segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Os golpistas querem o poder para manter a mentalidade colonial


Colunista

Os golpistas querem cortar cabeças


Querem o poder para quê? Para retomar os negócios de colonizadores? Alguém vê sensibilidade social no olhar de algum dos golpistas que se apresentam todos os dias nas telas de TV, nos jornais e revistas de final de semana?


Impossível olhar o Brasil e não ver na paisagem política os conflitos ancestrais emergindo da história, desenhando a crise que rói as instituições da República, por mais sólidas que elas sejam.
Uma história vermelha de sangue. Aqui se dizimou nações indígenas inteiras, corromperam os gentios, tomaram suas terras, arrancaram-lhes a divindade, instalaram neles o Deus único e a culpa.
Escravizaram homens e mulheres negros, humilharam, violentaram, açoitaram, e os abandonaram à própria sorte, segregados.
Os senhorio sempre manteve o poder de classe, a subordinação, com a ração numa mão e o chicote na outra.
A mentalidade colonial persiste, patrões e feitores ainda rugem nas ruas, nas manifestações recentes, nas empresas, nas famílias, no jornalismo, nas redes sociais, com o mesmo ranço da escravidão, com a mesma violência que cortaram cabeças de quem se rebelou, no passado, contra a dominação e a miséria.
Felipe dos Santos foi uma das primeiras vítimas a ser liquidada, por lutar pela liberdade, pela independência do Brasil.
Amarrado braços e pernas numa junta de cavalos bravios foi arrastado pelas ruas de Vila Rica até partir o corpo em pedaços.
Teve a cabeça decepada, exposta no paço, as partes do corpo salgadas e penduradas em árvores da estrada principal que dava na cidade.
Degolaram e esquartejaram Tiradentes, também salgaram-lhe as partes do corpo e penduraram em postes nas ruas de Vila Rica.
O mesmo fizeram com Zumbi dos Palmares, cortaram-lhe  a cabeça salgaram e levaram ao governador de Pernambuco, Melo de Castro. No Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, no Pátio do Carmo.
Cortaram também as cabeças de Antônio Conselheiro, Lampião e seguidores deles, as expuseram em praças públicas.
Esses são apenas alguns exemplos da extrema opressão sofrida pelos de baixo desde a Colônia até os tempos atuais. A violência, a negação de direitos elementares e a rejeição à inclusão social continuam vivas na sociedade.

Sempre encarceraram, torturaram, mataram, para aterrorizar quem ousasse se rebelar contra o poder estabelecido. O Brasil é vermelho de sangue.

Os conservadores esmagaram todos os movimentos libertários, sempre tiveram as Forças Armadas a seu lado, ao longo da história, em vários ciclos de ditaduras, para reprimir movimentos, proteger o patrimônio e os privilégios de classe.
Assim, o senhorio se encastelou no topo da pirâmide e resiste a permitir que o povo conquiste os direitos de cidadania.
Como na democracia eles perdem sempre, nos momentos históricos em que o Brasil adotou modelos de desenvolvimento e políticas de relações internacionais que leve a mais independência, associados a políticas sociais com expansão de direitos e inclusão social, erguem-se golpes pela via militar ou pela via do Judiciário.
O senhorio tem sempre maioria conservadora na estrutura do Estado e nas corporações de comunicação, com seus asseclas a postos, prontos para conspirar, solapar e derrubar governos.
Foi assim com Vargas, que sofreu uma campanha tão violenta que levou-o ao suicídio. Foi assim com Juscelino Kubitscheck, com as tentativas de golpe, foi assim com João Goulart, que foi derrubado, e agora com Lula e Dilma. O enredo é o mesmo.
Só que desta vez o ódio de classe ressurgiu das entranhas da sociedade senhorial, instigado pelas corporações de comunicação e nas redes sociais, como reação ao empoderamento dos de baixo, e ao impacto da inclusão social proporcionada pelas políticas do governo federal nos últimos anos. Nada menos que 36 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza, graças ao Bolsa Família e 42 milhões ascenderam à classe C.
Estudo do IPEA mostra que entre 2003 e 2012, os 10% mais pobres tiveram crescimento acumulado da renda real per capita de 107%, enquanto os mais ricos obtiveram incremento de 37% na renda acumulada.
Os ganhos reais foram quase três vezes maiores para os brasileiros mais vulneráveis socialmente. O muro da desigualdade, que parecia intransponível, começou a ser superado.
Novas universidades foram criadas (16), o Prouni, o Fies e o Pronatec estão permitindo o acesso da população mais desfavorecida ao ensino superior e ao ensino técnico profissionalizante.
O ajuste fiscal formulado para enfrentar os efeitos da crise e calibrar os gastos do governo, questionado pelo caráter recessivo, preservou os investimentos sociais.
Na política externa, entre outras coisas, em 2014, o Brasil pagou a dívida externa e acumulou reservas de US$ 376 bilhões.
O Brasil foi um dos articuladores do BRICS e do G-20. Foi fundador do Banco do Brics, hoje com US$ 100 bilhões em caixa para investimentos, um banco de desenvolvimento que é alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.
O comércio exterior brasileiro se diversificou, reduzindo a dependência em relação à economia dos Estados Unidos e da Europa.
A crise internacional de 2008 mostrou que essa foi a opção mais acertada, afinal, o Brasil já não dependia tanto de quem estava afundando na crise.
Essas são algumas, entre muitas outras conquistas da população da base da pirâmide e da política externa promovidas pelos governos Lula e Dilma, que os conservadores resistem em reconhecer.
O mesmo ódio que cortou cabeças, esquartejou e salgou corpos no passado cega os opositores ao governo, não permite que vejam os avanços do projeto de desenvolvimento sustentável. Querem um golpe. Querem o poder para quê? Para retomar os negócios de colonizadores? Alguém vê sensibilidade social no olhar de algum dos golpistas que se apresentam todos os dias nas telas de TV, nos jornais e revistas de final de semana?
Os opositores ao governo estão agarrados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comprovadamente um dos políticos mais corruptos do país, e ao relatório do Tribunal de Contas da União, produzido por um ministro sobre o qual pesam denúncias publicadas no jornal Folha de São Paulo, apuradas pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, de ter recebido R$ 1,6 milhões por meios ilícitos. Dos nove ministros do TCU, quase a metade está sendo investigada pela polícia.
São os mesmos cegos de ódio ancestral.

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