Ninguém jamais pensou que a mídia e seus braços partidários ficariam calados quando o governo resolvesse iniciar um debate sobre a regulação econômica da mídia.
É inegável que a regulação econômica da mídia mexe com uma questão de poder.
Poder e dinheiro.
No Brasil, poder e dinheiro tem nome: Globo.
Os Marinho, donos da Globo, são a família mais poderosa e rica do país.
Uma soma de Berslusconi com Rupert Murdoch.
Só que muito pior.
Murdoch não construiu seu império numa ditadura nascida de um golpe articulado e apoiado por ele mesmo, uma ditadura que lhe franqueou acesso a crédito ilimitado, leis favoráveis e perseguição aos concorrentes.
A ditadura brasileira trabalhou meticulosamente para aniquilar, comercial e fisicamente, todos os concorrentes da Globo.
Todos os jornalões hoje, como Folha, Estadão e Correio Braziliense, se tornaram meio que filiais informais da Vênus.
A prova disso é que ninguém repercutiu a notícia sobre a sonegação da Globo.
No mundo inteiro, escândalos de sonegação são tratados com tanta gravidade quanto escândalos de corrupção.
Aqui, não.
Imagina se um jornal qualquer iniciasse uma sequencia de matérias com o chapéu “Escândalos em série”, cujo núcleo seria o escândalo de sonegação da Globo?
Seria perseguido e destruído pelos barões.
A blogosfera consegue sobreviver porque se move como que numa outra dimensão, a virtual.
O elefante da mídia sente a comichão nos pés, apavora-se, mas não vê as formiguinhas. Nem consegue matá-las esmagando-as, porque elas correm livremente por entre as fendas de suas patas gigantes.
E agora, essa histeria contra a simples proposta do governo de iniciar um debate democrático!
E ainda falam em “liberdade de expressão”!
A Globo está devorando a cultura nacional.
Os únicos filmes nacionais que tem ganhado espaço nos cinemas são da Globo Filmes e com atores da Globo.
Tudo produzido com verba pública, claro.
Pensando bem, é um ótimo sinal o que está acontecendo.
O debate já começou.
De um lado, os sicários do monopólio, os filhotes da ditadura, os advogados da manipulação, os lacaios dos barões da mídia. Seus representantes: Eduardo Cunha, Aloysio Nunes, a filha de Roberto Jefferson, de um lado.
De outro, a democracia, representada por todos os movimentos sociais, todas as organizações populares, todos os sindicatos.
Não há uma organização popular no Brasil que não veja, hoje, a regulação econômica da mídia como uma questão estratégica para o aprimoramento da nossa democracia.
Ah, e pelas ruas também. Nas “jornadas de junho”, não havia multidão gritando “viva a Globo!”, e sim “Fora Globo”. Os chamados movimentos “não-organizados” também são a favor da democratização da mídia.
Politicamente, eles – a turma do monopólio – já perderam essa luta.
O desespero com que, agora, tentam fugir do mero debate sobre o tema, é maior prova de sua derrota.
Agarram-se, pateticamente, ao derradeiro osso: os recursos públicos de publicidade institucional – federais, estaduais e municipais.
Quando convencermos o governo que não faz sentido, numa democracia, cevar a família mais rica do país com dinheiro público, será o começo do fim da farra do monopólio.
E será início de uma era de legítima liberdade de expressão no país, com uma imprensa crítica de verdade, não uma imprensa que finge ser crítica para beneficiar seus amigos e chantagear os governos, visando manter intacta uma hegemonia consolidada no regime militar.
Reação sintomática à regulação da mídia
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Menos de 72 horas depois da posse de Ricardo Berzoini no ministério das Comunicações, o esforço do governo Dilma para colocar o debate sobre a democratização da mídia na ordem do dia começa a dar os primeiros frutos.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice presidente na chapa derrotada de Aécio Neves, foi obrigado a entrar na briga. O eleitor aplaude e o país agradece. Poderá comparar opiniões e projetos diferentes e até opostos.
Verdade que, sem sacrificar o espírito combativo que é sua marca o senador poderia ser mais preciso em suas palavras.
Aloysio Nunes chama o debate sobre a democratização da mídia de “tentativa criminosa” de controlar o trabalho dos jornalistas. Diz que é uma ameaça a “liberdade de expressão,” cuja defesa define com a “prioridade das prioridades.”
A verdade é que todo mundo tem o direito de pensar como quiser mas é difícil entender o que pode haver de criminoso no esforço de cumprir, por exemplo, o artigo 220 da Constituição federal. Ali se diz, em seu parágrafo segundo, que é “vedada toda censura política, artística ou religiosa.” No mesmo artigo, apenas dois parágrafos adiante, se afirma que os meios de comunicação “não podem ser objeto de monopólio ou de oligopólio?”
O que pode haver de criminoso nesse debate?
Com estes artigos, os constituintes de 1988 apenas definiram uma verdade fundamental para o destino do país: sem pluralidade, sem expressar o debate de ideias das várias camadas da sociedade, não se consegue cumprir o parágrafo que proíbe a censura.
Esta é o ponto — e daí vem a importância de uma discussão que não começou ontem.
Há menos de um mês o jornalista João Paulo Cunha foi forçado a pedir demissão do jornal Estado de Minas. Seu crime? Escrever um artigo crítico sobre a postura de Aécio Neves após a derrota na eleição presidencial. O caso é lamentável, mas está longe de constituir uma novidade.
Em 1982, o genial Millor Fernandes deixou a revista VEJA porque não abria mão de fazer imagens favoráveis a Leonel Brizola, um velho inimigo da casa. Pouco depois, o mesmo aconteceu com outro gênio, Henfil, esvaziado na ISTOÉ depois que passou a defender o boicote ao Colégio Eleitoral que iria escolher — por via indireta — o governador Tancredo Neves para presidente da Republica. A lista de censurados e excluídos é longa — basta consultar os arquivos.
E olhe que estamos falando de casos simbólicos, que ajudam a ter uma ideia de um fenômeno geral.
O foco no debate sobre a democratização da mídia nem envolve jornais nem revistas — mas emissoras de rádio, TV e demais concessões públicas, onde o controle de opinião e da informação é ainda mais rigoroso, o acesso mais exclusivo e fechado.
Ninguém quer retirar a liberdade de expressão de quem já tem. O que se quer é que os excluídos tenham um lugar para se expressar. Isso porque a liberdade não é um discurso — mas uma prioridade, mesmo. Na dúvida, cabe perguntar se é inaceitável viver num país onde, conforme o levantamento do Manchetômetro, a candidata Dilma Rousseff recebeu, na campanha de 2014, 25 notícias negativas para 1 positiva.
Isso é liberdade? Democracia?
O debate envolve ampliar a liberdade — ou manter um regime para os privilegiados e seus amigos de sempre.
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