quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Faleceu J. B. Libanio, que dedicou a vida por uma teologia do diálogo com a Igreja e com o mundo
Morreu na manhã desta quinta-feira o padre João Batista Libanio, vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande BH. O jesuíta de 81 anos estava em Curitiba (PR) e sofreu um infarto. Reconhecido mundialmente por seu profundo conhecimento na área teológica e sua ação pastoral junto aos mais simples.
João Batista Libanio também é conhecido como Teólogo da Libertação, sendo considerado um dos fundadores da linha teólogica da opção preferencial pelos pobres.
O religioso era licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutor pela Universidade Gregoriana (Roma).
Libanio publicou mais de 125 livros, dos quais 36 de autoria exclusiva e os demais em colaboração com outros autores.
No ano passado, João Batista Libanio recebeu com entusiasmo o fato de Francisco ser escolhido como o primeiro latino-americano a se tornar papa.
Comecei a conhecer o pensamento do teólogo J. B. Libanio quando adquiri videostextos produzidos por ele, nos finais dos anos 90. A série de vídeos ( VHS) constituía um verdadeiro curso, constando de três módulos:
- módulo 1 : Sempre Jesus
- módulo 2 : Deus Pai
- módulo 3 : Deus Espírito Santo
Os vídeos são de grande valor para reflexão pessoal ou para estudos.
Continuei acompanhando-o através dos seus artigos em jornais, sites e entrevistas na tv.
Autor de 36 livros e co-autor de mais de 125 obras, traduzidas em vários idiomas, Libanio era professor da Faculdade Jesuíta (Faje) desde sua fundação, em 1982. Segundo o diretor do Departamento de Teologia da Faje, padre Geraldo de Mori, seu amigo pessoal Libanio marcou época. "Ele deu a vida por uma teologia preocupada com o diálogo com a Igreja e com o mundo. Era um homem simples, de Deus, de espírito jovem e mente sempre aberta. Um verdadeiro formador de gerações".
Assista a entrevista no programa Religare da TV Horizonte, realizada em 2011:
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Religiosidade adulta a praticada pelo Frei Cláudio Van Balen
Faço das palavras deste artigo as minhas...Espero que Frei Cláudio continue com as suas celebrações.
Leia o artigo de José Aparecido Ribeiro (sosmobilidadeurbana.org ):
Nascido em família católica, durante toda a vida frequentei missas aos domingos. As lembranças mais remotas incluem as celebrações católicas. Mas após longos anos me dei conta de que tratava-se de um hábito e não um desejo natural, percebi que não havia renovação e a repetição pura e simples daqueles rituais passou a não fazer mais sentido. A principio relutei, continuei indo, mas não foram poucas as vezes que dormi durante as celebrações. Então resolvi não frequentar mais as missas de domingos e me afastei da Igreja por um longo período.
Até que fui convidado por amigos para conhecer a Comunidade do Carmo, isto há 13 anos. Amigos que - diga-se de passagem - viveram as mesmas experiências. Aceitei o convite e conheci uma igreja que marcaria minha vida positivamente e para sempre. Com o tempo, voltei a ser católico. Hoje sinto prazer em ir às missas dominicais e convido outros amigos. Na Igreja do Carmo conheci uma religiosidade que liberta, ao contrário da que experimentei ao longo da vida que me dava a sensação de vazio, as vezes até subestimando a minha inteligência, ludibriando a minha fé, e me deixando por vezes em estado de letargia, como mero espectador.
Na Igreja do Carmo conheci o significado de comunidade, consegui recuperar a fé e encontrar sentido novamente para a religião. Isso se deu através das palavras de um Frei Carmelita, que todos conhecem pelo jeito diferente de falar de Deus e de religião, (Frei Cláudio Van Balen). Nas suas pregações, descobri que Deus não está fora de nós, nem tampouco no céu como a maioria das religiões pregam. Ele na verdade está em tudo e em todos os lugares. Deus está, antes de tudo, dentro de nós e nós ‘nele existimos e nos movemos’...
Entre nós não há trocas, barganhas e nem tampouco condições pré estabelecidas, cobranças ou acordos; conversamos intimamente, sem medo, nossos diálogos são francos e as vezes até ficamos contrariados um com o outro, mas no final, sempre encontramos um bom caminho e a vida flui, como deve ser, sem muitos mistérios; envolvida, no entanto, no seu mistério. Na Igreja do Carmo que, há 46 anos é comandada pelo Frei Cláudio, consegui, sem me afastar dos rituais tradicionais, recuperar a religiosidade, fiquei mais otimista e passei a ter atitudes que antes não tinha diante da realidade.
A lida com o cotidiano ficou mais leve, passei a acreditar mais em mim mesmo, nos meus potenciais, sobretudo enquanto cidadão. Deus pode nos ajudar no nosso destino, mas os responsáveis por traçá-lo somos nós mesmos. Frei Cláudio sabe lidar com a palavra de um modo especial, ele consegue imprimir um ritmo prosaico na missa, tornando-a atraente e útil, sem complicações ou palavras vazias, desconectadas da realidade. Na voz dele tudo ganha forma, o que parece distante sem sentido por ter sido escrito há milênios, torna-se lúdico, claro e de fácil compreensão, atual.
Suas pregações são diferentes, instigantes, animam, nos fazem pensar, revelam um Jesus que serviu de exemplo não só pela religiosidade, mas sobretudo pelos gestos de amor, rebeldia e inquietude. Um bons Pastor, que se estivesse de corpo e alma entre nós hoje não ficaria assistindo, passivo, aos absurdos do nosso tempo. Já teria se rebelado como fez antes, lançando mão mais de cidadania do que simplesmente de religiosidade. Isto por que não é a religião sozinha que transforma o mundo, mas aliada à política, a boa política, a que liberta e faz a história.
No coletivo e no particular, Deus nos serve de inspiração e sustento, mas quem arremata nossa "sorte", somos nós mesmos. Ao trazer o Evangelho para o nosso tempo, Frei Claudio supera as barreiras da linguagem e nos faz compreende-lo. Ele nos dá provas de que é possível viver a razão e a fé de forma construtiva e complementar. Embora alguns sacerdotes insistam em dizer o contrário, entre nós e Deus não existem pontes ou cancelas, ele é disponível para todos, indistintamente e a qualquer hora.
Por isso acredito em Frei Cláudio, na sua pedagogia didática e sugiro à Cúria que deixem uma porta aberta para o diálogo adulto, que permita a continuidade de frei Cláudio naquela Paróquia. Fica difícil aceitar e até imaginar que numa Instituição como a Igreja, o diálogo não seja o meio utilizado para superar quaisquer animosidades que por ventura existam. Sobretudo quando essas não comprometem a essência da liturgia. Ao contrário, agrega e aumenta o número de pessoas que recuperam a fé perdida. Tolerância e diálogo são as duas palavras chaves. Com o Frei Cláudio no comando da Igreja do Carmo o conjunto da Igreja Católica tem muito mais a ganhar do que perder.
José Aparecido Ribeiro
Consultor em Assuntos Urbanos e Mobilidade
Presidente do Conselho Empresarial de Política Urbana da ACMinas
Presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Frei Cláudio Van Balen: uma profética ternura que incomoda
Do falachico.org:
Por Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm:
Assista ao vídeo com Frei Cláudio:
Com uma profética ternura, o Carmelita, Frei Cláudio Van Balen, nos cativa, desafia, desconcerta, nos abre caminho para uma fé adulta, sem medo e preconceitos. Frei Cláudio prega uma Igreja de portas abertas, acolhedora, onde as pessoas possam entrar e se sentirem em casa, onde o diálogo e a abertura falam ao coração.
Alguns, infelizmente, arraigados a um certo estilo católico próprio do passado, por medo, discordam da ação pastoral de Frei Cláudio. Contudo, Frei Cláudio não é heterodoxo em suas homílias ou nos boletins dominicais. Aqui cabe lembrar o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, quando trata do contexto litúrgico, fala sobre a necessidade do pregador conhecer o coração da comunidade: “Aquele que prega deve conhecer o coração da sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto.” (Evangelii Gaudium 137). E lembrar ainda, que o Papa Francisco exorta sobre a necessidade do diálogo que deve abrasar os coração: “A pregação puramente moralista ou doutrinadora e também a que se transforma numa lição de exegese reduzem esta comunicação entre os corações que se verifica na homilia e que deve ter um carácter quase sacramental: «A fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17). Na homilia, a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem.” (Evangelii Gaudium 142).
Frei Cláudio van Balen é religioso Carmelita desde 1954. nasceu em 26 de setembro de 1933, no Norte da Holanda. É o sexto de uma família de 11 filhos.
Aos 17 anos, ele desembarcou no Brasil, sendo ordenado em 1959, em São Paulo, adotando o nome religioso de frei Cláudio. Na década de 1960, foi estudar em Roma, fazendo os cursos de pós-graduação e doutorado em teologia dogmática, com forte influência do Concílio Vaticano II e graduou-se em Psicologia Clínica.
A partir de 1967 já estava em Belo Horizonte, na Igreja do Carmo, onde está até hoje.
Ao Frei Cláudio dedicamos a nossa solidariedade e acreditamos que o diálogo seja o único caminho para a graça do Espírito Santo possa suscitar a diversidade e a pluralidade, realizando ao mesmo tempo a unidade.
Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm
Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm
Troca de frei gera protesto na Igreja do Carmo, em BH
Frei Cláudio celebrava apenas a missa de 11 h de domingo, mas não apareceu nesta manhã; católicos acreditam que ele foi afastado por suas ideias modernas
Do otempo.com.br:
Fiéis que frequentam a igreja Nossa Senhora do Carmo, situada no bairro Carmo na região Centro-Sul de Belo Horizonte, se revoltaram ao chegar para a missa de 11h da manhã deste domingo (26). Cerca de 200 pessoas esperavam que o frei Cláudio celebrasse a missa, como de costume, porém, outro frei estava no local.
Os católicos relataram que o frei Cláudio, de 80 anos, tem celebrado cada vez menos missas por ter ideias modernas. Segundo eles, ele é acolhedor e não exclui ninguém da igreja. Porém, há quatro anos, ele tem estado à frente de poucas celebrações. “A igreja o afastou, mas nós gostamos muito dele”, disse uma fiel, que preferiu não ter o nome divulgado.
Em protesto, muitas pessoas foram embora. O substituto, frei Evaldo, celebrou a missa para cerca de apenas 30 pessoas, em uma capela menor. Os demais fiéis prometeram protestar, novamente, no próximo domingo, caso frei Cláudio não volte a celebrar a missa da manhã.
Do freiclaudiovanbalen.com.br:
Frei Cláudio nasceu em Wytgaard na Holanda em 26/09/1933 e reside no Brasil desde 1950.
Cidadão Honorário de BH em 1990 e Personalidade do Ano em BH em 1997, é Religioso Carmelita desde 1954.
Graduado em Letras Clássicas em 1958, pós-graduado em Teologia Dogmática em Roma, 1964, graduado em Psicologia Clínica, 1979. É escritor com mais de 40 livros publicados, autor de centenas de artigos em livros, revistas e jornais. Editou cds e dvds com conteúdo variado. Palestrante em temas multiplos, abrangendo Ética, Cidadania, Teologia, Espiritualidade, entre outros.
Exerce seu apostolado na paróquia Nossa Senhora do Carmo em Belo Horizonte/MG, há mais de 45 anos.
Houve um esforço de se libertar de ritos burocráticos e sem significado, passando-se a formas de oração que exprimissem
vivências coletivas, na fidelidade ao Evangelho de Jesus.
Houve um esforço de se libertar de ritos burocráticos e sem significado, passando-se a formas de oração que exprimissem
vivências coletivas, na fidelidade ao Evangelho de Jesus.
As mudanças na liturgia, expressas nos boletins da Missa, incomodaram as autoridades eclesiásticas, pela forma
diferenciada de condução das celebrações.
A Frei Cláudio, nunca faltou coragem para defender suas convicções.
Certa vez, advertido pelo bispo quanto ao conteúdo e forma dos boletins, levou a questão à apreciação da comunidade.
diferenciada de condução das celebrações.
A Frei Cláudio, nunca faltou coragem para defender suas convicções.
Certa vez, advertido pelo bispo quanto ao conteúdo e forma dos boletins, levou a questão à apreciação da comunidade.
Em 2010, Frei Cláudio enfrentou ameaça de afastamento,
que acabou sendo revertida pela mobilização dos paroquianos.
Situação de desconforto repetiu-se em 2013. Mais uma vez o grupo, que participa da Missa das 11h, de domingo, formado de mais de mil pessoas, levantou-se em defesa do Frei e de sua prática pastoral.
Agora, em 2014 parece que a história se repete, apesar das muitas idéias de Frei Cláudio irem ao encontro dos ensinamentos do Papa Francisco.que acabou sendo revertida pela mobilização dos paroquianos.
Situação de desconforto repetiu-se em 2013. Mais uma vez o grupo, que participa da Missa das 11h, de domingo, formado de mais de mil pessoas, levantou-se em defesa do Frei e de sua prática pastoral.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil
#NãoVaiTerCopa: expressão da direita fascista
¶Atos em algumas cidades do Brasil contra a realização do Mundial da Fifa teve pouco adesão, mas o saldo de destruição e violência foi alto: em São Paulo, um homem foi baleado no bairro nobre de Higienópolis, um carro particular, sem que o dono tivesse qualquer envolvimento com o protesto, foi queimado, e a fachada de um teatro totalmente destruída com pedras; 146 manifestantes foram detidos; boa parte, claro, tinha o rosto coberto por máscaras. ( brasil247.com )
#NãoVaiTerCopa: violência. Copa: 9 milhões por ingressos
¶Manifestações contra a Copa neste sábado (25) tiveram baixa adesão, depredações e muita confusão; em São Paulo, o protesto se encerrou com vandalismo, com uma viatura da Guarda Civil depredada e um carro particular incendiado; enquanto isso, a busca por ingressos bate recordes: já são 9 milhões de inscrições para assistir aos jogos nos estádios, segundo a Fifa
brasil274.com:
Por ANTONIO LASSANCE
Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de Futebol no Brasil
Profetas do pânico: os gupos que patrocinam a campanha anticopa
Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem sucedida em queimar o filme do evento.
Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos exemplos ao abandonarem seus compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.
A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra “cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos dirigentes de futebol do mundo inteiro.
Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre patrocinado pelos profetas do pânico.
O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.
Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.
Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil
O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações, disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil de dar conta do recado.
Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.
A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.
Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais triste de todas as copas.
“Hello!”: já fizemos uma copa antes
Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com muito menos condições do que temos agora.
Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.
O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame diante do mundo - o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”, a ideia de que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.
O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil – imbatível nesse aspecto.
O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na China”, de 1978).
O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs.
Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de futebol, e isso não é importante
O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival de besteiras que são ditas contra a Copa.
Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto uma planilha de gastos da copa.
A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.
A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.
Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura, serviços e formação de mão de obra.
Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.
O gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada (2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.
O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013, não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que cuida de aeroportos).
Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros serviços.
Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.
Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes
Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas.
Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.
Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão crescer de novo.
Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.
No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui, uma das razões é, sim, a Copa.
Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso (nas referências ao final está indicado onde encontrar mais detalhes).
Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela regulação mais firme sobre os planos de saúde.
Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.
Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.
Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício, geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém falar que isso não é importante.
Será que o raciocínio contra os estádios vale para a também para a Praça da Apoteose e para todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as igrejas de Ouro Preto e Mariana?
Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram o bondinho do Pão-de-Açúcar?
Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas. Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam.
Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar vexame
Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora?
Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da Copa do Mundo?
Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade, porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais de uma cidade?
O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreu atentados na Maratona Internacional de Boston, no ano passado.
O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.
O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um Panicopa no meio da torcida.
O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à diversidade e combate à homofobia.
O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de borracha.
Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias. Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.
Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil
De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).
Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio milhão de pessoas.
De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”, citado nas referências ao final).
Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.
Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais problemas
O Brasil tem de problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.
O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios.
Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.
Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave problema
É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.
Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro, imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença.
Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.
A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram: prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos, patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o mesmo.
Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa
Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.
Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona, quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”, enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas das bancas.
O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os grupos, nem a escalação dos times de cada seleção.
A maioria quer saber se o país irá funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho.
É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.
Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu
Funciona assim: os profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.
O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013? Entre outras coisas:
Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.
Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.
Que o preço dos alimentos estava fora de controle.
Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.
O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a Copa das Confederações foram entregues.
Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.
Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela. Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos profetas do pânico.
Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?
O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.
Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a data do juízo final, ou trocam de praga.
Agora, atenção todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua paciência acreditando nisso, pela enésima vez.
Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé
O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os ingênuos e os desinformados.
Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da campanha contra a Copa.
Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola, no trabalho, na família, na mesa de bar.
É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.
As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua.
Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.
A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.
É claro que as informações deste texto só fazem sentido para aqueles para quem as palavras “Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.
Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que têm que mostrar que isso existe sim.
Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente tentar colocar cada coisa em seu lugar.
Uma das maneiras de se colocar as coisas no lugar é desmascarar oportunistas que querem usar da pregação anticopa para atingir objetivos que nunca foram o de melhorar o país.
O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a tentativa de desmoralizar o Brasil.
É preciso enfrentar, confrontar e vencer esse debate. É preciso mostrar que esse pessoal que é profeta do pânico é ruim da cabeça ou doente do pé.
(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política
sábado, 25 de janeiro de 2014
Diretas Já: 30 anos - A maior mobilização cívica do Brasil
Dia 25 de janeiro de 2014, sábado, marca a data dos 30 anos
de começo da campanha das diretas-já. Foi uma imensa manifestação, com a
presença dos principais líderes da oposição à ditadura – Ulysses Guimarães,
Lula, Brizola, Tancredo, Montoro -, que se considera como o lançamento da
campanha pelas eleições diretas-já, contornando o projeto de transição
controlada colocado em prática pela ditadura, que previa as primeiras eleições
presidenciais sem controle direto das FFAA, pelo Colégio Eleitoral e não pelo
voto direto.
Do ig.com.br:
Politizado, pacífico, objetivo e marcado por uma febre de rebeldia e civismo que contagiou todas as classes, a campanha pelas Diretas Já completa 30 anos como o maior e mais consequente movimento de massas do Brasil.
"Jamais passou pela cabeça do Dante que a emenda se transformaria num fantástico movimento de massas", revela a ex-deputada Thelma de Oliveira, viúva do deputado federal Dante de Oliveira, autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de 2 de março de 1983 que estabelecia eleições diretas para presidente e seria o estopim do movimento.
Segundo ela, a presença de lideranças, a pauta objetiva e o caráter pacifista (não há registro de que uma lixeira sequer tenha sido virada) despertaram a forte participação popular. "A emenda representou o desejo de mudanças. O objetivo era trocar a ditadura, o inimigo comum, por um presidente eleito”, lembra Thelma, com uma pitada de saudosismo: “É preciso resgatar o espírito da campanha das Diretas.”
A campanha propriamente dita só passaria a valer e pegaria fogo a partir de 25 de janeiro de 1984, no célebre comício da Praça da Sé, em São Paulo, onde 300 mil pessoas ilharam o heterogêneo palanque e tiraram da zona do medo uma oposição que, traumatizada pela violência de 20 anos de arbítrio, ainda resistia em ousar.
Ao fixar os olhos na multidão, Carlos Castelo Branco, um dos mais importantes analistas políticos da época, profetizou: "Pode mudar a história, desde que seja o ponto de partida para outros iguais."
Castelinho sabia do que falava: o governo, sob o comando do general João Batista Figueiredo, tinha o domínio da máquina e das armas, a linha dura militar conspirava ameaçadoramente para perpetuá-lo, o povo ainda andava "falando de lado e olhando pro chão" e o medo assustava inclusive os 16 governadores que a oposição, empanturrada de votos, elegera dois anos antes, na mais importante concessão da abertura política.
A escalada dos comícios
Em 27 de novembro, no primeiro ato organizado, não mais que 15 mil pessoas se concentrariam na Praça Charles Müller, em São Paulo. O ânimo ainda estava baixo.
A partir do comício da Sé, a campanha se agigantaria, levando outras 300 mil pessoas à Praça Afonso Pena, em Belo Horizonte, 250 mil (um quarto da população) em Goiânia, um milhão à Candelária, no Rio, em 10 de abril, e, no encerramento, seis dias depois, 1,5 milhão no Anhangabaú, em São Paulo.
A expectativa dos brasileiros (130 milhões pelo senso da época) era pela aprovação da emenda apresentada pelo jovem deputado Dante de Oliveira, egresso dos quadros do MR-8. A poucos instantes do encerramento do jogo, no entanto, o regime apelou. Medidas de emergência editadas às vésperas da votação, que se deu em 25 de abril, espalharam tropas pelas ruas de Brasília, os veículos de comunicação foram censurados e a Câmara, com uma maioria subserviente aos militares, acabou capitulando. Faltaram míseros 22 votos para concluir a revolução pacífica que promoveria a ruptura pela via democrática.
Organizado nas pranchetas dos generais, o placar seria definido pelo grande número de deputados situacionistas que, embora presentes na Câmara, usaram a estratégia de se ausentar do plenário – como fizeram o próprio candidato do regime no futuro Colégio Eleitoral, Paulo Maluf, e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão.
Se o povo nas ruas não derrubou imediatamente a ditadura, pelo menos apressou seu fim. Ao eleger um presidente civil no mesmo Colégio Eleitoral que "aclamava" os generais, forçou a convocação da Constituinte e, sete anos depois, estaria de pé e firme para exigir o primeiro impeachment de um presidente democraticamente eleito.
Do site cartamaior.com.br:
A manipulação da Globo:
Há exatos 30 anos, cerca de 300 mil pessoas foram à Praça da Sé, em São Paulo, para reivindicar eleições diretas para presidente. No palanque, políticos, artistas, sindicalistas e estudantes. Era o maior ato político ocorrido nos primeiros 20 anos da ditadura brasileira, com todo o seu saldo de mortes, torturas, desaparecimentos forçados, censuras e supressões dos direitos individuais. Mas o foco da reportagem que o telejornal de maior audiência do país, o Jornal Nacional, da TV Globo, levou ao ar naquela noite, era a comemoração pelos 430 anos de São Paulo.
O histórico comício da Praça da Sé ocorreu em um momento em que o Brasil reunificava suas forças para tentar por fim ao regime de exceção, em um movimento crescente. Treze dias antes, um outro ato político realizado em Curitiba (PR), com a mesma finalidade, havia sido completamente ignorado pela emissora. Mesmo a chamada para o ato que os organizadores tentaram veicular na TV como publicidade paga não foi aceita pela direção. O Jornal Nacional nada falou sobre o comício que levou 50 mil pessoas às ruas da capital paranaense. Antes dele, outros, menores, já ocorriam em várias cidades brasileiras desde 1983. Nenhum mereceu cobertura.
Em 1982, a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 22 permitiu eleições diretas para governadores. Entretanto, previa que, em 1985, fosse realizada eleição indireta para o novo presidente, a ser escolhido por um colégio de líderes formado por senadores, deputados federais e delegados das assembleias legislativas estaduais. Os brasileiros, porém, queriam enterrar de vez os anos de arbítrio. Oposição e movimentos sociais se uniram para pedir Diretas Já.
Aliada inconteste da ditadura civil militar, a TV Globo demorou a acertar na análise da conjuntura. Acompanhando a leitura rasa dos militares que ocupavam o Palácio do Planalto, acreditou que os atos por eleições diretas não passariam de “arroubos patrióticos”, como depois definiria seu então diretor de Jornalismo, Armando Nogueira. Mas a estratégia de ignorar as diversas manifestações que pipocavam em várias cidades do país já estava arranhando sua credibilidade. Decidiu mudar.
Quando a multidão ocupou a Praça da Sé, a Globo optou por maquiar o ato e alterar suas finalidades. No telejornal mais visto do país, o apresentador Sérgio Chapelin fez a seguinte chamada: “A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé”. A matéria que entrava a seguir, do repórter Ernesto Paglia, evidenciava os 30 anos da Catedral da Sé e os shows artísticos pelo aniversário da cidade. Só no finalzinho, o repórter dizia que as pessoas pediam a volta das eleições diretas para presidente, como se aquilo tivesse sido um rompante espontâneo no evento convocado para outros fins.
Apesar da postura da maior rede de TV nacional, a campanha Diretas Já ganhava o país. No dia 24 de fevereiro, um novo grande comício foi realizado em Belo Horizonte (MG), e reuniu um contingente ainda maior de pessoas do que o de São Paulo. No mesmo Jornal Nacional, apenas rápidas imagens da multidão que saiu às ruas e dos muitos oradores que pediam o fim da ditadura, acompanhados de um texto que desvirtuam o sentido do ato.
A hostilidade com que os manifestantes tratavam a emissora só fazia aumentar. Foi nesta época que os protestos de rua passaram a bradar o slogan ouvido até hoje: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Foi nesta época também que os repórteres da Globo passaram a ser achincalhado nas ruas. Alguns sofreram agressões físicas.
Roberto Marinho, o fundador da emissora, era comprometido com a ditadura até o pescoço. Afinal, foram os militares que encobriram as irregularidades que marcaram a inauguração da TV Globo, investigada por uma CPI Parlamentar por conta de ter recebido injeção ilícita de capital estrangeiro, no escândalo conhecido como Caso Time-Life. E também foram os militares que ajudaram a emissora a se tornar a maior do país, em troca de apoio sistemático ao regime de exceção.
Mas Marinho não era burro. Viu que era impossível conter a nova força política que se tornava hegemônica no país e, de uma hora para outra, virou seu jogo. No dia 10 de abril, duas semanas do Congresso votar a proposta de eleições diretas já, ele autorizou que sua emissora cobrisse à campanha. O comício realizado aquela noite, no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas na Candelária, enfim ganhou espaço devido no Jornal Nacional.
A emenda que previa as Diretas Já, apresentada pelo até então quase desconhecido Dante de Oliveira, não foi aprovada. Mas Marinho já estava aliado com as forças que venceriam a eleição indireta: Tancredo Neves, o presidente eleito que morreu antes de tomar posse, e José Sarney, que por uma contingência do destino, iria assumir o posto. Naquela época, a família Sarney já controlava a mídia no seu estado de origem, o Maranhão. Reza a crônica política que, de olho em uma parceria de sucesso com a Globo, o novo presidente da república submeteu até mesmo o nome de seu ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, à aprovação de Roberto Marinho.
Do Rede Brasil Atual:
Do ig.com.br:
Politizado, pacífico, objetivo e marcado por uma febre de rebeldia e civismo que contagiou todas as classes, a campanha pelas Diretas Já completa 30 anos como o maior e mais consequente movimento de massas do Brasil.
"Jamais passou pela cabeça do Dante que a emenda se transformaria num fantástico movimento de massas", revela a ex-deputada Thelma de Oliveira, viúva do deputado federal Dante de Oliveira, autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de 2 de março de 1983 que estabelecia eleições diretas para presidente e seria o estopim do movimento.
Segundo ela, a presença de lideranças, a pauta objetiva e o caráter pacifista (não há registro de que uma lixeira sequer tenha sido virada) despertaram a forte participação popular. "A emenda representou o desejo de mudanças. O objetivo era trocar a ditadura, o inimigo comum, por um presidente eleito”, lembra Thelma, com uma pitada de saudosismo: “É preciso resgatar o espírito da campanha das Diretas.”
A campanha propriamente dita só passaria a valer e pegaria fogo a partir de 25 de janeiro de 1984, no célebre comício da Praça da Sé, em São Paulo, onde 300 mil pessoas ilharam o heterogêneo palanque e tiraram da zona do medo uma oposição que, traumatizada pela violência de 20 anos de arbítrio, ainda resistia em ousar.
Ao fixar os olhos na multidão, Carlos Castelo Branco, um dos mais importantes analistas políticos da época, profetizou: "Pode mudar a história, desde que seja o ponto de partida para outros iguais."
Castelinho sabia do que falava: o governo, sob o comando do general João Batista Figueiredo, tinha o domínio da máquina e das armas, a linha dura militar conspirava ameaçadoramente para perpetuá-lo, o povo ainda andava "falando de lado e olhando pro chão" e o medo assustava inclusive os 16 governadores que a oposição, empanturrada de votos, elegera dois anos antes, na mais importante concessão da abertura política.
A escalada dos comícios
Em 27 de novembro, no primeiro ato organizado, não mais que 15 mil pessoas se concentrariam na Praça Charles Müller, em São Paulo. O ânimo ainda estava baixo.
A partir do comício da Sé, a campanha se agigantaria, levando outras 300 mil pessoas à Praça Afonso Pena, em Belo Horizonte, 250 mil (um quarto da população) em Goiânia, um milhão à Candelária, no Rio, em 10 de abril, e, no encerramento, seis dias depois, 1,5 milhão no Anhangabaú, em São Paulo.
A expectativa dos brasileiros (130 milhões pelo senso da época) era pela aprovação da emenda apresentada pelo jovem deputado Dante de Oliveira, egresso dos quadros do MR-8. A poucos instantes do encerramento do jogo, no entanto, o regime apelou. Medidas de emergência editadas às vésperas da votação, que se deu em 25 de abril, espalharam tropas pelas ruas de Brasília, os veículos de comunicação foram censurados e a Câmara, com uma maioria subserviente aos militares, acabou capitulando. Faltaram míseros 22 votos para concluir a revolução pacífica que promoveria a ruptura pela via democrática.
Organizado nas pranchetas dos generais, o placar seria definido pelo grande número de deputados situacionistas que, embora presentes na Câmara, usaram a estratégia de se ausentar do plenário – como fizeram o próprio candidato do regime no futuro Colégio Eleitoral, Paulo Maluf, e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão.
Se o povo nas ruas não derrubou imediatamente a ditadura, pelo menos apressou seu fim. Ao eleger um presidente civil no mesmo Colégio Eleitoral que "aclamava" os generais, forçou a convocação da Constituinte e, sete anos depois, estaria de pé e firme para exigir o primeiro impeachment de um presidente democraticamente eleito.
Do site cartamaior.com.br:
A manipulação da Globo:
Há exatos 30 anos, cerca de 300 mil pessoas foram à Praça da Sé, em São Paulo, para reivindicar eleições diretas para presidente. No palanque, políticos, artistas, sindicalistas e estudantes. Era o maior ato político ocorrido nos primeiros 20 anos da ditadura brasileira, com todo o seu saldo de mortes, torturas, desaparecimentos forçados, censuras e supressões dos direitos individuais. Mas o foco da reportagem que o telejornal de maior audiência do país, o Jornal Nacional, da TV Globo, levou ao ar naquela noite, era a comemoração pelos 430 anos de São Paulo.
O histórico comício da Praça da Sé ocorreu em um momento em que o Brasil reunificava suas forças para tentar por fim ao regime de exceção, em um movimento crescente. Treze dias antes, um outro ato político realizado em Curitiba (PR), com a mesma finalidade, havia sido completamente ignorado pela emissora. Mesmo a chamada para o ato que os organizadores tentaram veicular na TV como publicidade paga não foi aceita pela direção. O Jornal Nacional nada falou sobre o comício que levou 50 mil pessoas às ruas da capital paranaense. Antes dele, outros, menores, já ocorriam em várias cidades brasileiras desde 1983. Nenhum mereceu cobertura.
Em 1982, a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 22 permitiu eleições diretas para governadores. Entretanto, previa que, em 1985, fosse realizada eleição indireta para o novo presidente, a ser escolhido por um colégio de líderes formado por senadores, deputados federais e delegados das assembleias legislativas estaduais. Os brasileiros, porém, queriam enterrar de vez os anos de arbítrio. Oposição e movimentos sociais se uniram para pedir Diretas Já.
Aliada inconteste da ditadura civil militar, a TV Globo demorou a acertar na análise da conjuntura. Acompanhando a leitura rasa dos militares que ocupavam o Palácio do Planalto, acreditou que os atos por eleições diretas não passariam de “arroubos patrióticos”, como depois definiria seu então diretor de Jornalismo, Armando Nogueira. Mas a estratégia de ignorar as diversas manifestações que pipocavam em várias cidades do país já estava arranhando sua credibilidade. Decidiu mudar.
Quando a multidão ocupou a Praça da Sé, a Globo optou por maquiar o ato e alterar suas finalidades. No telejornal mais visto do país, o apresentador Sérgio Chapelin fez a seguinte chamada: “A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé”. A matéria que entrava a seguir, do repórter Ernesto Paglia, evidenciava os 30 anos da Catedral da Sé e os shows artísticos pelo aniversário da cidade. Só no finalzinho, o repórter dizia que as pessoas pediam a volta das eleições diretas para presidente, como se aquilo tivesse sido um rompante espontâneo no evento convocado para outros fins.
Apesar da postura da maior rede de TV nacional, a campanha Diretas Já ganhava o país. No dia 24 de fevereiro, um novo grande comício foi realizado em Belo Horizonte (MG), e reuniu um contingente ainda maior de pessoas do que o de São Paulo. No mesmo Jornal Nacional, apenas rápidas imagens da multidão que saiu às ruas e dos muitos oradores que pediam o fim da ditadura, acompanhados de um texto que desvirtuam o sentido do ato.
A hostilidade com que os manifestantes tratavam a emissora só fazia aumentar. Foi nesta época que os protestos de rua passaram a bradar o slogan ouvido até hoje: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Foi nesta época também que os repórteres da Globo passaram a ser achincalhado nas ruas. Alguns sofreram agressões físicas.
Roberto Marinho, o fundador da emissora, era comprometido com a ditadura até o pescoço. Afinal, foram os militares que encobriram as irregularidades que marcaram a inauguração da TV Globo, investigada por uma CPI Parlamentar por conta de ter recebido injeção ilícita de capital estrangeiro, no escândalo conhecido como Caso Time-Life. E também foram os militares que ajudaram a emissora a se tornar a maior do país, em troca de apoio sistemático ao regime de exceção.
Mas Marinho não era burro. Viu que era impossível conter a nova força política que se tornava hegemônica no país e, de uma hora para outra, virou seu jogo. No dia 10 de abril, duas semanas do Congresso votar a proposta de eleições diretas já, ele autorizou que sua emissora cobrisse à campanha. O comício realizado aquela noite, no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas na Candelária, enfim ganhou espaço devido no Jornal Nacional.
A emenda que previa as Diretas Já, apresentada pelo até então quase desconhecido Dante de Oliveira, não foi aprovada. Mas Marinho já estava aliado com as forças que venceriam a eleição indireta: Tancredo Neves, o presidente eleito que morreu antes de tomar posse, e José Sarney, que por uma contingência do destino, iria assumir o posto. Naquela época, a família Sarney já controlava a mídia no seu estado de origem, o Maranhão. Reza a crônica política que, de olho em uma parceria de sucesso com a Globo, o novo presidente da república submeteu até mesmo o nome de seu ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, à aprovação de Roberto Marinho.
Do Rede Brasil Atual:
Em vídeo, ex-presidente rememora comício na Sé, afirma que campanha foi a maior mobilização cívica da história do Brasil e lamenta que pressão não tenha sensibilizado 'direita conservadora'
Jorge Araújo/Folhapress
Lula celebra o fato de o movimento ter conseguido unificar sindicatos, partidos, empresários e estudantes
São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou hoje (25) vídeo recordando os 30 anos do comício na praça da Sé, em São Paulo, pelas eleições diretas para a Presidência da República. Para ele, a mobilização fortalecida naquela data representa “o maior movimento cívico de toda a história dos 500 anos de Brasil”.
Embora tenha tido início em novembro de 1983, a série de comícios das Diretas Já teve naquele 25 de janeiro uma data emblemática, quando de 200 mil a 300 mil pessoas se reuniram no marco zero da capital paulista para cobrar a retomada da democracia, interrompida 20 anos antes pelo golpe contra o presidente constitucional João Goulart.
“O dado concreto é que fizemos talvez a campanha mais extraordinária que esse país já conheceu. Porque conseguiu unificar todo mundo. Conseguiu unificar o movimento sindical, o movimento estudantil, os empresários, todos os partidos, com exceção dos partidos de direita, e, na medida em que a campanha foi criando força, foi criando um incômodo nas pessoas que preferiam fazer um acordo com os militares para fazer uma transição pacífica do que fazer as eleições diretas para presidente”, avalia Lula.
Ao comentar o processo de mobilização, Lula fez um pedido para que os jovens pesquisem sobre a história recente brasileira e tentem entender o movimento pelas diretas: “Precisamos aprender a valorizar a democracia. A democracia, em qualquer lugar do mundo, foi conquistada às custas de muita luta, de muito sacrifício, de muita morte. A democracia não foi de graça em nenhum lugar do mundo.”
Embora tenha tido início em novembro de 1983, a série de comícios das Diretas Já teve naquele 25 de janeiro uma data emblemática, quando de 200 mil a 300 mil pessoas se reuniram no marco zero da capital paulista para cobrar a retomada da democracia, interrompida 20 anos antes pelo golpe contra o presidente constitucional João Goulart.
“O dado concreto é que fizemos talvez a campanha mais extraordinária que esse país já conheceu. Porque conseguiu unificar todo mundo. Conseguiu unificar o movimento sindical, o movimento estudantil, os empresários, todos os partidos, com exceção dos partidos de direita, e, na medida em que a campanha foi criando força, foi criando um incômodo nas pessoas que preferiam fazer um acordo com os militares para fazer uma transição pacífica do que fazer as eleições diretas para presidente”, avalia Lula.
- Ao longo dos três meses seguintes, ele, pelo recém-fundado PT, Leonel Brizola, pelo PDT, e Ulysses Guimarães, pelo PMDB, rodaram o país em comícios multitudinários que fizeram com que a ditadura não pudesse mais ignorar a mobilização. “A pressão das massas não foi capaz de sensibilizar a direita conservadora que queria se manter no poder”, recorda Lula. Em paralelo ao movimento cívico, setores mais moderados da oposição ao regime tentavam negociar uma transição pela via indireta, o que acabou prevalecendo quando, em 25 de abril, o Congresso rejeitou a emenda apresentada pelo deputado mato-grossense Dante de Oliveira para retomar a escolha direta do presidente. “No ano seguinte a gente conseguiu fazer com que o colégio eleitoral elegesse o primeiro civil presidente da República desde 1964.”
Ao comentar o processo de mobilização, Lula fez um pedido para que os jovens pesquisem sobre a história recente brasileira e tentem entender o movimento pelas diretas: “Precisamos aprender a valorizar a democracia. A democracia, em qualquer lugar do mundo, foi conquistada às custas de muita luta, de muito sacrifício, de muita morte. A democracia não foi de graça em nenhum lugar do mundo.”
Neste vídeo, o ex-presidente rememora este dia e também os outros comícios que marcaram época no que ele chama de “o maior movimento cívico na história dos 500 anos do Brasil”. Lula lembra também que mesmo com a derrota no Congresso Nacional, o movimento das Diretas Já foi o que conseguiu acabar com o regime militar que comandava o país.
Lula afirma ainda que se sente muito feliz de ter vivido e participado de todo o movimento das Diretas Já e ressalta que “nós precisamos aprender a valorizar a democracia”.
Assista a íntegra do vídeo aqui:
O copo e o vento: a realidade liquida a teoria vazia e cheia de ar
Artigo de João Paulo - Editor de Cultura do Jornal Estado de Minas, em sua coluna no Caderno Pensar ( 25/01/2014) analisa o tratamento dado à economia no contexto das disputas políticas e afirma que o que vale é a realidade traduzida pela melhoria de vida das pessoas no dia a dia. A explicitação de projetos divergentes com suas propostas concretas é que vai fazer o eleitor definir sua opção. Não com a escolha de Deus e o diabo, entre mentiras e verdades, a modernidade e o atraso. Na vida, como na política, as metáforas são apenas fantasmas, afirma o colunista e ainda conclui:
¨ Quem vota não são os colunistas de economia e seus leitores, cada vez mais parcos e desinformados, mas as pessoas comuns. E, por uma regra de mercado, destas que não costumam falhar, geralmente a maioria está certa, já que a inteligência e o bom senso não são atributos de classe. ¨
MAGAZINE CONECTION
¨ Para os colunistas de economia e seus leitores, a economia vai mal. Já para as pessoas comuns a sensação é outra. Mesmo com a ameaça da inflação como grande atiçador brandido por parte da oposição, a melhoria do padrão de vida é patente. Programas sociais vitoriosos – na área da distribuição de renda, oportunidades na educação e moradia – são traduzidos no dia a dia como novo patamar qualitativo de existência. E, o que é mais significativo, alteram a relação das pessoas com a sociedade e com a autoestima. ¨
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Leia o artigo completo:
O Copo e o Vento
Por João Paulo - Editor de Cultura - Jornal Estado de Minas
Caderno Pensar
Copo d'água, obra do artista plástico Iran do Espírito Santo, que pode ser vista na Galeria Mata, em Inhotim
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“É sempre bom lembrar/ que o copo vazio/ está cheio de ar.” Os versos de inspiração zen-budista da canção de Gilberto Gil parecem sintetizar, muitos anos depois, a situação real do nada sagrado tempo em que vivemos. Enquanto poucos e eloquentes cantam o copo vazio da crise que se avizinha inexoravelmente, a maioria parece bastante otimista, tocada pelo vento seguro, como uma nau de velas pandas.
Em outro contexto, o psicanalista francês Jacques Lacan apelava para a existência de três constituintes do universo psicológico – o real, o simbólico e o imaginário. Não parece ser outra a relação das pessoas com a sociedade e a política. Há o real, dos que vivem o dia a dia; o imaginário, dos que desejam outro cenário; e o simbólico, que pode ser traduzido nas ideologias que de certa forma amparam os dois lados em conflito.
O que a canção e a psicanálise têm a nos dizer, quando se trata de economia e crise, é que sabemos sempre menos do que precisamos. As certezas se mostram a cada dia mais caducas e exigem não apenas abertura para o novo, mas honestidade de propósitos. Algo que é essencial sempre, mas que se torna civilizador quando se entra, como agora, no calor de uma eleição.
O ponto de discordância entre os pessimistas – do meio copo vazio – e os otimistas – do copo meio cheio – é, mais uma vez, a precedência dada à economia quando se discutem divergências políticas. Tudo se passa como se houvesse alguns universais a serem perseguidos (controle da inflação, estabilidade, pleno emprego, crescimento sustentável) e pequenas diferenças na forma de chegar a esses objetivos.
No entanto, a própria colocação do problema já antecipa o sentido do debate. É preciso lembrar sempre que a opinião pública, de certa maneira traduzida no Brasil pela opinião publicada pela chamada grande imprensa, parece ter apenas como norte a defesa dos valores liberais de mercado. Para entrar na roda, é preciso de antemão se localizar entre os “capitalistas modernos”, que pela cartilha da mídia é quase uma redundância. Ainda que falsa em seus fundamentos.
Por isso, o tratamento dado à economia no contexto das disputas políticas precisa ser feito com mais honestidade. Tipo papo reto. Não há consenso, como se propaga, que o melhor receituário é o que incorpora a inflação na meta, câmbio livre e equilíbrio fiscal, com atenção especial ao superávit primário. Essa equação quase sempre desanda para a subida de juros, volatilidade de capitais e garantia do ganho do setor financeiro rentista, mesmo à custa do arrocho do contribuinte.
Trata-se de uma economia ligada a valores que são menos do mercado (uma entidade quase mágica) e mais do capital (que pode ser fetichista, mas não tem nada de irreal). Os chamados fundamentos da economia são, na realidade, uma forma técnica de defesa de uma opção nitidamente política. Além do mais, tal receituário, aplicado por décadas nos países ricos com o lastro das economias dependentes, está fazendo água, com alto grau de desemprego e insegurança social em muitos países da Europa. A ideia de uma social-democracia para poucos não pode mais subsistir num cenário de demanda real de melhoria do padrão de vida para todos.
No lado da economia das pessoas comuns a sensação é outra. Mesmo com a ameaça da inflação como grande atiçador brandido por parte da oposição, a melhoria do padrão de vida é patente. Programas sociais vitoriosos – na área da distribuição de renda, oportunidades na educação e moradia – são traduzidos no dia a dia como novo patamar qualitativo de existência. E, o que é mais significativo, alteram a relação das pessoas com a sociedade e com a autoestima. Há uma postulação de direitos, tomados como naturais e evidentes, que é ainda mais importante que as conquistas meramente materiais.
Se o fato fosse apenas a distinção de projetos para a sociedade brasileira – e é para isso que servem as eleições – tudo estaria no melhor dos mundos. Bastaria apresentar as propostas existentes e dar ao povo liberdade de escolher. No entanto, o que se percebe é um atravessamento moral do debate, como se estivesse em jogo a verdade ou, em outras palavras, o bem contra o mal. Sempre que se descamba para o terreno do moralismo, quem perde primeiro é a política. Uma eleição que resgata a política começa bem. É o que se espera dos próximos lances. Ou então, o que sobra é um misto de descontentamento alienante (“todo político é ladrão”) somado a uma cobrança por eficiência (“padrão Fifa” ou “Primeiro Mundo”).
O projeto liberal, representado pela oposição – e por isso é bom que Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão de Fernando Henrique Cardoso, esteja sendo apresentado, ainda que informalmente, como economista-orgânico de Aécio Neves, possível candidato do PSDB às eleições presidenciais –, vai na linha da defesa dos chamados fundamentos da economia de mercado. São propostas vindas do setor financeiro, com trânsito privilegiado pelo mercado de capitais, como indica a origem de Fraga.
É isso que a eleição pode trazer de melhor, a explicitação de projetos divergentes, com defesas consistentes dos dois lados: o neodesenvolvimentista, do atual governo; e o neoliberal, das oposições (para ficar mais amplo, é só lembrar que no caso de Eduardo Campos, virtual candidato do PSB, sai Armínio e entra Giannetti da Fonseca na seara da economia, sem mudanças substanciais). É com esses elementos, desdobrados nos debates em propostas concretas, que o eleitor vai ter que se dar para fazer sua opção. Não com a escolha entre Deus e o diabo, entre a mentira e verdade, a modernidade e o atraso. Na vida, como na política, as metáforas são apenas fantasmas.
MAGAZINE CONECTION
No começo da semana, num programa da TV paga, Manhattan conection (um exemplo antipático de subserviência colonial e intelectual da mídia brasileira, que costuma indicar o melhor pãozinho de NY), a empresária Luzia Trajano, dona de uma rede de lojas de varejo, foi posta na arena dos leões do ultraliberalismo. Em desvantagem numérica – estava sozinha contra um economista e três jornalistas alinhados com a tese do copo vazio –, ela mostrou números, propósitos e ações que fazem a diferença entre a teoria catastrofista e a realidade.
De um lado, a ameaça da bolha; do outro, a celebração do crescimento do emprego e do consumo; um setor defendendo o capital transnacional, a varejista apontando a especificidade do nosso mercado. O programa foi ainda exemplar em outro aspecto, sobre o qual ainda temos que melhorar muito: a capacidade de ouvir o outro. Na arrogância que caracteriza a elite brasileira (da qual a imprensa é um bom sucedâneo), existe sempre a palavra autorizada, que um dia Marilena Chauí nomeou de “discurso competente”. Luzia, na contramão desse jogo de cartas marcadas, levou ao telespectador, além da comunicação fácil e sincera, a sabedoria que faltava a quem sempre se defendeu mais com padrões morais que com a realidade.
Luiza pode ser empresária, mas é mulher, deixa claro que veio de baixo e atua num setor pouco charmoso do mercado (vender papéis podres e carros insustentáveis é mais chique que negociar chapinhas e tanquinhos). Por isso tinha tudo para ser diminuída e tratada como um dinossauro (o jornalista Diogo Mainardi, que mostrou sua ignorância com relação aos números da inadimplência brasileira no comércio, chegou a varticinar a venda do magazine para uma pontocom americana). O resultado, no entanto, como se viu durante a semana nas redes sociais, foi uma empatia dos argumentos da empresária com o sentimento das pessoas.
Essa talvez seja a lição mais importante para quem está preocupado em dar o rumo certo ao debate econômico durante o franco período eleitoral que vivemos. Quem vota não são os colunistas de economia e seus leitores, cada vez mais parcos e desinformados, mas as pessoas comuns. E, por uma regra de mercado, destas que não costumam falhar, geralmente a maioria está certa, já que a inteligência e o bom senso não são atributos de classe. Uma Luzia Trajano vale mais que quatro comentaristas. Com o voto, a lógica é a mesma: a realidade sempre liquida a teoria vazia e cheia de ar.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Números da economia desmentem os pessimistas de plantão
Receita frustra “nervosinhos” e arrecadação de 2013 é recorde
Os números definitivos da arrecadação federal, divulgados agora à tarde, desmontam a histeria dos “nervosinhos” que choravam a falta do superávit primário e bradavam contra o “descontrole das contas públicas”. A receita total em 2013 foi de R$ 1.138,3 bilhões. 10,6% maior que em 2012 em valores nominais e 4,08% superior, já descontada a inflação.
Petrobras 42 a 0 nos urubus do pré-sal
Um post do blog Fatos e Dados, da Petrobras, confirmou o que o Tijolaço tinha informado. TODOS os 42 poços perfurados no pré-sal em 2013 encontraram petróleo. E na Bacia de Santos, a produtividade de cada um deles deixa no chinelo a média das maiores provícias petrolíferas do mundo.
Os números definitivos da arrecadação federal, divulgados agora à tarde, desmontam a histeria dos “nervosinhos” que choravam a falta do superávit primário e bradavam contra o “descontrole das contas públicas”. A receita total em 2013 foi de R$ 1.138,3 bilhões. 10,6% maior que em 2012 em valores nominais e 4,08% superior, já descontada a inflação.
Petrobras 42 a 0 nos urubus do pré-sal
Um post do blog Fatos e Dados, da Petrobras, confirmou o que o Tijolaço tinha informado. TODOS os 42 poços perfurados no pré-sal em 2013 encontraram petróleo. E na Bacia de Santos, a produtividade de cada um deles deixa no chinelo a média das maiores provícias petrolíferas do mundo.
- Brasil cria mais de 1,1 milhão de empregos em 2013
¶Dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e foram divulgados nesta terça-feira 21 pelo Ministério do Trabalho; no comércio, houve crescimento de 3,36% (+301.095 vagas) e, na construção civil, de 3,44% (+107.024 vagas); serviços, comércio e construção civil foram os setores com maior aumento de postos de trabalho em valores relativos
Inadimplência do consumidor cai 2% em 2013
¶De acordo com a Serasa Experian, o recuo anual foi puxado por uma queda de 9,4% no volume de cheques devolvidos e uma retração de 4,8% na inadimplência de dívidas não bancárias
Volume de financiamento em R$ 109,2 bilhões, registrado em 2013, representa alta de 32% sobre o volume de 2012; bom desempenho foi obtido pela manutenção do emprego e renda do trabalhador, além da maior liberação de crédito, avalia o presidente da Abecipe, que divulgou os dados
2013: o melhor ano da
indústria automobilística !
A indústria automobilística encerrou 2013 com produção de 3,7 milhões de veículos, o que representa aumento de 9,9% na comparação com 2012 e indica o melhor desempenho da história do setor. Os dados foram divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O total de veículos novos nacionais licenciados também obteve desempenho recorde, com um total de 3,06 milhões de unidades, resultado 1,5% acima de 2012. Em dezembro, os licenciamentos cresceram 17% na comparação com novembro.
Incluindo os emplacamentos de automóveis importados, o total de veículos vendidos subiu para 3,7 milhões de unidades, quantidade 0,9% inferior à de 2012. A participação dos importados no licenciamento ficou em 18,8%, ante 20,7% no ano anterior.
As exportações em 2013 atingiram o melhor desempenho da história, com crescimento de 13,5%, totalizando US$ 16,5 milhões.
Fonte:
2013: o melhor ano da
indústria automobilística !
A indústria automobilística encerrou 2013 com produção de 3,7 milhões de veículos, o que representa aumento de 9,9% na comparação com 2012 e indica o melhor desempenho da história do setor. Os dados foram divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O total de veículos novos nacionais licenciados também obteve desempenho recorde, com um total de 3,06 milhões de unidades, resultado 1,5% acima de 2012. Em dezembro, os licenciamentos cresceram 17% na comparação com novembro.
Incluindo os emplacamentos de automóveis importados, o total de veículos vendidos subiu para 3,7 milhões de unidades, quantidade 0,9% inferior à de 2012. A participação dos importados no licenciamento ficou em 18,8%, ante 20,7% no ano anterior.
As exportações em 2013 atingiram o melhor desempenho da história, com crescimento de 13,5%, totalizando US$ 16,5 milhões.
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agência brasil
O SUS, o parasitismo do mercado e a falta de regulamentação
Por Carlos Octávio Ocké-Reis*
Economista e técnico do Ipea defende que, pelo fortalecimento do sistema de saúde, partidos, centrais e sociedade combinem luta em defesa do sistema com a regulamentação do mercado de planos privados
© atendimento.org / reprodução
No Brasil, a luta política por melhores condições de saúde e de assistência médica em todos os níveis de atenção é vital. Os partidos do campo democrático-popular, as centrais sindicais e a sociedade civil organizada precisam combinar a luta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e da regulamentação do mercado de planos de saúde.
Sem projeto estratégico para fortalecer o SUS, uma visão fiscalista, em que o fomento ao mercado de planos aparece como solução pragmática para desonerar as contas públicas, passa a fazer parte do ideário de setores economicistas no governo (social-liberalismo).
Em termos concretos, o subfinanciamento e a captura da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) revelam uma opção, consciente ou não, pelo crescimento e pela autorregulação do mercado de planos, valorando positivamente o subsistema privado, a estratificação de clientela e um modelo de proteção liberal.
Nessa linha, a integração social da nova ‘classe média’ via consumo de planos de saúde passa a ser vista enquanto elemento de legitimação política do governo às vésperas das eleições de 2014. Mas esse equívoco poderá trazer sérias consequências para as condições de saúde da população: até nos Estados Unidos, em plena crise econômica internacional, o presidente Barack Obama atacou o mercado de planos e propôs uma ampliação da intervenção governamental devido à ineficiência e aos altos custos que o modelo privado impõe ao sistema de saúde estadunidense.
Quais seriam, então, os desafios para mudar esse quadro e reconstruir um modelo de proteção social público na área da saúde, tendo como norte as experiências exitosas do universalismo?
O modelo liberal não foi aquele adotado pela maioria dos países desenvolvidos, que fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Por sua vez, no Brasil, após a extinção da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) – que foi capitaneada pela oposição ao governo Lula em fins de 2007 – o Congresso Nacional aprovou a regulamentação da Emenda 29 sem o comprometimento de a União participar com dez por cento do seu orçamento, ignorando, em parte, os problemas de financiamento e gestão do SUS.
No entanto, em razão das atuais circunstâncias históricas, as relações mercantis do setor de saúde não serão extintas por decreto. Em que pese a lógica excludente do mercado, encerrada nos lucros extraordinários e na radicalização da seleção de riscos, a sua negação precisa ser mediada na teoria e na prática, no contexto de uma estratégia defensiva de acúmulo de forças, que pressuponha uma agenda de reforma pública do sistema de saúde brasileiro em direção à consolidação do orçamento da seguridade social e ao fortalecimento do SUS.
Além do mais, essa agenda de reforma deve reivindicar que a regulação do mercado seja polarizada pela lógica do seguro social e que o mercado passe a funcionar sem recursos financeiros do Estado, sob pena de que a tese correta, aquela contrária à estratificação de clientela, continue impotente, na prática, para barrar o parasitismo do mercado de planos de saúde em relação ao Estado, ao padrão de financiamento público e ao SUS.
Igualmente, não existe a rigor uma demanda ‘extra-SUS’, uma vez que a clientela da medicina privada utiliza, largamente, os bens e serviços do SUS (vacinação, urgência e emergência, bancos de sangue, remédios, serviços de alto custo e de alta complexidade tecnológica etc.). Deste modo, se não bastassem os subsídios do Estado que patrocinam o mercado de planos de saúde desde 1968, o SUS hoje socializa os custos deste mercado.
De sorte que o problema não é o SUS, e sim o mercado – que acumula capital, radicaliza a seleção de riscos e retira recursos financeiros crescentes do SUS, em detrimento da qualidade da atenção médica e da saúde pública da população. Veja, de um lado, a expulsão dos doentes crônicos e idosos dos planos de saúde, e, de outro, a baixa remuneração dos prestadores médico-hospitalares. Até onde vai esse mercado?
Desse modo, sem contar com recursos oriundos da renúncia fiscal, se, além do SUS (Estado), o mercado (capitalismo) fosse pressionado ‘por dentro’ pelo seguro social (mutualismo), estariam dadas condições mais realistas para tornar o mercado de planos de saúde, de fato, suplementar. Em particular, os vasos comunicantes, que permitem ao mercado resolver suas contradições econômicas por meio do Estado, seriam asfixiados, lançando novo olhar sobre o projeto estratégico de fortalecimento do SUS.
Como contraponto à tendência de privatização do sistema de saúde brasileiro, faz-se necessário afirmar os fundamentos constitucionais do SUS, o qual está investido legalmente da tarefa de alargar o direito social à saúde, com o propósito de convencer a sociedade da superioridade do modelo universal.
Contudo, não basta construir um programa mínimo em defesa do SUS, que negue a sua não universalidade (para que este deixe de se negar como direito social) – seja para superar sua crise de legitimidade, seja para disputar hegemonia com o mercado, tendo em mente, a um só tempo, reduzir os incentivos governamentais e mudar as relações de poder que predominam na arena setorial.
O Estado parece estruturalmente prisioneiro do seguinte dilema: ou estatiza o sistema (radicalizando seu papel intervencionista) ou mantém a forma privada de atividades socialmente importantes, aplicando mecanismos de subvenção estatal (incentivos governamentais).
Desse modo, para fortalecer a capacidade regulatória do governo, parece oportuno também defender no terreno da reforma sanitária a ideia de que a ‘saúde suplementar’ seja regulada como atividade privada de interesse público, mediante o regime de concessão de serviços públicos. Para tanto, seria necessário alterar no Congresso Nacional as normas que designam a assistência à saúde como livre à iniciativa privada (artigo 199 da Constituição Federal e art. 21 da lei n. 8.080).
* Carlos Octávio Ocké-Reis é economista, doutor em saúde coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com pós-doutorado pela Yale School of Management (New Haven, EUA). Técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Autor do livro ‘SUS: o desafio de ser único’ (Editora Fiocruz). Membro da rede Plataforma Política Social
Fonte: redebrasilatual.com.br
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