Um dos traços definidores da mensagem de Jesus é a escolha de seus interlocutores. Ele não escolheu dialogar com reis, príncipes, chefes de governo, com os ricos. Sua escolha foi a da interlocução com os pobres, os marginalizados. O Sermão da Montanha é um momento culminante dessa escolha (Mt 5-7). Jesus subiu ao monte para falar à “multidão” de gente sem nada. Assim foi durante toda sua jornada de três anos. Examine-se a agenda de Francisco. É a essa mesma “multidão” que ele fala, com ela encontra-se, senta-se para partilhar o pão e a esperança.
Três encontros próximos são especialmente eloquentes quanto a essa escolha do Papa. No domingo (19), quando será celebrado o 1º Dia Mundial dos Pobres, instituído por ele, Francisco rezará a Missa com 4 mil deles, e almoçará com 1.500 em plena Sala Paulo VI (sacrilégio, gritarão os católicos conservadores, como o fizeram quando o Papa almoçou com um grupo de pessoas pobres na basílica de São Petrônio em Bolonha, em setembro).
No dia 24 de novembro, o Papa falará em Roma com sindicalistas do mundo inteiro reunidos num encontro promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, liderado pelo cardeal ganês Peter Turkson, o mesmo que é responsável do lado do Vaticano pelos Encontros Mundiais dos Movimentos Populares. A reunião com os sindicalistas ocorrerá sob o título O trabalho e o movimento dos trabalhadores no centro do desenvolvimento humano integral, sustentável e solidário.
Há uma conversa que será especialmente impactante, única. Em sua viagem ao Chile e Peru, em janeiro, Francisco irá à cidade peruana de Puerto Maldonado, encravada na Floresta Amazônica, para um encontro com lideranças dos povos indígenas da Amazônia, sem a presença de autoridades governamentais.
Esta agenda de Francisco é evidentemente inspirada pela de Jesus durante sua vida pública.
O brilhante intelectual espanhol Jorge Semprún, membro do Partido Comunista espanhol, preso em Paris pelos nazistas em 1943, violentamente torturado e deportado para o campo de concentração de Buchenwald, disse uma vez: “a cabeça pensa onde os pés pisam”. Francisco pisa no mesmo território de Jesus, a convivência com os descartados pelo sistema.
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