sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Medicina de família e comunidade: "outra complexidade"

Profissionais que optaram pela especialidade relatam sofrer preconceito entre professores e colegas, apesar da importância da categoria no atendimento aos problemas de saúde mais básicos que afetam os brasileiros.
Falta conhecimento sobre a complexidade que envolve esta especialidade.
ilustração: agmfc.org.br




'Outro tipo de complexidade'
BBC Brasil:
A médica Natália Ferreira afirma que parte do preconceito com relação aos médicos de família parte de acreditar que o trabalho nos postos de saúde é "simples".
"Os recém-formados acham que ir para a atenção básica até passar em uma residência é mais fácil do que ir para uma urgência, onde os problemas são mais agudos e é preciso ter mais experiência. Mas não é tão fácil assim, é outro tipo de complexidade", disse à BBC Brasil.
"Na atenção básica você não precisa tanto da tecnologia, dos exames complexos. Mas nós lidamos com a situação do indivíduo e com a complexidade clínica. Se um sujeito é hipertenso e eu fosse um cardiologista, meu foco seria na doença dele. Quando eu, médica de família, recebo um hipertenso, eu considero que ele é idoso, que tem outras doenças associadas. É como se eu montasse o quebra-cabeça das especialidades."
Mesmo encaminhando o paciente para um especialista, segundo Natália, o médico da família deve, idealmente, continuar fazendo o controle da sua situação. "Somos nós que lidamos com a dificuldade de a família cuidar dele, de ele não saber entender a receita, de não querer tomar o remédio", afirma.
A médica de 29 anos, que hoje orienta recém-formados na residência de medicina da família e comunidade da Universidade Federal de Uberlândia, diz que os novatos "se espantam com a quantidade e com o tipo" de pacientes que procuram o posto de saúde.
Um médico de família divide sua carga horária semanal em atendimentos no posto ou unidade básica de saúde - que ocupam a maior parte do seu tempo - e visitas às casas dos pacientes quando é necessário. Em alguns casos, um trabalho de investigação chega a ser necessário para solucionar problemas que atingem pacientes de um bairro ou comunidade.
Há cerca de três meses, Natália e outras médicas de seu posto de saúde foram até uma creche em Uberlândia descobrir por que três crianças atendidas por elas permaneciam abaixo do peso normal. "Descobrimos que a creche servia as refeições às crianças com um intervalo muito pequeno entre uma e outra e não controlava se elas comiam", diz.
"Algumas não tinham fome na hora da refeição e tomavam só leite o dia inteiro. Por isso não estavam ganhando peso". A solução provisória encontrada foi negociar o acompanhamento especial das três crianças pela professora, mas as médicas questionaram junto às autoridades o cardápio das creches do município e aguardam resposta.
Nos postos de saúde e unidades básicas, uma equipe de médicos, enfermeiros e agentes comunitários deve acompanhar até quatro mil pessoas – desde crianças até idosos. O bom funcionamento do modelo, que também é adotado por países como Reino Unido, Canadá e Austrália, ajudaria a evitar a superlotação de emergências e hospitais, um dos principais gargalos do atendimento médico no país.



O que é a Medicina de Família e Comunidade (MFC)?

agmfc.org.br :
A MFC é uma especialidade médica, reconhecida pela Associação Médica Brasileira, que defende o cuidado da saúde das pessoas de uma maneira integral. A MFC é hoje a especialidade mais importante em vários países cujos sistemas de saúde são de excelente qualidade, como o Canadá, a Espanha, a Inglaterra e a Holanda.

Quem é o médico de família e comunidade (mfc)?

É um especialista na abordagem dos problemas mais frequentes que interferem com a saúde de pessoas, famílias e comunidades. É, portanto o médico especialista em prestar cuidado à saúde de crianças, adultos, idosos e gestantes, resolvendo a grande maioria dos problemas e coordenando a necessidade de cuidado em outros níveis e especialidades.

Além disso, o médico de família e comunidade tem uma formação especializada em abordar os determinantes familiares e sociais das doenças. Faz parte das suas atribuições elaborar diagnósticos individuais, familiares e comunitários e a partir daí priorizar adequadamente a atenção aos diversos problemas de saúde que se apresentam num indivíduo, família ou comunidade.

É um médico com formação especializada e específica para prestar cuidados à saúde em Atenção Primária à Saúde, levando em conta uma série de aspectos, tais como:
  • Resolutividade acima de 85% dos problemas apresentados pelas pessoas;
  • Humanização do atendimento;
  • Preocupação com prevenção e diagnóstico precoce,
  • Preocupação com custos dos cuidados à saúde;
  • Realiza abordagem centrada na pessoa;
  • Atende todos os problemas de saúde trazidos, independentemente do sexo e idade do paciente, ou seja atende adultos, crianças, pré-natal, faz exame ginecológico, pequenas cirurgias, etc.
No Brasil, o médico de família e comunidade recebe esta denominação após realizar especialização através da residência médica credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica ou prova de titulação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Tem capacidade de responsabilizar-se por uma população de cerca de 1.500 a 2.500 pessoas dependendo das condições socioeconômicas e de saúde existentes.

Deve responsabilizar-se, juntamente com sua Equipe, por esta população no que se refere a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação.

Em síntese deve:
  • Identificar e resolver os problemas de saúde de cada pessoa.
  • Prestar um serviço de atenção à saúde efetivo para a comunidade como um todo.

Perspectivas profissionais do médico de família e comunidade (MFC)

Atualmente uma importante fatia do mercado de trabalho do mfc está na Estratégia Saúde da Família (ESF), uma estratégia de atenção primária à saúde que vem sendo implementada pelo Ministério da Saúde desde 1994. Mas a ESF é apenas um dos ramos de atividade que o mfc pode escolher. O mercado privado em geral está muito carente de médicos que se comprometam com a saúde dos seus pacientes de uma maneira integral e contínua. Além disso, os mfc’s estão em ótima posição para dedicarem-se à carreira científica, como docentes ou investigadores, nas áreas clínicas ou de saúde coletiva.



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