quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Entrevista: Uma Vida Dedicada À Preservação

Hoje, comemora-se os seus 87 anos e relembro a entrevista concedida , ao IEPHA/MG (Jornal Bem Informado número10) , pelo arquiteto Luciano Amédée Péret (ex-diretor e ex-presidente do órgão) , em julho de 2008. Foi publicado no site do IEPHA/MG em agosto de 2008.
Pioneiro na preservação, professor Luciano Amédée Péret falou sobre patrimônio cultural.


ENTREVISTA: UMA VIDA DEDICADA À PRESERVAÇÃO





Logo no início da década de 70, um personagem-chave passou a integrar a equipe do recém-criado órgão estadual de patrimônio histórico, o IEPHA/MG. Trata-se do engenheiro, arquiteto e urbanista Luciano Amédée Péret, profissional então já reconhecido no Estado tanto por sua experiência na Escola de Arquitetura quanto por projetos de visibilidade, como o Palácio dos Despachos.

Especialista em restauração arquitetônica, por mais de 15 anos teve atuação destacada no Instituto, chegando, inclusive, a presidi-lo. Ajudou a escrever e manter viva parte da memória de Minas Gerais, conquistando enorme respeito e admiração.

Ainda hoje, aos 80 anos e aposentado, o professor Péret - como é conhecido - mostra que mantém olhar atento e coração devoto à preservação do patrimônio cultural de Minas.

Como o senhor avalia o período em que esteve à frente do IEPHA? Que tipo de aprendizado essa experiência lhe proporcionou?
Na criação do IEPHA, há quase 40 anos, houve todo o esforço inicial de fazer o levantamento dos bens do Estado, com o intuito, mais do que registrar, de proteger e restaurar o acervo. Naquela época, o conceito de preservação do patrimônio ainda não era difundido e foi preciso vencer a onda modernizante da década de 70 para garantir o registro da história. Como um de seus fundadores, diretor executivo, de 1971 a 1979, e presidente, de 1979 a 1983, sinto orgulho de ter participado de um dos primeiros tombamentos do IEPHA, que foi o do Palácio da Liberdade. E lembro com saudade dos intensos trabalhos no Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Congonhas, Palácio da Justiça e Parque Municipal, em Belo Horizonte, Mosteiro de Macaúbas, em Santa Luzia; Parque Cabangu, em Santos Dumont; Fazenda Boa Esperança, em Belo Vale, entre outros. São experiências inesquecíveis, aprendidas e vividas ao lado de expoentes da cultura mineira que se dedicaram na preservação dos bens culturais, como o professor Sylvio de Vasconcellos, Affonso Ávila, Ivo Porto de Menezes, Abílio Machado, Juko Carneiro de Mendonça, dom Oscar de Oliveira, Tarquínio José Barbosa, entre outros.
Como o senhor vê as políticas atuais de proteção ao patrimônio?
A criação do IEPHA foi um dos grandes passos. Até então, tudo que se fazia dependia do governo federal. Hoje, a importância do trabalho de preservação está garantida na Constituição Federal. O governo de Minas Gerais, com a lei “Robin Hood”, incentiva a preservação do patrimônio histórico e cultural e, a nível municipal, os Planos Diretores das cidades estabelecem formas de preservação do patrimônio, além da criação de leis específicas estabelecendo incentivos à preservação. Pela ação do Ministério Público, qualquer cidadão pode impedir a destruição ou descaracterização de um bem de interesse cultural. Tudo isso são avanços enormes. Mas, se por um lado surgiram novos atores e modelos de gestão, por outro, é preciso existir uma interação entre os níveis de Poder, as comunidades locais e o setor privado.
O senhor acredita que houve alguma mudança quanto ao comportamento e engajamento da sociedade em torno do tema?
   Após a criação do IEPHA, houve uma nítida mudança no comportamento da sociedade que foi e está sendo construído ao longo dos anos. A sociedade passou a dar valor aos bens culturais, está enxergando que é preciso preservar a história, o registro e as referências de uma cultura. Mas a falta de informação ainda é um dos fatores que interferem nas ações de preservação do patrimônio cultural e arquitetônico. Os tombamentos, por exemplo, ainda são vistos como um congelamento do imóvel ou prejuízo, no caso de bens particulares. Mas já é possível compatibilizar o uso moderno com a preservação do patrimônio.
Concorda com a visão de que o melhor guardião do patrimônio é a própria sociedade?
   A sociedade tem um papel primordial neste processo, porque todo o trabalho de preservação é feito buscando a valorização ética e o resgate da identidade cultural dela própria. Mas o envolvimento da população tem que ser feito em conjunto com o governo. Não há como a população preservar sem um embasamento legal e um suporte histórico. O Estado tem que zelar pelo patrimônio cultural do povo e, ao mesmo tempo, incentivar e garantir, por meio de suporte técnico adequado, formas de participação da sociedade. O resgate de uma história é uma forma de recuperar a auto-estima de uma comunidade e uma forma de o povo exercer sua cidadania. Preservar a memória é um trabalho conjunto.
São muitos os novos projetos de proteção ao patrimônio que priorizam o acesso da população aos bens culturais protegidos. Exemplo em Belo Horizonte é a criação do Circuito Cultural Praça da Liberdade. Como o senhor vê essas iniciativas?
 Toda iniciativa na área de preservação é bem-vinda, principalmente quando facilita o acesso da população. Como arquiteto, vejo que é preciso sempre definir claramente os critérios, políticas e linhas de atuação para que o patrimônio não seja um bem para consumo das elites. Ele deve ter uma função social, ajudando a vencer as nossas desigualdades e integrando o povo através de sua identidade.
Nosso estado tem um dos maiores acervos culturais do país. Para o senhor, que tem uma trajetória de vida fortemente marcada pelo trabalho de registro, proteção e recuperação do patrimônio mineiro, em que pé estamos?
   O acervo de Minas é vastíssimo e o que temos hoje é o resultado de um trabalho intenso iniciado pelo IEPHA, que deu um violento impulso ativando toda a área de preservação. Mas muito ainda precisa ser feito, com os recursos tão escassos nessa área. Além de divulgar a importância dos bens culturais para a sociedade brasileira, é preciso formar pessoas especializadas na área de proteção, para fiscalizar, recuperar e garantir a preservação da história.
 Hoje, com toda a experiência que o senhor acumulou, que mensagem deixaria em relação à preservação?
   Minas Gerais deve se fazer presente através de seus órgãos culturais, procurando assim participar da preservação da nossa memória cultural. A unidade nacional tem como um de seus fatores essenciais a preservação legítima dessa cultura. Manter a nossa identidade cultural é dever de todos, pois, alicerçados no passado poderemos compreender o presente, estabelecendo um futuro sempre promissor.

E gostaria de registrar o reconhecimento do trabalho de várias gerações de funcionários do IEPHA que trabalharam - e os que hoje continuam neste trabalho - para a manutenção da identidade e história do Estado. Minas tem a vocação da cultura. Todos os mineiros devem se empenhar na defesa de nosso patrimônio cultural.
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A seguir relação de Bens Tombados pelo IEPHA/MG, com pareceres e relatórios conclusivos de responsabilidade do arquiteto Luciano Amédée Péret :

- Palácio da Liberdade - Belo Horizonte
Decreto nº 16956, de 27 de janeiro de 1975

- Fazenda da Posse - Santana dos Montes
Decreto nº 16965, de 30 de janeiro de 1975

- Arquivo Público Mineiro - Belo Horizonte
Decreto nº 16983, de  07 de fevereiro de 1975

-Fazenda da Boa Esperança - Belo Vale
Decreto nº 17009, de 27 de fevereiro de 1975

-Parque Municipal Américo Giannetti  - Belo Horizonte
Decreto nº 17 086, de 13 de março de 1975

- Antigo Conselho Deliberativo - Belo Horizonte
Decreto17087, de 13 de março de 1975

- Conjunto Histórico constituído da Capela de Nossa Senhora do Rosário, casa e sítio da Quinta do Sumidouro - Fidalgo, Pedro Leopoldo
Decreto nº 17729, de 27 de janeiro de 1976

- Igreja Matriz de Santa Luzia do Rio da Velhas - Santa Luzia
Decreto nº 17779, de 09 de março de 1976

- Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem e Praça que a circunda - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Igreja Matriz de Santo Antônio - Mateus Leme
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

-Capela  de Nossa Senhora da Conceição - Couto Pereira
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos - Couto Pereira
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Sede e dependências da Fazenda dos Macacos - Cristiano Otoni
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

-Casa à Rua Direita, 101 - Santa Luzia
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Edifício do Necrotério do Cemitério Bonfim - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Sede da Fazenda dos Martins - Brumadinho
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Monumento Comemorativo do Centenário da Independência Nacional ( o Pirulito, na época se encontrava na Praça Diogo Vasconcelos, na Savassi. Em setembro de 1980, o Pirulito retornou à Praça Sete.) - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

-Conjunto Arquitetônico  e Paisagístico da Igreja  de Nossa Senhora da Lapa - Ravena, Sabará
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Liberdade - Belo Horizonte
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Lagoa e Lapa do Sumidouro - Pedro Leopoldo
Decreto nº 18531, de 02 de junho de 1977

- Edifício Palácio da Justiça Rodrigues Campos - Belo Horizonte
Decreto nº 18641, de 10 de agosto de 1977

- Prédio do Fórum da Cidade de Oliveira
Decreto nº 19112, de 28 de março de 1978

- Capela de Nossa Senhora  da Soledade - Lobo Leite, Congonhas
Decreto nº 19113, de 28 de março de 1978

- Capela de Nossa Senhora  da Ajuda - Alto Maranhão, Congonhas
Decreto nº 19 114, de 28 de março de 1978

- Mosteiro de Macaúbas - Santa Luzia
Decreto nº 19347, de 22 de agosto de 1978

- Capela de Nossa Senhora do Rosário e Capela de Santa Efigênia - Mestre Caetano, Sabará
Decreto nº 19463, de 16 de outubro de 1978

- Parque Cabangu e seu acervo - Santos Dumont
Decreto nº 19482, de 24 de outubro de 1978

- Igreja de Santa Isabel de Hungria - Caxambu
Decreto nº 19513, de 26 de outubro de 1978

- Serra do Ouro Branco - Ouro Branco
Decreto nº 19530, de 07 de novembro de 1978

- Antigo Senado Mineiro ( Museu Mineiro) - Belo Horizonte
Decreto nº 19 596, de 05 de dezembro de 1978

- Igreja Santíssimo Sacramento - Jequitibá
Decreto nº 19872, de 20 de março de 1979

- Capela de São Sebastião - Araxá
Decreto nº 19908, de 22 de maio de 1979

- Igreja do Sagrado Coração de Jesus  - Belo Horizonte
Decreto nº 19953, de 06 de julho de 1979

- Igreja de São Francisco de Assis - Minas Novas
Decreto nº 20557, de 13 de maio de 1980

- Capela de São Gonçalo - Minas Novas
Decreto nº 20557, de 13 de maio de 1980

- Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres - Milho Verde, Serro
Decreto nº 20581, de 26 de maio de 1980

- Igreja Matriz de São Gonçalo - São Gonçalo do Rio das Pedras, Serro
Decreto nº 20581, de 26 de maio de 1980

- Casa de João Pinheiro - Caeté
Decreto nº 20582, de 26 de maio de 1980

- Igreja Matriz de Santa Cruz - Chapada do Norte
Decreto nº 20689, de 23 de julho de 1980


Quarenta e três anos se passaram, desde a sua criação, e o corpo técnico da instituição mantém a tradição, os valores e o espírito dos primeiros trabalhos desenvolvidos em prol da conservação, restauração, proteção e promoção dos bens culturais. Mesmo diante das diversas mudanças no contexto institucional e de concepção que marcaram a trajetória do IEPHA/MG, o fortalecimento de seu caráter de defensor do patrimônio refletiu na sua própria atuação, com a ampliação e consolidação do conceito de patrimônio cultural
  

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