A ameaça contida no telefonema do dono do Grupo Bandeirantes de Comunicação, do canal Band de TV, Johnny Saad, ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, de persegui-lo em todos os meios de comunicação que lhe pertencem, entre eles os canais de rádio e o jornal gratuito Metro, distribuído pela cidade, foi alvo de um artigo publicado, nesta quinta-feira, em Londres. Editor do site Diário do Centro do Mundo, a partir da capital britânica, o jornalista Paulo Nogueira afirma que, na mídia conservadora, “o dono manda seus empregados defenderem a causa dele póprio, e a sociedade é bombardeada com um noticiário viciado”.
Leia, adiante, os principais trechos do artigo de Paulo Nogueira:
“Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito.”
“Bem-vindo ao mundo como ele é, Haddad.
“Haddad disse aquilo a jornalistas. Preferiu não dar o nome do empresário. Mas o site Conversa Afiada logo descobriu de quem se tratava: de Johnny Saad, dono da Band.
“É um episódio que traz diversas conclusões.
“Primeiro, e antes de tudo, ele mostra como funciona a mídia corporativa. O dono manda seus empregados defenderem a causa dele próprio, e a sociedade é bombardeada com um noticiário viciado.
“Saad é dono de imóveis em São Paulo, e isso significa que ele teria que pagar mais IPTU.
“O brasileiro ingênuo – cada vez em menor número, felizmente – tem uma fé cega naquilo que ouve, vê e lê na mídia. Não tem ideia dos interesses por trás do noticiário.
“Depois, há uma questão de moralidade. Saad tem uma concessão pública, a televisão. Como ele se atreve a usá-la em seu favor?
“Algum tempo atrás, o executivo da ONU que trata da liberdade de expressão, Jacques de la Rue, notou um fato curioso.
“Em muitos países, o Brasil entre eles, as pessoas que receberam concessão pública para ter uma tevê ou uma rádio usam isso com a única finalidade de enriquecerem.
“Para ficar no caso mais dramático, os três herdeiros de Roberto Marinho estão no topo da lista das maiores fortunas pessoais do Brasil.
“Concessão pública não foi feita para que um pequeno grupo se locuplete.
“Por isso, há necessidade de regras que coíbam abusos e fiscalizem o uso decente de concessões.
“Cristina Kirchner deu um exemplo de combatividade ao enfrentar a mesma situação na Argentina, ao preço de um colossal desgaste derivado da resistência feroz do grupo Clarín.
“Mas não fraquejou e venceu.
“Terceiro, o episódio do telefonema mostra uma coisa importante: na Era Digital, uma boa forma de tornar públicos absurdos privados é por vazamentos.
“Nenhum órgão das empresas jornalísticas – Folha, Veja, Globo, Estadão – publicaria a denúncia de Haddad, e os brasileiros não saberiam da brutalidade de Saad ao telefone.
“A informação foi vazada, e a Band é obrigada a enfrentar a vergonha do telefonema de seu dono.
“Foi fruto de um vazamento, também, o furo do ano no Brasil: a trapaça fiscal da Globo na aquisição dos direitos da Copa de 2002. O site O Cafezinho publicou a documentação, passada por alguém inconformado da Receita Federal.
“O Brasil foi ocupado – na acepção do Movimento Ocupe Wall St – pelas companhias de mídia. Elas se valem de tudo para manter seus privilégios e os do pequeno grupo a que pertencem. Usam seus empregados como se fossem gado para propalar mentiras que lhes convêm.
“Fui um deles, aliás.
“Vazar informações que ajudem num processo imperioso de desocupação é um ato que beneficia toda a sociedade. Que todos que possuem informações relevantes se lembrem disso”.
Exemplo britânico
Na capital do império britânico, de onde escreveu Paulo Nogueira, funcionários do extinto jornal News of the World, de Rupert Murdoch, grampearam o telefone de Kate Middleton, mulher do príncipe William, da Grã-Bretanha, disse um promotor durante julgamento nesta quinta-feira. O escândalo já rendeu prisões e multas milionárias ao empresário Murdoch.
O promotor Andrew Edis disse à corte que uma mensagem de William deixada no telefone celular de Kate foi encontrada na casa do ex-editor do jornal responsável pela cobertura jornalística da família real, em 2006.
Os ex-editores do tabloide Rebekah Brooks e Andy Coulson estão sendo julgados com outras cinco pessoas sob diversas acusações, incluindo a de conspiração para interceptar ilegalmente as caixas de mensagens de celulares. Os acusados negam todas as acusações.
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