Por Jaeci Carvalho
(Estado de Minas)
Obrigado, R10
Ronaldinho Gaúcho pisa hoje (
foi ontem, quarta-feira - dia 30) pela última vez na Cidade do Galo, para sua derradeira entrevista coletiva no clube pelo qual conquistou seu maior título no futebol brasileiro: o da Copa Libertadores.
R10 está no coração dos atleticanos, com quem formou parceria de amor eterno. Se antes parecia utopia vestir a camisa preta e branca, como um dos poucos gênios da bola em atividade, o sonho virou realidade na segunda-feira de junho
(de 2012) em que ele surgiu no CT batendo bola com os novos companheiros, em imagem jamais imaginada pelos mais otimistas.
Desde então, uma página na história atleticana foi virada e o clube nunca mais foi o mesmo. Passou de time surrado e maltratado a vencedor e admirado. De humilde a celebridade. O ídolo tinha esse poder e pôs o alvinegro na rota mundial. Que saudade vai deixar! Talvez seja, em tão pouco tempo, o maior ídolo dessa sofrida massa.
Não importa se o pivô da saída é o técnico Levir Culpi, como me revelou com exclusividade Roberto Assis, irmão e empresário de Ronaldinho.
O que vale a pena ser dito neste momento é que o craque e a massa viraram um só. Os milhões de alvinegros no planeta bola viram, nesse mago dos gramados, um malabarista da bola, tudo o que faltava aos demais.
Eleito duas vezes o melhor do mundo, R10 chegou com a humildade que o caracteriza.
Relembro aqui o episódio de quando contraí pneumonia na Olimpíada de Sydney’2000 e ele passava todo dia no meu quarto para me dar entrevista. Solidário, companheiro dos jovens em campo, como Bernard, a quem estimulou e ajudou a se transformar em grande jogador, foi também ao amigo aqui, no Alterosa no ataque, quando deu a primeira entrevista exclusiva em BH, horas depois de sua chegada.
Ronaldinho sofreu com a doença da mãe, dona Miguelina, mas contou com a oração de milhares de fiéis atleticanos, e ela acabou curada. Curvando o corpo no Independência para reverenciar a torcida ou com jogadas decisivas, como aquela em que iludiu Rogério Ceni e acabou deixando Jô livre para marcar contra o São Paulo, R10 fez história, com gols de todas as maneiras, e arranjou uma forma especial de comemorá-los, ao ir de encontro a Jô e se peitarem no ar, como os astros da NBA.
Que saudades o cara vai deixar! Pelo sorriso, que corrigiu numa cadeira de dentista em BH; pelo cabelo preso por uma tiara; pela camisa nº 49 que usou no primeiro ano, para homenagear o ano de nascimento da mãe; ou pela 10. Símbolos que serão guardados na memória de cada torcedor alvinegro.
Ronaldinho levou o nome do Atlético a toda a América do Sul. Causou frisson por onde passou e fez até adversários do Galo torcerem por ele, na Libertadores. No Mundial de Clubes, fez o Marrocos se curvar a seus pés, tamanha a popularidade. Recentemente, na China, não podia aparecer que causava histeria coletiva. Na Ásia, também é rei. É esse mito que deixa hoje o Galo
para não mais voltar – será?; Assis diz que o irmão vai jogar até os 42 anos... Não importa se vai voltar. Seu nome está marcado como um dos maiores, senão o maior, ídolos do clube. Seus gols, seu sorriso, suas jogadas jamais serão esquecidos. A cada jogo do Galo no caldeirão do Independência, a imagem dele será cultuada, mesmo que não esteja mais presente de corpo, pois de alma sempre estará.
Vá com Deus, R10. Mito, gênio, classe, gol. Obrigado por tudo o que representou. Por chamar a bola de “meu amor” num momento em que o nosso futebol é tão questionado.
Não se esqueça de propagar aos quatro cantos do mundo que jogou no Galo, que vestiu a camisa preta e branca amada por uma legião fanática. A mesma que lhe deu amor, carinho, compreensão, numa das fases mais difíceis da sua vida. Siga em frente, mas, quando olhar para trás, lembre-se sempre do Independência, dos títulos no Mineirão.
Aqui você foi muito feliz. Tenha a certeza de que fez também muita gente feliz. Os amantes do futebol arte o reverenciam. Você não é ídolo apenas da torcida atleticana, mas de todos os que sabemos e conhecemos a essência do verdadeiro futebol brasileiro. Até qualquer dia. Obrigado, de coração.
Sugestão
Que no dia em que Ronaldinho encerrar a carreira a despedida seja no Mineirão lotado, diante da massa, com vários craques com quem ele desfilou pelos gramados. E que ele receba uma placa de agradecimento do clube que lhe devolveu a alegria de jogar e recebeu em troca a maior conquista de sua história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário