados.

Coube ao então governador Rondon Pacheco, que participara do encontro de Brasília, determinar as providências referentes à criação em Minas Gerais do órgão estadual de patrimônio histórico e artístico. Um grupo de pioneiros na preservação do patrimônio cultural mineiro foi responsável pelos primeiros passos do Iepha: o advogado Abílio Machado, o poeta e ensaísta Affonso Ávila, o arquiteto Luciano Amedée Péret e o restaurador Jair Afonso Inácio. Pela Lei nº 5.775, de 30 de setembro de 1971, foi criado o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, entidade autônoma, sob forma de fundação, que passou a reger-se pelo Estatuto integrante do Decreto nº 14.374, de 10 de março de 1972.
 
 
O SURGIMENTO DO IEPHA
Jornal Estado de Minas - Suplemento Especial em comemoração aos 20 anos do IEPHA/MG - Novembro 1991
Por Abílio Machado Filho
 
... É de justiça que eu comece por lembrar a imediata e entusiástica acolhida do então Governador Rondon Pacheco à proposta de criação do IEPHA/MG, aceitando inclusive a idéia de faze-lo sob a forma de fundação : assim ele teria autonomia e flexibilidade para manter um pequeno quadro permanente de servidores, com remuneração condigna e para contratar estudos e serviços com quem melhor pudesse faze-los.
  O IEPHA/MG foi criado em perfeita sintonia com o então IPHAN, na época dirigido por Renato Soeiro ... Minha segunda lembrança está na constituição do primeiro Conselho Curador, que o estatuto previa de cinco membros, três dos quais seriam os dirigentes do órgão, como Presidente, Vice-Presidente e Diretor Executivo. A escolha foi orientada pela idéia de que a presidência deveria ser ocupada por um administrador experiente que, além da capacidade executiva, tivesse o espírito ligado ao nosso patrimônio : e que tivessem assento no Conselho um representante da Igreja, detentora da maior parte dos bens tombados de Minas, um historiador, um pesquisador do barroco e um engenheiro, arquiteto ou especialista em assuntos de arte e história.
  Daí decorreram as nomeações de Juko Carneiro de Mendonça, D. Oscar de Oliveira e Luciano Amédée Péret, estes três  com funções executivas, e mais Francisco Iglésias e Affonso Ávila. Algum tempo depois, Francisco Iglésias, por determinação da UFMG, teve de afastar-se do Conselho sendo  substituído pelo saudoso historiador Tarquínio  José Barboza de Oliveira, cujos inestimáveis serviços a Minas, no IEPHA e em outros setores, estão reclamando estudo e registro...basta mencionar seu concurso, como revisor e anotador dos três primeiros volumes da edição dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira feita pelo Estado de Minas Gerais e Câmara dos Deputados.
  Outra lembrança feliz está na aquisição de bens patrimoniais para o IEPHA/MG : sabido que fundação, no direito brasileiro significa um patrimônio para gerar recursos destinados à execução de um objetivo. Assim, foram incluídos  no patrimônio do IEPHA/MG a casa , em Cordisburgo, onde nasceu Guimarães Rosa e depois a sede do órgão na rua da Bahia. Seguiu-se a compra da Fazenda Boa Esperança, em Belo Vale, cuja importância  não é preciso esclarecer: com relação a esse fato, registro o aplauso que em visita nos levou  o Prof. Antônio Lara Resende um dos maiores educadores mineiros; ele passou parte de sua infância na fazenda, conforme conta no primeiro volume de suas deliciosas Memórias...No capítulo das aquisições é preciso lembrar a compra da casa de Ouro Preto : nessa casa pensava-se abrigar um movimento para registrar um pouco da tradição de Ouro Preto no campo da música e do folclore.
A penúltima aquisição foi  a da casa, em Mariana, onde morou Alphonsus de Guimarães...e a última a Chácara do Barão, no Serro.

 
Reunião de trabalho na sede do IEPHA/MG - primeiro à esquerda, Luciano Amédée Péret




Reunião de trabalho na sede do IEPHA - primeiro à direita, de costas, Luciano Amédée Péret e o terceiro à direita, Abílio Machado.  




                             Sede Própia do IEPHA/MG, localizada à rua da Bahia   
 
 
Sede própria do IEPHA, vista lateral
 

   


IEPHA/MG ( 1971 à 1983)
 
 Desde sua criação realizou alguns trabalhos de importância na área de restauração, como a do conjunto de Congonhas, feita em convênio com o Iphan, a da Casa de Guimarães Rosa, em Cordisburgo, onde se instalou um museu consagrado à vida e obra do  escritor mineiro, e a do antigo Senado Estadual, em Belo Horizonte, prédio onde está instalado o Museu Mineiro. Entre os bens adquiridos na época estão a Fazenda Boa Esperança, em Belo Vale, a Casa de Alphonsus de Guimarães, em Mariana, e a Chácara do Barão, no Serro.

Presidiram a instituição, nesse período, José Joaquim Carneiro de Mendonça e o arquiteto José Geraldo de Faria, tendo como diretor técnico, em ambas as gestões, o arquiteto e professor Luciano Amédée Péret - mais tarde presidente, entre 1979 e 1983.
Na primeira década do IEPHA estiveram administrando o Estado, respectivamente, os seguintes governadores: Rondon Pacheco, Aureliano Chaves, Ozanan Coelho e Francelino Pereira.

40anosiepha-3Mesmo com uma estrutura operacional muito simples, foram realizados, nesses primeiros anos, um conjunto considerável de obras e dezenas de tombamentos. Foram restaurados diversos bens tombados no nível federal, dando-se cumprimento aos princípios firmados no “Compromisso de Brasília”. Por outro lado, a política de tombamentos estaduais priorizou Belo Horizonte, que contou com um terço dos bens tombados nessa fase, a começar pelo Palácio da Liberdade, então ameaçado de ser substituído por uma edificação moderna.
No período de 1980 a 1983, devido a um grave problema de recalque em suas fundações, foi realizada a consolidação estrutural e a restauração do monumento, à cargo do arquiteto Luciano Amédée Péret.

Ao assumir a administração do Estado, o governador Francelino Pereira determinou várias providências que resultaram em uma reestruturação geral dos quadros técnico e administrativo e na definição de Programas Prioritários de Ação do Iepha. A estrutura técnico-administrativa passou a contar com três superintendências – Conservação e Restauração; Pesquisa, Tombamentos e Divulgação; e Museus e Outros Acervos – e uma Secretaria Geral, subordinadas à Diretoria Executiva.

A seguir relação de Bens Tombados pelo IEPHA/MG, com pareceres e relatórios conclusivos de responsabilidade do arquiteto Luciano Amédée Péret :

- Palácio da Liberdade - Belo Horizonte
Decreto nº 16956, de 27 de janeiro de 1975

- Fazenda da Posse - Santana dos Montes
Decreto nº 16965, de 30 de janeiro de 1975

- Arquivo Público Mineiro - Belo Horizonte
Decreto nº 16983, de  07 de fevereiro de 1975

-Fazenda da Boa Esperança - Belo Vale
Decreto nº 17009, de 27 de fevereiro de 1975

-Parque Municipal Américo Giannetti  - Belo Horizonte
Decreto nº 17 086, de 13 de março de 1975

- Antigo Conselho Deliberativo - Belo Horizonte
Decreto17087, de 13 de março de 1975

- Conjunto Histórico constituído da Capela de Nossa Senhora do Rosário, casa e sítio da Quinta do Sumidouro - Fidalgo, Pedro Leopoldo
Decreto nº 17729, de 27 de janeiro de 1976

- Igreja Matriz de Santa Luzia do Rio da Velhas - Santa Luzia
Decreto nº 17779, de 09 de março de 1976

- Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem e Praça que a circunda - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Igreja Matriz de Santo Antônio - Mateus Leme
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

-Capela  de Nossa Senhora da Conceição - Couto Pereira
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos - Couto Pereira
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Sede e dependências da Fazenda dos Macacos - Cristiano Otoni
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

-Casa à Rua Direita, 101 - Santa Luzia
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Edifício do Necrotério do Cemitério Bonfim - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Sede da Fazenda dos Martins - Brumadinho
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Monumento Comemorativo do Centenário da Independência Nacional ( o Pirulito, na época se encontrava na Praça Diogo Vasconcelos, na Savassi. Em setembro de 1980, o Pirulito retornou à Praça Sete.) - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

-Conjunto Arquitetônico  e Paisagístico da Igreja  de Nossa Senhora da Lapa - Ravena, Sabará
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Liberdade - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Lagoa e Lapa do Sumidouro - Pedro Leopoldo
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Edifício Palácio da Justiça Rodrigues Campos - Belo Horizonte
Decreto nº 18641, de 10 de agosto de 1977

- Prédio do Fórum da Cidade de Oliveira
Decreto nº 19112, de 28 de março de 1978

- Capela de Nossa Senhora  da Soledade - Lobo Leite, Congonhas
Decreto nº 19113, de 28 de março de 1978

- Capela de Nossa Senhora  da Ajuda - Alto Maranhão, Congonhas
Decreto nº 19 114, de 28 de março de 1978

- Mosteiro de Macaúbas - Santa Luzia
Decreto nº 19347, de 22 de agosto de 1978

- Capela de Nossa Senhora do Rosário e Capela de Santa Efigênia - Mestre Caetano, Sabará
Decreto nº 19463, de 16 de outubro de 1978

- Parque Cabangu e seu acervo - Santos Dumont
Decreto nº 19482, de 24 de outubro de 1978

- Igreja de Santa Isabel de Hungria - Caxambu
Decreto nº 19513, de 26 de outubro de 1978

- Serra do Ouro Branco - Ouro Branco
Decreto nº 19530, de 07 de novembro de 1978

- Antigo Senado Mineiro ( Museu Mineiro) - Belo Horizonte
Decreto nº 19 596, de 05 de dezembro de 1978

- Igreja Santíssimo Sacramento - Jequitibá
Decreto nº 19872, de 20 de março de 1979

- Capela de São Sebastião - Araxá
Decreto nº 19908, de 22 de maio de 1979

- Igreja do Sagrado Coração de Jesus  - Belo Horizonte
Decreto nº 19953, de 06 de julho de 1979

- Igreja de São Francisco de Assis - Minas Novas
Decreto nº 20557, de 13 de maio de 1980

- Capela de São Gonçalo - Minas Novas
Decreto nº 20557, de 13 de maio de 1980

- Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres - Milho Verde, Serro
Decreto nº 20581, de 26 de maio de 1980

- Igreja Matriz de São Gonçalo - São Gonçalo do Rio das Pedras, Serro
Decreto nº 20581, de 26 de maio de 1980

- Casa de João Pinheiro - Caeté
Decreto nº 20582, de 26 de maio de 1980

- Igreja Matriz de Santa Cruz - Chapada do Norte
Decreto nº 20689, de 23 de julho de 1980


Quarenta e dois anos se passaram, desde a sua criação, e o corpo técnico da instituição mantém a tradição, os valores e o espírito dos primeiros trabalhos desenvolvidos em prol da conservação, restauração, proteção e promoção dos bens culturais. Mesmo diante das diversas mudanças no contexto institucional e de concepção que marcaram a trajetória do IEPHA/MG, o fortalecimento de seu caráter de defensor do patrimônio refletiu na sua própria atuação, com a ampliação e consolidação do conceito de patrimônio cultural


Fontes:

-Acervo Luciano Amédée Péret

- Iepha.mg.gov.br

- Suplemento Especial do Jornal Estado de Minas: Iepha 20 anos. Artigo de Abílio Machado Filho: O surgimento do IEPHA. Novembro de 1991. 


    

sábado, 12 de outubro de 2013

Museu Casa Guimarães Rosa

 
Por Luiz Ricardo Péret                                                                                                           
                                                                                                                            
                                                                                                                              
Palavras da filha, escritora e biógrafa de Guimarães Rosa, Vilma Guimarães Rosa, em palestra proferida na Academia Mineira de Letras em 18 de agosto de 2008:

¨ No dia 30 de março de 1974 esta casa onde nasceu papai virou museu.
Inaugura-lo, foi uma grande emoção para mim e minha família. Graças à feliz
decisão do então Governador de Minas, Senhor Rondon Pacheco, adquirindo a
casa de meus avós e entregando-a ao Patrimônio Histórico, o Museu pôde ali
ser organizado. O Professor Luciano Amédée Péret dirigiu a restauração da
casa, procurando usar o máximo de fidelidade ao estilo anterior. A inauguração,
presidida pelo Governador Rondon Pacheco, foi muito bonita e animada, levando a Cordisburgo inúmeras personalidades ilustres. E algumas delas especiais, pois tendo sido amigos de infância de meu pai, se tornaram personagens de suas estórias¨.
Vilma Guimarães Rosa. Revista da Academia Mineira de Letras. Vol.XLIX .Julho,Agosto,Setembro, 2008.Pág. 13 à 34


A CASA MUSEU

¨A casa térrea, em adobe, foi construída na transição dos séculos XIX e XX. A cobertura, em quatro águas, apresenta telhas curvas. Os cunhais coloridos delimitam a fachada frontal, marcada por vãos de vergas retas e pela varanda lateral que anuncia o quintal e o jardim aos fundos. Se a descrição da casa da rua Padre João nº 744, em Cordisburgo, é similar à de outras incontáveis casas localizadas nos municípios mineiros, seu significado, no entanto, é distinto e a torna singular. Modesta e acolhedora é a casa onde João Guimarães Rosa viveu sua infância, de cujas janelas se veem a Estação e os trilhos da Estrada de Ferro que cortam longitudinalmente a cidade, compondo a paisagem, cuja representação é recorrente na obra do escritor.
Os cômodos falam da intimidade da vida em família, ainda hoje designados pela percepção da infância: sala de visita, quarto de hóspede, quarto escuro, quarto do pai e da mãe, da vovó, a cozinha e a venda do pai. À casa somam-se os acervos histórico-documentais de Guimarães Rosa : a coleção de fotografias; de documentos textuais, dentre certidões, diplomas, condecorações, correspondências, discursos, primeiras edições e originais de obras, os registros do escritor também como médico e diplomata; o acervo de objetos de uso pessoal (máquinas de escrever, ternos, gravatas e fardão), o mobiliário (cadeiras, sofás de palhinha, camas e armários), além dos equipamentos e fragmentos do universo rural presentes na literatura Roseana.¨
Silvana Cançado Trindade ( Guia de Bens Tombados IEPHA/MG - ed. 2011/2012)


Na casa , em novembro de 1974, instalou-se oficialmente o Museu Casa Guimarães Rosa, idealizado no contexto da morte do escritor, ocorrida em 1967, e da criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico  e Artístico/MG, em 1971. Adquirido pelo Estado, o imóvel passou a pertencer ao IEPHA/MG. A restauração da casa ficou à cargo do arquiteto e diretor-executivo do IEPHA/MG Luciano Amédée Péret, para implantação do Museu.

A seguir fotos do Museu logo após a restauração, em 1974:




 


 

Fotos do Museu Casa Guimarães Rosa: Assis Alves Horta

Nos anos 1980, a instituição passou por outra reforma .No cômodo frontal da casa, foi reconstituída uma venda típica das pequenas cidades mineiras, com o  propósito de representar o antigo comércio do pai do escritor, ¨a venda do seu Fulô¨, onde o menino Joãozito cresceu ouvindo histórias contadas pelos frequentadores do lugar.
O tombamento do Museu Casa Guimarães Rosa ocorreu em 2002 e coroou extensos esforços  no sentido de preservar e difundir o legado do grande escritor que foram iniciadas pelo IEPHA/MG em seus primórdios na década de 70.

Estado de Minas (por Gustavo Werneck):
Andar pelos cômodos do casarão da Avenida Padre João, onde nasceu João Guimarães Rosa (1908-1967), é descobrir mais sobre o mineiro que ganhou o mundo servindo como diplomata e com a obra traduzida para vários idiomas. À mostra, estão exemplares das primeiras edições de Sagarana, Corpo de Baile, Tutaméia; e claro, Grande Sertão Veredas; a coleção de gravatas-borboletas, traço inconfundível do figurino do escritor; o terno; a cartola; o diploma que recebeu ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967 - três dias antes do seu falecimento; e o mobiliário - guarda-roupa, mesa do escritório, cadeira de balanço. Não poderia faltar jamais a máquina de escrever e ela está lá.
Ficam, também à disposição dos visitantes cerca de 700 documentos textuais, dentre os quais se destacam registros pessoais (certidões, correspondências, discursos, originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de Tutaméia, última obra publicada) e do trabalho como médico e diplomata, além de fragmentos do universo rural presente na literatura Roseana.


¨ O mundo de Guimarães Rosa estendeu-se ¨para além das coisas¨, da matéria construída e do espaço museografado. Rosa pulsa por toda Cordisburgo, presente para sempre nas ruas, nas casas, na alma de seus moradores: na Igreja do Rosário e na Fazenda Bento Velho ( ambas citadas em Recados do Morro); na Escola Mestre Candinho ( onde Rosa aprendeu a ler); na antiga Estação Ferroviária (descrita no conto Soroco, sua mãe e sua filha); no Jardim Sagarana (onde havia um curral de embarque de gado, no tempo de infância de Joãozito) e, também, por meio de extensa agenda cultural de Cordisburgo, cujos eventos são promovidos pelo Museu e pela comunidade.¨
(Silvana Cançado Trindade)

 
¨ O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO. A VIDA É ASSIM : ESQUENTA E ESFRIA, APERTA E DAÍ AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA GENTE É CORAGEM ...¨
Guimarães Rosa
 
 
O DESAPARECIMENTO PREMATURO 
¨Ainda no vigor de seus 59 anos intensamente vividos, ao anoitecer de um domingo de novembro de 1967, Rosa surpreendeu mais uma vez sua família, seu círculo de amigos e a multidão de leitores de sua obra, pouco após o dobre dos sinos, anunciando a Hora do Ângelo. "As pessoas não morrem, elas ficam encantadas", dissera o romancista apenas três dias antes, em concorrida cerimônia na Academia Brasileira de Letras. E naquele ocaso - acaso? - de um 19 de novembro, Rosa ficou para sempre encantado - tornou-se um mito, talvez o maior e mais duradouro dos mitos da cultura brasileira¨.
( site: elfikurten.com.br)  
 
 
Fontes:                                                                                                                                            
-Acervo Luciano Amédée Péret
                                                                                                             
 
- Revista da Academia Mineira de Letras. Vol. XLIX. Julho, Agosto, Setembro,2008. Vilma Guimarães Rosa, pág. 13 à 34. Edição dedicada às comemorações do centenário de nascimento do escritor Guimarães Rosa.    
                                                                                                             
        - Guia dos Bens Tombados IEPHA/MG. Museu Casa Guimarães Rosa. Silvana Cançado Trindade. Ed. 2011/2012