O assassinato de Santiago - o cinegrafista da Band - deve ficar como um marco. O marco de que não é mais possível aos ativistas sociais serem condescendentes com que cobre o rosto, nega a política e depreda a cidade em nome sabe-se lá do que. As grandes mobilizações de massa do século XX foram vitoriosas, sem que os setores populares recorressem à violência suicida.
Todas as jornadas de lutas que envolveram milhões de pessoas entre o final dos anos 1970 e início da década seguinte – movimento estudantil, greves do ABC e Diretas Já – não se valeram de recursos violentos. E derrubaram a ditadura.
O Fora Collor, em 1992 seguiu igual. Milhões nas ruas forçaram a saída de um presidente corrupto. Sem enveredar pelo caminho da brutalidade inútil.
Em todos esses casos, a violência estava do outro lado. Mas não a razão e a vitória.
A democracia imperfeita, elitista e problemática que temos hoje é muito melhor que as melhores ditaduras brasileiras do século XX. Se lá não escondiam o rosto, qual a finalidade de fazer isso agora?
Leia texto do deputado Chico Vigilante, no 247.com:
MASCARADOS, MOSTREM AS SUAS CARAS
Não posso deixar de me perguntar: de onde sairá o dinheiro para o pagamento destes advogados? Estas bestas feras não estarão servindo a interesses outros, bem maiores?
Black blocs fazem sua primeira vítima fatal. E agora Brasil, vamos continuar compactuando com essas bestas assassinas encapuzadas ? porque se esconder para destruir? obviamente porque sabem que o que fazem é illegal e faz parte da barbárie contra a qual a humanidade luta há séculos.
A morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, quatro dias após ser atingido na cabeça por um rojão quando registrava o confronto entre manifestantes e policiais em protestos contra o aumento da passagem de ônibus, no Centro do Rio, leva toda a sociedade brasileira a refletir sobre o papel dos mascarados na história recente do país.
Muitos alegam que se não fossem os mascarados - os que quebram, depredam, colocam fogo, lançam bombas, em prédios públicos, bancos e lojas - as autoridades não levariam a sério as manifestações que vem ocorrendo no país desde o ano passado.
Não concordo. Sozinhos, eles iriam direto pra cadeia e pronto. Se milhares de brasileiros pacíficos não decidissem sair às ruas para demonstrar que querem mudar os rumos do país para melhor, sozinhos esses mercenários incentivados e financiados por interesses escusos, não iriam ter a chance de aparecer como herois a frente de ataques.
Os brasileiros que saem as ruas e muitos dos que ficam em casa, querem mudar, sim, o país, para melhor; querem dialogar; participar de uma reflexão e uma busca de saídas conjuntamente. Não querem explodir, matar, destruir famílias, deixar filhos sem pais, como aconteceu agora.
Como sindicalista e membro do Partido dos Trabalhadores participei de incontáveis manifestações na luta contra a ditadura neste país, e de 1979 a 1985, nunca escondemos nossa cara. Apesar de não concordar com a linha editorial de alguns jornais, nunca atacamos fisicamente jornalistas.
Me lembro muito bem de uma manifestação, ocorrida há 27 anos, em Brasília, que ficou conhecida como Badernaço. A passeata, convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), levou a rua milhares de donas de casa, sindicalistas, estudantes, trabalhadores, todos com a intenção de mostrar ao governo a insatisfação com os planos econômicos e com uma inflação galopante de até 86% ao mês.
Como a situação estava tensa e sabíamos que poderia debandar em violência, designamos uma equipe de vigilantes para proteger a jornalista Beatriz Thielmann, da Rede Globo de Televisão, designada para realizar a cobertura da manifestação.
Ontem, a declaracão da mulher do cinegrafista morto me chamou a atenção de uma maneira muito especial. Ao se referir aos Blac blocs ela disse que a essas pessoas falta amor. E disso ela pode falar porque tem quatro filhos e tres deles são adotivos. Ela tinha um marido e agora quando se sentar diariamente para comer com a família vai olhar pra aquela cadeira vazia e durante muitos anos essa morte desnecessária vai fazer a todos sofrer.
A essas pessoas falta sim amor, mas parece que não lhes faltam assessores e um grupo de advogados dispostos a socorre-los rapidamente. Essa situação se assemelha muito à de quadrilhas de assaltantes de bancos que tem à sua disposição escritórios de advocacia dispostos a defender os bandidos que assassinam vigilantes em todo o país.
Não posso deixar de me perguntar: de onde sairá o dinheiro para o pagamento destes advogados? Estas bestas feras não estarão servindo a interesses outros, bem maiores? Eles estão propagando a barbárie por se sentirem infelizes, menores, por frustações em suas vidas, mas será que não enxergam que colocam em risco a sociedade , a governança e o país ? Serão todos inocentes ? não creio.
Na última semana, uma outra notícia me estarreceu, e fico me perguntando se o mal se expande no mundo por osmose. Muitos dos jornais internacionais que noticiaram a morte do cinegrafista da Band, noticiaram também que nas duas últimas semanas em vários estados americanos, entre eles, Flórida e Washington, centenas de amoradores indignados ligaram informando que planfletos da Ku Klux Klan, foram fartamente distribuidos de porta em porta em muitos bairros.
Inacreditável, mas eles continuam vivos, organizados e fortes.
Deixo aqui o meu repúdio à ação destes bandidos encapuzados aqui e lá, e o meu apelo à sociedade. É chegado o momento de dar um basta a esta situação.
Me solidarizo ao sentimento de perda da família de Santiago, que representa uma perda para todo o Brasil. Queremos mudar, não ceifar vidas de trabalhadores cumprindo sua jornada diária como cidadão de bem.
Black blocs, mostrem suas caras. O povo brasileiro não precisa de mercenários, facistas, bandidos, encapuzados a la Ku Klux Klan travestidos de mocinhos no roteiro da nossa história.
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