Evento começou no domingo e se propõe a repensar forma como instituição familiar é tratada.
Jornal do Brasil
Rafael Gonzaga
Rafael Gonzaga
Começou no último domingo (5) a III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família, que havia sido convocada pelo Papa Francisco para discutir a temática no contexto da evangelização, além de repensar a forma como a instituição familiar é tratada atualmente dentro do contexto religioso.
Teólogos e especialistas acreditam que o encontro vá debater assuntos modernos ligados à família, como uma maior flexibilidade em relação aos casais em nova união, que atualmente são impedidos de receber o sacramento. Também se espera que sejam tocados pontos que atingem diretamente a moral cristã, como as uniões homoafetivas e o uso de anticoncepcionais. A assembleia está prevista para acabar no próximo dia 19 de outubro e na ocasião será realizada a beatificação do Papa Paulo VI.
O sínodo conta com a presença de 253 pessoas, entre bispos, presidentes de Conferências Episcopais de todo o mundo, membros da Cúria Romana, sociólogos e antropólogos. Além da família, a ideia é que a assembleia trate de temas como violência e pobreza. Na cerimônia de abertura, o Papa teria enfatizado que o clero possui uma responsabilidade em cuidar da família, mas disse também que os membros da Igreja precisam se controlar para não cair na tentação de se apoderar da sociedade.
A teóloga Maria Clara Bingemer, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, lembra que não é sempre que se convoca um sínodo e que esse tipo de encontro acontece em ocasiões especiais. “Agora nós temos um tema que o Papa está querendo discutir, que é o tema da família. Não é uma coisa habitual, significa que ele enxerga que existem questões a ser discutidas sobre a moral familiar da Igreja. Então, ele quer ouvir os bispos do mundo inteiro. Ele mandou questionários para todas as dioceses, aqui no Brasil a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu e respondeu”, explica.
O documento respondido pela CNBB para o Sínodo dos Bispos de 2014 trazia problemáticas sobre a concepção de família no mundo atual que ainda não haviam sido debatidas oficialmente pela Igreja. O texto trazia ainda 38 questões sobre o tema “Desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”. As perguntas foram respondidas por paróquias do mundo todo e enviadas em janeiro deste ano. As contribuições paroquiais brasileiras sob a coordenação das pastorais familiares foram entregues à CNBB e um documento com base nessas respostas foi elaborado e entregue à Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, em Roma.
O teólogo e colunista do Jornal do Brasil Leonardo Boff acredita que o atual pontificado é um pontificado de ruptura, que veio das igrejas novas que cresceram na America Latina, distante da cristandade européia. “Estas Igrejas não são mais igrejas-espelho da Europa ou de Roma, e sim igrejas-fonte: criaram sua teologia, sua pastoral, além de terem os hábitos despojados dos bispos que vivem no meio do povo como verdadeiros pastores e não de costas ao povo. Não fala só dos pobres, mas vai ao encontro deles”, explica.
Bingemer acredita que o Papa em atividade possui uma postura mais progressista e uma visão mais aberta, mas que ele não poderá decidir sozinho sobre as questões levantadas. A teóloga explica que ele precisa agir em comunhão com o episcopado. “A comunidade católica está buscando essas mudanças progressistas, tem muitos católicos que estão nos tipos de situações familiares que serão debatidas e que querem ficar dentro da Igreja. Eles não perderam sua fé e esperam que haja uma maior flexibilização”, explica.
Para Boff, o Papa Francisco vem devolvendo esperança à Igreja e fazendo com que os cristãos encontrem novamente um lar espiritual, e não uma fortaleza fortificada contra eventuais inimigos. “Para esse Papa não há inimigos, nem nada está perdido. Deve-se dialogar com todos e tudo pode ser resgatado. Transformou-se num líder político mundial”, acredita.
Na missa solene de abertura que aconteceu na basílica de São Pedro do Vaticano, o Papa Francisco teria mostrado algum aborrecimento em relação aos líderes da Igreja que estariam alimentando uma batalha pública entre os setores progressistas e os mais conservadores, em relação a essas questões familiares. Bingemer acredita que as alas mais conservadoras da Igreja irão tentar evitar que sejam feitas aberturas. “Acho que se houver maioria ou mesmo um consenso, eles terão que aceitar e conviver com isso. Eles vão lutar pra que não passe, mas, se passar, acho que eles vão respeitar o consenso alcançado”, pontua.
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