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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Médicos cubanos já atuam no sertão nordestino com aprovação popular

Repórteres do Jornal Diário do Nordeste já detectaram uma grande aprovação popular da atuação dos médicos cubanos que chegaram a 11 cidades do interior do Ceará levando atendimento à população de áreas isoladas na zona rural.


Do Diário do Nordeste:
( publicado em 06/10/2013)

Acopiara. Os médicos cubanos, inscritos na primeira etapa do programa Mais Médicos do Ministério da Saúde, chegaram a 11 cidades do Interior do Ceará levando consultas de atenção básica à população de áreas isoladas na zona rural. Em menos de 15 dias, os profissionais conquistaram a confiança e o reconhecimento dos moradores que vivem em localidades onde nunca havia atendimento médico ambulatorial regular.

Natural de Cuba, Ivan Rodriguez presta serviço à população da zona rural de Acopiara. Além das consultas ambulatoriais, o atendimento é extensivo às visitas domiciliares, como acontece na comunidade de Calabouço fotos: honório barbosa

Um exemplo vem da localidade de Calabaço na zona rural de Acopiara. Localizada no alto sertão cearense, entre os municípios de Quixelô e Solonópole, a comunidade, desde segunda-feira passada, dispõe dos serviços do médico Ivan Rodriguez, originário da província de San Tiago de Cuba.

Avaliação

Dedicado, atencioso e com 20 anos de experiência em atenção básica de saúde em Cuba e na Venezuela, Ivan Rodriguez recebe avaliação positiva dos moradores. "Aqui nunca veio um médico e construíram esse posto há cinco anos, mas só tinha profissional de Enfermagem", disse o agricultor Valdemar Felipe de Souza.

A Unidade Básica de Saúde (UBS) da localidade de Calabaço, distante 75km da sede de Acopiara, apresenta boa estrutura e passa por adaptações com investimentos de R$ 34 mil do Ministério da Saúde. Os consultórios dispõem de aparelhos de ar condicionado, há salas de imunização, para exames ginecológicos, farmácia, cantina, área de serviço e sanitários.

Em média, nesta primeira semana de trabalho, o médico Ivan Rodriguez atendeu 20 pacientes por dia. "É a demanda espontânea", conforme ele mesmo frisou. "Depois vamos fazer reuniões e palestras sobre educação em saúde".

A UBS de Calabaço possui área de abrangência de 500 famílias de oito localidades rurais, que têm por característica casas isoladas e terras áridas. O tempo seco e quente nessa época do ano despertou a atenção de Ivan Rodriguez. "A gente estuda sobre a cultura, a geografia e a história do Brasil, mas vê de perto assim essa vegetação seca é bem diferente", disse. "O calor está muito intenso".

Os médicos cubanos cumprem carga horária de 40 horas semanais. Isto é, são oito horas diárias. Esse fato surpreende os moradores. Os médicos brasileiros que atendem em postos do Programa Saúde da Família não passam mais do que uma hora e meia. Outro aspecto diferencial é o tempo de consulta. "É bem mais demorada", observa a enfermeira, Thaís Araújo de Souza. "Ele pergunta muito, no intuito de conhecer a história do paciente", afirmou.

Superação

O obstáculo inicial do idioma estrangeiro está sendo superado rapidamente. Os médicos cubanos estudaram cerca de seis meses a língua portuguesa.

Os que vieram para os municípios de Acopiara e Catarina conseguem se expressar de forma compreensível. Falam devagar, e repetem as palavras até se fazerem entender. A adaptação, como diz a comunidade, ocorre pela dedicação.

A dona de casa, Nara Raquel Macedo, foi taxativa: "Deu para entender tudo que ele disse, ele insiste até a gente entender e pergunta muitas coisas". Antes da consulta, os moradores mostram-se apreensivos por temor de não ser estabelecida uma comunicação compreensiva.

O agricultor Benevides Vieira fez a primeira consulta com queixa de dor de cabeça e incômodo na garganta. "Gostei muito e entendi tudo", disse. "Agora ficou bem melhor porque antes a gente tinha que ir para Quixelô, atrás de um médico".

No início da tarde desta quinta-feira, Ivan Rodriguez fez duas visitas domiciliares. É a quinta em apenas uma semana. "Aqui na comunidade nunca trabalhou um médico e imagina vir um aqui na minha casa. Meu Deus, isso é muito bom, nunca imaginei que isso pudesse acontecer", disse a aposentada, Francisca Moreira de Carvalho que foi consultado no alpendre de casa. Diariamente, os médicos cubanos percorrem centenas de quilômetros entre a sede do município e a UBS. Chegam por volta das 9 horas e só saem às 17 horas. Não há limite de consultas. "Nós cubanos somos prestativos e viemos aqui para trabalhar, para atender as pessoas pobres, que necessitam dos nossos serviços", disse Ivan Rodriguez. Esses profissionais deixaram família, mulher e filhos, em Cuba, e vieram ser solidários ao povo brasileiro.

O secretário de gestão do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, por ocasião da entrega simbólica do registro do CRM aos médicos cubanos que estão trabalhando em Acopiara e Catarina frisou que os profissionais são dedicados e compromissados com a população pobre. "Eles trabalham com muito zelo e atenção", disse. "No Brasil, faltam médicos. Os brasileiros não vão para essas áreas isoladas, distantes porque enfrentam elevada demanda por seus serviços", frisou. "Estamos trazendo mais profissionais e a população vai reconhecer o esforço do governo", ressaltou

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Passe livre, SUS e ¨ Mais Médicos ¨ : o que fazer agora ?

                   
O artigo do professor Paulo Narvai  (Prof. e Chefe do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP),  publicado no site cebes.org.br, analisa as manifestações de junho/julho e o conflito da categoria médica e suas entidades à respeito do programa ¨Mais Médicos¨ e conclui:

¨A defesa ¨da saúde¨, genérica, não significa a defesa do SUS.
... os interesses particulares da categoria médica vem se aliando, historicamente, aos propósitos dos que comercializam a formação médica. Este é o problema estrutural a ser enfrentado, pois o corporativismo médico e o comércio da educação, ainda que emoldurados por falas edulcoradas e pomposas em defesa ¨da saúde pública¨e da  qualidade da formação¨, não tem a ver com os direitos à educação e à saúde.
No conflito do ¨Mais Médicos¨ a sociedade encontra-se refém desses interesses, pois segue sem os médicos de que necessita e pagando preços extorsivos para formá-los¨.
É preciso avançar na institucionalização do SUS e fazer valer o interesse público¨.

A seguir o artigo completo:  

Passe livre, SUS e “Mais médicos”: o que fazer agora?
Paulo Capel Narvai *
 
Os significados das manifestações que ocorreram nos últimos meses em nossas cidades, questionando práticas e valores da cena brasileira contemporânea, permanecerão ainda por muito tempo instigando reflexões e interpretações, em vários campos. Desatados pela rejeição frontal ao aumento das tarifas de ônibus, esses questionamentos se direcionaram para a política econômica, as políticas sociais, notadamente a educação e a saúde e, sobretudo, nosso modus operandi relativo a como lidamos com o poder, ou seja, com a política. 
 
Dentre outros aspectos, as manifestações colocaram no centro dos debates as distorções da representação da cidadania por meio dos partidos e a forma como são exercidos os poderesem nossa República, a ponto de, em resposta, se cogitar a convocação de uma Assembleia Constituinte, específica para uma “reforma política”. Em resumo, os manifestantes questionaram o que estamos fazendo com as conquistas derivadas das lutas democráticas contra a ditadura civil-militar e exigiram, como nunca havia sido feito desde as mobilizações pelas “Diretas Já”, o exercício de direitos sociais fixados na Constituição de 1988. O recado foi claro: não basta inscrever tais direitos na legislação, é preciso dar-lhes concretude no cotidiano.
 
Nesse contexto extremamente complexo, atenho-me, neste artigo, à saúde, uma vez que as manifestações promovidas pelo Movimento Passe Livre (MPL) lhe conferiram maior visibilidade pública. A saúde, que havia anos se mantinha restrita aos movimentos sociais e campanhas eleitorais, virou bandeira em faixas e cartazes e motivou cidadãos a gritarem por ela nas ruas e praças. Contudo, se o movimento social foi certeiro em identificar a saúde como um problema socialmente relevante, foi também genérico e ambíguo em suas proposições. Palavras de ordem como “Dinheiro pra Copa não, pra saúde e educação sim” ou “Queremos hospitais padrão Fifa” são importantes para indicar a preocupação com a saúde, mas contrapõem coisas bem diversas e não antagônicas diretamente (Copa e SUS, p.ex.). O já clássico “Enfia os 0,20 no SUS” não significa, necessariamente, a defesa do SUS. A defesa “da saúde”, genérica, também não significa a defesa “do SUS”. Tem-se a impressão, portanto, de que o modo como “a saúde”apareceu na pauta das manifestações requer, agora, tentar traduzir o sentimento dos manifestantes, e analisar suas implicações para a política pública de saúde. 
 
O direito à saúde requer ir muito além do direito à assistência quando se está doente. Quem trabalha no setor saúde sabe que lida em seu dia-a-dia profissional contra as consequências, na vida das pessoas, da miséria, da ignorância, dos ambientes de trabalho insalubres e inseguros, de habitações precárias, de transportes públicos indecentes, enfim, de toda uma forma de organização social violenta e geradora de desigualdades brutais. Não obstante reconhecer tudo isso, é crucial, imprescindível, assegurar o acesso de todos aos cuidados de saúde de que necessitam. E não se consegue isso, não se viabiliza a assistência para todos, sem que médicos lhes sejam acessíveis. Isto não significa diminuir a importância do trabalho das equipes de saúde, de enfermeiros, e outros trabalhadores do setor.
 
As lutas pelo direito à saúde, impulsionadas positivamente pelos atos patrocinados pelo MPL, requerem, ora em diante, identificar quais são os entraves ao exercício desse direito, e que interesses devem ser contrariados para viabilizá-lo.
 
Após muitos anos adotando, sem sucesso, diferentes estratégias para que certos municípios do interior, e determinadas áreas de grandes cidades, pudessem contar com profissionais médicos, o Ministério da Saúde anunciou o programa “Mais Médicos”, com o objetivo de enfrentar o problema. Desde então se instalou um conflito com as entidades médicas, que se opuseram ferozmente à iniciativa federal, sob a alegação de que não há garantias de qualidade da formação de médicos estrangeiros a serem contratados, e de que o verdadeiro problema não é a falta de médicos, mas a qualidade dos serviços, a corrupção e a má gestão dos serviços públicos. 
 
Embora seja inegável, sob qualquer ponto de vista, que há muitas dificuldades para conseguir acesso a médicos, em todos os cantos do país, as entidades insistem em que esses profissionais não estão em falta no Brasil. O que estaria levando a categoria médica, e suas lideranças, a se recusar a reconhecer algo que está à vista de todos? Por que interesses corporativossão dirigidos à colisão com o que é de evidente interesse público? Por que, enfim, estamos à beira de um conflito institucional grave, opondo médicos e autoridades públicas?
 
Tratando-se de um problema estrutural, por certo que ações emergenciais, como importar médicos – que, após seleção, já estão sendo contratados – não bastam para lidar com as causas dos problemas. Quais seriam essas causas?
 
O quadro atual resulta de vários fatores, dentre eles a pressão das entidades médicas nas últimas décadas contra a ampliação de vagas. Com menos médicos no mercado de trabalho, é maior a remuneração média desses profissionais, que se situam em vantagem competitiva no mercado de trabalho, inclusive o mercado público, nas esferas municipal, estadual e federal. Esta vantagem envolve também a relação remunerativa dos médicos com outros profissionais de saúde. Cabe assinalar, que as entidades médicas reivindicam uma Carreira “de Estado” (sic) para Médicos, mas não a Carreira Nacional do SUS, para todos os profissionais de saúde. Os médicos querem ser “de Estado”, mas não querem ser “do SUS”. O significado simbólico de ser “de Estado”, mas não ser “do SUS”, resta evidente – e expressa o que lideranças médicas pensam do SUS, e que tipo de relação querem ter com ele.
A posição médica contrária à abertura de mais vagas em cursos médicos de universidades públicas sempre teve decidido apoio dos proprietários de cursos privados. Os valores exorbitantes das mensalidades desses cursos destoam muito das de outros cursosda área da saúde. São desproporcionais e injustificáveis à luz do interesse público. Explicam-se apenas no contexto da transformação da educação em negócio. A “formação do preço” da educação-mercadoria é afetada de modo relevante pelo número de médicos no mercado de trabalho. Quanto menos médicos, mais altos os valores das mensalidades nos cursos privados de medicina. Resulta evidente que os interesses particulares da categoria médica vêm se aliando, historicamente, aos propósitos dos que comercializam a formação médica. Este é o problema estrutural a ser enfrentado, pois o corporativismo médico e o comércio da educação, ainda que emoldurados por falas edulcoradas e pomposas em defesa “da saúde pública” e “da qualidade da formação”, nada têm a ver com os direitos à educação e à saúde. 
 
No conflito do “Mais Médicos” a sociedade encontra-se refém desses interesses, pois segue sem os médicos de que necessita e pagando preços extorsivos para formá-los. Para dar consequência às exigências das manifestações do inverno de 2013, é preciso avançar na institucionalização do SUS e fazer valer o interesse público.

(*)PAULO CAPEL NARVAI, 58, é professor titular e chefe do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

 
 

 
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

¨MAIS MÉDICOS¨: UMA VEREDA PARA OS NOSSOS GRANDES SERTÔES

A opinião do médico sanitarista Reinaldo Guimarães sobre o Mais Médico:
Do site: cebes.org.br
“Mais Médicos”: uma vereda para os nossos grandes sertões
De Reinaldo Guimarães*

O programa “Mais Médicos” está focado na necessidade de colocar médicos onde não há médicos e onde médicos não querem ir. O “Mais Médicos” não está interessado em atender as expectativas da corporação e, principalmente, de seus representantes sindicais.

O “Mais Médicos” não está fazendo competição com o mercado de trabalho dos médicos brasileiros. Antes de importar médicos, houve uma chamada para médicos brasileiros que, lamentavelmente, não prosperou. Em parte, devido a uma feroz campanha contra o programa liderada pelos líderes corporativos sindicais e de vários Conselhos Regionais de Medicina.

Após a frustração da chamada de médicos brasileiros, o programa abriu uma chamada internacional que, apesar de ter atraído médicos de vários países, não logrou ainda atingir as metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Foi então que, com a interveniência da Organização Panamericana da Saúde, foi assinado o convênio com Cuba.

Se a campanha contra o programa já era feroz, a partir daí os sindicalistas médicos entraram numa escalada de insanidades que atingiu o seu ápice com as declarações do presidente do CRM de Minas Gerais. Disse ele que, caso tenha notícia de algum médico em exercício com diploma obtido no exterior e sem revalidação, acionará o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal para impedi-lo. Fora de si (imagino eu), disse que orientará os médicos mineiros a não cooperarem com os “sem Revalida” cubanos, caso haja algum pedido de ajuda técnica por parte desses. No meu ponto de vista, caso essa afirmativa de seu presidente seja confirmada, o CRM de Minas está sob suspeição para julgar quaisquer transgressões éticas vindouras, posto que o seu presidente está a instruir os médicos mineiros a discriminar colegas, infringindo o Código de Ética Médica. Este, em seu capítulo I (princípios fundamentais), reza que “A Medicina  é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza” (grifo meu).

Os representantes corporativos esbravejam: sem o Revalida, não dá! Digo eu: se a banca examinadora não quiser, o Dr. Pitanguyou ou Dr. Jatene não serão aprovados num exame para revalidação de diploma. Não é a toa que apenas 10% dos que tentaram revalidar seus diplomas obtidos no exterior, desde a instituição do teste, conseguiram a revalidação. Com o estado de espírito que a maioria dos meus colegas têm apresentado com relação ao “Mais Médicos”, seria uma carnificina.

No dia 23 de agosto, um artigo na Folha de São Paulo dizia que médicos são produzidos em série em Cuba, para exportação. O tom era discretamente derrisório. É verdade, médicos são produzidos em série e esta é, há décadas, a principal ferramenta para a projeção internacional de Cuba. Qual o problema? Há quem exporte soldados e armas e guerras, há quem exporte cocaína e por aí vai. Cuba exporta médicos. Nesse caso, trata-se do que, em diplomacia, se chama soft power. Tão legítimo quanto, por exemplo, a exportação de programas de ajuda realizada há décadas pela agência estatal de cooperação norte-americana USAID.

Cuba produz médicos “em série”, também porque, graças ao bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e, mais tarde, com o colapso soviético, necessita, para subsistir, de divisas. O exercício do soft power médico contribui também para que entrem divisas em Cuba. Pessoalmente, não me sinto confortável em apoiar que a remuneração de um profissional seja, em parte, apropriada pelo Estado. Mas o meu desconforto diminui quando me dou conta de quase 40% dos meus rendimentos são religiosamente apropriados pelo Estado brasileiro na forma de impostos variados. Parte desses, na fonte, como é o caso dos médicos cubanos que um colunista hidrófobo da revista Veja denominou de “escravos do Partido Comunista cubano”.

Outro comentário lido sobre os médicos cubanos, “produzidos em série”, é que eles não prestam. Sua formação é precária e eivada de ideologia. Não é o que a opinião internacional informada sustenta (tomei como tal o American Journal of Public Health, o Lancet e uma carta publicada em Science) (1)(2)(3)A conclusão do artigo de Cooper et. al. sobre a prevenção e controle das doenças cardiovasculares em Cuba vale a pena ser transcrita: “Where as the social and political structure of societies can under go rapid and dramatic change, such cultural norms as food, music, and religion are sometimes more resilient. The goal of socialist revolutions in poor undeveloped countries has been first and foremost to catch up with the industrial economies of the world. In public health, this has meant almost exclusively the elimination of infectious diseases and the assurance of low death rates in childhood. Cuba stands as the prime example of the unequaled success of the socialist project in achieving that goal. Within that tradition, however, the need to aggressively intervene against engrained cultural patterns, particularly those related to consumption, was something of a foreign idea. A fundamental rethinking of this strategy will be required to take full advantage of the new knowledge in prevention science that could now make an important contribution to the future health of the Cuban people. The improvements in quality and duration of life in Cuba over the last 50 years have been astounding and set the standard for poor countries around the world. These achievements—for example, eliminating polio in 1962, two decades ahead of the United States—are evidence of the remarkable goals Cuba is capable of achieving. Similar leadership in CVD prevention could make enormously valuable contributions to the worldwide campaign to control what has already become the most severe epidemic ever faced by humanity. The Cuban experience thus demonstrates that control of CVD in non industrialized countries is by no means impossible, and it highlights the critical importance of population-based prevention strategies” (4).

Acredito que os médicos cubanos talvez não sejam peritos em “procedimentos” de última geração - nem os realmente úteis, nem os inúteis ou francamente prejudiciais. Entretanto, desconfio que a maior parte dos médicos brasileiros também não seja, embora atualmente talvez almejem sê-lo. Mas os médicos cubanos não estão entre nós como “procedimentólogos”, mas como profissionais no campo da atenção primária (promoção, prevenção e cuidados básicos de saúde). E, nesse terreno, creio que eles têm muito a nos ensinar. Aliás, de acordo com o presidente Barack Obama, têm a ensinar também aos médicos norte-americanos (“U.S. President Barack Obama hasacknowledgedthatthe United Statescouldlearn from Cuba's medical foreign aidprogram”).

A fonte de uma das maiores frustrações (e de aprendizado) dos especialistas brasileiros no terreno da educação e do trabalho em saúde foi a evidência de que reformas curriculares não mudam o mercado de trabalho e que o caminho de ajustar a formação médica às necessidades de saúde é o inverso. É a mudança do mercado que será capaz de ajustar os currículos. Se tomarmos a atual conformação do mercado médico brasileiro, com a deterioração paulatina e consentida do SUS e a expansão selvagem do sistema suplementar, concluiremos que a formação médica entre nós decididamente não vai ao encontro das necessidades de saúde, muito pelo contrário. Não foi por outra razão que os médicos brasileiros não atenderam ao chamado do “Mais Médicos”. A campanha dos líderes corporativos contra o programa, nesse sentido, interpreta corretamente os desejos da maioria dos nossos médicos, em particular os mais jovens.

Esta é a razão da convocação dos médicos estrangeiros e, em particular, dos cubanos que, pelas razões que expressei no início desse texto, parecem estar dispostos a enfrentar os desafios médico-sanitários do Brasil profundo. Pode vir a ser um bom exemplo ao mercado.

Em 1997, uma equipe liderada por Maria Helena Machado concluiu e publicou uma pesquisa sobre os médicos brasileiros. O panorama que nela se vislumbra permanece atual, a despeito de terem se passado 16 anos. A rigor, as tintas com que Machado e sua equipe descrevem a categoria médica brasileira de então devem ser hoje bastante mais carregadas. Uma cópia do livro pode ser encontrada em http://static.scielo.org/scielobooks/bm9qp/pdf/machado-9788575412695.pdf. A leitura desse clássico me parece indispensável para compreender os dilemas dos médicos e seus representantes corporativos frente ao “Mais Médicos”.

Julie Feinsilver é uma socióloga atualmente na American University. Esteve no Brasil como consultora da presidência da Fiocruz em 1996. Nos últimos 20 anos vem estudando a diplomacia médica cubana. Em 2010, publicou um artigo na revista CubanStudies (5) que fornece uma visão abrangente sobre a ação de Cuba nesse terreno durante os primeiros 50 anos da revolução cubana. O centro de sua argumentação se localiza no balanço entre a solidariedade e o pragmatismo como vetores da atuação internacional de Cuba no campo da saúde. Creio ser uma leitura essencial para compreender esse tema e uma cópia de seu trabalho pode ser encontrada em:http://www.academia.edu/1139326/Fifty_Years_of_Cubas_Medical_Diplomacy_From_Idealism_to_Pragmatism.

* - Médico Sanitarista
Notas

(1) Manuel Franco, Richard Cooper, Pedro Orduñez - Making Sure Public Health Policies Work. SCIENCE, Vol 311 www.sciencemag.org.  24 February 2006, p. 1098 (letters).
(2) R. S. Cooper, P. Orduñez, M. D. I. Ferrer, J. L. B. Munoz, A., Espinosa-Brito - Cardiovascular Disease and Associated Risk Factors in Cuba: Prospects for Prevention and Control. http://ajph.aphapublications.org/doi/abs/10.2105/AJPH.2004.051417, Am. J. Public Health 96, 94 (2006).
(3) Wakai S. - Mobilization of Cuban doctors in developing countries. Lancet 2002: 360;92

(4) Tradução: “Onde a estrutura social e política das sociedades pode ser afetada por mudanças rápidas e dramáticas, tais normas culturais como alimentos, música e religião são, por vezes, mais resistentes. O objetivo de revoluções socialistas em países subdesenvolvidos pobres tem acontecido em primeiro lugar para acompanhar as economias industriais do mundo. Na saúde pública, isso significa quase que exclusivamente a eliminação de doenças infecciosas e a garantia de baixas taxas de mortalidade na infância. Cuba permanece como o principal exemplo do sucesso inigualável do projeto socialista em alcançar esse objetivo. Dentro dessa tradição, no entanto, a necessidade de intervir de forma agressiva contra padrões culturais arraigadas, particularmente aqueles relacionados ao consumo, era algo de uma ideia estrangeira. Um repensar fundamental desta estratégia será obrigatório para se tirar o máximo proveito dos novos conhecimentos em ciência de prevenção que poderiam agora fazer uma contribuição importante para o futuro da saúde do povo cubano. As melhorias na qualidade e na duração da vida em Cuba ao longo dos últimos 50 anos têm sido surpreendentes e definem o padrão para os países pobres ao redor do mundo. Estas conquistas, por exemplo, a eliminação da poliomielite em 1962, duas décadas à frente dos Estados Unidos, são a prova dos objetivos notáveis que Cuba é capaz de alcançar. Liderança semelhante na prevenção de doenças cardiovasculares poderia fazer contribuições extremamente valiosas para a campanha mundial para controlar o que já se tornou a epidemia mais grave já enfrentada pela humanidade. A experiência cubana demonstra, portanto, que o controle de doenças cardiovasculares em países não industrializados é absolutamente impossível, e destaca a importância fundamental das estratégias de prevenção baseadas na população".

(5) Julie M. Feinsilver -Fifty Years of Cuba's Medical Diplomacy: From Idealism to Pragmatism. Cuban Studies, Volume 41, 2010, pp. 85-104