Rodrigo Vianna, do Blog Escrevinhador, para os Jornalistas Livres - Foto de capa: Sato do Brasil
13 Março, 20165
O 13 de março ficará marcado como o dia em que os tucanos e os peemedebistas do golpe perderam as ruas para a extrema-direita. Moro virou um semi-deus, ou um monstro, que ameaça a democracia porque já não se submete a ela: tem à disposição massas furiosas que servem a seu ímpeto justiceiro.
Começou como se esperava: a Globo dava ampla cobertura para atos de rua em Brasília, BH, Rio e nas capitais do Nordeste. Era como se fosse um“esquenta”, pra chamar a massa de classe média ao grande ato da tarde, na avenida Paulista.
Com exceção do Rio de Janeiro (onde nitidamente mais gente foi às ruas dessa vez), nas demais cidades o comparecimento não saiu do que se esperava durante a manhã: a classe média em fúria dava as caras – num misto de delírio, autoritarismo e ódio longamente semeados pela Globo/Veja e pelo próprio“líder” da oposição, Aécio Neves (um anão político que pôs em risco a estabilidade democrática, ao não aceitar a derrota nas urnas em 2014).
Com exceção do Rio de Janeiro (onde nitidamente mais gente foi às ruas dessa vez), nas demais cidades o comparecimento não saiu do que se esperava durante a manhã: a classe média em fúria dava as caras – num misto de delírio, autoritarismo e ódio longamente semeados pela Globo/Veja e pelo próprio“líder” da oposição, Aécio Neves (um anão político que pôs em risco a estabilidade democrática, ao não aceitar a derrota nas urnas em 2014).
O ato em São Paulo era tão importante que Aécio e outros líderes tucanos tentaram pegar carona na manifestação. E aí a narrativa começou a sair do programado pela oposição…
Marta foi escorraçada pelos coxinhas; Aécio e os tucanos foram num esquema vip para a festa e acabaram expulsos
Aécio Neves e Geraldo Alckmin foram escorraçados da Paulista, aos gritos de“bundões” e “oportunistas”.
Um vídeo postado pelo ótimo repórter Pedro Venceslau (e que você pode assistir aqui) mostra eleitores dizendo diretamente a Aécio:
“FORA, LADRÃO, VAGABUNDO! LIXO!”
Os líderes máximos da oposição tiveram que sair correndo da avenida. Marta Suplicy, que abandonou o PT e embarcou no PMDB pregando impeachment, foi tratada a sapatadas: teve que se esconder no prédio da FIESP.
O dia 13 ficará marcado como o dia em que os tucanos e os peemedebistas mais apressados (a exemplo de Marta) perderam as ruas para a extrema-direita.
Bolsonaro não foi mal recebido em Brasilia. Nem tampouco Malafaia. Caiado foi ovacionado em São Paulo.
Acima de todos eles, no entanto, está a figura de Sergio Moro. Transformado numa espécie de semideus da moral e dos costumes, apoiado pela Globo de Ali Kamel, Moro poderia instalar guilhotinas em Curitiba já na semana que vem e transmitir execuções públicas pela TV. Seria apoiado pela massa cheirosa que tomou as ruas.
Ontem, escrevi que a situação de Dilma e Lula é difícil, mas que ainda há margem de manobra (clique aqui para ler mais), entre outros motivos porque estamos sob o signo do “imponderável de Almeida”.
E o imponderável deu as caras.
O PSDB, na verdade, viu sua margem de manobra se estreitar nas ruas: aqueles que votaram em Aécio começam a se descolar dele; e os que votaram em Dilma estão parados, a observar.
A primeira impressão é de que o lulismo vai botar muita gente nas ruas dia 18. Não tanta gente como a direita da“antipolítica”. Mas ficará claro, depois do dia 13 e do dia 18, que nas ruas só há duas forças: a extrema-direita que quer escorraçar/trucidar os políticos (inclusive tucanos) e o lulismo com apoio sindical/orgânico, de movimentos sociais e de certa centro-esquerda que se contrapõe à barbárie bolsonariana.
Ou seja: Lula e o PT têm alguma força para resistir na rua. Do outro lado, há a sombra ameaçadora do fascismo. O PSDB ficará esmagado entre essas duas forças.
Vai ser curioso também ver o que a Globo fará com os fanáticos que ajudou a criar (repórteres da TV carioca tiveram que trabalhar sem logotipo nos microfones, mesmo nas manifestações de direita).
A Globo e o PSDB estão espremidos: parecem perder o controle do monstro que alimentaram. Segura essa, Aécio! Segura essa, Ali Kamel
Nas últimas semanas, os tucanos deixaram evidente que sua aliança preferencial não é com as ruas, mas com Eduardo Cunha (para aplicar o impeachment) ou com Renan Calheiros (para implantar um parlamentarismo de ocasião, com programa liberal e privatizante).
O monstro de direita que rugiu nas ruas não quer acordos palacianos. Quer alguém que prenda e arrebente.
Aécio e Serra correm o risco de virar lacerdas do século XXI: fomentaram o ódio, e na última hora acabarão tragados por ele.
Moro virou um ente político. Quem poderá detê-lo?
Não estranharia se, nos próximos dias, o mundo político “institucional” (falo de Renan, Jucá, Sarney, além de certo “centro” comandado por Kassab) se voltar para Lula.
O ex-presidente é o único que tem alguma força para segurar a onda de antipolítica que pode aniquilar não o PT (este sobreviverá, com todos seus defeitos, porque representa parte significativa da população), mas toda a institucionalidade democrática que construímos desde 1988.
A dúvida agora é: o PSDB pode radicalizar ainda mais pra direita, pra agradar a massa furiosa da Paulista? Parece-me pouco provável.
Não há dúvida de que a marcha na Paulista foi massiva, e bem maior do que a de março de 2015. Chega-se a falar em 1,4 milhão de pessoas na avenida.O DataFolha, mais comedido, fala em 450 mil pessoas.
Quem passou por lá não tem dúvidas: o povo na rua era majoritariamente branco, de classe média e conservador. O povão, que votou em Dilma e tem críticas ao governo, não deu as caras na Paulista.
Nesse sentido, a marcha do dia 13 é, sim, mais um sinal de alerta para o governo Dilma: os que já não gostavam de você, presidenta, se tornam cada vez mais barulhentos e impacientes. Topam qualquer coisa para arrancar da cadeira a mulher que agora é chamada de “quenga” em faixas nas ruas!
Mas o dia 13 é, sem dúvida, muito mais dramático para a oposição.
O imponderável dá as cartas.
Lula, de vilão, pode virar o fiador de um novo arranjo que impeça o caos e o desmoronamento do sistema político.
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