quinta-feira, 16 de março de 2017

O desjornalismo da imprensa brasileira

Dois artigos analisam a cobertura da imprensa em relação as manifestações ocorridas, nesta quarta-feira, em todo o país. O que prevaleceu foi a desinformação, a tentativa de esconder os protestos e a manipulação.

A cobertura das manifestações contra a reforma da previdência em todo o Brasil, principalmente pela Globo e Band, foi ridícula. Não mostraram as ruas tomadas por milhares de trabalhadores. A cobertura da Globonews foi caracterizada pela desinformação.

Grande mídia esconde protestos contra Temer

Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:

Incrível.

Acabo de entrar nas páginas de Globo, Estadão e Folha. Não há NENHUMA referência às grandes manifestações contra Michel Temer e sua reforma da previdência, que ocorreram em todo país, nesta quarta-feira, 15 de março.

A única pauta é Lava Jato.

O que não falta, porém, são anúncios do governo federal… Em todos os jornalões, topei com a publicidade, em formato pop-up, do BNDES.



É curioso ver o BNDES anunciando em jornais que, há anos, fazem campanha para sua destruição.

É uma coisa nojenta. Se você clicar na editoria “Brasil”, da Globo, que tem anúncio do Ministério da Integração Nacional, só vai encontrar matérias sobre a Lava Jato, como se não acontecesse outra coisa no país.

Não há problemas econômicos, desemprego, protestos contra o governo, etc.

O único assunto dos principais meios de comunicação do país, que recebeu bilhões de reais, por ano, de verbas públicas, é uma operação policial que já vai para o seu terceiro ano, e cujo único resultado concreto foi derrubar uma presidenta honesta e encher o novo governo formado de corruptos, inclusive acusados pela própria operação.



Eu estive no ato que foi da Candelária à Central do Brasil. Era enorme, com dezenas de milhares de pessoas (as estimativas variam de 20 a 50 mil) ocupando um grande espaço da avenida presidente vargas.

Era grande e bonita. À diferença de manifestações coxinhas, salpicadas de gente defendendo a ditadura militar e fanáticos por Bolsonaro, essa tinha feministas tocando tambor em defesa dos direitos de todas as mulheres e de todos os brasileiros.

Se as manifestações contra o golpe do ano passado foram grandes, os protestos contra a reforma da previdência e contra o governo Temer prometem ser ainda maiores.

A grande imprensa brasileira, ao esconder os protestos em troca de alguns tostões de publicidade federal, afunda-se junto com esse governo de golpistas e ladrões.

A título de registro histórico, reproduzo abaixo o tratamento que Globo e UOL deram às manifestações de ontem contra a reforma da previdência (e contra Temer):





(Clique nas imagens para acessar a reportagem).

 (...)

Eu fico imaginando a inveja dos políticos da direita brasileira. Em todo lugar que vão, são chamados de golpistas, ladrões e traidores.

Enquanto isso, Lula discursa na Avenida Paulista para 300 mil pessoas.

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O Desjornalismo

Por Gabriel Priolli, no blog Nocaute

Estes dias têm sido particularmente pedagógicos sobre o funcionamento da imprensa brasileira, em sua fase de jornalismo de guerra.

Boas lições são oferecidas nos capítulos da seleção de pautas, angulação do noticiário, tratamento das fontes de informação e respeito à verdade dos fatos.

Desde que a direita e a esquerda dividiram as águas nos movimentos de rua, depois de uma breve confluência nas jornadas de 2013, a mídia corporativa cuidou de esclarecer ao país que existem dois tipos de manifestação.

A dos brasileiros, cidadãos, patriotas, gente de bem, devidamente vestidos nas cores pátrias e orientados pela opinião de direita do rádio e da TV.

E a dos vagabundos, baderneiros, vândalos, agitadores esquerdistas, esses terríveis vermelhos inimigos da Pátria, da Família e da Propriedade, que só sabem fazer greve e atrapalhar o sagrado direito de ir e vir de quem quer trabalhar.

Na quarta-feira, dia 15, centenas de milhares de brasileiros saíram às ruas no país todo contra a reforma da Previdência e, mais uma vez, foram encaixados no Tipo 2 de manifestação.

A imprensa falou em greve dos transportes, greve de servidores públicos, distúrbio ao trânsito, caos nas cidades, ato de apoio a Lula, menos no que levou tanta gente a se mobilizar.

Deu voz a todos que quiseram atacar o protesto e a ninguém que pudesse simplesmente explicar o seu sentido.
(...)
O decano dos jornalistas respeitáveis do Brasil, Jânio de Freitas, diz que muito da pós-verdade circulante no país provém da mentira oficial do governo, constante, onipresente, e ecoada aos quatro ventos.

O que falta em pós-verdade, a imprensa trata ela mesma de produzir, noticiando um mundo que pouco tem a ver com o real, e tudo com os seus próprios interesses, políticos e comerciais.

Difícil saber o que é pior. Se é ter uma imprensa que falseia, na cara dura, ou um público otário, que confia candidamente na falsidade.


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