sexta-feira, 31 de julho de 2015

A onda conservadora e autoritária, de cunho fascista; por Roberto Amaral

O embrião fascista no Brasil



Por Marco Weissheimer, no site Sul-21:

O Brasil está assistindo ao crescimento de uma onda conservadora e autoritária, de cunho fascista, que pode lançar o País em um grave retrocesso político, econômico e social nos próximos anos. Toda vez que o país se deixou dominar pelo pensamento de direita, acabou sendo tomado pelos valores do autoritarismo, que vem das raízes escravocratas das nossas chamadas elites, preguiçosas, incultas e profundamente perversas. A advertência é do cientista político, escritor e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Amaral, que esteve em Porto Alegre na última sexta-feira para lançar e debater seu mais recente livro, “A serpente sem casca. Da crise à Frente Popular” (Altadena Editorial) . O lançamento ocorreu no início da noite de sexta-feira, no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e região, reunindo lideranças políticas e sindicais, jornalistas, estudantes e professores universitários.

O fio condutor do livro de Roberto Amaral tem a forma de um alerta. A escolha do ovo da serpente como metáfora para falar da atualidade brasileira, enfatizou, é pela possibilidade de enxergamos a gestação de um embrião fascista no Brasil. “O fascismo não começa pela sua exasperação, ele começa lento, com ofensas verbais, e depois evolui para agressões físicas e coletivas. Esse conservadorismo é tão mais perigoso na medida em que ele está presente em todos os meios de comunicação e é destilado dia e noite junto à população”.

Para Amaral, a sociedade brasileira está sendo preparada diariamente para a interrupção do governo Dilma. “Já estamos vivendo uma série de golpes. Essa eleição vai se resolver em cinco ou seis turnos”. Neste contexto, ele defende a necessidade de formar uma frente popular, de caráter amplo e democrático, capaz de erguer uma barragem ao avanço do pensamento de direita no País.

Autor da apresentação do livro, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, destacou a existência hoje no Brasil de um conjunto de movimentos frentistas que partem de uma mesma constatação: a forma pela qual se estabeleceram as coalizões políticas no País nos últimos anos está esgotada, o que exige pensar uma nova forma de organização, mais programática e que tenha uma estrutura frentista clara. Na mesma linha, Raul Carrion, da direção estadual do Partido Comunista do Brasil, assinalou que o momento é para avançar na direção da construção de uma frente popular e democrática ampla no Brasil, em torno de objetivos programáticos e não meramente eleitorais.

A coisa mais importante dessa frente, disse a cientista política Céli Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é que ela precisa dar conteúdo à palavra “esquerda”. “Não podemos mais ficar dizendo que somos de esquerda porque estamos à esquerda da direita. Precisamos retomar algum conteúdo importante. Nós perdemos a nossa condição de esquerda e precisamos reconstruir isso”.

Ao final do encontro no Sindicato dos Bancários, Céli Pinto leu um manifesto em defesa da construção de uma frente dessa natureza e colocou-o aberto para receber assinaturas de apoio.

Roberto Amaral conversou com o Sul21 sobre o seu novo livro e sobre o atual momento político do País. A seguir, um resumo dessa conversa e de alguns dos principais pontos apresentados pelo autor durante sua fala no SindBancários:

O ovo da serpente e o embrião fascista

“O ovo da serpente tem uma característica especial: ele não tem casca, mas sim uma película muito fina e transparente que permita que se veja o embrião se desenvolvendo. O que quero dizer com essa metáfora é que nós estamos vendo o desenvolvimento de um embrião fascista no Brasil. Está em nossas mãos a decisão. Podemos deixar esse embrião crescer, sair desse ovo e amanhã picar o nosso calcanhar, ou podemos esmagá-lo agora. O ovo da serpente permite que vejamos à frente. Estou tentando chamar a atenção, não só da esquerda, mas das forças progressistas e democráticas em geral, para a ameaça de um grave retrocesso político e ideológico no País. Esse retrocesso não se mede apenas pela crise dos partidos, em particular pela crise dos partidos de esquerda e, de modo mais particular ainda, pela crise do PT. Tampouco se mede apenas pela crise do governo Dilma. Ele se mede, fundamentalmente, pela ascensão de uma opinião, que já está se tornando orgânica, de retrocesso conservador.”

“Já há um baluarte institucional perigosíssimo desse processo, que é a Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha não foi colocado ali pelo acaso, ele representa um núcleo pensante conservador brasileiro. Esse núcleo, na Câmara, está representado pela chamada bancada BBB, ou seja, os grupos do boi, do agronegócio atrasado, da bala e da Bíblia, que reúne os evangélicos primitivos e midiáticos. Isso tudo se juntou”.

Esquerda não levou a sério o tema da comunicação

“Mas é preciso dizer que a grande responsabilidade por isso é da esquerda e dos nossos governos de centro-esquerda. Há mais de 40 anos, eu e outras pessoas – aqui no Rio Grande do Sul havia uma pessoa que lutava muito por isso, o Daniel Herz – viemos alertando sobre o poder dos meios de comunicação de massa no Brasil, sobre o monopólio da informação e a cartelização das empresas. A esquerda nunca acreditou nisso.”

“A primeira eleição do Lula serviu para mascarar esse problema. Nós metemos na cabeça que essa gente não formava mais opinião. Nos descuidamos e ficamos assistindo à construção de um monopólio ideológico, destilando conservadorismo de manhã, de tarde e de noite. Aqui, não estou me referindo apenas à Rede Globo, ao Globo, Estadão e Folha de São Paulo. Pior do que isso talvez sejam as rádios evangélicas, as rádios AM e FM, despejando diariamente xenofobia, racismo, machismo, homofobia e tudo o que é atrasado. Paralelamente a isso, nós não construímos uma imprensa nossa. E nem estou falando de uma imprensa nossa para falar com a sociedade. Não construímos uma imprensa nossa sequer para falar conosco mesmo. Os militantes do movimento sindical e dos partidos se informam das teses de suas lideranças pela grande imprensa. Nem criamos uma imprensa de massa, nem criamos uma imprensa própria.”

“Nos anos 50 e 60, nós tínhamos O Semanário, que circulava no Brasil inteiro defendendo as teses do Petróleo é Nosso e da Petrobras, tínhamos Novos Rumos, do Partido Comunista, a imprensa sindical e circulava também a Última Hora. Havia, então, um esforço para garantir um mínimo de debate. Isso tudo desapareceu e nada foi colocado no seu lugar. Com a chegada de Lula ao governo, os principais quadros do PT foram transferidos da burocracia partidária para a burocracia estatal e o partido acabou se esfacelando. Os principais quadros do movimento sindical também foram transferidos para os gabinetes da Esplanada”.

“A grande dificuldade que temos hoje para promover a defesa do governo Dilma é que perdemos o diálogo com a massa. Eu conversava dias atrás com uma ex-presidente da UNE e ela me dizia: ‘Professor, como é que eu posso entrar em sala e chamar os estudantes para uma passeata quando o governo está reduzindo as verbas para as bolsas de estudo’. Há um paradoxo entre a nossa política e a nossa base social. A Dilma não foi eleita pela base com a qual está governando. Ela atende os interesses dessa base com a qual está governando e não tem o apoio dela. Por outro lado, ela contraria os interesses da base progressista, a qual nós temos dificuldade de mobilizar para defendê-la. Esse paradoxo precisa ser enfrentado.”

“Não devemos nos iludir com os compromissos democráticos da direita”

“Ninguém deve se iludir com os compromissos democráticos e legalistas da direita brasileira. É uma direita que sempre apelou para o golpe e para o desvio democrático. Está aí a história dos anos 50 e 60 repleta de exemplos disso. Ela não tem compromisso com a democracia. Seu único compromisso é com seus interesses de classe. E, lamentavelmente, parece que a burguesia no Brasil tem mais consciência de classe do que muitos setores proletários.”

“Há um segundo paradoxo, que é difícil explicar a não ser que você use aparelhos ideológicos. Nós já sofremos, de fato, dois golpes nos últimos meses. A direita perdeu as eleições, mas ganhou a política. Esta política econômica que está sendo aplicada é a política da direita. O segundo golpe foi a implantação de uma nova forma de parlamentarismo, que vive de subtrair poderes do Executivo. E há ainda um terceiro golpe em curso que consiste em refazer a Constituição sem ter poder originário para tanto, retirando da Carta de 88 conquistas que levamos décadas para aprovar e consolidar”.

Sobre a construção de uma frente ampla, popular e democrática

“Diante deste cenário, precisamos articular a formação de uma frente ampla, de uma frente popular que reúna os setores progressistas e democráticos do País. Eu não estou falando de uma frente de esquerda, pois com isso estaríamos nos encerrando em um casulo, voltando a ser ostra. Precisamos retomar um discurso para a classe média, que perdemos em função dos desvios éticos do PT. Nós não estamos pagando o preço de erros de governo, mas sim dos desvios éticos. Precisamos retomar um discurso que fale para os trabalhadores, para os setores médios, para as forças progressistas, que não são necessariamente de esquerda, falar com a empresa nacional que, neste momento, está sendo destruída neste País. Há uma tentativa de acabar com as principais empresas brasileiras, detentoras de know how, não por uma questão moral, mas para colocar no lugar delas empresas espanholas, chinesas e americanas.”

“Não estou pensando a constituição desta frente com objetivos imediatos e de caráter eleitoral, mas sim na perspectiva da reconstituição das forças progressistas. O ponto de partida para essas forças é construir uma barragem para conter o avanço do pensamento e da ação da direita. Para isso, precisamos voltar às ruas e voltar a debater com a população. Na minha opinião, o modelo no qual devemos nos inspirar não é o da Frente Ampla uruguaia. Esta tem algo que nós temos, partidos. É uma frente de partidos. Nós temos que construir uma frente de movimentos, da sociedade, preparada para receber os partidos e oferecer a eles um novo discurso, uma nova alternativa. Mas não trabalho com a ideia de um modelo pronto e acabado. O que vai decidir isso, como sempre, é o processo histórico”.

A ameaça do impeachment

“Irrita-me o fato de nossas forças estarem acuadas por fantasmas. O nosso governo está acuado, enquanto ele tem o que dizer. Em face disso, como não há espaço vazio, a direita vem avançando e preparando ideologicamente a ideia do impeachment. Precisamos por isso a nu e exigir que a direita assuma publicamente se é golpista ou não. O senhor Fernando Henrique Cardoso tem que ser chamado às favas. O PSB e o PMDB têm que ser questionados a assumir se são golpistas ou não. Creio que a melhor forma de enfrentar a ameaça do impeachment, seja ela pequena ou grande, é dizer que ela existe. Dizer que ela não existe é perigoso. E o objetivo principal nem é mais a Dilma, é o Lula. Querem liquidar o Lula e o PT. Não se iludam. Se isso acontecer, não atingirá só o PT, mas toda a esquerda brasileira. Temos responsabilidades distintas pelo que está acontecendo, mas estamos todos no mesmo barco”.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Peças arqueológicas do Rio Pré-Histórico são encontradas

Jornal do Brasil:





Peças arqueológicas do Rio Pré-Histórico são encontradas em área de obras do metrô, na Leopoldina






O sítio arqueológico do Matadouro Imperial, na região da Leopoldina, no Centro do Rio de Janeiro, onde atualmente uma área de estoque de aduelas da Linha 4 do Metrô, revela mais tesouros da história fluminense. A equipe de Arqueologia do consórcio encontrou e está estudando cerca de 50 artefatos de pedra e mais de 400 conchas característicos da Pré-História.
As peças são de quarto a três mil anos atrás, do período quando os paleo-indios, que circulavam pelas terras ao redor da Baía de Guanabara, eram caçadores-pescadores, coletores e nômades (e seminômades) - ainda não haviam formado tribos, como as concebemos. As conchas, pontas de lança, batedores e raspadores estão entre os mais de 220 mil artefatos encontrados no sítio arqueológico da Leopoldina, que já apresentou aomundo objetos de uso cotidiano da Corte de Dom Pedro II, como escovas de dentes, perfumes, remédios, louças e até joias de ouro.
"As peças pré-históricas vão nos ajudar a contar uma parte importante da história do processo populacional primitivo no Rio. Deparar-se com uma descoberta destas no Centro, uma área que já passou por vários ciclos de ocupação e é tão movimentada, é algo fantástico. Além das conchas de moluscos (mexilhões, mariscos e ostras), que serviam de alimentação para estes grupos, encontramos as lanças de caça, os raspadores usados para cortar a carne do animal e separar gordura e couro, machadinhas e batedores (que funcionavam como martelos primitivos) para retirar as lascas de um núcleo de pedra sílex, quartzo e diabásio e afiar os instrumentos", afirma o arqueólogo Claudio Prado de Mello, coordenador da equipe de Arqueologia contratada pelo Consórcio Linha 4 Sul para fazer escavações arqueológicas nas áreas de obra na Leopoldina, Ipanema e Leblon durante a construção da Linha 4 do Metrô.



Peças arqueológicas do Rio Pré-Histórico são encontradas na Leopoldina
Peças arqueológicas do Rio Pré-Histórico são encontradas na Leopoldina

Uma curiosidade desta descoberta do período Pré-Histórico é que as peças estavam misturadas à chamada “camada histórica” – o material foi achado de 30 cm até 120 cm de profundidade -, o que não é comum. Normalmente, estariam na parte mais profunda da escavação, que em algumas partes chegou até 2,50m de profundidade.  Claudio trabalha com a forte hipótese de que uma pequena elevação (morrote) que existia próxima ao Matadouro Imperial tivesse restos de um sambaqui.
Sambaquis
Sambaquis são amontoados de conchas e outros resíduos acumulados por ação humana, encontrados comumente em área de litoral recortado, com baías, mangues, enseadas e restingas. Eles podem chegar a ter 30m de altura e formam o tipo de sítio arqueológico típico de populações pré-históricas, de grupos nômades e seminômades, que tinham sua vidacotidiana ligada ao mangue, de onde tiravam sua subsistência (ostras, peixes, siris, conchas bivalves). Os sambaquis não eram a moradia destes grupos, mas o local onde eram depositados as sobras de alimentação e os instrumentos obsoletos e também serviam como sinalização de que aquela área era propícia para a busca de alimentos. Podiam ser usados ainda como uma espécie de "cemitério" dos grupos caçadores-pescadores e coletores.
A área de São Cristovão tinha algumas elevações ou morros que foram destruídos na chamada ‘Era das Demolições’ do Rio de Janeiro, ocorrida principalmente de 1870 a 1920. O morrote na Leopoldina aparece em uma foto-gravura de Victor Frond, de 1862. Mas após a decisão do Governo Imperial de transferir o Matadouro para Santa Cruz em 1881, o prédio começou a ser demolido e as áreas no entorno, terraplanadas. "Ao acharmos este material pré-histórico chegamos a pensar que os artefatos poderiam ser da tribo de Arariboia (que ficava bem ao lado do atual terreno da Leopoldina), mas para isso, precisariam estar numa profundidade um pouco maior e no fundo da camada de solo, coincidindo com a ocupação dos índios Tememinos, que ocorreu nos anos 1570. Mas, à medida em que fomos aprofundando a pesquisa do relevo da Leopoldina, a pesquisa histórica e a análise estilística (visual) das peças, concluímos que não estavam ligadas à fase de contato entre indígenas e portugueses. São bem mais antigas", explica o arqueólogo.



Peças arqueológicas do Rio Pré-Histórico são encontradas na Leopoldina
Peças arqueológicas do Rio Pré-Histórico são encontradas na Leopoldina

Sítio Arqueológico Matadouro Imperial
Empreendimento do Governo do Estado do Rio de Janeiro, toda a obra da Linha 4 do Metrô é acompanhada por serviço especializado de Arqueologia, contratado pelo Consórcio Linha 4 Sul. No sítio arqueológico Matadouro Imperial, na Lepoldina, foram encontradas mais de 220 mil peças, inteiras ou fragmentadas. Neste local, onde hoje estão armazenadas as aduelas que formam os túneis da Linha 4 entre Ipanema e Gávea, funcionava o Matadouro Imperial e uma área de descarte, próxima ao Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista. Ali foram recuperados artefatos que remontam ao Rio de Janeiro dos séculos XVII, XVIII e XIX e também - como sabemos agora - ao período Pré-histórico ou Pré-Colonial.
Um dos objetos mais impressionantes do Período Histórico encontrados por Claudio e sua equipe foi uma escova de dentes íntegra, em marfim, com a inscrição em francês: “S M L’EMPEREUR DU BRESIL“ (Sua majestade, o imperador do Brasil). Acredita-se que a escova tenha pertencido a Dom Pedro II ou outro membro da família imperial, que vivia ali perto, em São Cristóvão. Também foram achadas duas peças de ouro, como um anel e alfinete de gravata tipo fíbula, além de porcelanas, pratos, cachimbos e garrafas de vidro e Stoneware (cerâmica alemã) - algumas inclusive com líquido dentro, como perfumes e produtos químicos.
Todo o trabalho de Arqueologia na Linha 4 do Metrô é coordenado pelo Governo do Estado e pelo Consórcio Linha 4 Sul e tem a fiscalização federal do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e municipal do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). O sítio arqueológico Matadouro Imperial foi aberto em meados de 2013 e, depois de quatro meses de escavação, foi coberto em setembro com uma manta tecnológica, que preserva as condições originais da escavação. Nestes últimos dois anos, a equipe de Arqueologia tem se concentrado em identificar e catalogar as centenas de milhares de peças encontradas. Quando as obras da Linha 4 do Metrô terminarem, em 2016, o sítio será novamente aberto, para novas pesquisas e coletas, e os resultados finais desta pesquisa serão compartilhados com o público.
Achados na Zona Sul
Em Ipanema e Leblon, a equipe de Arqueologia encontrou mais de 1.400 fragmentos de alvenaria, enfeites de telhado, balaustrados, peças de porcelana, pratos, tigelas, talheres, moedas, vidro e até penicos, além de trechos do antigo sistema de trilhos de bonde. Estes artefatos são parte da história cotidiana das chácaras que ocupavam esta área da Zona Sul do Rio de Janeiro, no século XIX e início do século XX, antes do loteamento sistemático.
Mais de 300 mil pessoas vão usar a Linha 4 do Metrô
A Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro é uma obra do Governo do Estado do Rio de Janeiro e vai transportar, a partir de 2016, mais de 300 mil pessoas por dia, retirando das ruas cerca de 2 mil veículos por hora/pico. Serão seis estações e aproximadamente 16 quilômetros de extensão. A ligação metroviária entre Ipanema e Barra da Tijuca estará à disposição dos passageiros em julho de 2016, com a operação comercial da nova linha nos mesmos horários das demais linhas do metrô. Será possível ir da Barra a Ipanema em 13 minutos e, da Barra ao Centro, em 34 minutos. Os usuários poderão ainda deslocar-se da Pavuna até a Barra da Tijuca pagando apenas uma tarifa.

A irracionalidade interessa à política conservadora, pois interdita o debate; afirma Haddad


HADDAD: ‘QUEM NÃO TEM PROJETO USA A IRRACIONALIDADE PARA INTERDITAR O DEBATE’


Para prefeito de São Paulo, artificialismo do noticiário interessa ao conservadorismo. E manter a irracionalidade na discussão sobre políticas públicas serve para desviar atenção do projeto de cidade

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, não tem ilusões de que o ambiente das eleições municipais, no próximo ano, privilegie o debate de ideias sobre projetos de ampliação do exercício da cidadania. “O que vai acontecer em São Paulo no ano que vem, e de uma maneira geral, nas grandes cidades, tem a ver com a questão nacional”, acredita. Em conversa com jornalistas na semana passada, o prefeito disse acreditar que o campo conservador não tem qualidade para vencer o debate e tentará colher, nas próximas eleições, os frutos de ter desviado o debate para o que chama de “subterrâneos” da política.

“O que vivemos hoje começou a germinar há pelo menos dez anos. Desde a reeleição do Lula se cultiva um sentimento no subterrâneo da sociedade, contraditório com os índices de aprovação das próprias pesquisas. A popularidade do Lula não parava de subir, chegando a mais de 80%, o ruim e péssimo do Lula chegaram a 4%. Nem assim se dava de barato que a Dilma seria eleita. Como é que com 83% de aprovação ainda se podia ter dúvidas sobre a vitória?”, questiona, observando que o conservadorismo, na ocasião “sem chance campo socioeconômico”, impôs-se no campo do moralismo, do comportamento, da cultura. O prefeito admite que a situação econômica hoje já não é tão favorável, pelo fato de o governo ter cometido erros de diagnóstico – “temos que calibrar (o ajuste) para antecipar a retomada do crescimento”.

Mas ainda vê muito espaço para o debate de ideias e projetos, algo que falta no espectro oposicionista. “Os adversários estão errando a mão, com faziam há dez anos. Batiam todo santo dia no Bolsa Família. Você não ia conseguir nunca para o Bolsa Família, nem com R$ 1 bilhão de publicidade, o que conseguiu com o Jornal Nacional, por vias tortas”, ironizou. Para Haddad, não resta à esquerda opção que não seja conduzir o debate para o campo do projeto: “Eles não poderiam perder uma eleição nunca com o poder econômico e político e midiático concentrado do jeito que é. Perdem porque são ruins. Observe o que estão fazendo no Plano Nacional, o Aécio é visto hoje por muita gente boa como patético”.

Leia a seguir alguns dos trechos das intervenções do prefeito.


‘Em 2012 não fugimos da discussão 
ética. E não vamos fugir em 2016’


“Ainda existe espaço de autonomia no debate de questões locais. Em 2012, fizeram coincidir o julgamento do mensalão durante os 45 dias do programa eleitoral gratuito na TV. Às vésperas do primeiro turno, o Jornal Nacional levou um especial que durou uns 18 minutos para praticamente proferir a sentença de um julgamento que não havia ocorrido ainda. Mesmo com tudo isso, conseguimos travar um debate na cidade, que passou também pela ética. Não fugimos disso, como não vamos fugir ano que vem. E o fato é que tivemos êxito.

“As pessoas costumam dizer que São Paulo é uma cidade conservadora e eu sempre respondo: é uma cidade onde atuam forças conservadoras. Nunca dou de barato que a cidade é conservadora, mesmo porque a gente ganha, às vezes. Isso significa que tem espaço para o jogo aqui. O que nós estamos vivendo hoje, na verdade começou a germinar há pelo menos dez anos. Desde a reeleição do Lula se cultiva um sentimento no subterrâneo da sociedade, inclusive contraditório com os índices de aprovação das próprias pesquisas. A popularidade do Lula não parava de subir, chegando a mais de 80%, o ruim e péssimo do Lula chegaram a 4%. Nem assim se dava de barato que a Dilma seria eleita, por exemplo. As chances eram boas, mas como é com 83% de aprovação ainda se podia ter dúvidas sobre a vitória?

“A gente sabia que no subterrâneo da sociedade se travava outro tipo de disputa. Como naquela ocasião o debate socioeconômico estava vencido, a vitória estava dada no campo progressista, começaram a impor uma posição no campo do comportamento, da cultura, e não é por outra razão que eles fizeram várias tentativas de criar uma animosidade sobre temas caros à esquerda. Perderam – mas tentaram.

“Por exemplo, a questão da transferência de renda, a primeira tentativa foi tentar dizer que os pobres iam acabar se acomodando, que era um paternalismo, clientelismo. Quando na verdade era um programa anticlientelista, por ser universal, de superação da extrema pobreza no país, hoje vitrine no mundo inteiro. Mas houve uma tentativa da direita de desconstituir o Bolsa Família, tentando fazer com que a maioria da população não beneficiada se voltasse contra os beneficiários.”

‘O Serra se aliou às trevas e ao submundo’

“Outra tentativa deles foi dizer que a meritocracia estava sendo colocada de lado… Aqui em São Paulo, a primeira atitude minha foi cravar cotas raciais – não é nem social, era racial, para negros no serviço público. Não tinha um procurador negro. No último concurso, de 70, 14 entraram. E estamos melhor do que estávamos. Em 2010, a discussão do aborto, que queira ou não queira é debate sobre gênero – também tentaram entrar nessa. Em 2012, veio a questão LGBT. Usaram o fato de eu ter sido ministro da Educação para vir com aquela história de kit gay, coisa absurda, o que foi derrotado depois, quando se mostrou que os materiais eram muito semelhantes aos já distribuídos pelo governo do estado. Eles foram pra cima, e se nós tivéssemos recuado, como a Marina fez em 2014, eu não sei o que teria acontecido.

“Se eu tivesse piscado, quando o Malafaia veio a convite do Serra para São Paulo, e ele disse que ia “me destruir”, se eu tivesse reagido ali com um “olha, vamos conversar?, vou sentar com o Malafaia para me explicar…” Eu falei simplesmente que o Serra estava se aliando às trevas, e que o submundo da política não vai ditar as normas aqui em São Paulo. Saiu em todo lugar que eu chamei o Serra de submundo, de trevas. Dentro do PT teve quem disse ‘pô, você está louco, falando mal de pastor?’

“Então, não teve tema em que esses caras não tentaram colocar as camadas da sociedade umas contra as outras. Eles não tiveram êxito eleitoral, mas houve impacto. Essa ação de dez anos cultivando a intolerância tem efeito sobre a sociedade. Como disse o Umberto Eco, a internet é dar um microfone na mão de todo mundo, inclusive na dos idiotas também. O que acaba acontecendo com isso é que se você conversar hoje com uma parte da juventude, ela está contaminada com o discurso de intolerância. E mesmo nas camadas ascendentes que deveriam ser protagonistas de um avanço maior no ponto de vista civilizatória, muitos estão reféns deste discurso de intolerância.”

‘Problema não é fiscal, é monetário. 
Juro de 14% ao ano é insustentável’


“Meu pai dizia ‘não se mata uma vaca que não deu leite em um ano’, e aqui em um ano eles vêm e passam a faca. Não estou dizendo que o governo não errou. Houve problemas de diagnóstico, e algumas medidas que foram tomadas agravaram – na boa intenção de mitigar. Houve uma série de políticas anticíclicas que não surtiram efeito. O problema da política atual nem é a política fiscal. Na verdade, criamos um buraco fiscal que momentaneamente precisa ser observado. Mas a política monetária atual, esta sim, pode comprometer não só o crescimento como o próprio ajuste fiscal, do qual dependemos para retomar o crescimento. É completamente insustentável taxa de juros em 14% ao ano, nas condições dadas de retração do PIB, do desemprego em 8%, inflação perto de 10%.

“Então, estamos vivendo um momento em que houve um trabalho no campo do comportamento, da cultura, durante dez anos, que já está tendo algum êxito. Você tem uma parte de população que já nem vota. E um governo tinha 85% de aprovação em 2010 e ganhamos de 55% a 45%. Não tem moleza. Daí hoje vem a crise econômica e junto toda uma operação jurídico midiática em torno da questão da Petrobras, você tem todos os ingredientes de uma crise institucional. Essa que é a verdade. O governo tem de ter um pé de apoio.

“Neste contexto, o que podemos fazer? Executar nossa visão de cidade. Educação, moradia, mobilidade, tudo. Não estou querendo aqui condescendência, mas não é fácil ser prefeito convivendo com zero porcento de crescimento. Em todo o meu mandato, a economia do país terá crescido zero, e a paulistana terá decrescido. Eu não conheço um governante que tenha vivido esta situação: zero de crescimento durante quatro anos, R$ 2,3 bi de perda de arrecadação de tarifa, R$ 1 bi de IPTU e R$ 1,5 bi de pagamento de precatórios a mais do que se pagava – isso em três anos, com precatórios ainda não sei o que vai ser da minha vida ano que vem. Depende de decisão do Supremo e do Congresso.”

‘Em dois anos recebemos R$ 400 milhões 
do PAC; o Rio, em um ano, teve o dobro’


“O milagroso dessa história toda é que no ano passado nós batemos o recorde de investimentos. E o que nós fizemos foi atuar sobre o custeio como nunca se atuou. Cada contrato dessa prefeitura foi revisto, começando pelos maiores. Teve contrato que nós tiramos 25% do valor sem mexer na quantidade, só mexendo no preço. Então foi se criando um espaço de atuação junto à dívida ativa, uma série de procedimentos, que nos deu sustentabilidade, apesar dessa conjuntura. Não estou recebendo apoio federal, desde que tomei posse. Em dois anos de gestão entregaram R$ 400 milhões do PAC – e só ano passado o Rio de Janeiro levou R$ 800 milhões. A renda da situação da dívida foi deixada para o ultimo ano. Fiquei três anos pagando. Conseguimos (rever toda a dívida), mas para as próximas administrações; para o meu atual governo, se tiver, vai ser para o ano que vem. Muito em cima da eleição.

“E mesmo assim por que eu acho que ainda somos competitivos, dentro deste contexto? Porque em São Paulo está se discutindo política pública. Ninguém está discutindo se sou honesto ou não. Está se discutindo a mais avançada política pública possível em uma cidade. Tem feito muito sucesso na periferia você levar universidade pública para os CEUs, Para um sujeito que mora na periferia a USP não existe, é um sonho irrealizável. Mas se você fala que no CEU ali e tem uma vaga pública, começa a aproximar o jovem de periferia.

“Na questão da mobilidade estamos no terceiro ano de mudanças. Primeiro ano, foi pau nas faixas de ônibus. Só parou com ciclovia. Esqueceram a faixa de ônibus, e pau na ciclovia. Largaram a ciclovia agora, e pau na questão da redução da velocidade. Então, as duas primeiras já vencemos, consolidou. E essa ultima ainda vamos vencer, porque o resultado é muito importante. Li numa reportagem do Le Monde que a redução da velocidade em Paris, de 80 (km/h) para 70, aumentou em 18% a velocidade média dos carros. Os prefeitos de Londres e de Paris estão sabendo o que está acontecendo aqui em São Paulo. Quando eu falei que a OAB ia entrar com uma ação contra a redução, me perguntaram: ‘Como assim? A Ordem dos Advogados vai entrar com uma ação contra a prefeitura?’ Os dois me disseram: ‘Olha, no caso do ônibus e ciclovias, o retorno é muito de médio e longo prazo, mas na redução em dois, três meses vai ter o que apresentar. Segura firme que vai passar’.

“Na campanha dará tempo de mostrar que isso vai salvar vidas e melhorar a fluidez no trânsito, porque hoje ninguém quer saber. Você tem Bandeirantes, Jovem Pan, Estadão batendo… Não querem nem saber. O jornal que elogiou o Kassab quando reduziu a velocidade na Avenida 23 de Maio é o mesmo que critica a redução nas marginais. Na 23 de Maio já melhorou a situação. Mas ninguém quer saber. A irracionalidade que hoje tem uma dose forte de artificialismo interessa à política conservadora. Manter o quadro de irracionalidade. De interdição do debate sobre políticas públicas. Tudo isso desvia a atenção do que está em jogo.”

‘No combate à corrupção, não tem 
governo que tenha feito mais’


“Numericamente, estamos entrando em todas as áreas da prefeitura, subprefeituras, secretarias, passando pente fino em tudo. Contrato por contrato, servidor por servidor, toda a evolução patrimonial, inclusive dos gestores políticos, tudo é conferido e acompanhado. Não tem um debate que não podemos ganhar. Mas vai ser a eleição mais difícil do mundo. É mais fácil estar melhores condições em 2018 do que e 2016.

“Os adversários estão errando na mão pois estão criticando coisas que são parecidas com o que faziam há dez anos. (E causando um efeito inverso.) Batiam todo santo dia no Bolsa Família. Você não ia conseguir essas publicidade nunca para o Bolsa Família como a imprensa acabou fazendo. Se tornou uma coisa só, Lula e Bolsa Família. Nem com R$ 1 bilhão de publicidade você ia conseguir o que conseguiu com o Jornal Nacional, por vias tortas. Não criticavam exatamente, mas ficavam problematizando, aquilo foi colando e se agigantou.

“Eles não poderiam perder uma eleição nunca com o poder econômico e político e midiático concentrado do jeito que é. Perdem porque são ruins. Observe o que estão fazendo no plano nacional, estão se desconstruindo. O Aécio é visto hoje por muita gente boa como uma pessoa patética.

“Mas vai ser um ano daqueles. Vão centrar muita força. Em 2012, o que eles fizeram quando perderam em São Paulo foi vergonhoso. Eles vão redobrar as energias para tentar nos fazer perder em 2016 e selar o destino das próximas eleições presidenciais. Agora, temos de ver o que acontece até o final do ano. Vai ser um semestre complicado, teste de fogo para o governo federal. E vai depender muito do desfecho desta crise internacional o que que vai ser da esquerda a partir do ano que vem. Então, é um semestre delicado, até porque também estamos errando do nosso lado. Temos que calibrar (o ajuste) para antecipar a retomada do crescimento.”

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Galo Campeão da Libertadores 2013: reveja momentos inesquecíveis


Reveja momentos inesquecíveis! 
Decisão da Libertadores 2013: Atlético x Olímpia. O jogo começou no dia 24 de julho de 2013, a prorrogação e a decisão nos pênaltis, ocorreram já no dia 25 de julho. E aí começou a grande festa!


Veja a preleção que o atleticano e jornalista Chico Pinheiro enviou em vídeo e que os jogadores assistiram antes da partida da final da Libertadores.
Clique abaixo da foto para assistir:


Preleção Chico Pinheiro - Libertadores 2013 (Exclusivo Só ...

www.youtube.com/watch?v=fi2wLaYfUqY

9 de dez de 2013 - Vídeo enviado por Sóda Galo
Preleção Chico Pinheiro - Libertadores 2013 (Exclusivo Só daGalo) .... Que foi julgado por uma expulsão no início docampeonato ne




Clique abaixo para assistir a excelente reportagem da Maíra Lemos, no Globo Esporte MG, sobre a grande conquista do Galo.


Globo Esporte MG - Atlético-MG Campeão da Libertadores ...

www.youtube.com/watch?v=dKVlB_NKqYU

25 de jul de 2013 - Vídeo enviado por JovemGameShow
Galo Campeão. ... Globo Esporte MG - Atlético-MG Campeão da Libertadores 2013. Canal de JovemGameShow. SubscribeSubscribed  .







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HÁ 2 ANOS...


Eu na Final:¨ Eu Acredito!¨

Há 2 anos atrás...cheguei das férias, em Salvador,direto para o Mineirâo . A Libertadores tinha sido interrompida devido a Copa das Confederações e quando, anteriormente, acertamos a viagem, tinha esquecido deste ¨pequeno¨ , ¨grande¨ detalhe.
Lá ficaram a Luciane e o Ricardo. Antecipei a volta. Fui em todos os jogos e não poderia deixar de ir, justamente, na final. Foto tirada por volta das 16 horas e o jogo só começava às 22 horas. Era a final da Libertadores 2013...o ¨EU ACREDITO¨ funcionou...Galo Campeão da Libertadores!. Inesquecível!!!
 há 2 anos hoje
Cheguei de Salvador......direto pro Mineirão ...Eu acredito!....
Galoooooooo

Foto de Luiz Ricardo Amédée Péret.


Galo Campeão - Homenagem Fox Sports - YouTube

www.youtube.com/watch?v=7SkEMtNA8iU

27 de jul de 2013 - Vídeo enviado por 13GaloTube
Galo Campeão - Homenagem Fox Sports .... a classificaçao doGALO para a final da Libertadores na Fox Sports(@Glorioso_Galo) - Duration:  ..


quinta-feira, 23 de julho de 2015

O rosto enquanto epifania, segundo Emmanuel Lévinas



O rosto enquanto epifania segundo Emmanuel Levinas


José Tarcísio da Costa


O presente artigo tem como objetivo abordar a problemática do rosto segundo Emmanuel Levinas. A partir disso, temos algumas questões para tentar compreender: em primeiro lugar, quem é o outro, ou seja, o homem? Ao falar do rosto, qual é a visão filosófica de Levinas para este tema tão amplo? É possível uma relação sem levar em consideração o rosto?

Quando falamos de rosto lembramos logo de algo físico que caracteriza o ser humano, porque ele na sua constituição tem algo de especial que o diferencia das outras coisas que o rodeiam. Há muitas pessoas que utilizam de meios cosméticos para terem uma boa aparência diante das outras pessoas; fazem cirurgias para poderem aperfeiçoar o rosto por pensarem que podem chegar à perfeição. Porém, muitas dessas pessoas acabam desiludidas porque não conseguem ter um rosto perfeito. A aparência conta muito na hora da relação, por isso muitos investem em maquiagens para passarem uma boa impressão. Mas, não é propriamente esse rosto a que Levinas se refere.

Segundo o filósofo, “‘a verdadeira essência do ser humano se apresenta em seu rosto’ (O ser é exterioridade), o que implica partir do rosto como ‘epifania’ do outro. Ele não é tanto uma parte corporal ou uma imagem, mas uma figura do além do visível” (CAMUS, 2010, p. 237). Com isso podemos afirmar que o rosto é aquilo que caracteriza o ser humano e o diferencia dos demais seres; o rosto é a revelação de cada pessoa enquanto outrem que se relaciona a partir desse mesmo rosto. O rosto não é somente algo físico ou corporal, mas uma imagem que transcende o que é apresentado pelo corpo.

O termo epifania é entendido por Levinas como revelação, sob influência da cultura judaica e a ideia de Deus se revela ao seu povo escolhido. Segundo Levinas,
O rosto, como epifania, revela e expressa a alteridade do outro. O rosto, em sua epifania, não é simplesmente aquilo que aparece na forma de luz, sensível ou inteligível. A partir da sua exterioridade, o rosto do outro se exprime como revelação, que na sua nudez, é penúria. (MELO, 2001, p. 22).

Em Levinas, podemos falar também de uma epifania na religião, pois o Deus de Abraão, Isaac e Jacó se revela para aqueles que Ele escolhe. Esse Deus convida o seu povo a uma relação na qual Ele é o senhor e o povo seus eleitos, nessa relação há uma Aliança, e é nessa aliança que se firmam as leis e a moral do povo judeu. Um Deus que, diferentemente dos deuses gregos, se abre e se manifesta a quem Ele deseja.
A epifania de Deus se dá pela relação face-a-face, entre eu e o outro, especialmente o pobre, identificado como órfão, a viúva, o estrangeiro. (…) A epifania do olhar deve ser entendida de modo inteiramente diverso da manifestação (…). O olhar (…) me atinge diretamente porque penetra sem mediações e, no entanto, permanece absolutamente exterior ao mundo, de exterioridade não espacial, como um estranho não mundo no mundo. (…) O rosto em que outrem se volta para mim não se incorpora na representação do rosto. (PAIVA; ESTEVAM, 2010, p. 398-400).

Ao falar do rosto do outro, numa abertura para a divindade, Levinas está influenciado pelo decálogo, isto é, os dez mandamentos, e se conduz pelo quinto mandamento “não matarás”. E nessa relação com outrem é necessário “ouvir a sua miséria que clama justiça não consiste em representar-se uma imagem, mas em colocar-se como responsável, ao mesmo tempo como mais e como menos do que ser que se apresenta no rosto” (PAIVA; ESTEVAM, 2010, p.400).

A epifania traz consigo algumas obrigações, ou seja, diante de outrem eu não posso ficar inerte, sem nenhuma atitude, ele me chama, me questiona e exige de mim uma resposta perante o seu olhar, isto é, seu rosto.
Se por um lado, sabemos que o rosto convida a uma relação, por outro não podemos recusar-lhe uma resposta; uma relação passa necessariamente pelo rosto, que se apresenta dentro de um contexto. Ele, rosto, é ainda a parte do corpo mais desprotegida, porque não possui nenhuma máscara que o proteja.
A nudez do rosto é um desenraizamento do contexto do mundo, do mundo que significa como contexto. O rosto é precisamente aquilo pelo qual se produz originalmente o acontecimento excepcional do em face, que a fachada do prédio e das coisas não faz senão imitar. (PAIVA; ESTEVAM, 2010, p. 401).

Certamente falar do rosto em Levinas abre caminhos para uma atitude ética perante o outro. Não podemos reduzir o rosto a um fenômeno físico, ele convida a uma relação para além do face-a-face, isto é, uma relação de alteridade. Apesar de vivermos numa sociedade em que nos preocupamos tanto com a aparência, ainda assim é possível uma alteridade se formos capazes de acolher o rosto para além das aparências.

Referências
CAMUS, Sebastian et al. 100 obras-chave de filosofia. Trad. Lúcia Mathilde Endlich Orth. Petrópolis: Vozes, 2010.
PAIVA, Márcio Antônio de; ESTEVAM, José Geraldo. A relação ética como religião em Emmanuel Levinas. Síntese, Belo Horizonte, v. 37., n. 119., p. 383-406, set. 2010.
MELO, Edvaldo Antônio de. O rosto como fonte originária do sentido ético em Levinas. 2001. 40 f. TCC (Graduação em Filosofia) – PUC-Minas, Departamento de Filosofia e Teologia, Belo horizonte, 2001.