segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Bolsonaro é o extremo. Haddad, não. A falsa polarização do segundo turno

Do Extra:

Bolsonaro é o extremo. Haddad, não. A falsa polarização do segundo turno.

Por: Felipe Pena
 

O discurso de que o segundo turno será disputado entre dois extremos é uma falácia. Bolsonaro e Haddad não são dois lados da mesma moeda, como parte da imprensa tenta carimbar. Basta reparar nos discursos de ambos para perceber a enorme diferença entre eles. Enquanto um defende torturadores ligados à ditadura, o outro tem a democracia como valor absoluto. E as diferenças não param por aí (embora esta seja suficiente).
Em artigo publicado na semana passada, defendi a ideia de que a candidatura de Haddad representa muito mais o centro do que a esquerda. Ele é, no máximo, um candidato de centro-esquerda, jamais de extrema-esquerda, espaço talvez ocupado pelo PSTU, que prega a rebelião como única alternativa política.
Haddad nunca questionou o processo democrático. Nunca elogiou a ditadura. Nunca disse que contestaria o resultado das urnas caso não fosse eleito, como faz Bolsonaro. Ao contrário de seu adversário, Haddad jamais ameaçou mulheres, jamais chamou quilombolas de gado, jamais estimulou a violência e o preconceito.
Não se trata, portanto, de uma eleição polarizada, já que os candidatos não representam polos opostos, muito menos extremos opostos, com o perdão da redundância. O que Bolsonaro e Haddad representam são concepções diferentes sobre a função da política. Enquanto o primeiro se utiliza da urna para legitimar um projeto autoritário (com proposta de autogolpe defendida pelo seu vice), o segundo tem como meta a retomada do projeto de desenvolvimento do qual participou como ministro de Lula. Pode-se criticar o PT em muitos aspectos, alguns com fortes razões, mas durante os 13 anos de governo do partido a democracia jamais foi ameaçada.
Como já escrevi anteriormente, Bolsonaro é o candidato da ignorância, segurando um fuzil na mão direita e uma bíblia na esquerda. Bolsonaro é candidato do ódio, da bancada da bala, dos falsos pastores que usam o nome de Deus com fins econômicos e eleitorais. Para ser a face da mesma moeda, Haddad teria que utilizar as mesmas armas do adversário, mas até seus maiores críticos admitem que o ex-prefeito de São Paulo não tem esse perfil. Haddad é um conciliador formado na tradição dialética da universidade. Professor e advogado, foi ministro da educação durante sete anos. Ganhou uma eleição e perdeu outra, sem contestar o resultado.
Bolsonaro e Haddad são duas faces de diferentes moedas. A única polarização admissível neste provável segundo turno é entre a civilização e a barbárie, o que nos coloca diante de um dilema muito maior, que transcende a eleição. Um dilema sobre o tipo de sociedade que queremos. Um dilema que começa nas urnas, mas pode terminar nos porões dos quarteis ou nas salas de aula. Um dilema entre o pau-de-arara e os livros.
A escolha é sua, eleitor(a).
  • Felipe Pena é jornalista, escritor e professor de comunicação na Universidade Federal Fluminense

Nenhum comentário:

Postar um comentário