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O coordenador da Pastoral da Terra, Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, recebeu nesta quarta-feira (14) das mãos do Vereador ISMAEL COSTA (PT) o título de Cidadão Honorário de Uberlândia.
O parlamentar ressaltou a história de luta do Frei Rodrigo e o compromisso com aqueles que mais precisam: “Eu aprendi muito com ele, infelizmente, são poucos os que se engajam de forma verdadeira e comprometida com a causa dos Sem Terra e dos Sem Teto no Brasil. Frei Rodrigo me ensinou a recuar quando era preciso e avançar na hora certa, entremeio aos embates da luta por moradia digna e terra para plantar e colher no município de Uberlândia.
Sabemos que é na luta que se faz a Lei e foi nos movimentos sociais que eu formei a minha consciência política e tenho orgulho disso, nesta caminhada o Frei Rodrigo teve sem dúvida, uma grande influência.
Parabéns pela jornada, pelo compromisso com os excluídos, de permanecer na luta independente dos momentos difíceis ou de conquistas. Grande abraço companheiro!”
O Frei Rodrigo Péret nasceu em vinte e nove de setembro de 1955, em Belo Horizonte, Minas Gerais, filho de Luciano Amédée Péret e Vera de Castro Amédée Péret.
Em 1979 formou-se em Engenharia Cívil pela Escola de Engenharia Kennedy, na região de Venda Nova. Frei Rodrigo Péret também cursou as faculdades de Filosofia e Teologia na cidade italiana de Nápoles, no ano de 1989.
Todavia, a sua vocação que resultou no engajamento nas lutas dos movimentos sociais começou no final dos anos 70, ao conhecer a Ordem dos Franciscanos.
Atualmente, o Frei Rodrigo Péret acompanha a questão da terra no Brasil, no que envolve a questão ambiental (a degradação de áreas de preservação permanente e a violação dos direitos humanos, decorrentes da exploração mineral).
A Pastoral da Terra tem atuado nas cidades de Araxá, Barreiro e Paracatu, em parceria com o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração que luta pelo Macro Regulatório e Código Mineral (que tratam do aspecto da regulação das atividades de exploração). Em função disso, a partir de 2013, Frei Rodrigo Péret se tornou membro da Rede Latino Americana Igreja e Mineração e, desenvolve o Projeto Justiça e Paz na Mineração.
Em dezembro deste ano, vai participar da Conferência do Clima (COP2), em Paris, onde são esperadas de 40 a 50 mil pessoas, de mais de 95 nações. O encontro substituirá o protocolo de Kyoto, sobre o Clima. A solenidade de entrega do Título de Cidadão Honorário aconteceu no Plenário Homero Santos na Câmara Municipal de Uberlândia.
Leia o texto do pronunciamento do Frei Rodrigo Péret:
Por
ocasião do título de Cidadão Honorário.
Agradeço
de coração essa deferência a mim concedida por essa casa que tem
como função representar o povo desta cidade. Agradeço ao vereador
Ismael Costa, oriundo do movimento de luta pela terra, pela
propositura desse título. Acolho com humildade e gratidão. Passo a
ser conterrâneo dos aqui nascidos. Se os laços afetivos por si só
já me faziam sentir daqui, agora vivo uma confirmação formal.
Muito obrigado.
Ser
cidadão é uma vivência comunitária, não se é cidadão sozinho.
Sinto que essa concessão é um fruto comunitário.
Estive
pensado no que dizer. E me veio refletir a conjunção dos termos
cidade, cidadão, cidadania. A narrativa predominante, nos diz que
essas palavras tem a mesma origem. Nos diz também que a palavra
cidadão representa quem vive numa cidade, e ao mesmo tempo quem
possui direitos civis,
políticos e sociais. Contudo, para
além dessa narrativa, a realidade é que, cidade, cidadão e
cidadania são decorrentes de construções humanas, frutos de
relações sociais estabelecidas no decorrer dos tempos, correlações
de forças.
De
um lado, historicamente, por exemplo, as relações sociais
estabelecidas a partir da criação das cidades, romperam, na época,
com o poder feudal, no qual o camponês estava atrelado ao
proprietário da terra por laços de subordinação pessoal. O
cidadão urbano então quebrava o direito senhorial. Hoje, a cidade é
uma mercadoria e o cidadão é um consumidor de bens e serviços.
Saúde, educação, moradia, transporte, segurança, ambiente, lazer,
arte e cultura não são vistos como base de vida e portanto como
direitos, mas são entendidos como mercadorias.
A
exigência moral para quem recebe um título de cidadão é de se
perguntar então: De quem é a cidade? Que cidadania é essa? Se a
cidade é de todos, centro e periferia seriam, então, um grau de
distancia geográfica. A periferia seria simplesmente o contorno
externo de uma qualquer superfície ou área. Mas não é assim,
todos nós sabemos. Centro - periferia é distância
econômico-social. É produção de “Cidadão Mutilado”, no dizer
do geógrafo Nilton Santos.
Por
outro lado, junto à questão econômica e social, numa visão de que
tudo está interligado, numa perspectiva ambiental, a cidade separou
o humano da natureza. Produziu-se e se sobrepôs à natureza o espaço
do ser humano. A natureza, então, é que deve se submeter ao traçado
urbano. As consequências sofremos todos nós, quando se acredita,
que a questão ambiental e os processos de licenciamento são um
entrave econômico e um atraso para o desenvolvimento. Neste exato
momento, aqui em Minas, um projeto de lei, quer alterar a política
ambiental e mudar as regras do licenciamento. Uma pena, é uma
arrogância técnica e econômica, que leva alguns a não crer que é
a natureza, que nos sustenta e governa.
Sei
que esses grandes desafios são debatidos a cada dia nesta casa e
vividos no cotidiano pela população.
O
direito à cidade, é direito cidadão, é cidadania. É a lógica do
valor do publico sobre o privado, superando uma urbanização
especulativa e acumulativa. A cidade deve nos levar a sentir como
parte de um “nós”, que construímos juntos, como nos diz o Papa
Francisco, em sua Encíclica, Laudato Si’.
Hoje,
em Uberlândia, são mais de 8 mil famílias em áreas ocupadas e
mais de 2 mil em áreas irregulares, pesando sobre muitas delas as
ameaças de despejos. Ações judiciais de reintegração de posse
deveriam ser evitadas, nesses casos. Milhares de famílias,
aglomeradas em latifúndios urbanos e rurais, mantidos como reserva
de valor, sem nenhuma função social, em condições de clara
inconstitucionalidade e ilegalidade, são tratadas como um nada, são
expulsas de suas casas e terras, sem garantia sequer de um destino
certo. Ontem mesmo, se deu inicio, de forma pacífica, o despejo de
famílias que estão em uma área, já decretada de utilidade pública
para desapropriação, pelo executivo de nossa cidade.
Recordo
aqui, a já mencionada Encíclica:
“A
falta de habitação é grave em muitas partes do mundo, tanto nas
áreas rurais como nas grandes cidades, nomeadamente porque os
orçamentos estatais em geral cobrem apenas uma pequena parte da
procura. E não só os pobres, mas uma grande parte da sociedade
encontra sérias dificuldades para ter uma casa própria. A
propriedade da casa tem muita importância para a dignidade das
pessoas e o desenvolvimento das famílias. Trata-se duma questão
central da ecologia humana. Se num lugar concreto já se
desenvolveram aglomerados caóticos de casas precárias, trata-se
primariamente de urbanizar estes bairros, não de erradicar e
expulsar os habitantes. Mas, quando os pobres vivem em subúrbios
poluídos ou aglomerados perigosos, «no caso de ter de se proceder à
sua deslocação, para não acrescentar mais sofrimento ao que já
padecem, é necessário fornecer-lhes uma adequada e prévia
informação, oferecer-lhes alternativas de alojamentos dignos e
envolver diretamente os interessados». Ao mesmo tempo, a
criatividade deveria levar à integração dos bairros precários
numa cidade acolhedora: «Como são belas as cidades que superam a
desconfiança doentia e integram os que são diferentes, fazendo
desta integração um novo fator de progresso! Como são encantadoras
as cidades que, já no seu projeto arquitetônico, estão cheias de
espaços que unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro!»
(Laudato Si’ numero 152)
Caros
senhores vereadores cuidar de nossa casa comum, é promover uma
distribuição adequada. Confio no espírito cidadão de cada um aqui
presente, para votar favoravelmente nos processos de desapropriação,
regularização fundiária e urbanização, que certamente chegarão,
muito em breve, para a decisão desta casa. Conto também com a
capacidade democrática desta casa de cobrar sempre para que esses
processos aconteçam e cheguem a bom termo.
Esse
é o compromisso cidadão com essa cidade. Assim tenho vivido ao
longo desses mais de 30 anos, desde que eu vim de Belo Horizonte.
Devo dizer com alegria, que com este povo mais pobre, humilde e
lutador tive a melhor escola cristã de vida. Em suas vidas eles dão
testemunho do evangelho vivido. A perseverança, garra e organização
do povo sem teto e sem terra deste município de Uberlândia, são
uma lição de vida e grande patrimônio de valor moral.
Muito
obrigado!
Frei
Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm
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