terça-feira, 27 de maio de 2014

Como o papa Francisco expôs a brutalidade do muro do “apartheid” de Israel




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A prece do papa junto à muralha de separação jogou luz àquilo que veio a se tornar o símbolo da ocupação de Israel nas terras palestinas

Por Alex Kane, em Alternet | Tradução: Vinicius Gomes

Tudo o que bastou para tornar memorável a primeira visita do papa Francisco ao Oriente Médio foi uma prece. Enquanto o cortejo do papa estava atravessando Belém, ele fez uma parada inesperada.

O papa Francisco saiu do carro e andou pelas lajes de concreto que separam Belém de Jerusalém na Cisjordânia ocupada. Ele colocou sua cabeça contra a muralha, enquanto os soldados israelenses da ocupação observavam de cima. Foi então que as câmeras começaram a fotografar tudo. O papa rezou próximo a uma pichação que falava sobre a luta dos palestinos: “Papa, nós precisamos que alguém fale sobre justiça, Belém se parece com o gueto de Varsóvia”, lia-se na muralha.

Foi um gesto simples, mas extremamente simbólico que aconteceu durante a visita de três dias do papa na região. O pontífice orou na barreira que veio a se tornar o símbolo da ocupação de Israel em terras palestinas, que começou em 1967, após a Guerra dos Seis Dias. A construção da barreira de separação está entre as mais controversas ações que Israel tomou nos últimos 10 anos. Enquanto autoridades israelenses alegam que sua construção se deve à contenção de suicídios com bombas, os palestinos apontam que a barreira serpenteia através de suas terras: 85% da muralha de separação está localizada na Cisjordânia ocupada, impedindo a livre movimentação na região. Ela também cobre os maiores assentamentos ilegais, engolfando efetivamente as comunidades que ali vivem – violando leis internacionais.

O papa não disse nada sobre isso. De fato, não falou uma só palavra a respeito da barreira de separação, mas a foto dele rezando ali foi histórica e será a mais lembrada imagem de sua viagem. Ela chamou atenção para a muralha que, em 2004, foi considerada ilegal pela Corte Internacional de Justiça, dizendo que sua construção “impede severamente o exercício do povo palestino ao seu direito de autodeterminação, sendo assim, uma falha na obrigação de Israel a esse direito”; e, apesar de seu silêncio, muitos palestinos ficaram contentes pelo ato do papa de rezar junto à muralha: “Aquilo tem um enorme significado. Enorme”, disse a cristã palestina Belinda Shamma, ao correspondente da Times. “Ele está tentando dizer ao mundo que o que está acontecendo aos palestinos é injusto… Nós estamos morrendo por dentro”.
Os oficiais israelenses também entenderam o peso simbólico da prece do papa. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, escreveu em seu Twitter que ele “explicou ao papa que a construção da cerca de segurança salvou muitas outras vítimas que o terror palestino planejava realizar”.
O papa também realizou outros gestos históricos, como se tornar o primeiro pontífice a voar diretamente para dentro da Cisjordânia – ao invés de primeiro pousar em Israel – e se referir ao Estado da Palestina. “Existe uma necessidade de intensificar os esforços e iniciativas para o reconhecimento dos direitos de qualquer individuo e à segurança mútua”, disse ele – que, com sucesso, convidou tanto o presidente da Autoridade Palestina, Mahmouhd Abbas, e o presidente israelense, Shimon Peres, a se reunirem com ele no Vaticano; mesmo que pouco resultado concreto seja esperado dessa reunião.
Os gestos simbólicos do papa de apoio aos palestinos aconteceram durante a viagem onde ele também se encontrou com líderes israelenses – realizando inclusive uma visita ao túmulo de Theodor Herzi, o fundador do movimento político do Sionismo, que buscava mitigar o antissemitismo europeu ao criar um Estado judeu na Palestina, mas que também teve como consequência a expulsão de centenas de milhares de palestinos em 1948, quando Israel foi criado.
Além disso, o papa Francisco visitou junto de sobreviventes do Holocausto em Israel, em outra parada improvisada, o memorial para vítimas do terrorismo. Antes de embarcar em sua excursão na Cisjordânia e Israel, ele parou na Jordânia, onde se encontrou com oficiais e rezou uma missa no estádio de Amã para uma audiência que incluía refugiados cristãos da Síria, Iraque e Palestina.
Quanto à crise na Síria, o papa se encontrou com alguns refugiados que o interminável conflitou criou. Ele saudou a Jordânia por ter aceito cerca de 600 mil refugiados do país vizinho: “Eu rezo mais uma vez para que a razão prevaleça e que com a ajuda da comunidade internacional, a Síria irá redescobrir seu caminho para a paz”, disse o pontífice.

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