Preliminares do Caos
Fernando Brito
O nome da crise no Brasil é legitimidade.
Desde que o país passou a fazer do policialismo – e de sua versão judicial – o método de disputa do poder, assiste-se à uma degradação das instituições que vai chegando a um impasse que nos leva a um completo caos e, portanto, à mais completa imprevisibilidade sobre o que se vai passar na política e na economia.
Transferido o cenário da disputa política para a Polícia Federal, para o Ministério Público e para os tribunais – hoje, qualquer juiz federal vale mais que uma bancada inteira de parlamentares – a transição para o arbítrio tornou-se óbvia, até porque eles tornaram-se parte ativa e incontestável desta disputa.
O Brasil das oligarquias políticas, ao longo do século passado, passou a ser o Brasil das oligarquias da mídia. Como esta, porém, não tem os instrumentos de decisão, passamos à oligarquia da toga, que dá efetividade ao controle da sociedade que os intérpretes do sistema dominante desejam.
Tornamo-nos um país governado por uma casta judicial que, mesmo com os conflitos internos que possa ter, adere integralmente ao sistema de dominação do país.
Como toda a ditadura corporativa, porém, ela não consegue deter seu processo de erosão por uma realidade que pretende moldar pelos seus desígnios e ordens.
E racha.
Está evidente a inutilidade dos movimentos de Edson Fachin e Cármem Lúcia para retardarem aquilo que Gilmar Mendes disse hoje sobre “o Supremo voltar a ser Supremo” e não mais o “puxadinho” da Lava Jato.
Inúteis, mas terríveis, porque será inevitável que se coloque em julgamento o que a atual presidente vem postergando desde o final do ano passado: a inconstitucionalidade da prisão “automática” após as sentenças de segunda instância, mas antes do julgamento de recursos que podem anulá-las.
Se ela não o fizer, é certo que, com o grau de acirramento que esta questão tomou, o novo presidente do Tribunal, Dias Toffoli, terá de fazê-lo.
E isso, quase que certamente, resultará na libertação de Lula a poucos dias – ou poucos dias depois – da eleição que, todos sabem, ele venceria, se pudesse delas participar.
Dá para imaginar em que grau isso comprometeria a legitimidade de quem for eleito num pleito realizado nestas condições?
Ou se acelera, pois, as decisões que, inevitavelmente, devem ser tomadas ou não se encontrará saída para a crise de legitimidade do poder no Brasil.
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