Por Fred Melo Paiva
Estado de Minas
O Galo é a maior coisa do mundo
Eu olho hoje o Brasil de Temer - excludente, misógino, velho -, vejo os Estados Unidos de Trump, e penso comigo: o mundo precisa de mais Atlético Mineiro.
Parabéns, meu Galo querido, por seus 109 anos de história. 109 anos de uma maravilhosa utopia. 109 anos de luta e resistência, de dor e redenção – e não tem um que tenha largado o osso. Parabéns a cada atleticano do mundo, a cada consulado nosso que se espalha por todos os continentes, a cada embaixador do nosso Galo. Parabéns ao Clube Atlético Mineiro de Tete, em Moçambique, que nesta semana sofre a perda de seu jogador Estêvão Alberto Gino, atacado por um crocodilo.
Parabéns, Reinaldo, Luizinho, Éder, Cerezo, Marcelo, João Leite, Paulo Isidoro, Ubaldo, Vavá, Dario, Humberto Ramos, Marques, Tardelli, Ronaldinho Gaúcho, Bernard, Jemerson, Luan, Marcos Rocha, Leonardo Silva, Fred, Cuca, Levir, Belmiro e todos os demais que entraram funcionários e viraram torcedores.
Parabéns aos que não estão mais entre nós, dona Alice Neves, Mário de Castro, Jairo, Said, Guará, Zé do Monte, Sempre, Zé das Camisas, Vicente Mota, Adelchi Ziller, Kafunga, Odair, Cincunegui, Vilibaldo Alves, Walmir Pereira, Elias Kalil. Parabéns, Alexandre Kalil, que também faz aniversário hoje, só podia. Parabéns pra nós, afinal nós somos o Clube Atlético Mineiro – e mesmo os ateus deveriam levantar as mãos pro céu todo santo dia pra agradecer a sorte de ser Galo.
Salvo engano, foi o Roberto Drummond quem disse ser o Atlético o maior partido político de Minas – e sua Presidência, o segundo cargo mais importante do Estado, perdendo apenas para o governador. Mas o Atlético é muito mais do que isso: o Atlético é a utopia de um mundo melhor, mais justo e tolerante. É uma ideia de cidade, uma proposta de país, um jeito de dizer que um mundo melhor é possível.
No punho cerrado do Rei, o Galo ensinou pra gente que é preciso lutar contra os opressores, custe isso o que custar. Eu nunca vou me esquecer de um retrato do fotógrafo Gabriel Castro em que o pai está segurando seu filho depois do pênalti do Riascos – o menino em prantos, o pai num misto de atônito e aliviado. Gabriel publicou a foto com uma legenda: “Um pai ensinando seu filho a acreditar sempre, não desistir jamais”. Na perna esquerda de Victor, foi isso que o Galo ensinou pra gente. O Galo, meus amigos, não é o maior partido político de Minas. O Galo é o amor. O Galo é a maior coisa do mundo.
A história é algo que às vezes nos escapa. Então, é preciso lembrá-la, registrá-la, voltar a ela e olhar em perspectiva. Quando 22 estudantes se reuniram no coreto do Parque Municipal pra fundar o Club Athletico Mineiro, a Lei Áurea que abolira a escravidão no Brasil tinha exatamente 20 anos (13 de maio de 1888). Se há racismo no Brasil até hoje, com cadeias e favelas repletas de negros, alvos preferenciais da violência da polícia, imagina em 1908. Mas os 22 estudantes reunidos no coreto – todos brancos e todos ricos – decidiram fundar um clube popular, sem distinção de raça e classe social, tolerante e inclusivo.
No Rio, o Vasco da Gama fizera o mesmo, numa época em que a maioria dos clubes só aceitava membros da elite e proibia expressamente o negro. Tão simbólico que ambos tenham escolhido as cores que escolheram. Mais simbólico ainda que o Galo tenha disposto em listras o preto e o branco: de pé, cabeça erguida, lado a lado, num elogio à igualdade racial e social – um jeito de dizer pra cidade que acabava de ser construído que aquele podia ser um horizonte belo pra todo mundo, e não apenas para a meia dúzia de sempre.
Isso não foi só o negro e o pobre: desde 1908, mulheres e refugiados dos países árabes são protagonistas fundamentais da nossa história. Vide dona Alice e a primeira organizada de que se tem notícia, a torcida feminina do Galo, da década de 20. Vide o trio maldito composto por Said, e a família Kalil. É por isso, meus amigos, que a gente não deveria gritar bicha no tiro de meta. É por isso que certamente estamos depondo contra a nossa história quando chamamos o cruzeirense de Maria (eu incluso, confesso, quase não consigo evitar).
As Marias, o gay, o negro, o muçulmano, o evangélico, o aleijado, o negro, o pobre – o atleticano tem de ter orgulho de abraçar a diversidade, porque essa é nossa história desde 25 de março de 1908. Não é à toa que foi o time brasileiro escolhido para visitar a Alemanha no pós-guerra, num esforço conjunto de reconciliação e reconstrução de um povo. Nós somos Campeões do Gelo, e isso é muito mais do que simplesmente futebol, título e troféu.
Em torno da ideia de inclusão, crescemos e nos fortalecemos, passando de 22 a 8 milhões. Por isso o Bar do Salomão, reduto máximo da atleticanidade, só poderia estar onde está: numa esquina onde se encontram o sujeito que sobe para o Mangabeiras e aquele que desce do Aglomerado da Serra. Em nome disso, jamais baixamos a crista: perdemos os títulos que perdemos nos anos 80, mas não nos misturamos com a Ditadura. Fomos todos o punho cerrado do Rei. Nunca nos sujamos na CBF. Quando caímos, não viramos a mesa – fomos à luta, em nome da nossa história e da nossa velha utopia.
Eu olho hoje o Brasil de Temer – excludente, misógino, velho –, vejo os Estados Unidos de Trump, e penso comigo: o mundo precisa de mais Atlético Mineiro. Só o Galo salva! Parabéns, Galo de ouro, a Seleção do Povo – tenho um orgulho danado de você.
No punho cerrado do Rei, o Galo ensinou pra gente que é preciso lutar contra os opressores, custe isso o que custar. Eu nunca vou me esquecer de um retrato do fotógrafo Gabriel Castro em que o pai está segurando seu filho depois do pênalti do Riascos – o menino em prantos, o pai num misto de atônito e aliviado. Gabriel publicou a foto com uma legenda: “Um pai ensinando seu filho a acreditar sempre, não desistir jamais”. Na perna esquerda de Victor, foi isso que o Galo ensinou pra gente. O Galo, meus amigos, não é o maior partido político de Minas. O Galo é o amor. O Galo é a maior coisa do mundo.
A história é algo que às vezes nos escapa. Então, é preciso lembrá-la, registrá-la, voltar a ela e olhar em perspectiva. Quando 22 estudantes se reuniram no coreto do Parque Municipal pra fundar o Club Athletico Mineiro, a Lei Áurea que abolira a escravidão no Brasil tinha exatamente 20 anos (13 de maio de 1888). Se há racismo no Brasil até hoje, com cadeias e favelas repletas de negros, alvos preferenciais da violência da polícia, imagina em 1908. Mas os 22 estudantes reunidos no coreto – todos brancos e todos ricos – decidiram fundar um clube popular, sem distinção de raça e classe social, tolerante e inclusivo.
No Rio, o Vasco da Gama fizera o mesmo, numa época em que a maioria dos clubes só aceitava membros da elite e proibia expressamente o negro. Tão simbólico que ambos tenham escolhido as cores que escolheram. Mais simbólico ainda que o Galo tenha disposto em listras o preto e o branco: de pé, cabeça erguida, lado a lado, num elogio à igualdade racial e social – um jeito de dizer pra cidade que acabava de ser construído que aquele podia ser um horizonte belo pra todo mundo, e não apenas para a meia dúzia de sempre.
Isso não foi só o negro e o pobre: desde 1908, mulheres e refugiados dos países árabes são protagonistas fundamentais da nossa história. Vide dona Alice e a primeira organizada de que se tem notícia, a torcida feminina do Galo, da década de 20. Vide o trio maldito composto por Said, e a família Kalil. É por isso, meus amigos, que a gente não deveria gritar bicha no tiro de meta. É por isso que certamente estamos depondo contra a nossa história quando chamamos o cruzeirense de Maria (eu incluso, confesso, quase não consigo evitar).
As Marias, o gay, o negro, o muçulmano, o evangélico, o aleijado, o negro, o pobre – o atleticano tem de ter orgulho de abraçar a diversidade, porque essa é nossa história desde 25 de março de 1908. Não é à toa que foi o time brasileiro escolhido para visitar a Alemanha no pós-guerra, num esforço conjunto de reconciliação e reconstrução de um povo. Nós somos Campeões do Gelo, e isso é muito mais do que simplesmente futebol, título e troféu.
Em torno da ideia de inclusão, crescemos e nos fortalecemos, passando de 22 a 8 milhões. Por isso o Bar do Salomão, reduto máximo da atleticanidade, só poderia estar onde está: numa esquina onde se encontram o sujeito que sobe para o Mangabeiras e aquele que desce do Aglomerado da Serra. Em nome disso, jamais baixamos a crista: perdemos os títulos que perdemos nos anos 80, mas não nos misturamos com a Ditadura. Fomos todos o punho cerrado do Rei. Nunca nos sujamos na CBF. Quando caímos, não viramos a mesa – fomos à luta, em nome da nossa história e da nossa velha utopia.
Eu olho hoje o Brasil de Temer – excludente, misógino, velho –, vejo os Estados Unidos de Trump, e penso comigo: o mundo precisa de mais Atlético Mineiro. Só o Galo salva! Parabéns, Galo de ouro, a Seleção do Povo – tenho um orgulho danado de você.
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