Por Rudá Ricci
(sociólogo e cientista político)
(ou “nada será como antes, amanhã”)
Estou recebendo muitas mensagens comentando o que seria o desespero por que passam os tucanos neste momento da eleição em Minas Gerais.
Realmente, percebi muito desespero, de lado a lado (petistas e tucanos), ao longo da campanha. O que demonstra falta de preparo na formação política da maioria dos militantes desses dois partidos.
Mas não me parece que o sentimento seja este neste atual momento.
Nas últimas duas semanas, a campanha de Pimenta da Veiga deu sinais de ter entrado em situação pré-falimentar. Recolheu cabos eleitorais, cortou pagamentos, perdeu apoios importantes no interior. São sinais que indicam o caminho da roça. Qualquer político experiente sabe quando toca o sinal de recolher.
Minha suposição é que o comando tucano vive um estado de torpor aqui em Minas.
A derrota que deve doer, de fato, é para os tucanos paulistas. Foram cruéis e em nenhum momento desta campanha deixaram de minar a candidatura do senador mineiro. Deram munição para a imprensa. Entregaram a cabeça de Aécio Neves em eventos esvaziados na capital paulista. Alckmin apresentou no seu programa eleitoral o vice de Marina. Seu vice, aliás, é do PSB. Serra apoia Roberto Freire, que está no comando da campanha de Marina. Deve ter doído porque os tucanos paulistas trataram os tucanos mineiros como amadores.
Perder Minas Gerais passou a ser o último prego do caixão. Apenas a entrega da prova que deixa claro o que o candidato já sabia em seu íntimo, mas que, agora, a sala toda sabe.
Por este motivo, imagino que o sentimento reinante nas hostes aecistas é de algo próximo da alienação em relação à disputa, emocionalmente entregues e alheios à gravidade da situação para o PSDB. Há, é verdade, a possibilidade de estar ocorrendo, com alguns, o inverso: adrenalina sendo bombeada, criando uma realidade paralela, quase esquizofrenia paranoide.
O baque não é pequeno. É todo um império montado em doze anos que se esvai pelos dedos. É verdade que havia sinais de crise na base, com derrota eleitoral em 2008 e uma leve – apenas leve – recuperação na eleição de 2012.
Quem perdeu
Há perdedores mais agudos. É o caso de todo pessoal de marketing político. Foi um desastre e uma demonstração de grande incompetência. A estratégia de ontem, no debate da Record (27), foi um escândalo. Deveriam devolver o dinheiro à campanha. Mas também parte da imprensa mineira. Esconderam os dados de pesquisa na primeira página. Não informaram. Fizeram campanha. Erraram como profissionais e não estiveram à altura de Minas Gerais.
Para onde vai Aécio?
Outra pergunta que me enviam é sobre o futuro de Aécio Neves.
Vou repetir minha cantilena preferida: Aécio vivo, embora ferido, é mais útil para Pimentel (e para o PT) que dizimado. Salvo por Pimentel, poderá resistir ao avanço dos tucanos paulistas e até fechar o Estado de Minas para a campanha de 2018.
Mas há outro caminho possível: o PSB. Parte do PSB mineiro (parte significativa e majoritária) é aecista. E o acordo Aécio/Campos era real e foi amplamente divulgado na imprensa nacional.
Enfim, Aécio Neves sai derrotado e não terá recursos para alimentar seu amplo séquito de prefeitos e deputados, além de partidos nanicos que sobrevivem sem votos porque possuem cargos comissionados.
Terá que se reinventar.
Nada será como antes, amanhã.
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