terça-feira, 21 de novembro de 2017

SOBRE A FALÁCIA RACISTA DO "DIA DA CONSCIÊNCIA HUMANA", por Mauro Lopes

Mauro Lopes
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SOBRE A FALÁCIA RACISTA DO "DIA DA CONSCIÊNCIA HUMANA"

Ontem, Dia da Consciência Negra, voltou a onda de brancos e brancas e alguns negros e negras ricos de menosprezar a data, defendendo que deveria ser substituída pelo "Dia da Consciência Humana".

A proposta é ela própria expressão do racismo introjetado na sociedade brasileira e uma demonstração eloquente de seu caráter de classe.
Em primeiro lugar, é curioso que nunca tenhamos assistimos tal questionamento em outras datas. Não vemos ninguém propondo que o Dia de Nossa Senhora Aparecida seja substituído por um Dia de Todas as Nossas Senhoras, ou que o feriado do Natal seja abolido por ser uma festa cristã que exclui os ateus ou religiões de outras matrizes.

Significativamente, a implicância é só com a data que evoca o racismo.

O Dia que celebramos ontem existe para manter viva a consciência de que em mais da metade da história deste país uma parcela significativa da população (em algumas regiões a maioria) foi escravizada.

Não foi um evento medieval, dos "primeiros tempos". Aconteceu por 300 anos até pouco tempo atrás. Não nos esqueçamos: durante 300 anos negros e negras não eram considerados pessoas neste país; eram objeto, coisa, pertenciam a outrem, eram seres sem direitos, inferiores até aos animais. Apenas às vésperas do século 20 a escravidão foi abolida no Brasil e de tal maneira -negros e negras foram  lançados à própria sorte sem qualquer apoio, suporte, indenização- que os efeitos da escravidão prolongaram-se anos a fio.

Na verdade, prolongam-se até hoje -e é disso que trata o Dia da Consciência Negra. Um nome alternativo para ele, apesar de longo, talvez fosse: Dia da Consciência De Que Os Efeitos da Escravidão Estão Presentes na Sociedade Brasileira Hoje.

Veja a fotomontagem postada originalmente pelo amigo José Luis Fevereiro. É esse o tema do Dia da Consciência Negra.

O Dia da Consciência Negra não é para congratularmo-nos por sermos bonzinhos e boazinhas (sinhozinhos e sinhazinhas), como a proposta do "Dia da Consciência Humana".  

O Dia da Consciência Negra é para manter diante dos olhos as duas fotos abaixo e informações como as seguintes (que deveriam envergonhar o país e são motivo de luta para negros e negras e todos os pobres, todos os que têm fome de pão, justiça e paz):
- Um dado preliminar: os que se declaram  negros, negras, pardos e pardas para o IBGE compõem 54% da população.
- Os negros são 71% das vítimas de homicídios.
- Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos.
- Quase 70% dos presos são negros.
- 3 em cada 4 pessoas dos mais pobres são negras.
- Nos bancos das universidades, apenas 12% são negros/negras.
- 2/3 dos desempregados do país são negros/negras.
- Negros e negras ganham o equivalente a metade da renda de brancos/brancas.
- Mais ainda: todos os dados relativos a renda e violência pioraram para negros e negras nos últimos dez anos.

O tal "Dia da Consciência Humana" é mais uma dessas invenções do racismo (às vezes) camuflado que vigora no país.


na foto de cima , formandos de medicina da UFRJ; na de baixo garis da Comlurb.O racismo explicito nas classes sociais da  sociedade brasileira (José Luis Fevereiro)

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