terça-feira, 17 de março de 2015

Luciana Genro e Leonardo Sakamoto: a saída para Dilma é à esquerda

A análise da situação do governo Dilma pela Luciana Genro ( Psol) e pelo jornalista Leonardo Sakamoto 
QUEREM SANGRAR O GOVERNO E LIQUIDAR A ESQUERDA
Rede Brasil Atual:
A candidata à presidência em 2014 pelo Psol e uma das fundadoras do partido, Luciana Genro, defende que os mais ricos e a grande mídia iniciaram um movimento para “sangrar” o PT e para “derrotar” qualquer projeto político de esquerda que se apresente no país, como publicou hoje (16) em sua conta na rede social
Facebook
. “É neste caldo que a grande mídia atua, instrumentalizando e direcionando”, disse.

“Não podemos ser ingênuos quando a Rede Globo estimula um movimento. Querem sangrar o governo e liquidar qualquer ideia de esquerda, usando o PT para por um sinal de igual entre esquerda e PT, e desta forma derrotar os projetos igualitários da esquerda socialista”, afirmou Luciana. “Em junho de 2013 a Rede Globo foi questionada nas ruas por ser claramente identificada com a manipulação ideológica. E é, de fato, o grande partido da classe dominante brasileira. Neste 15 de março a Rede Globo estimulou, promoveu a ida às ruas.”
Luciana acredita que a situação “exige uma mudança profunda” e que nem tudo o que as ruas pedem deve ser levado em conta, principalmente as reivindicações em favor de um golpe militar. Essas bandeiras são “um sintoma claro de que mesmo que milhares tenham tomado as ruas, não se abriu um caminho novo e progressista. Não tenho dúvida de que a maioria dos que estavam nos atos não querem uma saída fascista e nem querem ser controlados por aparatos burocráticos”, disse. “As pessoas querem mudanças, mas para que a direita não ganhe na inércia é preciso avançar em um programa.”

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABrluciana-genro_fabio-rodrigues-pozzebom_agencia-brasil.jpg-1484.html
'Não podemos ser ingênuos quando a Rede Globo estimula um movimento'
“O que vimos pelo Brasil foram atos contra o governo Dilma e contra o PT que expressaram uma indignação geral contra a corrupção e a carestia. Entretanto, ao não ter uma ideologia crítica, anticapitalista, o que predominou foi a ideologia da classe dominante, e no guarda-chuva desta ideologia as posições de direita e extrema direita também se expressam”, afirmou no texto. “É preciso um programa (...)
E se a estrada errada for a escolhida, ao invés de se progredir e superar a crise, poderemos retroceder e permitir que os grandes empresários, bancos, empreiteiras e corporações midiáticas façam valer sua agenda de defesa dos privilégios e de uma sociedade ainda mais desigual.
Para Luciana, apenas a luta contra a corrupção não é suficiente. Ela reivindica que o governo precisa impedir que os trabalhadores e as classes médias sejam prejudicados pela crise, com arrocho salarial e demissões para garantir o lucro. “Basta de cortar recursos da educação e da saúde e manter o pagamento dos juros da dívida pública aos bancos e grandes especuladores. Basta de extorquir o trabalhador e a classe média com impostos e não cobrar o Imposto sobre as Grandes Fortunas e manter os privilégios fiscais dos bancos. É preciso fazer o ajuste nas costas dos milionários e promover o controle público das corporações privadas.”
Apesar de reconhecer a necessidade de mudanças, a ex-deputada, afirma que o impeachment seria “um desastre total” por entregar o governo para Michel Temer (PMDB) e Renan Calheiros (PMDB).
“Precisaríamos sim reorganizar todo o país, através de uma Constituinte democrática”, defendeu. “E para que as eleições representem de fato uma mudança teriam que ser realizadas sob novas regras, sem o dinheiro das empreiteiras e sem as desigualdades abissais na disputa.”
DEPENDE DA DILMA 
Leonardo Sakamoto, em seu blog:
(...) Dilma prometeu um mandato de políticas progressistas em sua campanha à reeleição e, até agora, adotou apenas uma cartilha conservadora. As medidas econômicas que seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, têm tomado poderiam muito bem ter sido adotadas por Armínio Fraga, que seria ministro de Aécio Neves, ou pela “turma do Itaú'', como sua campanha se referia ao grupo de Marina Silva.
Ao mesmo tempo, a economia para resolver os problemas de caixa que sua própria gestão ajudou a criar tem sido feita às custas de mudanças em benefícios previdenciários e sociais. Ou seja, da classe trabalhadora em detrimento aos mais ricos. Enquanto isso, taxação de grandes fortunas, de grandes heranças, de lucros e dividendos ainda é especulação.
O que Dilma Rousseff esquece é que ela não ganhou o segundo turno por conta do marqueteiro João Santana –
 
Pessoas que não são ligadas ao partido, mas defendem bandeiras de esquerda e enxergavam na continuidade do mandato uma possibilidade maior de diálogo para essas pautas, levaram, junto com organizações e movimentos sociais, a campanha ao espaço público e às redes sociais no segundo turno. Conquistaram votos como o PT fazia antigamente – antes do partido se apegar demais ao poder, apaixonar-se pelo reflexo (mentiroso) do espelho e adotar práticas que antes abominava.
Essa militância histórica que defende bandeiras ligadas à efetivação dos direitos humanos e os movimentos sociais foram, por vezes, ignorados ou nem mesmo atendidos nos últimos quatro anos.
Parlamentares representantes do agronegócio, por exemplo, tomaram litros de cafezinho com Dilma, enquanto lideranças indígenas eram atendidas apenas por alguns ministros.
Após a eleição, a grande pergunta era se o governo daria o devido valor a esses grupos, empoderando alas do próprio governo que já tentavam pautar esses temas na agenda e atendendo às reivindicações ou se continuaria levando-os em banho-maria ou ignorando-os em nome da governabilidade – uma palavra tão tosca quanto casuísmo, oportunismo, corrupção e hipocrisia?
Processos de terras indígenas mofam esperando canetadas presidenciais. A reforma agrária parou. Os trabalhadores rurais e urbanos perdem benefícios. Comunidades tradicionais são expulsas em obras que beneficiam grandes doadores de campanha. A tão sonhada reforma urbana não passou nem perto. O combate ao trabalho escravo está deixando de ser vitrine para se tornar vidraça brasileira. Direitos reprodutivos? Ah, vá! Enfim, a lista é maior que isso.
Adotar o que foi prometido em campanha não significaria acirrar os ânimos ou criar cisões. Pelo contrário, seria atuar pela efetivação de direitos fundamentais, por serviços públicos de qualidade, no combate à corrupção e contra os mimos entregues aos financiadores de campanha e uma boa reforma política – o que beneficiaria tanto os que votaram nela, como também em Aécio, em Marina, em Luciana.
Iria deixar uma minoria de ultraconservadores, que não gosta de ver direitos garantidos, bastante insatisfeita – para não dizer possessa. Mas seria uma quantidade menor de pessoas do que aquelas que ocuparam as ruas neste domingo.
Muitos imaginaram que, com o segundo turno, Dilma daria uma guinada à esquerda. E se enganaram. E se decepcionaram. E mesmo a possibilidade de um governo peemedebista não tem sido suficiente para grupos que lhe deram apoio renovarem totalmente seus votos de confiança. A bandeira da “defesa da institucionalidade'', trazida diante de palavras de ordem de impeachment, é deveras frágil para catalisar esses grupos.
Ela não está sozinha e as manifestações de sexta – significativamente menores que as de domingo – mostraram isso. Mas duvido que sejam suficientes para mantê-la no poder. Por isso, ao contrário de muitos colegas, acredito que a saída para ela ainda é à esquerda.
Vai depender de seu governo decidir se irá colocar em prática as promessas que vendeu nas eleições para seus eleitores, resgatando, com isso, parte do apoio que se perdeu – o governo deve fazer merecer novamente o apoio dos trabalhadores, que são a verdadeira força deste país. Ou se irá caminhar, com os aliados que restarem, para o buraco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário