quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Atlético é apontado como o nono melhor time do mundo

Galo Libertadores
Galo ainda colhe frutos no cenário do futebol mundial pelo título da Libertadores

PUBLICADO EM 26/12/13    



BEM NA FITA




O Atlético foi eleito como um dos dez melhores times do mundo pelo site Club World Ranking. A lista foi divulgada nesta manhã e o Galo é o único clube brasileiro e sul-americano entre os primeiros colocados.
 
Os critérios para a formulação do ranking passam pelo desempenho dos clubes nas competições que disputaram, calculando cada resultado, com peso maior para torneios internacionais. A conquista do título inédito da Libertadores ajudou o Galo a figurar na nona colocação, com 10.666 pontos.
O melhor do mundo segundo o site é o Bayern de Munique, com 18.634 pontos, seguido por Real Madrid, com 15.896 e Barcelona, com 13.985. Completam o Top 10, Atlético de Madrid, Chelsea, Borussia Dortmund, Benfica, Arsenal e Manchester United.

O segundo brasileiro mais bem posicionado é o Grêmio, que caiu nas oitavas de final da Libertadores 2013 e foi vice-campeão brasileiro. O Tricolor gaúcho aparece na 17ª colocação, com 8.816 pontos. O Corinthians é o terceiro melhor brasileiro, em 21º, com 8.390.

Campeão brasileiro desta temporada, o Cruzeiro está em 23º lugar no ranking, com 8.050, sendo o quarto melhor brasileiro do mundo, de acordo com a lista.

A lista do site Club World Ranking é atualizada semanalmente, calculando os resultados dos jogos disputados por todas as equipes no período. Apesar do tropeço no Mundial, o Galo venceu o Guagzhou Evergrande, da China, ficando com o terceiro lugar no torneio, o que ajudou o time mineiro a subir da 11ª posição da semana passada para  nono lugar atual.

Técnicos
O técnico Cuca, que não está mais no Galo, mas comandou o Alvinegro nesta temporada, inclusive na Libertadores e no Mundial, também está no Top 10 do Football Coach World Ranking, como o nono melhor treinador do mundo, na frente do badalado Pep Guardiola, do Bayern, que é apenas o 16º.
A lista dos treinadores tem José Mourinho, do Chelsea, na liderança, seguido por Diego Simeone, do Atlético de Madrid, Rafa Benítez, do Napoli, Tata Martino, do Barcelona. Jürgen Klopp, do Borussia Dortmund está em quinto lugar, Ancelotti, do Real Madrid em sexto e Jorge Jesus, do Benfica, vem em seguida. Fecha o grupos dos dez melhores, Arsène Wenger, que está no Arsenal há 17 anos, e Jupp Heynckes, ex-técnico do Bayern, no qual conquistou a Liga dos Campeões, o Campeonato Alemão e a Copa da Alemanha na temporada passada.
Tite é o segundo técnico brasileiro mais bem colocado no ranking, em 17º lugar, e Marcelo Oliveira, do Cruzeiro, surge em 21º.
                                   

Médicos cubanos ajudam vítimas das chuvas no E.S.

Profissionais estão atendendo de forma voluntária em abrigo na Serra

Quem precisa deixar sua casa no município conta com ajuda até de fora do país. Junto com voluntários e servidores públicos, médicos cubanos trabalham incessantemente todos os dias no auxílio aos 15 mil desabrigados na Serra.

São onze médicos cubanos especializados em saúde da família, trabalhando com medicina geral nos abrigos e nas regiões mais afetadas todos os dias. Aos sábados, domingos e feriados, eles continuam trabalhando como voluntários, de acordo com a Secretaria de Assistência Social Municipal.

“A população capixaba está precisando de muita ajuda nesse momento e é nosso dever ajudar” pondera o Dr. Orlando Maure, 47.

Entre os voluntários, a assistente social Joana Maria Botelho da Silva, 50, tem dedicado tempo integral à Escola Municipal Dom Helder Possani, onde há mais de 200 abrigados. Mesmo com o fim das enchentes, ela conta que continuará ajudando a população.

“Quando a gente vê o brilho nos olhos, o sorriso e a gratidão, a gente retoma o fôlego e segue mediante as dificuldades”, comenta ela.

(…)


Fonte: Gazeta online

Carta aberta: despejos e demolições de domicílios ferem normas nacionais e internacionais



CARTA ABERTA DA DIOCESE DE UBERLÂNDIA SOBRE A SITUAÇÃO DOS SEM TETO NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA “A solidariedade é uma reação espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens como realidades anteriores à propriedade privada. A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los de modo a servirem melhor o bem comum, pelo que a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde. Estas convicções e práticas de solidariedade, quando se fazem carne, abrem caminho a outras transformações estruturais e tornam-nas possíveis. Uma mudança nas estruturas, sem se gerar novas convicções e atitudes, fará com que essas mesmas estruturas, mais cedo ou mais tarde, se tornem corruptas, pesadas e ineficazes.” (Papa Francisco – Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n. 189) Com este espírito de solidariedade e de bem comum, a Diocese de Uberlândia, se dirige ao povo e às autoridades dos poderes executivo, legislativo e judiciário, em vista da urgente necessidade de moradia, que aflige milhares de famílias, em Uberlândia. Mesmo reconhecendo que o programa de moradia popular, “Minha Casa, Minha Vida”, é uma importante resposta ao déficit habitacional, temos que reconhecer a sua incapacidade em resolver a demanda. Considerando que: a Doutrina Social da Igreja afirma: “sobre toda propriedade privada pesa uma hipoteca social”; as muitas áreas no município de Uberlândia se encontram com registros duvidosos ou sobrepostos; a existência de 42.666 inscritos em programa habitacional (Secretaria Municipal de Habitação de Uberlândia - 08/08/2013) e que existem cerca de 12 mil famílias (Comissão Pastoral da Terra) vivendo em 20 acampamentos de sem teto no município de Uberlândia; o fato de que os despejos deixam famílias desalojadas e em situação de vulnerabilidade e não resolvem o problema habitacional; o direito à moradia está consolidado no artigo 6º da Constituição Brasileira, tendo como núcleo básico o direito de viver com segurança, paz e dignidade, podendo, somente com a observância destes três elementos considerar-se plenamente satisfeito; as áreas ocupadas ficam descriminadas em relação aos serviços públicos, ferindo a dignidade humana e a cidadania das famílias sem teto. Clamamos: Pelo reconhecimento dos sem teto como titulares do direito à moradia, não podendo ser discriminados em razão da origem social, posição econômica, origem étnica, sexo, raça ou cor, devendo ser reconhecidos seus direitos às políticas públicas, bem como aos serviços públicos em seus acampamentos. Pela regulamentação das atividades do setor privado, evitando a especulação imobiliária, bem como a instituição dos instrumentos jurídicos e urbanísticos de regularização fundiária para reconhecer o direito à moradia das populações que vivem nos assentamentos informais, através da instituição de leis sobre política urbana e habitacional. Pela desapropriação ou negociação de áreas, por necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, para assentamento de famílias sem teto. Pelo direito à participação das famílias mais vulneráveis na definição de qualquer projeto estratégico para a cidade, em especial, no território que ocupam. Pelo entendimento de que os despejos forçados e demolições de domicílio como medida punitiva contrariam as normas nacionais (Constituição Federal, Estatuto da Cidade) e internacionais de que o Brasil é signatário (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, Convenção de Genebra de 1949, Protocolos de 1977). Neste Natal, lembremo-nos de Maria e José, sem teto, na noite fria de Belém. Não tinham aonde ficar, e tiverem que ocupar um local para que Jesus pudesse nascer, com um mínimo de abrigo. Que o espírito do presépio nos leve à solidariedade e à ações concretas, pelo direito à moradia de nossos irmãos e irmãs sem teto. Uberlândia, 19 de dezembro de 2013 Dom Paulo Francisco Machado Bispo Diocesano de Uberlândia

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal feliz só com solidariedade, justiça e paz, diz Frei Rodrigo Péret

Feliz Natal com Solidariedade, Justiça e Paz!!!!!

Natal , por J. B. Libânio



Jesus nasceu num dia, num lugar, em circunstâncias concretas. Fascina-nos esse lado de acontecimento histórico bem definido e limitado. É a humanidade situada que prende o Verbo nas malhas do tempo e do espaço.

             Mas Jesus nasce também cada dia na nossa vida. Há um Natal de sempre. Por ser um Natal de sempre, vela-nos e desvela-nos simultaneamente o mistério divino. Vela-nos, porque nos deixa surpresos e perplexos diante da pequenez de uma criança-sacramento da divindade. Revela-nos, porque só pode ser de Deus a originalidade de assumir a forma humana de uma criança para manifestar-se.
                   No Natal de hoje, concreto e situado, ele é antes uma pergunta que uma resposta. Onde Jesus está a nascer? Outrora foi na manjedoura. E hoje? Ele nasce debaixo dos viadutos, no meio dos meninos de rua, nas periferias da miséria urbana, nas favelas, nos acampamentos dos Sem-terra, nos galpões dos catadores de papel e em tantos outros lugares da exclusão humana.
                   Os pastores de hoje são tantos e tantos, que, quer nas pastorais, quer em projetos humanistas, se aproximam dessas pessoas na intenção pura do acolhimento, sem juízo e sem pretensões salvadoras. Exatamente no espírito da voz do anjo interior que lhes diz que nesses lugares lhes "nasceu hoje um Salvador" (Lc 2,11)) e não que eles nasceram salvadores.
                   Natal é a lição da humanidade de Deus no sentido de que Deus na pessoa do Verbo assumiu nossa humanidade e de que o coração de Deus se vestiu de "humanidade" (Tt 3,4). Paradoxo de nossa linguagem! Para exprimir a faceta da misericórdia, da bondade, da benevolência, da delicadeza, da acolhida por parte de Deus usamos o termo "humanidade", como se nós humanos fôssemos exemplos de tais virtudes.
                   Mas na carta a Tito, Paulo quis marcar o escandaloso contraste entre a absoluta grandeza de Deus e nossa miséria, não pela distância, mas, pelo contrário, pela capacidade infinita de Deus de aproximar-se de nós, cabendo na fragilidade de uma criança. Deus nos surpreende não pelo poder a modo dos grandes desse mundo, mas pela simplicidade, pela fraqueza, pela gratuidade indefesa de nascer menino.
                   Natal supera a simples memória do evento. Insere-nos na onda do mistério, do "sacramentum", diria S. Leão Magno, ao anunciar e realizar a presença da salvação entre nós na forma mais cativante da comunhão por parte de Deus de nossa humanidade.
                   Além do Natal de Belém, dos infinitos natais na história, a Igreja celebra cada dia o Natal na Liturgia Eucarística. É nesse momento que percebemos o presente que Jesus nos fez. Antes de tudo, de ter vindo à terra, nascendo. Além disso, de continuar nascendo no Sacramento até o final dos tempos pelo ministério de sua Igreja e nela de seus sacerdotes.  Se a festa de Natal se celebra uma só vez por ano, os natais eucarísticos se multiplicam. Se somos gratos pelo Natal anual, mais ainda devemos sê-lo pelos natais de cada Eucaristia.
 
Texto de 2007
João Batista Libânio é teólogo e jesuíta

domingo, 22 de dezembro de 2013

Papa deseja Natal de ¨ justiça ¨ e pede casa para todas as famílias

Cidade do Vaticano – O Papa Francisco, ao meio-dia de hoje, deixou votos de um Natal de “justiça” para todos, numa intervenção em que pediu que todas as famílias possam ter a sua casa. “Desejo a todos um bom domingo e um Natal de esperança, de justiça e de fraternidade”, disse, perante dezenas de milhares de pessoas reunidas para a oração do ângelus, no último domingo do tempo litúrgico do Advento. Após a oração, o Papa comentou uma das faixas que se podiam ler na Praça de São Pedro: “Os pobres não podem esperar”.

“É bonito, isso faz-me pensar que Jesus nasceu num estábulo, não numa casa: depois, teve de fugir, rumo ao Egito, para salvar a vida. No fim, regressou à sua casa, em Nazaré e eu penso que também hoje há tantas famílias sem casa, seja porque nunca a tiveram, seja porque a perderam”, declarou. Francisco destacou que é “muito difícil” manter a vida familiar “sem morar numa casa”. “Nestes dias de Natal, convido todos, pessoas, organizações sociais, autoridades, a fazer todos os possíveis para que todas as famílias possam ter uma casa”, apelou, numa passagem saudada pelos presentes com uma salva de palmas.

A catequese dominical partiu da figura de São José, esposo de Maria, que o Papa apresentou como um exemplo de “homem bom” que “não odiava e não deixou que o rancor lhe envenenasse a alma”. Francisco recordou que, segundo os relatos evangélicos, José ficou “desconcertado” ao ter conhecimento da gravidez de Maria, antes do seu casamento, e que mesmo nessa situação “procurou fazer a vontade de Deus, pronto para a renúncia mais radical”, num “drama interior”. Diante da decisão de “renunciar à coisa mais preciosa, à pessoa mais amada”, José descobre um caminho diferente, “de amor e de felicidade”.

“Este Evangelho mostra-nos toda a grandeza de alma de São José. Ele seguia um bom projeto de vida, mas Deus reservava-lhe um outro desígnio, uma missão maior”, precisou Francisco. São José, acrescentou, soube ouvir as “mensagens que lhe chegavam do fundo do coração e do alto”, sem deixar que “o rancor lhe envenenasse a alma”. “Assim tornou-se mais livre e maior”, declarou, e descobriu-se “para lá de si mesmo”. “Disponhamo-nos então a celebrar o Natal, contemplando Maria e José: Maria, a mulher cheia de graça, que teve a coragem de se confiar totalmente à Palavra de Deus; José, o homem fiel e justo, que preferiu acreditar no Senhor em vez de ouvir as vozes da dúvida e do orgulho humano”, concluiu.

Após a catequese, o Papa dirigiu-se aos católicos italianos que hoje se reuniram para “manifestar o seu compromisso social”, pedindo-lhes um “contributo construtivo, recusando as tentações do confronto, da violência, procurando sempre a via do diálogo” para defender os direitos das pessoas. Francisco vai presidir à tradicional Missa do Galo, esta terça-feira, a partir das 21h30 (menos três em Brasília), que este ano será concelebrada não só por cardeais mas também por todos os bispos e sacerdotes que manifestem essa vontade ao Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.

Morte de Chico Mendes abre caminho para a questão ambiental no país

 



Por Ivan Richard -  Agência Brasil:

Xapuri (AC) - A luta pela preservação da Amazônia, em especial pela manutenção das atividades extrativistas, sofria um duro golpe há 25 anos. Em 22 de dezembro de 1988 foi assassinado, no interior do Acre, Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes. A morte do líder sindicalista repercutiu mundialmente e provocou mudanças na forma como o Brasil passou a lidar com as questões relacionadas ao meio ambiente.
De vida simples, Chico Mendes era enfático na defesa dos seus princípios. Ele conquistou o apoio dos companheiros seringueiros, de políticos, de artistas e de ativistas das causas ambientais em todo o mundo. “O Chico era uma pessoa que sabia respeitar todo mundo, sabia se relacionar com todo mundo e sabia construir a amizade e a confiança das pessoas”, descreveu à Agência Brasil Raimundo Mendes Barros, primo de Chico.


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“Ele era uma pessoa simples, sem ambição, e que tinha como único objetivo defender os interesses daqueles menos favorecidos tanto em termos de informação como em termos econômicos”, acrescentou a vice-presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Dercy Teles. Primeira mulher a presidir uma entidade sindical trabalhista no Brasil, Dercy esteve ao lado de Chico Mendes na criação da entidade em Xapuri.
 Atraídos pelo ouro branco, milhares de nordestinos começaram a migrar para a Floresta Amazônica no final do século 19. Em meio a mais de 5 milhões de metros quadrados de floresta, começava uma história de disputas econômicas, conflitos por terra e luta pela preservação da selva. Foi nesse cenário que Chico Mendes se tornou símbolo da luta pela manutenção da floresta e da cultura do seu povo.
Com o fim do apogeu da borracha, depois da 2ª Guerra Mundial, em 1945, de explorados pelos donos das terras, os seringueiros passaram a ter que lutar pela permanência na floresta. Com o início da queda no preço da borracha, os fazendeiros passaram a vender as propriedades.
Na década de 1970, os governos militares iniciam a política de ocupação da Amazônia. Com isso, passam a estimular produtores rurais do Sul do país a ocupar  os estados do Norte, inclusive o Acre. O resultado foi um novo ciclo de derrubada das matas para a exploração de madeira, plantio de soja e criação extensiva de gado, com estímulos financeiros do governo brasileiro e de bancos internacionais de fomento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
“Eles [os proprietários de terra] venderam os seringais [depois da queda do preço da borracha] mas não disseram para os fazendeiros do Sul que tinha gente no seringal. Venderam como se não morasse ninguém, mas em cada seringal daqueles tinha 100 pessoas, 50 famílias. Esse pessoal ia para onde? Eram casados, tinham filhos. Os fazendeiros quando compraram não queriam ninguém, eles queriam despejar todo mundo e daí que foi criado o sindicato e o movimento para empatar  e eles não tirarem o pessoal”, lembrou o ex-seringueiro Luiz Targino, companheiro de Chico Mendes na exploração do látex.
Os empates, idealizados pelo seringueiro Wilson Pinheiro, que presidiu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, consistiam em os trabalhadores rurais bloquearem a derrubada da mata se colocando a frente dos peões contratados pelos fazendeiros. Algumas vezes, para sensibilizar os peões com suas motosserras, mulheres e crianças eram colocadas na linha de frente. Com o assassinato de Wilson Pinheiro, em julho de 1980, a estratégia ganha ainda mais força com Chico Mendes. “Os empates foram fruto da sabedoria do Chico e desse espírito de não querer o confronto, de não querer o derramamento de sangue”.
Antropóloga e amiga do líder extrativista, Marly Alegretti recorda os conflitos da época. “Fiquei muito impressionada com a movimentação que estava acontecendo naquela ocasião. Havia muitos desmatamentos e os seringueiros estavam se organizando. Ninguém sabia, naquele momento, que lá no Acre, em Xapuri, que os seringueiros, que eram pessoas muito pobres e muito isoladas, praticamente sem poder nenhum, sem visibilidade, estavam fazendo uma defesa da floresta. E aquilo me impressionou bastante”, disse.
A postura dos seringueiros, no entanto, contrariava os interesses de grandes fazendeiros e as ameaças e os assassinatos de líderes sindicalistas começam a se tornar frequentes. Depois da morte de Wilson Pinheiro, outras lideranças também foram assassinadas, como Ivair Higino, dirigente sindical em Xapuri, morto em 1988.
Em 1975, Chico Mendes assume a secretaria-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia. No ano seguinte, intensifica os empates. De volta a Xapuri, ajuda a fundar, em 1977, o sindicato dos trabalhadores rurais da cidade onde foi eleito vereador. Na época, começa a receber ameaça de morte, assim como outros sindicalistas.
As lutas do seringueiro ultrapassam as fronteiras do Brasil. Ele é reconhecido como uma liderança mundial da luta pelas causas ambientalistas e recebe vários prêmios internacionais. Com a cabeça a prêmio, em 1988, Chico Mendes pede proteção policial e passa a ser escoltado por soldados da Polícia Militar. Contudo, sete dias após completar 44 anos, é assassinado na própria casa, com o tiro de espingarda no peito, em casa. Os policiais que faziam a segurança dele fugiram.
Chico, que casou duas vezes, deixou três filhos: Ângela (do primeiro casamento), Sandino e Elenira. Dois anos depois do crime, os fazendeiros Darly e Darci Alves foram condenados a 19 anos de prisão como mandante e executor do assassinato.
Principal testemunha do caso, o menino Genésio Ferreira da Silva, então com 13 anos, disse que ouviu pai e filho planejando o crime. Para tentar inocentar o pai, Darci confessou o crime. Os dois, que chegaram a fugir da cadeia e depois foram recapturados, cumpriram pena e estão em liberdade. Darly continua morando em Xapuri.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Dono da Band ameaça prefeito de São Paulo

Saad é dono da Band, concessão pública de TV usada para gerar lucros e defender interesses privados
Saad é dono da Band, concessão pública de TV usada para defender interesses privados
A ameaça contida no telefonema do dono do Grupo Bandeirantes de Comunicação, do canal Band de TV, Johnny Saad, ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, de persegui-lo em todos os meios de comunicação que lhe pertencem, entre eles os canais de rádio e o jornal gratuito Metro, distribuído pela cidade, foi alvo de um artigo publicado, nesta quinta-feira, em Londres. Editor do site Diário do Centro do Mundo, a partir da capital britânica, o jornalista Paulo Nogueira afirma que, na mídia conservadora, “o dono manda seus empregados defenderem a causa dele póprio, e a sociedade é bombardeada com um noticiário viciado”.
Leia, adiante, os principais trechos do artigo de Paulo Nogueira:
“Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito.”
“Bem-vindo ao mundo como ele é, Haddad.
Haddad disse aquilo a jornalistas. Preferiu não dar o nome do empresário. Mas o site Conversa Afiada logo descobriu de quem se tratava: de Johnny Saad, dono da Band.
“É um episódio que traz diversas conclusões.
“Primeiro, e antes de tudo, ele mostra como funciona a mídia corporativa. O dono manda seus empregados defenderem a causa dele próprio, e a sociedade é bombardeada com um noticiário viciado.
“Saad é dono de imóveis em São Paulo, e isso significa que ele teria que pagar mais IPTU.
“O brasileiro ingênuo – cada vez em menor número, felizmente – tem uma fé cega naquilo que ouve, vê e lê na mídia. Não tem ideia dos interesses por trás do noticiário.
“Depois, há uma questão de moralidade. Saad tem uma concessão pública, a televisão. Como ele se atreve a usá-la em seu favor?
“Algum tempo atrás, o executivo da ONU que trata da liberdade de expressão, Jacques de la Rue, notou um fato curioso.
“Em muitos países, o Brasil entre eles, as pessoas que receberam concessão pública para ter uma tevê ou uma rádio usam isso com a única finalidade de enriquecerem.
“Para ficar no caso mais dramático, os três herdeiros de Roberto Marinho estão no topo da lista das maiores fortunas pessoais do Brasil.
“Concessão pública não foi feita para que um pequeno grupo se locuplete.
“Por isso, há necessidade de regras que coíbam abusos e fiscalizem o uso decente de concessões.
“Cristina Kirchner deu um exemplo de combatividade ao enfrentar a mesma situação na Argentina, ao preço de um colossal desgaste derivado da resistência feroz do grupo Clarín.
“Mas não fraquejou e venceu.
“Terceiro, o episódio do telefonema mostra uma coisa importante: na Era Digital, uma boa forma de tornar públicos absurdos privados é por vazamentos.
“Nenhum órgão das empresas jornalísticas – Folha, Veja, Globo, Estadão – publicaria a denúncia de Haddad, e os brasileiros não saberiam da brutalidade de Saad ao telefone.
“A informação foi vazada, e a Band é obrigada a enfrentar a vergonha do telefonema de seu dono.
“Foi fruto de um vazamento, também, o furo do ano no Brasil: a trapaça fiscal da Globo na aquisição dos direitos da Copa de 2002. O site O Cafezinho publicou a documentação, passada por alguém inconformado da Receita Federal.
“O Brasil foi ocupado – na acepção do Movimento Ocupe Wall St – pelas companhias de mídia. Elas se valem de tudo para manter seus privilégios e os do pequeno grupo a que pertencem. Usam seus empregados como se fossem gado para propalar mentiras que lhes convêm.
“Fui um deles, aliás.
“Vazar informações que ajudem num processo imperioso de desocupação é um ato que beneficia toda a sociedade. Que todos que possuem informações relevantes se lembrem disso”.
Exemplo britânico
Na capital do império britânico, de onde escreveu Paulo Nogueira, funcionários do extinto jornal News of the World, de Rupert Murdoch, grampearam o telefone de Kate Middleton, mulher do príncipe William, da Grã-Bretanha, disse um promotor durante julgamento nesta quinta-feira. O escândalo já rendeu prisões e multas milionárias ao empresário Murdoch.
O promotor Andrew Edis disse à corte que uma mensagem de William deixada no telefone celular de Kate foi encontrada na casa do ex-editor do jornal responsável pela cobertura jornalística da família real, em 2006.
Os ex-editores do tabloide Rebekah Brooks e Andy Coulson estão sendo julgados com outras cinco pessoas sob diversas acusações, incluindo a de conspiração para interceptar ilegalmente as caixas de mensagens de celulares. Os acusados negam todas as acusações.


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Santayana: enfim, um Papa sem fanatismo


19 de dezembro de 2013 | Autor: Fernando Brito
francisco





















Espetacular a reflexão de Mauro Santayanna, no JB, sobre a importância do comportamento adotado pelo Papa Francisco à frente da Igreja.

Sua disposição não apenas de defender regras de convívio econômico e geopolítico que não imponham uma opressão desumana  aos povos e países mais frágeis, mas de  propagar o pensamento (e mesmo os dogmas) da fé católica sem fazer disso a demonização de quem não os aceita é algo que não vemos desde o papado de Paulo VI, até fins dos anos 70.
A tentativa de reacender um “guerra fria”, agora com o que chamam de populismo em lugar da União Soviética é evidente e um retrocesso no processo de legitimar apetites de poder que de cristãos nada têm.
Acrescento apenas um detalhe sobre o qual Santayanna não se detém: Francisco I é um freio imenso à manipulação da religião no processo eleitoral, e estamos entrando nele.

Habemus Papam

Mauro Santayana
Acusado por um conservador norte-americano de ser marxista, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, negou sê-lo, mas disse que não se sentia ofendido, por ter conhecido ao longo de sua vida, muitos marxistas que eram boas pessoas.
A declaração do Papa, evitando atacar ou demonizar os marxistas, e atribuindo-lhes a condição de comuns mortais, com direito a ter sua visão de mundo e a defendê-la, é extremamente importante, no momento que estamos vivendo agora.
A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em todo o mundo – no Brasil, particularmente, está ficando “chic” ser de extrema direita – baseia-se em manipulação canalha, com que se tenta, por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar criando uma absurda realidade paralela.
Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita fundamentalista, “Museus do Comunismo”; surgem por todo mundo, como nos piores tempos da Guerra Fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de se defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma absolutamente fantasiosa, cem milhões de mortos ao comunismo.
Busca-se associar, até do ponto de vista iconográfico, o marxismo ao nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado, em que os Alemães e seus aliados perderam 850 mil homens e a Batalha de Berlim, vencidas pelas tropas do Exército Vermelho – que cercaram e ocuparam a capital alemã e obrigaram Hitler a se matar, como um rato, em seu covil – a Alemanha Nazista teria tido tempo de desenvolver sua própria bomba atômica e não teria sido derrotada.
Quem compara o socialismo ao nazismo, por uma questão de semântica, se esquece que, sem a heróica resistência, o complexo industrial-militar, e o sacrifício dos povos da União Soviética – que perdeu na Segunda Guerra Mundial 30 milhões de habitantes – boa parte dos anticomunistas de hoje, incluídos católicos não arianos e sionistas, teriam virado sabão nas câmaras de gás e nos fornos crematórios de Auschwitz, Birkenau e outros campos de extermínio.
Espalha-se, na internet – e um monte de beócios, uns por ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso – que o Golpe Militar de 1964 – apoiado e financiado por uma nação estrangeira, os Estados Unidos – foi uma contra-revolução preventiva. O país era governado por um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do estado de direito, e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck Presidente da República em 1965.
1964 foi uma aliança de oportunistas. Civis que há anos almejavam chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso, segmentos conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e oficiais – não todos, graças a Deus – golpistas que odiavam a democracia e não admitiam viver em um país livre.
Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres fascistas pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do Papa Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como quaisquer outras – e não são os monstros apresentados pela extrema-direita fundamentalista e revisionista sob a farsa do “marxismo cultural” – representam um apelo à razão e um alento.
Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer, pelo menos até agora, que Habemus Papam, com a clareza da fumaça branca saindo, na Praça de São Pedro, em dia de conclave, das veneráveis chaminés do Vaticano.
Um Papa maiúsculo, preparado para fortalecer a Igreja, com o equilíbrio e o exemplo do Evangelho, e a inteligência, o sorriso, a determinação e a energia de um Pastor que merece ser amado e admirado pelo seu rebanho.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A questão ideológica do Brasil contemporâneo

Do site cartamaior.com.br:

Embora já surrada, a questão do "fim das ideologias", assim como do "fim da história", reaparecem de tempos em tempos, abertamente ou de forma subliminar.

Francisco Fonseca (*)
Embora já surrada, a questão do “fim das ideologias”, assim como do “fim da história”, reaparecem de tempos em tempos, abertamente ou de forma subliminar. Trata-se de uma questão internacional, mas com contornos específicos no Brasil.

Há, de certa forma, uma espécie de “ideologia da não ideologia”, isto é, a tentativa permanente, aguçada em períodos pré-eleitorais e eleitorais, dos setores liberais e conservadores desqualificarem, por estratégias diversas, os pressupostos, objetivos e formas de atuação dos grupos à esquerda.

Mesmo que os aspectos concretos quanto à forma de atuar dos grupos sociais – à esquerda, ao centro e à direita no espectro – dependa de um conjunto de circunstâncias históricas, tais como o contexto internacional, a correlação de forças numa dada sociedade, o grau de organização e mobilização das forças sociais, o papel das instituições políticas, os padrões do modelo de acumulação, entre outras variáveis, há elementos essencialmente definidores do significado de esquerda e direita.

Vejamos, de forma panorâmica e sem a pretensão de esgotar suas características, alguns desses elementos essenciais quanto à atualidade da esquerda.

Primariamente, diz respeito ao tema da igualdade: política e social. O pensamento à esquerda – concretizado em governos – tem como objetivo central a diminuição das desigualdades e, num plano de longo prazo, sua eliminação. Em termos da agenda governamental, esse pressuposto implica: ampliação do gasto social (medido em relação ao PIB); busca pela universalização de direitos, mas contemporaneamente combinada com focalização aos grupos mais vulneráveis; descrença no “mercado livre”, panaceia vendida pelo liberalismo, uma vez que se apoia o direcionamento dos agentes econômicos, e sobretudo o reconhecimento das assimetrias entre os detentores do capital e da força de trabalho, reconhecimento que se transforma em políticas de apoio aos trabalhadores via políticas públicas; apoio às formas de participação popular, como conferências nacionais, audiências públicas, entre diversas outras; como decorrência, o estímulo ao chamado “controle social”, em que cidadãos organizados em suas comunidades são partícipes ativos dos processos de implementação e monitoramento de políticas públicas, caso do exitoso Programa Bolsa Família; a questão crucial da aceitação dos conflitos como legítimos, cuja consequência é a negociação e não a repressão policial. Por fim, do ponto de vista das relações internacionais, a busca por autonomia perante as potências mundiais e suas instituições, em que o tema da soberania ganha relevo, e conduz, claramente, a uma visão de mundo à esquerda, em clara contraposição com a chamada direita, tradicionalmente associada às potências hegemônicas.

Em claríssimo contraste, quais são os pressupostos da direita?

Seu pressuposto fundamental é a ordem, resultante da rejeição e aversão aos conflitos, sobretudo de classe, que permanecem revestidos majoritariamente como “conflito distributivo”. Daí o discurso clássico da direita ter na violência do Estado, por meio do “endurecimento das penas”, da brutalidade policial, da “criminalização” dos movimentos sociais, entre tantas outras formas, uma de suas características marcantes. Tal violência, destituída de controles democráticos, volta-se à proteção da propriedade e à “harmonia entre as classes” (mesmo que se negue sua existência).

Afinal, o pressuposto do pensamento liberal/conservador é justamente a “ideologia do mérito”, revestida de “meritocracia”, em que os indivíduos – independentemente de suas condições coletivas históricas – devem competir, sobressaindo-se os “melhores”. Daí o clássico mote do jornal O Estado de S. Paulo, de certa forma compartilhado por toda a grande mídia, de que as elites são constituídas pelos “melhores e mais capazes, venham de onde vierem”. Do ponto de vista internacional, a aceitação da “ordem mundial” tal como dada e ao papel subalterno conferido ao Brasil pela “divisão internacional do trabalho” fez e faz parte do conservadorismo liberal encarnado na perspectiva da direita.

Keynes, mesmo não sendo um intelectual de esquerda, já havia chamado a atenção, num profético artigo publicado em 1926, intitulado “The end of laissez faire”, a respeito dos efeitos nocivos da competição sem regras e da falácia da “mão invisível do mercado”, ambientes em que a ideologia do mérito prospera. Trata-se de pressupostos intrínsecos ao pensamento conservador e liberal, que conflui vigorosamente à direita no espectro.

Albert Hirschman, num primoroso livro sobre o pensamento conservador e liberal – encarnado na direita não nazista –, intitulado a “Retórica da Intransigência: perversidade, futilidade, ameaça” (publicado no Brasil pela Cia. das Lestras em 1992), demonstra detalhadamente os argumentos esgrimidos ao longo de dois séculos contrários à introdução dos direitos civis, políticos e sociais no mundo ocidental. São fortemente reativos em sua ânsia por garantir privilégios.

No Brasil não tem sido diferente, embora nossa direita, sobretudo no século XX, tenha se caracterizado pela adesão a golpes “clássicos”, e também aos “brancos” (mais sutis), respectivamente o golpismo civil/militar até 1964, e toda forma de casuísmo anti-institucional: emenda da reeleição em plena regra que a proibia, populismo cambial, “engavetadores gerais” da República etc.

Mais ainda, no marcante momento da Assembleia Constituinte de 1986/87, um sem-número de críticas ácidas, na perspectiva analisada por Hirschman, foram desferidas contra a “Constituição Cidadã”. Analisei detalhadamente tais críticas em meu livro “O Consenso Forjado – a grande imprensa e a formação da agenda ultraliberal no Brasil” (Editora Hucitec, 2005), e pude observar quão conservadora, em plena redemocratização, fora a direita reunida em torno do “Centrão”.

Em outras palavras, essencialmente falando, como sugerido por Norberto Bobbio, há diferenças cruciais entre esquerda e direita, ideologias – ou doutrinas, termo mais correto, pois indica um corpus conceitual e valorativo sistêmico – que continuam vivas e antagônicas, cujos efeitos governamentais sob seu comando são sentidos na vida dos cidadãos comuns, notadamente os pobres.

No Brasil, embora as grandes coalizões partidárias, resultantes, por seu turno, do financiamento privado legal e ilegal das campanhas e da lógica privatista do sistema político brasileiro, embaralhem e turvem a posição de ambas as ideologias, isso não significa que sua vigência seja menor. Ao contrário.

As contradições nos Governos Lula e Dilma expressam justamente os efeitos nefastos de um sistema político fundamentalmente protetor das elites, cujas reformas sociais são sempre incrementais e marginais, como tenho escrito em diversos artigos neste Portal. Em outras palavras, uma verdadeira “inversão de prioridades” (orçamento, crédito, infraestrutura, gastos sociais, dívida pública, universalização de direitos, transparência e participação popular/controle social etc), capaz de “radicalizar a democracia”, é travada em razão da grande aliança conservadora: de classes, que se expressa no sistema político.

A sensação de “geleia geral” do sistema partidário, e mesmo a desilusão perante o Partido dos Trabalhadores de amplas parcelas da sociedade brasileira não destituem o legado – reconhecido sistematicamente nas urnas – de que a obra do pensamento à esquerda está presente nos Governos Lula e Dilma. Apesar de suas imensas contradições e da ausência de um Projeto de sociedade e nação desses governos, os pressupostos de esquerda claramente estiveram e estão presentes, a ponto de as candidaturas oposicionistas dos grandes partidos patinarem em busca de um discurso capaz de se sobrepor aos notáveis avanços sociais, políticos e institucionais vivenciados pela sociedade brasileira.

A questão das concessões de serviços públicos, as parcerias público/privado, a contratualização de setores da gestão pública e o papel dos agentes privados nos sistemas universais de direitos sociais não são suficientes para derrogar os avanços sociais existentes justamente por ter havido pressupostos e objetivos de esquerda. Trata-se, além do mais, de estratégias e táticas articuladas ao momento histórico que, embora possam ser derrogadas, não denotam intrinsecamente traição aos pressupostos de esquerda. Afinal, a diminuição da desigualdade, a ampliação do gasto social e dos direitos sociais universais, assim como da participação popular, vicejaram vigorosamente, alterando em vários sentidos os legados perversos, e convivem contraditoriamente com políticas conservadoras (forma e conteúdo).

O grande desafio é ampliar e aprofundar a democracia política e social no país, invertendo e revertendo prioridades, o que, contudo, somente será realizado por uma política de esquerda, o que implica o “fim do pacto conservador de classes”. Embora o momento eleitoral não se preste a isso, uma vez que as regras estão dadas, as jornadas de junho demonstraram que é possível “ir além” – forma e conteúdo. Para tanto, novas e outras formas de fazer política precisam ser inventadas e reformadas, cujo centro – à luz dos pressupostos de esquerda – é a participação popular, o controle social e a transparência, dado que capazes de inverter/reverter prioridades e que representam justamente os anátemas da direita!


(*) O cientista político Francisco Fonseca, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).