Do Pragmatismo Político:
Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz diz que um Banco Central independente é "desnecessário". O economista explicou ainda que países com BCs mais independentes tiveram muito mais dificuldades diante da crise financeira global
O americano Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia (divulgação)
O debate econômico do momento nas eleições presidenciais brasileiras ganhou uma opinião de peso. Em palestra na sede do Banco Central da Índia, o economista americano Joseph Stiglitz – agraciado com Prêmio Nobel de Economia, em 2001, e economista-chefe do Banco Mundial, entre 1997 e 2000, afirmou que a discussão sobre a independência dos bancos centrais é superestimada:
“A crise mostrou que um dos princípios centrais defendidos pelos banqueiros do Centro-Oeste (Europa e Estados Unidos) é o desejo de independência do banco central”, disse ele, para em seguida se opor à iniciativa:
“Mas na melhor das hipóteses, essa posição é questionável. Na crise, os países com bancos centrais menos independentes como China, Índia e Brasil fizeram muito, mas muito melhor mesmo do que os países com bancos centrais mais independentes, caso da Europa e dos Estados Unidos”, completou.
No Brasil, a candidata Marina Silva, do PSB, tem defendido com ênfase a necessidade de dar autonomia ao Banco Central. Essa posição também está sendo vocalizada pela coordenadora de seu programa de governo, Neca Setubal, herdeira do banco Itaú, a maior instituição privada do País.
A presidente Dilma Rousseff fez da promessa de Marina um cavalo de batalha. Na propaganda eleitoral na televisão, o PT de Dilma comparou o BC independente à entrega de um poder semelhante ao de presidente do Congresso a alguém sem mandato e com grande risco de ligação com os interesses do mercado financeiro .
Podendo decidir sobre as taxas de juros e câmbio, estabelecer e executar metas de inflação e baixar a mais variada legislação de regulação de mercado, um presidente de BC autônomo em relação ao Poder Executivo pode operar a macroeconomia na direção que julgar mais conveniente.
Stiglitz manifestou uma opinião em linha com a de Dilma.
“As instituições públicas são responsáveis, este não é o problema. A questão é quem vai estar lá e qual política ele vai praticar”, frisou Stiglitz.
Modelo de BC independente, o Federal Reserv dos Estados Unidos foi criticado por Stiglitz, que se ateve ao papel desempenhado, antes da eclosão da crise financeira, pelo presidente do Fed de Nova York , William Dudley.
“Dudley executou um modelo de má governança em razão de seu conflito de interesses: ele salvou os mesmos bancos que ele deveria regular – os mesmos bancos que lhe permitiram ganhar a sua posição de mando”, sentenciou.
Ao seu feito sem meias palavras e polêmico, o prêmio Nobel passou a dizer que um presidente de BC escolhido pelo mercado, como anunciam Marina e Neca, tende a atender os interesses desse mesmo mercado, ainda que estes sejam contrários ao do grande público.
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