Por Luciano Martins Costa
Do Observatório da Imprensa:
(ilustração: altamiroborges.blogspot.com.br)
Objetivo deste time: induzir um clima constante de pessimismo
O jornal Valor Econômico publicou em manchete, no dia 07 de abril,
reportagem relatando como especuladores perderam dinheiro ao apostar em um
desastre na economia brasileira. “Os ventos do mercado mudaram de direção, a
tempestade perfeita não veio, e isso reduziu bastante os ganhos de quem apostou
na alta do dólar e na queda das ações”, dizem os autores do texto. Na manhã do dia 08, analistas já registraram que a frustração provocou um desvio da
manada de investidores, das carteiras de maior risco para opções mais
conservadoras.
O episódio revela como uma parte do
movimento financeiro se processa no campo da irracionalidade, onde o chamado
wishful thinking, expressão que pode ser traduzida por “autoengano” ou
“autosugestão”, substitui frequentemente os indicadores formais da economia.
Mas o mais grave é constatar que esse autoengano é frequentemente
provocado pela imprensa hegemônica, com a publicação seguida de manchetes
negativas que induzem um grande número de pessoas a um clima de pessimismo.
Alguns entendem que podem ganhar dinheiro com uma crise, mas a realidade acaba
desmentindo os profetas do apocalipse, e está pronta a receita para o
prejuízo.
No caso presente, a expressão “tempestade perfeita” vem sendo
repetida por jornais e revistas desde o final do ano passado. Ela apareceu pela
primeira vez, associada a críticas à política econômica do governo, numa análise
do economista e ex-ministro Delfim Netto, publicada no Estado de S. Paulo no dia
13 de novembro de 2013.
Seu alerta era condicionado a medidas que,
segundo ele, deveriam ser tomadas pelo governo para controlar as contas
externas, o câmbio e os gastos públicos. No entanto, a previsão foi tomada pela
imprensa como muito provável e, curiosamente, um dos primeiros veículos a
enxergar a tormenta que não havia foi o Valor, em artigo de um de seus editores
executivos, publicado no mesmo dia (ver aqui).
Em seguida, a revista Exame, da Editora Abril (ver aqui),
elevou a profecia ao grau de catástrofe inevitável.
Muitos investidores
passaram, então, a valorizar as nuvens escuras.
Mudança dos
ventos
O Valor Econômico voltou atrás ao produzir o caderno especial
“Cenários 2014”, no mês seguinte, desmentindo seu editor executivo (ver síntese
aqui).
No entanto, os três jornais genéricos de circulação nacional – Folha de S.
Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo – seguiram anunciando o
apocalipse.
Até que se produziu a conjunção sonhada pelos especuladores:
o anúncio do rebaixamento do Brasil por parte da agência de avaliação de risco
Standard & Poor’s, o escândalo da Petrobras e, finalmente, a pesquisa
Datafolha sobre intenção de voto, que supostamente iria marcar a queda das
chances de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Mas aconteceu que os ventos
econômicos mudaram de direção, afastando as nuvens negras e o cenário eleitoral
na verdade mostra que a atual presidente pode ser reeleita no primeiro
turno.
A situação econômica ainda é de instabilidade, contexto que deve
perdurar ao longo do ano, em parte sob influência da disputa eleitoral. O que a
imprensa não diz é que uma parcela significativa dessa instabilidade é provocada
pela própria imprensa.
Façamos, por exemplo, uma varredura no noticiário
de terça-feira (8/4): pelos mesmos jornais que seguem apostando em manchetes
negativas, o leitor fica sabendo, em reportagens com menor destaque, que houve
uma “enxurrada” de capital estrangeiro no Brasil no mês de março. O BNDES já
captou no primeiro trimestre um total de recursos superior ao previsto para todo
o ano de 2014, em condições consideradas excelentes, o que demonstra a
credibilidade dos títulos brasileiros. Nas notas curtas, pode-se ler uma lista
de investimentos de empresas multinacionais, entre eles a criação de uma fábrica
de grandes motores da Rolls-Royce no Rio de Janeiro.
Agora, vejamos como
a imprensa produz no público opiniões equivocadas. Meio escondida nas edições
digitais dos jornais, pode-se garimpar um estudo do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada ( IPEA) anunciando que a Copa do Mundo pode render R$ 30
bilhões ao Produto Interno Bruto em 2014, criando 48 mil empregos só no setor de
turismo.
E qual é a percepção que o noticiário sobre o mesmo assunto
induz no público? Pesquisa Datafolha publicada com destaque na terça-feira
afirma que 55% dos brasileiros acreditam que a Copa vai trazer
prejuízos.
É assim que funciona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário