quarta-feira, 13 de junho de 2018

O carinho do Papa por Lula, por Mauro Lopes




Após duas notas confusas, o Vaticano confirma na terceira nota que o Papa Francisco enviou um terço e uma mensagem para Lula, através do consultor Juan Grabois.

A posição oficial do Vaticano neste momento, pode ser resumida da seguinte forma: Grabois é consultor do pontífice e veio ao Brasil com a missão de trazer a Lula um terço abençoado e também AS PALAVRAS do Santo Padre – o que evidencia o caráter institucional – e não meramente pessoal – da sua visita. O fato de comunicados anteriores terem sido apagados também sugere que o próprio comando do Vaticano pode ter determinado a revisão dos procedimentos antes adotados pela comunicação da Santa Sé.

Por Mauro Lopes

O carinho do Papa por Lula, maior líder político católico da história brasileira







Lula é o maior líder político católico da história brasileira. E o Papa Francisco fez nesta segunda (11) uma demonstração inequívoca de seu carinho por ele. Enviou a Lula, prisioneiro político há 67 dias, um terço e um bilhete pessoal, escrito a mão. Se o Papa tem afeto por Lula, o regime dos golpistas tem ódio. E, com a mesquinharia típica das ditaduras, proibiram o enviado especial de Francisco de entregar o terço pessoalmente e conversar com o ex-presidente. O episódio é grave. Barrar um enviado do Papa numa visita a um preso político terá ampla repercussão contra o golpe, nacional e internacionalmente. Com o gesto de Francisco, fica claro que sua homilia há cerca de um mês, condenando os golpes de Estado patrocinados pelas mídias conservadoras referia-se de fato ao Brasil.
É um aparente paradoxo: no maior país católico do mundo, o maior líder político católico da história é odiado por milhares e milhares de católicos e católicas, a começar pelo líder do golpe, Michel Temer, e pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ligado à Opus Dei. Nas rede sociais, católicos conservadores ofendem Lula, como ofenderam sua mulher, Marisa Letícia, até a morte, em 2017, e mesmo depois disso. A campanha persistente de ódio destes católicos a Lula não acontecem por serem católicos, mas por serem ferozmente de direita.  
O enviado do Papa à prisão foi ninguém menos que seu assessor para Assuntos de Justiça e Paz, o argentino Juan Grabois, homem da mais absoluta confiança de Francisco. Ao lado do cardeal Peter Turkson, prefeito do Departamento para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, Grabois é o responsável pela organização dos Encontros Mundiais dos Movimento Populares, que reúne anualmente o Papa e lideranças de movimentos sociais de todo o planeta. Nestes encontros, Francisco tem feito críticas contundentes ao capitalismo. No segundo Encontro, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), em julho de 2015, o papa qualificou o sistema de "ditadura sutil". Para Francisco Papa, o capitalismo "é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos...".
Lula deve ter recebido, se a Polícia Federal de fato o entregou, o terço enviado por Francisco -uma peça de contas pretas. O terço é um instrumento de oração e meditação de católicos usado há 800 anos e se compõe de uma sucessão de 10 Aves-Marias entremeadas por um Pai Nosso e uma invocação à Trindade. Os católicos de direita tentam estigmatizar Lula dizendo que ele é "comunista", "ateu" e "bêbado", mas o ex-presidente tem relações profundas com a Igreja Católica, com sua mulher tinha. 
As comunidades eclesiais de base da Igreja Católica foram decisivas para a formação do PT nos anos 1970/80. O partido foi criado pela confluência entre essa comunidades, o sindicalismo combativo liderado por Lula e seus companheiros e intelectuais de esquerda. O teólogo Leonardo Boff e Frei Betto são os principais conselheiros espirituais de Lula. Além de ambos, o padre Júlio Lancellotti e o monge católico Marcelo Barros foram até a prisão em Curitiba e, com eles, Lula tem comungado. 
No dia 17 de maio, na missa matinal em Santa Marta, que o papa preside sempre que está no Vaticano, o pontífice condenou o golpe de maneira dura. Sem citar o Brasil ou o nome de Lula diretamente, fez uma descrição perfeita do que acontece no país: "Criam-se condições obscuras para condenar uma pessoa. A mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas. Depois chega a Justiça, as condena, e no final, se faz um golpe de Estado".
A declaração do Papa aconteceu logo depois de um encontro com uma delegação de jovens brasileiros que foram a Roma para o encontro das Scholas Ocurrentes, um projeto político pedagógico para os jovens de Francisco inspirado nas comunidades eclesiais de base.
Os golpista imaginaram que Lula seria rapidamente esquecido e abandonado no cárcere em Curitiba. Não imaginaram a onda de solidariedade nacional e internacional que se levantaria a seu redor, a denúncia do caráter político de sua condenação e, menos ainda, os gestos do maior líder político do planeta, o Papa Francisco
Fonte: Brasil 247

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