quarta-feira, 9 de julho de 2014

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Apesar do vexame histórico da seleção brasileira é bom lembrar que o que aconteceu ontem no Mineirão foi apenas um jogo de futebol, onde quem se preparou melhor e jogou melhor venceu. Apenas isso. Dois artigos, do site brasil247.com,  analisam a diferença de resultados do aconteceu fora de campo (a organização da copa) e dentro do campo (a derrota humilhante - 7x1-  para a seleção da Alemanha). A goleada escancara a crise e a necessidade de mudar o futebol brasileiro. Isso exige mudança de mentalidade dos cartolas.



UMA COISA É UMA COISA, OUTRA COISA É OUTRA COISA

Por Breno Altman

A Copa foi um tremendo sucesso, de organização e espetáculo. A seleção brasileira foi um vexame, a pior desde 1990, se não a pior da história, sofreu a maior humilhação em cem anos de futebol pátria. São dois fatos separados, porém.

Boa parte da direita, furiosa com o sucesso do torneio, resolveu torcer contra a seleção para redimir o fracasso de seu discurso vira-lata. Um setor da esquerda foi para o ufanismo mais absurdo, fazendo da torcida fundamentalista pela equipe nacional um divisor de águas, movendo-se com raiva contra qualquer comentário que mostrasse o óbvio desde o primeiro jogo, qual seja, a mediocridade da seleção brasileira de Felipão. Como se a defesa política da Copa devesse ser traduzida em tolo fanatismo sobre o que se passava no campo.

Serve para que se aprenda: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A organização da Copa é uma decisão de Estado. O esporte é um espaço no qual pouquíssimas variáveis podem ser controladas, daí sua graça.


TRAGÉDIA MESMO SERIA PERDER FORA DE CAMPO

 Por LEONARDO ATTUCH

Eis que, novamente, os abutres sobrevoam a carniça nacional. Tentam, agora, transformar o fiasco de um time de futebol mal convocado, mal treinado e mal escalado por seu treinador num vexame nacional. Mas o que aconteceu ontem no Mineirão nada tem a ver com a capacidade brasileira de organizar grandes eventos, com os destinos da nação e muito menos com as eleições presidenciais de outubro. Foi apenas um jogo, onde quem se preparou melhor e, por isso, jogou melhor, venceu. Nada mais justo e merecido.

Tragédia real mesmo seria perder o jogo fora de campo. E nada disso aconteceu. A Copa do Mundo, sim, merece ser chamada de #copadascopas, porque, a despeito de todas as previsões catastróficas desses mesmos abutres, tudo funcionou a contento. Vários aeroportos foram reformados, as arenas encantaram o mundo e o nível técnico, salvo o da seleção brasileira, foi, talvez, o melhor desde a Copa de 1970.

Os estrangeiros que aqui vieram se encantaram com a alegria do povo brasileiro, com a hospitalidade dos voluntários e também com a organização do evento. Certamente, a grande maioria está disposta a voltar. Nunca, em toda sua história, o Brasil obteve tanta propaganda positiva como durante o Mundial, um período em que até jogadores alemães como Schweinsteiger e Podolski se renderam ao fascínio brasileiro, postando mensagens favoráveis em suas redes sociais.

A derrota nos gramados, no entanto, deveria servir para algumas reflexões e autocríticas. A começar pelo próprio jornalismo. Antes da Copa, dizia-se que o Brasil chegava mal preparado fora de campo, mas com uma ótima seleção. O que se viu foi o contrário. Do lado de fora, as coisas funcionaram, mas o jogo da seleção foi sofrível. Basta recordar como foram os jogos. Contra a Croácia, o Brasil precisou de um pênalti inexistente para desempatar. Contra o México, teve menos de posse de bola e não saiu do zero a zero. Na vez de Camarões, o Brasil goleou, mas enfrentou uma adversário já desclassificado. No primeiro mata-mata, o Chile só não venceu porque se acovardou, tentando levar a decisão para os pênaltis. Apenas no primeiro tempo contra a Colômbia, houve algum lampejo de futebol. Quando chegou a vez da tricampeã Alemanha, menosprezada pelo Brasil (!!!), a realidade se impôs de forma dura, porém pedagógica...

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