Fotógrafo Dida Sampaio, do Estadão, registrou a imagem que simboliza o Brasil pós-golpe
O contubérnio
Se inteligencia não fosse algo tão raro no Brasil de hoje, a capa do Estadão causaria no país o mesmo que provoca em todas as pessoas que entendem a vergonha que passamos neste país, consumado ontem e pronto para receber, hoje, o carimbo de autenticação.
O velho Leonel Brizola, que trazia das décadas passadas, do gauchismo e do espanhol da fronteira e do exílio, algumas palavras incomuns, tinha uma para descrever o que está se passando: contubérnio.
Embora também tenha este sentido em português, é no espanhol que ele tem adefinição precisa: “la noción de contubernio, que tiene su fuente etimológica en el latín (contubernĭum), se utiliza para nombrar a un acuerdo o una asociación que resulta censurable o indigna. El término puede aplicarse sobre pactos ilícitos, conspiraciones y otros entendimientos que merecen repudio”.
Pois é o sentido exato do que se fez: a associação indigna entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário com o claro propósito de que a Justiça, aqui, passe a ser a ferramenta de punir quem lhes desagrada, enquanto a si mesmos cobrem-se com a impunidade.
Sei que há muitos comentários sobre o que virá à frente, assim que o ameganhado ministro vestir a toga e, com a sem-cerimônia que revelou na sabatina, passe a exercitar sua “imparcialidade” e “isenção” de julgador.
Mas nada, neste momento, supera a sensação de nojo, de vergonha, de ver ser organizada na corte suprema brasileira a “suruba generalizada” desejada por Romero Jucá.
Logo teremos mais, os encontros “privê” com Michel Temer, ou les ménages também com Gilmar Mendes, enquanto Edson Fachin, fica com suas razões de fuinha humilde, Luís Alberto Barroso transcende em suas filosofias, Cármem Lúcia agarra-se a seus santos , Ricardo Lewandowski mantém seu ar de “cansei” e Marco Aurélio Mello segue em sua carreira de “voto vencido”.
Enquanto isso, os alemães “sobram” em campo.
O 6 a 5 (ou pouco mais, porque os nossos diletantes ministros são dados a exercícios da quinta-essência rabelaiseana , avaliando o salto das pulgas e traçando preciosos desenhos na água) são o 7 a 1 de nosso Estado de Direito.
É possível voltar a vencer, necessário mesmo.
Mas a vergonha ficará, pelos tempos, na figura torpe que, por um quarto de século, dará ao nosso Supremo uma face lombrosiana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário