Foto: Rodrigo Félix Leal
Por Diana Assunção
O golpe institucional tinha um objetivo claro: descarregar a crise econômica sobre as costas dos trabalhadores e do povo pobre, aplicando planos de ajustes ainda maiores do que o PT já vinha aplicando. Para este objetivo contou com a nada imparcial Operação Lava-Jato e sua seletividade pré-golpe que tinha como alvo em sua grande maioria políticos do PT, um partido que assumiu da direita seus métodos de corrupção. O que vemos hoje é a aplicação destes planos de ajustes, não sem resistência em especial da juventude, mas ainda com as centrais sindicais em verdadeira trégua com o governo golpista de Temer, sem mobilizar verdadeiramente suas bases. A PEC 55 foi aprovada em 1º no Senado, congelando gastos públicos por mais de 20 anos.
Ao mesmo tempo, a Operação Lava Jato vem buscando uma cara menos "golpista" e menos "seletiva" sem no entanto mudar as raízes de sua ação: trocar um esquema de corrupção por outro. Estas "mãos limpas" nós já vimos em outros países, como na Itália o que levou a posteriormente recompor o regime com governos ainda mais de direita, apenas um dos motivos pra não haver nenhuma ilusão de que uma mudança (ou uma "limpeza) na política possa vir pelas mãos de juízes ou advogados, não, as mudanças pela raiz somente poderão vir pela ação da classe trabalhadora ao lado da juventude e de todos os setores oprimidos.
Na mesma terça-feira de suposto "luto nacional" em que a PEC era aprovada, a Câmara dos Deputados votou "10 medidas contra a corrupção" alterando o texto inicial proposto pelo Ministério Público Federal acrescentando pontos de direto ataque aos superpoderes do STF, o que gerou enorme indignação não somente entre juízes e promotores mas também entre os membros da Operação Lava-Jato.
Estes acontecimentos "por cima" expressam interesses que não são antagônicos. Por um lado os políticos golpistas querendo buscar estabilidade no governo Temer em base a impunidade de todos os corruptos. Por outro lado o STF e os membros da Operação Lava-Jato querendo proteger seus super poderes. Entretanto, todos estão unidos para aplicar o plano de ajustes contra os trabalhadores, protegendo assim os empresários que também são grandes responsáveis pela crise econômica.
As mobilizações de rua no começo do ano pedindo o impeachment de Dilma Roussef liderados por grupos como MBL ou Vem Pra Rua, e com ampla participação do PSDB e outros partidos da direita, tinham como mote principal a luta contra a corrupção, uma bandeira que tem bastante eco especialmente na classe média, e que a direita usa de forma demagógica. Alguns setores da esquerda que apoiam a Lava-Jato ou diretamente apoiaram o golpe institucional buscam dialogar com toda esta base do impeachment, que agora novamente volta às ruas contra a corrupção e em defesa da Lava-Jato.
Entretanto o combate à corrupção e ao privilégio dos políticos, juízes e funcionários de alto escalão não se dará de forma descolada do combate a todo este sistema político podre. Marchar ao lado dos manifestantes "verde-amarelo" significa aprofundar a política de fortalecer o regime por dentro, defendendo o STF e a Operação Lava-Jato, instituições que podem se fortalecer pra reprimir ainda mais os trabalhadores e a juventude - lembremos que o STF acabou de votar medida contra o direito de greve.
Os atos de domingo portanto são atos convocados por organizações de direita, que foram parte de lutar pelo golpe institucional e que defendem os planos de ajustes contra os trabalhadores. São também os setores que aplaudiram a Câmara dos Deputados quando estes vociferavam contra mulheres, negros e LGBTs e veneravam torturadores da ditadura militar no Brasil.
Por isso, os trabalhadores e a juventude não devem participar desta manifestação. Não há aliança possível com os que defendem uma saída de direita e reacionária pro país. É escandaloso que Luciana Genro (MES-PSOL) e outras correntes da esquerda se manifestem tão firmemente em defesa da Lava-Jato e cogitem participar de manifestações como estas. Não confiam na classe operária como sujeito político da transformação da sociedade em aliança com a juventude e todos os setores oprimidos.
Ao contrário disso, devemos seguir o caminho dos que lutaram contra o golpe institucional sem defender o governo Dilma que naquele momento também aplicava um plano de ajustes contra nós. Devemos confiar na força da classe operária e especialmente neste momento da juventude que ocupa e se mobiliza em todo o país. Consideramos fundamental que as centrais sindicais rompam sua subordinação às direções petistas, e construam a mais ampla mobilização no dia 13/12 contra a PEC 55 e todos os ajustes e ataques que querem descarregar sobre nós. E que como parte desta mobilização os trabalhadores e a juventude imponham uma Nova Constituinte, livre e soberana, pra mudar as regras do jogo, enfrentar a impunidade e os privilégios dos políticos, pra que todo político ganhe o mesmo salário que uma professora, que os crimes de corrupção sejam julgados por júris populares e pra que todas empresas sejam estatizadas com administração democrática dos trabalhadores e da população para não entregar os recursos naturais na mão do imperialismo ou da corrupção. Uma saída assim só poderá vir fruto da mobilização, mas pra isso é preciso saber com quem podemos marchar e com quem não podemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário