Do Escrevinhador
Por Rodrigo Vianna
O modelo neoliberal, implementado por FHC no Brasil, teve três eixos centrais: flexibilização das leis trabalhistas, privatizações das empresas estatais e abertura da economia para o capital financeiro.
Os governos de Lula e Dilma não reverteram esse modelo econômico, que representaria a proibição das terceirizações, a retomada das empresas privatizadas e a regulamentação do mercado de capitais.
No entanto, esses governos brecaram o aprofundamento do processo que estava em curso, representando um obstáculo para as frações da burguesia, como o rentismo, que defendem o neoliberalismo.
O melhor exemplo dessa leitura é a reportagem da Folha de S. Paulo com a manchete “Queda de Dilma nas pesquisas gera ganho de US$ 4,8 bilhões em ações”.
A matéria reproduz pesquisa que aponta que quanto pior as pesquisas eleitorais para a presidente Dilma Rousseff, mais as ações das empresas estatais Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, Cemig e Cesp sobem na Bolsa de Valores.
O levantamento, que tem como base o desempenho dos papéis de cinco estatais nos dias da divulgação das últimas 19 pesquisas Ibope e Datafolha, mensura que cada ponto da popularidade da presidente vale US$ 801 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão).
A postura dos acionistas é uma reação ao que consideram intervenções do governo nas empresas estatais, que prejudicam a rentabilidade das suas ações.
O que o mercado classifica “intervenção do governo” é, na verdade, a predominância do interesse público sobre a rentabilidade privada e a soberania nacional diante do capital internacional.
O mercado quer mesmo é que essas empresas sejam privatizadas, dando exclusividade ao capital privado para a exploração desses segmentos da economia.
A existência de empresas sob controle estatal no setor petrolífero, bancário e energético representa um obstáculo para a dinâmica econômica dos oligopólios que controlam esses segmentos.
Já que essas empresas são mistas, com controle estatal mas capital aberto na Bolsa de Valores, o mercado faz pressão para que sejam geridas como se fossem empresas privadas.
Com isso, a rentabilidade de um punhado de acionistas ficaria em primeiro lugar, em prejuízo do povo brasileiro, que é o “acionista” majoritário do Estado brasileiro.
Um parênteses: esse é a forma de gestão do governo do Estado de São Paulo na Sabesp, que deu no que deu: altos lucros para os acionistas, falta de investimentos na empresa e eminência de falta de água para a população.
O que fica claro com o boicote do mercado é que, nessas eleições, Dilma representa maior compromisso com o interesse público e com a soberania nacional.
Aécio Neves e Eduardo Campos, que agradam os acionistas, são porta-vozes das frações da burguesia que querem o neoliberalismo ortodoxo, ou seja, flexibilização das leis trabalhistas, privatizações das empresas estatais e abertura da economia para o capital financeiro.
Abaixo, leia reportagem da Folha de S. Paulo:
Queda de Dilma nas pesquisas gera ganho de US$ 4,8 bilhões em ações
Por David Friedlander e Mariana Carneiro, na Folha
A disputa presidencial mais acirrada dos últimos 12 anos detonou uma onda de especulação com ações de estatais. O mercado aposta que, quanto piores forem as pesquisas eleitorais para a presidente Dilma Rousseff, mais as ações dessas empresas sobem na Bolsa de Valores.
Os investidores têm o pé atrás com a presidente porque avaliam que as intervenções do governo nas estatais prejudicam sua rentabilidade. Na visão do mercado, Brasília sacrifica o ganho dessas empresas para controlar preços e estimular o consumo.
Esse “efeito Dilma” foi medido num levantamento sobre o desempenho dos papéis de cinco estatais nos dias da divulgação das últimas 19 pesquisas Ibope e Datafolha. Segundo o estudo, cada ponto da popularidade da presidente vale US$ 801 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão).
Esse foi o ganho de Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, Cemig e Cesp a cada ponto de aprovação que Dilma perdeu. A conta foi feita pelos economistas do Insper Sérgio Lazzarini, Bruna Bettinelli Alves e João Manoel Pinho de Mello, também analista da gestora Pacífico.
Editoria de Arte/Folhapress
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A cada ponto que a aprovação de Dilma perdeu nas pesquisas, as ações dessas empresas subiram em média 0,5 ponto percentual acima da média do mercado, calculada pelo índice Ibovespa.
Neste ano, somente o “efeito Dilma” produziu um ganho, médio, de US$ 4,8 bilhões (R$ 10,6 bilhões) no valor dessas cinco estatais. Segundo o estudo, isso ocorreu porque de fevereiro a julho, a aprovação da presidente caiu de 41% para 35%.
A ansiedade do mercado com o resultado das eleições não era tão evidente desde 2002, quando Lula despontou como favorito na disputa pela Presidência.
Na época, bancos criaram indicadores para estimar como a vantagem de Lula afetaria aplicações atreladas ao dólar e à taxa de juros. O mais famoso foi o lulômetro, do banco Goldman Sachs.
“Na eleição do Lula, a dúvida era se o sistema econômico seria alterado. Já o governo Dilma foi marcado pelas intervenções pesadas nas empresas estatais. Com a reeleição, o mercado acredita que isso vai continuar”, afirma Lazzarini, do Insper.
Essa diferença faz com que a especulação se concentre, desta vez, na Bolsa de Valores. Outro fator que desencoraja apostas com o dólar é que o Banco Central tem reservas muito maiores que em 2002.
PESQUISAS E BOATOS
O mercado financeiro é um terreno nervoso por natureza, com profissionais que se dedicam a saltar sobre informações relevantes antes dos outros para ganhar dinheiro. Nesse ambiente, a eleição virou motivo para apostas, movidas a pesquisas eleitorais, consultorias e boatos.
“É especulação pura e da pior qualidade. Ao fazer essa aposta, o investidor busca um ganho de curtíssimo prazo e subestima a capacidade do atual governo de fazer as pazes com o mercado num segundo mandato”, afirma Ricardo Lacerda, do banco de investimentos BR Partners.
Editoria de Arte/Folhapress
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Na última quarta-feira, a especulação sobre números positivos para Dilma no Datafolha fez a ação da Petrobras cair 1,1% em 45 minutos. “Os preços das ações estão sendo ditados pelas eleições. Os fundamentos econômicos ficaram de lado”, diz Daniel Cunha, da XP Investimentos.
O cenário político passou a interferir mais intensamente na Bolsa do começo do ano para cá. Se a corrida pela Presidência continuar disputada, será assim até outubro
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