sábado, 5 de julho de 2014

Viaduto desaba e expõe possíveis irregularidades nas obras do BRT

Reprodução
Pelo menos duas mortes e 22 feridos são saldo de desabamento
 
Maíra Gomes - Do Brasil de Fato:
Belo Horizonte (MG)


Uma tragédia marcou a tarde da quinta-feira (3) em Belo Horizonte. Parte de um viaduto sobre a Avenida Pedro I, próximo à Lagoa do Nado, na região da Pampulha, desabou por volta das 15h. A estrutura caiu sobre quatro veículos, sendo dois caminhões, um ônibus e um carro.

A estrutura que desabou é uma das alças do Viaduto Guararapes. O elevado faz parte das obras do BRT Antônio Carlos/Pedro I. Entidades e movimentos de luta por Mobilidade em BH apontam que tragédia aconteceria mais cedo ou mais tarde. “Tem uma série de denúncias sobre as más condições de toda a obra do sistema BRT. As obras foram feitas com muita pressa e em condições precárias até mesmo para os trabalhadores, o que o deixa mais perigoso para todos”, declara o economista e militante de Mobilidade Urbana, André Veloso.

Ele lembra que cinco meses atrás, outro viaduto da implantação do BRT, também na avenida Pedro I, cedeu 30 centímetros, interditando a via por três dias. Após vistoria no local, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a Prefeitura de BH afirmou que não havia risco de desabamento. Por enquanto, o viaduto está de pé.

Também no sistema BRT, há uma semana um laudo técnico indicava “falhas estruturais graves” na estação BRT São Gabriel. O documento alerta para o risco de ruptura e queda de peças metálicas da cobertura da estação, por onde passam 80 mil pessoas por dia. Em resposta, a prefeitura assegura que o terminal funciona com “as condições de segurança necessárias”.

Empresas responsáveis são questionadas 
O trecho do BRT tem custo total de R$ 171 milhões, e a licitação original da obra foi vencida pelo Consórcio Integração, composto pela construtora Cowan e pela Delta Construções. A Delta abandonou as obras em julho de 2012, após Ministério Público Estadual ter instaurado um inquérito civil para verificar suspeita de superfaturamento e de fraude nas licitações que envolvem a contração do consórcio. As supostas irregularidades também foram investigadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Minas Gerais.

A Delta também é alvo de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) e investigação na Polícia Federal pelo desvio de R$ 300 milhões, que teriam sido transferidos da construtora Delta para empresas de fachada, vindos possivelmente de verbas de obras públicas no período entre 2007 e 2012. Foram encontrados indícios de relação entre a Delta e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

A Cowan, que assumiu sozinha a continuidade das obras, também já foi alvo de denúncias. Enquanto realizava obras de ampliação do metrô no Rio de Janeiro, o presidente da empresa, Saulo Wanderley Filho, levou Wilson Carlos, secretário estadual de Governo do Rio, e Sérgio Dias, secretário municipal de Urbanismo, com as esposas, para uma viagem à paradisíaca Ilha de Saint Barths, no Caribe. Um jatinho da Cowan foi usado no trajeto e uma casa alugada para a estadia. A viagem teria incentivado a contratação da empresa no serviço do metrô.

“Tudo isso é fruto da falta de responsabilidade e transparência da atual gestão da prefeitura. Os presidentes atual e anterior da Sudecap, juntamente com o da BHTrans, devem ser investigados, pois eles fizeram os contratos. O mais responsável seria interditar e revisar profundamente o sistema”, acredita André.

Declaração infeliz
O prefeito Marcio Lacerda esteve no local, onde deu um entrevista à imprensa. Afirmou que fiscais da prefeitura acompanhavam sim a obra, “mas acidentes como esse infelizmente acontecem”. Questionado sobre a possível instalação de uma CPI para apurar irregularidades da obra, o prefeito saiu e deixou os repórteres sem resposta.
A Secretaria de Saúde do estado confirmou duas mortes e pelo menos 22 feridos. As vítimas foram encaminhadas para o pronto-socorro do Hospital Risoleta Neves, Hospital Odilon Behrens e outros hospitais da capital.

 

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