quinta-feira, 2 de março de 2017

Portela é a campeã e emocionou o público com a ala “Um rio que era doce”

Depois de 33 anos de jejum no Carnaval carioca, a Portela conquistou, junto com o carnavalesco Paulo Barros, nesta quarta-feira (1º), o título do Carnaval 2017, com o enredo “Foi um Rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar”. 



Desfile da Portela emociona o público com a ala “Um rio que era doce”


Era para ser só alegria durante o desfile da Escola de Samba Portela, na noite passada (27/02), no Carnaval carioca. Com o enredo, “Foi um rio que passou em minha vida e o meu coração se deixou levar…”, o carnavalesco Paulo Barros levou para a Marquês de Sapucaí, no centro do Rio, a vida, a beleza e a exuberância dos rios do planeta.
Mas não era possível deixar de mencionar a tragédia ambiental do Rio Doce. Na ala “Um rio que era doce”, pescadores gigantes, cobertos de lama, apareceram com os rostos e os braços em direção ao céu, mostrando todo o desespero de quem vivia às margens do Vale do Rio Doce.
A quarta alegoria da Portela fazia referência ao desastre que assolou não só o vilarejo de Bento Rodrigues, próximo à Mariana, em Minas Gerais, quando em novembro de 2015, um onda de resíduos tóxicos, vindos da barragem da mineradora Samarco, inundou toda a região, matando uma dezena de pessoas e acabando com a vida da fauna e flora no entorno do rio.
O desespero do pescador perante a lama de minério
No chão, os integrantes da escola, vestidos também com roupas sujas de lama, empunhavam cartazes com as palavras “crime, desespero, ganância, justiça e sem água”.
desfile da Portela
Todavia, as outras alas da Portela mostraram um desfile lindo, que mostrou ao público a incrível vida dos rios na Terra. A Comissão de Frente apresentou o fenômeno da piracema, a migração dos peixes rio acima, em direção à nascente, na época da desova e reprodução destes animais.
O carnavalesco Paulo Barros também colocou na avenida as lendas brasileiras ligadas aos rios, dentre elas, Iara, Boiúna e a do boto-cor-de-rosa.
No carro abre-alas, a Portela trouxe a mensagem sobre a importância da preservação das matas em torno das nascentes, com a alegoria “Fonte da Vida”.

Fotos: divulgação RioTur/Fotos Públicas



Veja a descrição do enredo da Portela:
Jornal do Brasil
“Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar”
O rio inspira os homens. De suas águas, pescam o sonho e o conhecimento, colhem a história e o encantamento. O rio azul e branco nasce da fonte de onde se originam a vida e as culturas humanas. Prima matéria, a água doce está associada aos mitos de criação do universo das antigas civilizações, é a manifestação do sagrado nas religiões e a maior riqueza para as sociedades modernas. A Águia bebe dessa água cristalina em sua nascente, onde brota o bem mais precioso criado pela natureza. No berço do samba, o pássaro abençoa a passarela, leito do rio da Portela. Segue recolhendo a poesia de muitos outros rios, enquanto mantém o seu rumo. Atravessa a Avenida, lavando a alma de quem deseja ver o rio passar, saciando a sede de vitória, irrigando de alegria o povo que habita a beira do rio. Suas águas purificam o corpo, afogam a tristeza e renovam as forças a cada alvorada. Convida a conhecer seus mistérios, cruzando aldeias e povoados, cidades e países distantes. 
O rio é velho e por ele correm muitas histórias, porque sempre esteve ali a guardar os segredos das águas que deram origem ao mundo. O rio é novo porque está sempre em movimento e nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar. O rio não pode voltar. Ele segue em busca do seu destino. Nasce como um fio d’água, calmo e sereno, e continua para receber muitas contribuições em seu curso. Enquanto cresce, irriga e fecunda as margens de onde se colhe o alimento do corpo e da alma. Avança sobre a terra e não se deixa vencer pelas pedras que encontra no caminho. Passa inspirando canções e poemas, linhas e formas sinuosas. Em sua exuberância, desfila entre matas, plantações, casas humildes e mercados, do interior até chegar às grandes metrópoles e receber as imensas construções fincadas em suas margens. O homem e o rio estão ligados pelo corpo e pelo espírito. Os artistas, músicos e cantadores, arquitetos e escritores incorporam a alma do rio e refletem suas imagens. Aqueles que se entregam à devoção e murmuram suas preces, pedidos e promessas fazem procissões e oferendas, agradecidos pelos desejos atendidos. O homem tira a vida do rio. A vida é como um rio que corre em direção ao seu destino.

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