sexta-feira, 4 de abril de 2014

Dom Helder Câmara: ele enfrentou a ditadura com fé e palavra




 Conheça a história do religioso brasileiro que foi contra o autoritarismo e viajou pelo mundo para discutir e expor o regime militar aos estudantes universitários

 

João Paulo Martins - Revista Encontro Publicação:31/03/2014     


Dom Helder Câmara pregou sua crença nas minorias e discutiu o autoritarismo da ditadura militar com estudantes de diversas universidades pelo mundo
Enquanto o país iniciava seu mais controverso e sombrio período da história, naquele fatídico 31 de março de 1964, uma voz que vinha de Pernambuco, do alto escalão da igreja católica, se fez ouvir pelos quatro cantos do mundo: a do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Pessoa Câmara. Enquanto estudantes, trabalhadores e profissionais da imprensa, no Brasil, enfrentaram a ditadura militar com armas e sangue, o religioso, natural de Fortaleza, usou as palavras e a fé na juventude para confrontar o autoritarismo.

“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer Dom Helder, que teve diversos pensamentos associados a movimentos partidários. Como um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ele ajudou a dar visibilidade, organização e estrutura à instituição, que teve importante papel de enfrentamento durante a ditadura militar brasileira. “Todo o agir de Dom Helder tinha por trás um valor maior, que era a promoção da dignidade humana. Num cenário político controverso, ele defendeu a cidadania”, explica Adenilson Ferreira de Souza, ex-jesuíta e doutorando em Ciências Políticas na UFMG. Seu objeto de estudo, claro, é o religioso brasileiro, um dos principais nomes do país, quando se fala em direitos humanos no século XX.

Com a restrição do espaço político brasileiro após a implantação do Ato Institucional nº 5, o AI-5, em 1968, Dom Helder, por incomodar muito os militares, é considerado pelos agentes do governo um ‘morto-vivo’. Os meios de comunicação não podiam falar sobre ele, nem publicar nada que mencionasse seu nome. O arcebispo estava proibido até de frequentar as universidades do país. Nesse momento, ele se volta para o exterior. “Como não podia circular pelo âmbito acadêmico no Brasil, entre os estudantes, de quem tanto gostava, tomou a sábia decisão de viajar pelo mundo, para discutir com jovens de grandes universidades, especialmente em Paris, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Itália”, diz Adenilson Souza.

Para Dom Helder, os cidadãos menos favorecidos deviam se unir, formando o que chamava de “minorias abraâmicas”, com clara referência bíblica a Abraão, e que tem como preceito a ideia de que em qualquer conjunto de pessoas, ao menos duas são sedentas por justiça e paz. “Ele apostava muito na juventude como engrenagem primordial da sociedade, e na força dos grupos abraâmicos, capazes de pensar soluções e enfrentar as arbitrariedades, com uma força parecida com a da bomba atômica”, completa o doutorando da UFMG.

Foram tantas viagens ao exterior, que o próprio papa Paulo VI, que era amigo de Dom Helder, solicitou que o arcebispo diminuísse o número de palestras internacionais. “O sumo pontífice alegou que o representante da cristandade era o papa e não o colega brasileiro”. Sua forte atuação para divulgar a repressão política no Brasil lhe rendeu nada menos que quatro indicações ao prêmio Nobel da paz – nenhum outro brasileiro teve tantas indicações, mas não o conquistou devido à ação subterrânea de boicote promovida pelo governo militar.
Além disso, recebeu o prêmio Martin Luther King, nos Estados Unidos, e se tornou doutor honoris causa em 32 universidades nacionais e estrangeiras.
                                                            ----------------------




 Assista o documentário sobre Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, morto em 1999. O filme enfoca desde sua participação como figura central da ala progressista da Igreja Católica, na década de 1950, criando a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), até suas ações durante a ditadura militar

Clique no link abaixo para assistir o documentário: O Santo Rebelde
https://www.youtube.com/watch?v=bvURWRz7jlE&feature=player_detailpage


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário