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sábado, 12 de outubro de 2013

Museu Casa Guimarães Rosa

 
Por Luiz Ricardo Péret                                                                                                           
                                                                                                                            
                                                                                                                              
Palavras da filha, escritora e biógrafa de Guimarães Rosa, Vilma Guimarães Rosa, em palestra proferida na Academia Mineira de Letras em 18 de agosto de 2008:

¨ No dia 30 de março de 1974 esta casa onde nasceu papai virou museu.
Inaugura-lo, foi uma grande emoção para mim e minha família. Graças à feliz
decisão do então Governador de Minas, Senhor Rondon Pacheco, adquirindo a
casa de meus avós e entregando-a ao Patrimônio Histórico, o Museu pôde ali
ser organizado. O Professor Luciano Amédée Péret dirigiu a restauração da
casa, procurando usar o máximo de fidelidade ao estilo anterior. A inauguração,
presidida pelo Governador Rondon Pacheco, foi muito bonita e animada, levando a Cordisburgo inúmeras personalidades ilustres. E algumas delas especiais, pois tendo sido amigos de infância de meu pai, se tornaram personagens de suas estórias¨.
Vilma Guimarães Rosa. Revista da Academia Mineira de Letras. Vol.XLIX .Julho,Agosto,Setembro, 2008.Pág. 13 à 34


A CASA MUSEU

¨A casa térrea, em adobe, foi construída na transição dos séculos XIX e XX. A cobertura, em quatro águas, apresenta telhas curvas. Os cunhais coloridos delimitam a fachada frontal, marcada por vãos de vergas retas e pela varanda lateral que anuncia o quintal e o jardim aos fundos. Se a descrição da casa da rua Padre João nº 744, em Cordisburgo, é similar à de outras incontáveis casas localizadas nos municípios mineiros, seu significado, no entanto, é distinto e a torna singular. Modesta e acolhedora é a casa onde João Guimarães Rosa viveu sua infância, de cujas janelas se veem a Estação e os trilhos da Estrada de Ferro que cortam longitudinalmente a cidade, compondo a paisagem, cuja representação é recorrente na obra do escritor.
Os cômodos falam da intimidade da vida em família, ainda hoje designados pela percepção da infância: sala de visita, quarto de hóspede, quarto escuro, quarto do pai e da mãe, da vovó, a cozinha e a venda do pai. À casa somam-se os acervos histórico-documentais de Guimarães Rosa : a coleção de fotografias; de documentos textuais, dentre certidões, diplomas, condecorações, correspondências, discursos, primeiras edições e originais de obras, os registros do escritor também como médico e diplomata; o acervo de objetos de uso pessoal (máquinas de escrever, ternos, gravatas e fardão), o mobiliário (cadeiras, sofás de palhinha, camas e armários), além dos equipamentos e fragmentos do universo rural presentes na literatura Roseana.¨
Silvana Cançado Trindade ( Guia de Bens Tombados IEPHA/MG - ed. 2011/2012)


Na casa , em novembro de 1974, instalou-se oficialmente o Museu Casa Guimarães Rosa, idealizado no contexto da morte do escritor, ocorrida em 1967, e da criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico  e Artístico/MG, em 1971. Adquirido pelo Estado, o imóvel passou a pertencer ao IEPHA/MG. A restauração da casa ficou à cargo do arquiteto e diretor-executivo do IEPHA/MG Luciano Amédée Péret, para implantação do Museu.

A seguir fotos do Museu logo após a restauração, em 1974:




 


 

Fotos do Museu Casa Guimarães Rosa: Assis Alves Horta

Nos anos 1980, a instituição passou por outra reforma .No cômodo frontal da casa, foi reconstituída uma venda típica das pequenas cidades mineiras, com o  propósito de representar o antigo comércio do pai do escritor, ¨a venda do seu Fulô¨, onde o menino Joãozito cresceu ouvindo histórias contadas pelos frequentadores do lugar.
O tombamento do Museu Casa Guimarães Rosa ocorreu em 2002 e coroou extensos esforços  no sentido de preservar e difundir o legado do grande escritor que foram iniciadas pelo IEPHA/MG em seus primórdios na década de 70.

Estado de Minas (por Gustavo Werneck):
Andar pelos cômodos do casarão da Avenida Padre João, onde nasceu João Guimarães Rosa (1908-1967), é descobrir mais sobre o mineiro que ganhou o mundo servindo como diplomata e com a obra traduzida para vários idiomas. À mostra, estão exemplares das primeiras edições de Sagarana, Corpo de Baile, Tutaméia; e claro, Grande Sertão Veredas; a coleção de gravatas-borboletas, traço inconfundível do figurino do escritor; o terno; a cartola; o diploma que recebeu ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967 - três dias antes do seu falecimento; e o mobiliário - guarda-roupa, mesa do escritório, cadeira de balanço. Não poderia faltar jamais a máquina de escrever e ela está lá.
Ficam, também à disposição dos visitantes cerca de 700 documentos textuais, dentre os quais se destacam registros pessoais (certidões, correspondências, discursos, originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de Tutaméia, última obra publicada) e do trabalho como médico e diplomata, além de fragmentos do universo rural presente na literatura Roseana.


¨ O mundo de Guimarães Rosa estendeu-se ¨para além das coisas¨, da matéria construída e do espaço museografado. Rosa pulsa por toda Cordisburgo, presente para sempre nas ruas, nas casas, na alma de seus moradores: na Igreja do Rosário e na Fazenda Bento Velho ( ambas citadas em Recados do Morro); na Escola Mestre Candinho ( onde Rosa aprendeu a ler); na antiga Estação Ferroviária (descrita no conto Soroco, sua mãe e sua filha); no Jardim Sagarana (onde havia um curral de embarque de gado, no tempo de infância de Joãozito) e, também, por meio de extensa agenda cultural de Cordisburgo, cujos eventos são promovidos pelo Museu e pela comunidade.¨
(Silvana Cançado Trindade)

 
¨ O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO. A VIDA É ASSIM : ESQUENTA E ESFRIA, APERTA E DAÍ AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA GENTE É CORAGEM ...¨
Guimarães Rosa
 
 
O DESAPARECIMENTO PREMATURO 
¨Ainda no vigor de seus 59 anos intensamente vividos, ao anoitecer de um domingo de novembro de 1967, Rosa surpreendeu mais uma vez sua família, seu círculo de amigos e a multidão de leitores de sua obra, pouco após o dobre dos sinos, anunciando a Hora do Ângelo. "As pessoas não morrem, elas ficam encantadas", dissera o romancista apenas três dias antes, em concorrida cerimônia na Academia Brasileira de Letras. E naquele ocaso - acaso? - de um 19 de novembro, Rosa ficou para sempre encantado - tornou-se um mito, talvez o maior e mais duradouro dos mitos da cultura brasileira¨.
( site: elfikurten.com.br)  
 
 
Fontes:                                                                                                                                            
-Acervo Luciano Amédée Péret
                                                                                                             
 
- Revista da Academia Mineira de Letras. Vol. XLIX. Julho, Agosto, Setembro,2008. Vilma Guimarães Rosa, pág. 13 à 34. Edição dedicada às comemorações do centenário de nascimento do escritor Guimarães Rosa.    
                                                                                                             
        - Guia dos Bens Tombados IEPHA/MG. Museu Casa Guimarães Rosa. Silvana Cançado Trindade. Ed. 2011/2012

sábado, 5 de outubro de 2013

PÉRET E BURLE MARX (PARTE FINAL) NA RESTAURAÇÃO DO SANTUÁRIO DE CONGONHAS (1973 - 1974)


Por Luiz Ricardo Péret

 


Ao centro, o arquiteto e diretor-executivo do IEPHA/MG Luciano Amédée Péret, responsável pelas obras de restauração e à direita, o paisagista Burle Marx.

 
 

Em 1974, foram concluídas as obras da segunda grande restauração do Santuário Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG), em convênio com o IPHAN , onde foram privilegiados os aspectos arquitetônicos e paisagísticos, com a implantação do projeto dos Jardins dos Passos de Roberto Burle Marx, em substituição ao antigo jardim da década de 1930. 


¨Apesar da construção da Basílica ter sido iniciada em 1757 e as capelas construídas a partir de 1808, não houve nenhum ideário de ocupação do espaço da praça, seja como ambiente de convívio, seja como ornamentação até a década de 1920. A ideia de embelezamento do local surgiu somente com a chegada dos padres Redentoristas a Congonhas em 1923, que se preocuparam com o desenvolvimento da cidade
A partir daí, diversas foram as formas adquiridas pelo jardim, contando, inclusive, com o projeto de Roberto Burle Marx, que modificou o paisagismo com a retirada de plantas que ofereciam um visual carregado e prejudicavam a visibilidade do conjunto do Santuário, seguindo a ideia do anteprojeto de reforma do Santuário de 1933, porém, com linhas mais sinuosas e modernas.
Atualmente, a concepção paisagística da praça é baseada no projeto de Burle Marx, mas com muitas diferenças do original, incluindo as espécies existentes e a delimitação dos caminhos, que dificultam a correta apreciação do sítio.¨


A seguir, fotos da conclusão das obras (1974) :






                                     Fotos: Assis Alves Horta (conclusão das obras, 1974)


 As obras do conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário e as obras barrocas de Aleijadinho, graças a algumas reformas que se fizeram e se fazem ao longo do tempo, ainda se encontram em bom nível de conservação. 


 
Conheça, agora, o significado da Via Crucis  do Santuário de Congonhas:

 
 
O significado religioso da Via Crucis da Basílica de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas

Por Luiza de Castro Juste

A partir do século XV foi instituído na Europa, o tema do “Sacro Monte”. As dificuldades de peregrinação aos Lugares Santos incentivaram certas pessoas a reproduzi-los em sua própria pátria. Assim, no caso do Cristianismo, a Terra Santa, Jerusalém, começou a ser importada através de jardins religiosos, na chamada “peregrinação de substituição”. Em geral, buscavam encenar a tragédia humana e divina, imaginando o tema original do Calvário em Jerusalém. Criava-se, então, o Caminho da Cruz – ou via crucis -, representando as etapas da via dolorosa de Jesus Cristo, transpostas desde a Última Ceia, até a Crucificação no Calvário. Um aspecto bastante valorizado era a reprodução exata das distâncias entre as estações verdadeiras, calculadas em passos. Privilegiavam terrenos elevados, onde o culto da Paixão de Cristo se associava a uma paisagem onde pudesse ser simulada a ¨subida ao Calvário¨, criando o chamado Sacro Monte, ou montanha sagrada.

A construção desses jardins, incluindo estátuas e capelas, era comum em Portugal desde o século XVII e, no século XVIII, essa devoção foi difundida : as via-crúcis espalharam-se por quase todos os lugares. Sem dúvida, o conjunto mais expressivo em Portugal é o Santuário do Bom Jesus do Monte, próximo à cidade de Braga, que possui dezessete capelas de Passos e um maior número de estátuas de pedra, constituindo-se em um dos mais belos conjuntos barrocos da Europa. Em Congonhas é apresentado um resumo daquele santuário.

Em Congonhas, o Santuário é circundado por uma bela paisagem , composta de exuberantes montanhas. 




Na área externa, as capelas brancas com os Passos da Paixão foram construídas de forma alternada, formando um zigue-zague. esse formato representa não só a difícil subida de jesus ao Calvário, se desequilibrando com a cruz às costas, como também características específicas do barroco, como o ritmo e o antagonismo.



Terminada a série das capelas, há a Igreja setecentista e o Adro dos Profetas. Aqui, o Velho Testamento é valorizado pela presença dos profetas, que trazem lições dogmáticas e profecias.
Além disso, há uma relação intrínseca entre os profetas e os apóstolos.  Assim, Congonhas se destaca em comparação a qualquer outro Santuário Europeu por ser o único ¨Sacro Monte¨ que oferece essa completa união dos dois Testamentos.    

O Novo Testamento está apresentado em Congonhas através de inúmeros quadros que recobrem as paredes da Igreja, organizados em séries sobre a vida da Virgem antes do nascimento de Cristo, a infância e vida pública de Jesus e, finalmente, sua Paixão e Morte, as quais foram mais bem representadas nas capelas dos Passos do que nos quadros da igreja.

Há, portanto, uma forte ligação entre os Passos e o Adro dos Profetas, tanto em se tratando da arquitetura quanto em relação ao significado de sua intenção.

Os passos da Paixão de Cristo representados em Congonhas são: a Ceia; o Horto das Oliveiras ; a Prisão; a Flagelação e Coroação de Espinhos; a Cruz às Costas e a Crucificação. 
Destaca-se que a policromia das esculturas tem um papel de suma importância na composição das cenas. Mestre Ataíde faz uso de cores fortes como vermelho e azul escuro para os algozes ou carrascos de Cristo. Ao contrário, Cristo e os apóstolos são pintados de cores mais discretas, singelas. Essa diferença causa impressões  e sentimentos opostos a quem observa: indignação e raiva pelos algozes de Cristo; admiração e compaixão pelos apóstolos e por Jesus. 

Dispostas em seis capelas, o conjunto foi planejado para que os fiéis subissem ao Monte Maranhão em zigue-zague, revivendo o sofrimento dos momentos finais de Jesus.

 A idéia original era que fossem implantados sete passos, em sete capelas. Por questões econômicas, foram construídas apenas seis capelas e, em uma delas, acoplados dois passos : A Flagelação e a Coroação.
  
A rigor, a visitação deverá iniciar-se ao pé do jardim, pelo ¨passo¨ da Ceia e seu vizinho , o¨passo¨ do Horto e assim de capela em capela até alcançar a esplanada e depois o Adro dos Profetas.


Fotos das capelas do jardim dos Passos e o Adro dos Profetas:      



Aleijadinho:

Os trabalhos de Aleijadinho em Congonhas tiveram início em 1796 com a confecção das 66 estátuas de madeira dos Passos da Paixão e as 12 estátuas em pedra-sabão, representando os Profetas Bíblicos. A grandiosidade desse trabalho, não só pelo número de esculturas, mas pela qualidade, beleza e significado religioso, tornou o Santuário de Congonhas a obra-prima de Aleijadinho, que o tornou conhecido em todo mundo como o principal artista da época colonial e um dos maiores escultores do Brasil.





SEGREDOS  E MISTÉRIOS :



¨O acervo da Basílica Bom Jesus de Matozinhos encerra muitos segredos. As histórias e lendas que envolvem as estátuas geram um delicioso fascínio.
O próprio Aleijadinho, o mestre maior, era um personagem envolto em mistérios. Um gênio desfigurado pela doença, mulato, filho bastardo de português com uma escrava. O ouro escasseava, num movimento inversamente proporcional à fé daqueles homens mineiros.
Minas vivia a frustração pelo fim trágico do movimento da Inconfidência. Estas e outras histórias aumentam ainda mais o interesse despertado pelas imagens de pedra e cedro. Procure os guias que ficam na Basílica e desvende um pouco desse espírito¨. ( flickr.com)




Fontes:

 - Acervo Luciano Amédée Péret

- htp://repositório.ufla.br. Evolução Histórico Cultural e Paisagístico da Praça da Basílica de Bom Jesus de Matozinhos, Congonhas-MG. Dissertação de Mestrado de Luiza de Castro Juste. Universidade de Lavras.

 
  

sábado, 28 de setembro de 2013

PÉRET E BURLE MARX ( Parte II ) NA RESTAURAÇÃO DO SANTUÁRIO DE CONGONHAS (1973-1974)



Por  Luiz Ricardo Péret



Dando sequência a matéria sobre a segunda grande restauração do Conjunto Arquitetônico do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos (1973-1974), nesta segunda parte, apresento fotos que registraram momentos importantes das obras de restauração do Santuário.

 O arquiteto e diretor executivo do IEPHA/MG  Luciano Amédée Péret (ao centro), responsável pelas obras de restauração do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos com o paisagista Roberto Burle Marx, responsável pelo ajardinamento (à direita) e o funcionário Rafael (à esquerda) - Foto: Assis Alves Horta -








As fotos, a seguir, são de autoria do fotógrafo Assis Alves Horta.
Ao lado, Assis dá uma pausa em seu trabalho para ser fotografado - Congonhas, 1973.

 












Início do calçamento no Jardim dos Passos 






Obras no Jardim dos Passos e vista dos andaimes nas capelas







 







Jardim do Passos, terraplanagem para grama. Observa-se também capela em reforma e as casas do Beco dos Canudos, uma das vias do entorno do Santuário, que passou também por reforma. 
















Início do calçamento da Praça da Basílica









           Reforma do telhado da Basílica 

















Vista de outro ângulo a reforma do telhado da Basílica.
 Reconstrução do muro divisório com o Beco dos Canudos                Reforma da Capela 6
Muro que liga o 1º Passo ao 2º visto pelo Beco dos Canudos 



Calçamento e ajardinamento dos Passos





No próximo artigo, a última parte sobre a segunda grande restauração do Santuário de Congonhas, com fotos da conclusão das obras.

O trabalho de especialistas e de vários outros trabalhadores, muitos no anonimato (aqui representados pelo Rafael)  vem ao longo dos anos contribuindo para a conservação, proteção e preservação do patrimônio histórico.    


Fonte: Acervo Luciano Amédée Péret            


sábado, 21 de setembro de 2013

PÉRET E BURLE MARX NA RESTAURAÇÃO DO SANTUÁRIO DE CONGONHAS (1973-1974) - PARTE I -




Por Luiz Ricardo Péret



                                      Péret e Burle Marx  -  foto: Assis Alves Horta (1973)
                                        
Em razão de seu expressivo acervo de arte barroca, o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, pertencente ao município de Congonhas-MG, foi inscrito no Livro do Tombo das Belas Artes, em 1939, pelo  antigo SPHAN, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. O conjunto foi construído em várias etapas, nos séculos XVIII e XIX, por vários  mestres, artesãos e pintores,  como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e Manuel da Costa Ataíde. O Santuário é um conjunto arquitetônico  e paisagístico formado por uma Basílica, um Adro com esculturas de Doze Profetas, em pedra sabão,  e Seis Capelas que compõem  o Jardim dos Passos, que representam a Via Sacra com belíssimas imagens esculpidas em cedro por Aleijadinho.  O Santuário é testemunho vivo de um Brasil que foi colonial e se fez um estilo de arte.

No decorrer desses anos, o conjunto arquitetônico e de imagens, conseguiu preservar a memória de tão importante período histórico. As obras  do conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário e as obras barrocas de Aleijadinho, graças a algumas reformas que se fizeram e se fazem  ao longo do tempo, ainda se encontram em bom nível de conservação.

A primeira grande restauração do Santuário foi realizada pelo SPHAN, em 1957, focada no interior das Capelas dos Passos e em suas esculturas, a restauração conseguiu remover camadas superpostas de tintas que mascaravam a obra original de Aleijadinho e Mestre Ataíde. Em julho de 1957, o Santuário foi elevado à condição de Basílica Menor, oferecendo maior incentivo à devoção a Bom Jesus de Matozinhos.

Em 1973, iniciou-se uma segunda grande restauração pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - IEPHA/MG, em convênio com o IPHAN.
Foram realizadas obras de conservação, restauração e proteção do conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas. O responsável pelas obras de restauração foi o arquiteto e diretor executivo do IEPHA/MG  Luciano Amédée Péret e o projeto de  ajardinamento na Praça da Basílica a cargo de Roberto Burle Marx  ( fotos : Péret e Burle Marx no Santuário de Congonhas).  
As obras de restauração do Conjunto Arquitetônico e o novo Jardim dos Passos foram concluídas em junho de 1974. 

A década de 70, portanto,  foi marcada  pela atuação conjunta de dois grandes especialistas, para preservar a imponência da arquitetura, arte e beleza do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, reunindo  a obra prima de Aleijadinho e constituindo-se em um museu a céu aberto.



                                         Roberto Burle Marx e Luciano Amédée Péret
     supervisionando as obras de restauração do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos  
                                              foto: Assis Alves Horta  ( 1973)


No próximo artigo sobre este tema leia mais informações e veja mais fotos das obras da 2ª grande restauração do Santuário de Congonhas (1973-1974).



   Em 1985, o conjunto arquitetônico  e escultórico do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos foi           elevado pela Unesco a Monumento Mundial e Patrimônio Histórico da Humanidade.

                                                                                
    Capelas de Congonhas e a Basílica do Bom Jesus
         de Matozinhos ao fundo  -   foto: wiki.org  



Fontes:

- Acervo Luciano Amédée Péret

-iphan.gov.br

 - htp;//repositório.ufla.br . Evolução Histórico Cultural e Paisagístico da Praça da Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas-MG. Dissertação  de Mestrado de Luiza de Castro Juste. Universidade Federal de Lavras. 

- wikipedia.org/wiki/congonhas



sábado, 7 de setembro de 2013

TEATRO DE SABARÁ: a partir de 1970, o espetáculo continua


Folder produzido e distribuído pelo Governo do Estado de Minas Gerais na época da reinauguração do Teatro de Sabará, com o título: O espetáculo continua - Teatro de Sabará 1818 / 1970.





Quem passa pelas ruas históricas de Sabará, por descuido, pode não perceber a existência de um interessante teatro aberto gratuitamente a visitação que corresponde a um dos mais importantes espaços turísticos da cidade.
Pode-se dizer que é uma jóia, que por fora não chama tanta atenção, mas por dentro surpreende com seus três andares distribuídos entre camarotes com cadeiras em palhinha, estrutura interna em madeira, forro em treliça com boa iluminação e acústica.



A construção idealizada por Francisco da Costa Lisboa apresenta externamente a aparência típica das construções civis coloniais.


O TEATRO

Sabe-se que a primeira Casa da Ópera da Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabuçu foi construída em 1770, mas, a partir de 1783, já estava completamente abandonada, já que as apresentações teatrais passaram a ser executadas em um palco de madeira construído em uma praça pública.
A atual Casa da Ópera, também conhecida como Teatro Municipal, foi inaugurada em 1818 através de um imenso esforço da população local


¨Foi inaugurado como Casa de ópera de Sabará e é o segundo teatro mais antigo do Brasil. O primeiro é o de Ouro Preto, também em Minas Gerais. A primeira peça apresentada foi "Maria Teresa, a imperatriz da áustria e Selo d'amor". Nessa época também estava sendo comemorado o nascimento da princesa de Beira, a infanta dona Maria da Glória.

O teatro de arquitetura barroca foi idealizado por Francisco da Costa Lisboa e sua construção foi feita e financiada pelos moradores da cidade sem nenhuma ajuda oficial. Esse pequeno teatro foi palco de excelentes atuações, especialmente do público que em 1831, quando Dom Pedro I fez ali sua visita, a excelente acústica do local fez o imperador perceber como sua presença na casa deixava o povo descontente. E o ponto culminante foi no momento das homenagens: após o "Viva o imperador Dom Pedro I", podia-se ouvir com clareza a frase "Enquanto for constitucional", falada pelo coronel Pedro Gomes Nogueira, que liderava junto com o padre Mariano de Sousa, o grupo dos constitucionalistas, de oposição ao imperador. Esse fato, interrompeu a visita de Dom Pedro I à Minas Gerais e antecipou sua volta à corte. A família real só voltaria ao Teatro de Sabará em 1881, durante a estada de Dom Pedro II em Sabará.

O Teatro Municipal de Sabará não era palco somente de espetáculos mas ali também eram levadas as questões sociais da época. Bento Epaminondas criou, em ficção, a libertação dos escravos das minerações inglesas. A montagem teve o nome de "A vingança do escravo", de grande sucesso e várias apresentações. Uma das noites, após a encenação, Epaminondas viu-se em uma séria discussão com o diretor da Companhia de Mineração Cocais, que exigia explicações sobre a apresentação que acabara de ver.

As peças apresentadas muitas vezes eram longas e nem isso afugentava o público que levava travesseiros, cobertores e trocas de roupas para as crianças. Essas famílias geralmente eram acompanhadas por escravas. Quando saiam do teatro, já de manhã, encontravam os amigos e vizinhos para a missa das 5 horas da manhã de domingo.

No início do século XX, com o surgimento do cinema, o teatro foi adaptado e transformou-se em Cine-Teatro Borba Gato, 1915. Após 50 anos como cinema a casa foi fechada dando lugar a um bar que teve vida curta¨.
Fonte:.allboutarts.com.br/defaut.aspx


A partir de 1970: O ESPETÁCULO CONTINUA



Aspecto geral da sala de espetáculos, mostrando a estrutura leve e graciosa dos camarotes


Autêntica  relíquia de uma gloriosa  e romântica  fase  da história  de Minas, o Teatro de Sabará  foi, em 1970, totalmente restaurado. Aberto em 1818, sua construção é atribuída ao coronel Pedro Gomes Nogueira e ao padre Mariano de Souza e Silvino, duas importantes figuras da velha Sabará.  

Com sua forma ogival, seu palco, camarotes e plateia, o Teatro de Sabará - cuja construção sofreu, uma nítida influência italiana - conheceu noites de grande gala em meados  do século XIX, quando famosas companhias se apresentaram  com seus dramas e comédias para uma  população ávida de divertimento.

Testemunha  da própria história de Minas, o Teatro de Sabará viveu seu período de maior glória de 1840 a 1870, mas, em 1831, já virá o Imperador Pedro I, sentir o descontentamento do povo, que, certa noite, ao saudá-lo no camarote Imperial do segundo andar, não ficara só no ¨Viva o Imperador¨ , mas completara em coro: ¨Enquanto for constitucional ¨.

Divertindo e educando, o Teatro viu o tempo passar. No século XX veio a decadência. O teatrinho tentou lutar, resistir, mas a ação do tempo foi mais forte. Primeiro, virou cinema. Mais tarde suas portas foram fechadas. Não havia mais os aplausos frenéticos. As palmas  no correr final do pano foram substituídas pelo silêncio do abandono. O Teatro de Sabará estava condenado à ruína, uma simples peça do passado sob o olhar curioso das novas gerações.

Por determinação do Governador Israel Pinheiro, a velha e simpática casa de espetáculos voltou a ser inserida no panorama artístico  de Minas. 

Sua restauração ficou a cargo  da Secretaria de Viação e Obras Públicas, cabendo ao arquiteto Luciano Amédée Péret a responsabilidade de planificá-la e dirigi-la em todas as fases de trabalho. Foram dois anos  de trabalho para recuperar o Teatro de Sabará.

A restauração não foi fácil: exigiu exaustivas pesquisas, pois o prédio tinha de guardar em sua nova forma a perfeita semelhança com o teatro inaugurado em 1818. Com seus 62 camarotes e sua plateia, onde 400 pessoas podem ser instaladas, o novo Teatro de Sabará mantém  absoluta fidelidade à construção primitiva. Sua estrutura foi totalmente revista e reforçada. Sua decoração é exatamente a mesma vista e sentida pelos que alí se divertiram no século XIX.   
 ( fonte: Folder ¨O Espetáculo continua¨ , distribuído pelo Governo do Estado de Minas Gerais, na época da reinauguração) 







O Teatro de Sabará foi reinaugurado em fevereiro de 1970.



Vista das frisas com forros de esteira de taquara. Destaque para a estrutura interna de madeira original, recuperada na restauração dos anos 70




Escadaria de acesso aos camarotes. Nota-se a superposição entre as áreas de circulação e de permanência do público




Detalhe de um dos corredores internos. À direita, óculo quadrilobado para iluminação do acesso às galerias



Aldraba metálica da porta do vestíbulo

. fotos: www.ctac.gov.br/tdb/portugues/teatro



 

fotos: Peter Janzon

foto: Ricardo de Moura Faria


O Teatro de Sabará é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional. 

¨A história é tão plural quanto as múltiplas expressões de memória. Manter vivo um teatro é contribuir de forma viva para que uma das grandes expressões dos sentimentos humanos não despareça. Luciano Amédée Péret contribuiu com essa restauração para que as memórias dos espetáculos da vida não se perdessem¨.

sábado, 31 de agosto de 2013

Fazenda Boa Esperança: importante monumento histórico e paisagístico


A Fazenda Boa Esperança, no município de Belo Vale, possui um valor singular para a reflexão sobre a história das políticas de patrimônio histórico. 

Tendo pertencido ao Barão do Paraopeba, importante figura política da então Província de Minas Gerais, a fazenda pertence, desde a década de 70, ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) que, logo depois da aquisição, efetuou o tombamento do Conjunto paisagístico, artístico e histórico da Fazenda da Boa Esperança.

FOTO: Izabel Chumbinho
Detalhe da pintura parietal na capela atribuída ao Mestre Ataíde
Detalhe da pintura parietal na capela atribuída ao Mestre Ataíde


Uma das mais antigas fazendas do Brasil Império, a edificação foi construída com influências arquitetônicas do Norte de Portugal. Uma obra-prima é a pequena capela localizada à esquerda da varanda de entrada da sede. Nela estão belos trabalhos atribuídos ao Mestre Athayde. Também chamam atenção as ruínas da antiga senzala, próximas ao casarão.

A sede da fazenda foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje Iphan), ainda nos anos de 1950, com pareceres de ninguém menos do que o arquiteto Lúcio Costa, o historiador Salomão de Vasconcelos e o escritor Carlos Drummond de Andrade. A inscrição no seu Livro de Tombo de Belas Artes é de 27 de agosto de 1959 e a justificativa do tombamento remetia-se sobretudo ao valor “dos trabalhos de talha dourada e valiosíssimos painéis, nos tetos e nas paredes laterais” presentes na sua pequena capela e  atribuídos ao artista Manoel da Costa Ataíde (Citação retirada do Parecer de Tombamento da Fazenda Boa Esperança, de 1 de julho de 1974).

Tratava-se, portanto, de um tombamento diverso ao feito pelo Iepha posteriormente (em fevereiro de 1975), que considerava o Conjunto paisagístico, artístico e histórico da Fazenda da Boa Esperança. Nas palavras do então diretor do Instituto, Luciano Amedée Peret o tombamento abrangia “não só a sede, mas também todos os seus anexos e suas terras, onde há pequenas matas, cursos d água e cachoeiras, procurando assim manter o seu aspecto paisagístico, além de conservar suas condições ecológicas” (Estado de Minas, 1º de dezembro de 1974).
FOTO: Izabel Chumbinho
Vista panorâmica do jardim interno

Uma fazenda, dois tombamentos diversos. Um deles, federal, apenas da sede, e voltado, sobretudo, para o valor artístico dos elementos presentes em sua capela. O outro tombamento, estadual, estende para outro valor: o da paisagem e da natureza. 

Do site: www.iepha.mg.gov.br


foto: Glauco Umbelino

Situada de frente para a Serra, ao leste, onde na entrada uma varanda larga e artística acolhe os primeiros raios de sol matinal, a sede da Fazenda Boa Esperança conseguiu sobreviver, resistindo ao tempo e às intempéries, guardando os indícios da opulência de outrora e mantendo o caráter do tratamento adotado para as construções mineiras da época. 

Em seu pátio, logo à frente bem plantadas as centenárias e silenciosas sapucaieiras escutam  o tempo passar. 

¨CULTURA E NATUREZA NÃO ESTÃO DISTANTES, PAISAGEM CULTURA e PAISAGEM NATURAL SE CONFUNDEM.
 CONCEITO JÁ COMPREENDIDO NA DÉCADA DE 70, POR LUCIANO AMÉDÉE PÉRET. O TOMBAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E NATURAL DA FAZENDA BOA ESPERANÇA É UM EXEMPLO INTERESSANTE¨.      

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