A desastrosa política do governo Temer e do tucano Pedro Parente de aumento diários de preços de combustível levou a aumento de preços desastrosos para a população brasileira e beneficiou os grandes acionistas da Petrobrás aumentando muito o seu lucro..
Veja a matéria na integra:
A disparada dos preços da gasolina, do gás de cozinha e do diesel não pode ser tratada como uma questão apenas de tributação. É, acima de tudo, um problema de gestão da Petrobrás, que vem sendo administrada para atender exclusivamente aos interesses do mercado.
Com o aval do governo Temer, o presidente da empresa, Pedro Parente, adotou em outubro de 2016 uma política de preços internacionais para os derivados produzidos pela estatal, sem estabelecer qualquer mecanismo de proteção para o consumidor. A FUP denunciou na época que quem pagaria a conta seria o povo brasileiro e que o País estaria refém das crises internacionais de petróleo.
Mesmo sabendo das consequências, Temer e Parente optaram por satisfazer o mercado e, em julho do ano passado, os reajustes nas refinarias passaram a ser diários. Desde então, a Petrobrás alterou 230 vezes os preços nas refinarias. Isso resultou em aumentos de mais de 50% na gasolina e diesel, enquanto os preços do GLP tiveram 60% de reajuste.
Não adianta, portanto, reduzir os impostos, que o governo já havia aumentado em 100% no ano passado, se não houver uma mudança estrutural na gestão da Petrobrás. Os combustíveis continuarão subindo de forma descontrolada, enquanto o principal foco do problema não for atacado.
O alinhamento internacional dos preços de derivados faz parte do desmonte da Petrobrás. O objetivo é privatizar as refinarias, os dutos e terminais, assim como já ocorreu com os campos do Pré-Sal, gasodutos, subsidiárias, entre dezenas de outros ativos estratégicos da estatal. Para facilitar a entrega, Pedro Parente, subutilizou o parque de refino e passou a estimular a importação de derivados por empresas privadas.
Em 2013, a Petrobrás tinha capacidade de atender 90% da demanda interna de combustíveis. Em 2017, esse percentual caiu para 76%. Algumas refinarias já operam com menos da metade da capacidade de produção, como é o caso da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, uma das quatro unidades que Parente colocou à venda.
Beneficiadas por essa política, as importadoras de combustíveis fazem a festa. Os derivados importados já representam 24% do mercado nacional. Ou seja, a cada 10 litros de gasolina vendidos no Brasil, 2,5 litros são importados. Enquanto isso, a Petrobrás está sendo reduzida a uma mera exportadora de petróleo, quando poderia abastecer integralmente o País com diesel, gasolina e gás de cozinha a preços bem abaixo do mercado internacional.
Pedro Parente, que no inicio dos anos 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso, ficou conhecido como o ministro do apagão, de novo criou uma armadilha para o povo. Com a enxurrada de importação de combustíveis, ficará mais difícil controlar os preços, pois, sem a paridade internacional, as importadoras saem de cena, deixando o prejuízo para a Petrobrás. Se a estatal não voltar a ocupar lugar de destaque no refino e na distribuição de derivados, ficará cada vez mais refém dos preços internacionais.
Estamos, portanto, diante de mais um apagão imposto por Pedro Parente. Um desmonte que a mídia esconde, fazendo a população pensar que a disparada dos preços dos combustíveis é apenas uma questão de tributação.
Por isso os petroleiros farão a maior greve da história da Petrobrás. Uma greve que não é por salários, nem benefícios. Uma greve pela redução dos preços do gás de cozinha, da gasolina e do diesel. Uma greve pela retomada da produção de combustíveis nas refinarias brasileiras e pelo fim das importações de derivados de petróleo. Uma greve contra o desmonte da empresa que é estratégica para a nação.
Porque defender a Petrobrás é defender os interesses do povo brasileiro.
Enquanto o Brasil está virado do avesso com a crise da paralisação dos caminhoneiros por causa do preço do diesel muito acima do preço internacional do produto (56% acima) e a população amarga a segunda gasolina mais cara do mundo, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, passou algumas horas desta quinta (24) acalmando grandes "investidores", acionistas da empresa. Numa conferência privada com representantes destes investidores, basicamente bancos, grandes empresas e fundos de investimentos de multimilionários, Parente garantiu que são eles a prioridade de sua gestão à frente da Petrobras (aqui). Na reunião, Parente comportou-se como se fosse presidente de uma grande empresa privada prestando contas a seus patrões, os "investidores/acionistas". Assegurou que sua ação é "no melhor interesse da empresa", que se o governo quiser dar qualquer tipo de subsídio no preço do óleo diesel terá que reembolsar a Petrobras e formalizar o procedimento por contrato. Finalmente, procurou tranquilizar o grupo afirmando que a redução no preço do diesel foi uma exceção, que não se repetirá e que ele continuará como presidente da Petrobras.
Na manhã desta sexta, o braço direito de Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse Parente é o nome do governo na empresa. Assegurou (com os olhos voltados para os "investidores" que será mantida a política de preços da Petrobras, que vincula seus reajustes à variação do dólar e da cotação do petróleo no mercado internacional, com objetivo de assegurar gordos lucros aos mesmos "investidores" (aqui).
Da mesma maneira, Temer fez um "pronunciamento à Nação", no início da tarde, garantindo que o Exército será mobilizado para que a Petrobras continue a serviço dos "investidores". Enquanto isso, os aeroportos estão em colapso, as cidades estão em estado de emergência, hospitais, supermercados e farmácias quase sem conseguir funcionar, ônibus e carros recolhidos às garagens por falta de combustível.
Pedro Parente foi conduzido à presidência da Petrobras logo depois da deposição de Dilma, indicado por Fernando Henrique Cardoso e como um nome de consenso dos golpistas. O objetivo era colocar a maior empresa do país de joelhos, a serviço dos ricos -os "investidores"- e entregar o maior patrimônio do país, o pré-sal, a preço de banana para os grandes grupos petroleiros internacionais. A gestão de Pedro Parente à frente da Petrobras tem sido ruinosa para o país e a empresa, que de fato tornou-se servidora dos interesses dos "investidores" e das grandes empresas petroleiras do mundo.
A dimensão da conduta dos golpistas na Petrobras, que pode ser qualificada como criminosa, foi assinalada pelo PT em nota emitida na manhã desta sexta e assinada por sua presidente, Gleisi Hoffmann, e pelos líderes do partido no Senado, Lindbergh Farias, e na Câmara, Paulo Pimenta:
"Além disso, a direção entreguista da Petrobras reduziu em cerca de 30% a produção de combustíveis em nossas refinarias, abrindo o imenso mercado brasileiro para a importação de combustíveis. Nossas importações de derivados norte-americanos subiram de 41% para 82%. Estamos exportando óleo cru, ao invés de refiná-lo aqui mesmo, e comprando combustível mais caro no estrangeiro, que muitas vezes é produzido a partir do nosso petróleo. É uma estratégia suicida, que visa a atrair investidores para a privatização da Petrobras. Um crime contra a economia popular e contra a soberania nacional."
Em vez de reverter a política de liquidação da Petrobras que levou o país ao caos, Temer e Parente garantem aos "investidores": farão o necessário para preservar os interesses deles, inclusive colocar o Exército nas ruas contra os caminhoneiros e contra quem mais ousar levantar a cabeça. Temer e Parente são os inimigos do povo Brasileiro e mantêm o país como refém, não os caminhoneiros.
Entenda por que a foto de Moro com Pedro Parente em Nova York explica o caos no abastecimento no Brasil. Por Joaquim de Carvalho
Estas três fotos explicam o Brasil: A de Moro com Pedro Parante em Nova York é o retrato do movimento que saqueia o Brasil, a do coordenador dos petroleiros e o protesto em Minas mostra a defesa do patrimônio brasileiro: é simples assim.
Agora leia o texto e entenda:
As panelas estão silêncio, mas paneleiros renintes, com a cabeça feita pelos analistas da Globo, continuam tagarelando nas redes sociais, e tentam colocar a culpa do caos gerado na vida dos brasileiros aos governos de Dilma e Lula.
Incrível.
Michel Temer assumiu o governo com a mão grande e, imediatamente, implantou o plano de governo derrotado nas urnas.
O PSDB é condômino de um governo que não nasceu das urnas.
A promessa era que, com Dilma fora, os investimentos voltariam, o dólar cairia e o desemprego diminuiria.
Basta olhar os números para ver o que fizeram ao Brasil: com Dilma, a gasolina custava R$ 2,99, o gás de cozinha, R$ 50,00, e a taxa de desemprego estava em 4,8%.
A gasolina está agora a R$ 4,90 (mas no dia de hoje é mais fácil encontrar uma nota de 100 reais na rua do que o combustível no posto).
O gás de cozinha custa R$ 75,00.
O desemprego atinge 14% da população e o dólar está em R$ 3,95.
Os números não mentem, mas os mentirosos manipulam os números. Na Globo, os analistas continuam tentando, de alguma maneira, culpar Dilma pelo caos:
Ao comentar o locaute, que a Globo de protesto, Alexandre Garcia deu um jeito de enfiar o PT na história: nesta manhã, ele disse que a corrupção quase destruiu a Petrobras e agora o que a ameaça é a fraqueza do governo Temer.
Os ministros negociaram com a corda no pescoço e decidiram que o governo dará à Petrobras R$ 4,9 bilhões até o fim do ano.
É uma maneira de compensar a redução de 10% nos preços do diesel. “O contribuinte vai pagar a conta”, alertou o jornalista.
O que a velha imprensa não diz, os petroleiros estão dando um jeito de mostrar.
Em Minas, houve uma paralisação de oito horas, preparativa para uma greve maior, conforme explicou o coordenador do Sindipetro em Minas Gerais:
— Essa paralisação de hoje é o início de uma greve que está sendo construída nacionalmente, que pretende parar todas as refinarias do país e as plataformas, e aí é importante ter a população do nosso lado. A greve não é por benefício nem por salário. É para que o governo deixe os petroleiros trabalhar. As refinarias estão trabalhando com carga baixa a mando do governo, para que os importadores tragam combustíveis mais caros para o país.
Bingo!
É isso que está acontecendo: com o dólar mais alto, o preço do produto sobe de acordo com a variação da moeda.
Com a refinaria trabalhando com menor capacidade, os custos de refino da Petrobras diminuem, e o lucro aumenta.
Resultado: essa política é boa para que tem ações da empresa — os dividendos podem aumentar e as ações podem subir.
O que atrapalhou esse plano foi a paralisação, porque obrigou a Petrobras a reduzir o preço do diesel, ainda que temporariamente.
As ações caíram — mas logo voltam a subir, pode apostar.
Quem vai cobrir o prejuízo por esse modelo perverso de gestão do petróleo no Brasil é o pobre.
No final, ele é quem vai pagar a conta, porque o governo se comprometeu a subsidiar o preço do produto.
Para fazer isso, terá que mudar o orçamento.
Sairá dinheiro de uma área e irá para outra. E, em situações assim, quem perde é a saúde, a educação, a assistência social e, se conseguirem mudar a Constituição, a Previdência.
São os setores que não têm lobby no governo.
Quem defende uma política que inclua o pobre no orçamento é o PT e os partidos de esquerda. Entende agora por que seus líderes estão sendo presos?
É nesse ponto que assume relevância a figura do juiz Sergio Moro.
Pedro Parente continuaria com sua empresa de gestão de fortunas ou como executivo de alguma multinacional, como a importadora e exportadora Bunge, se Moro não tivesse fornecido o argumento para destruir a economia brasileira, com a farsa do maior escândalo de corrupção na história da Via Láctea encontrado na Petrobras.
A atuação dele direta nos negócios do governo terminou em 2003 (quando Lula assumiu), depois de gerir o Ministério das Minas e Energia, no período em que houve racionamento de energia.
Com a mudança de governo, Pedro Parente foi chamado para tomar conta da Petrobras, justo ele que era chamado de “ministro do apagão”.
Sem Moro, não existiria Parente na Petrobras. Sem a Petrobras sob gestão de Parente, certamente Moro não seria homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos como Personalidade do Ano.
É por razões como esta que a eleição de outubro se tornou a mais importante da história do Brasil.
Só o eleitor pode dar um basta nesta política que não atende aos interesses dos brasileiros.
Muitos paneleiros continuarão ligados no que diz a Globo, como robôs, mas ainda há uma parcela que pode se libertar.
Por Marcelo Zero A Petrobras e o Brasil são vítimas de uma péssima gestão. Os neoliberais, chamados jocosamente de “cabeças-de-planilha”, consideram-se gestores eficientes, que cortam gastos e aumentam lucros. Mas, realidade, são administradores míopes e irracionais, sem nenhuma visão estratégica.
O caso da atual administração da Petrobras é típico.
Ela assumiu a empresa com a intenção clara de aumentar, no curto prazo, o lucro da Petrobras, amortizar celeremente as dívidas e realizar um “plano de desinvestimentos” que, significa, na prática, a privatização fatiada da empresa.
Na esteira dessa lógica privatizante e de curto-prazo, campos do pré-sal e do pós-sal foram leiloados para empresas estrangeiras a um preço ridículo. O de Carcará, por exemplo, foi leiloado a um preço equivalente a US$ 2 o barril, cujo preço no mercado mundial já está alcançando os US$ 80. O mesmo aconteceu e acontece com outros ativos estratégicos da empresa, como gasodutos, plantas de gás, plantas petroquímicas e refinarias.
Mas, além desse plano de desinvestimentos e de privatização, a atual administração do imperador Pedro III montou estratégia específica para o segmento de refino, transporte, armazenamento e comercialização de derivados.
Esta estratégia teria, segundo Cloviomar Cararine Pereira, economista, técnico do Dieese na subseção da FUP (Federação Única dos Petroleiros) e integrante do Grupo de Estudos Estratégicos e Propostas (GEEP/FUP), três pilares:
1) “a promoção de uma nova política de preços e a maximização de margens na cadeia de valor ( liberação geral dos preços, de acordo com as cotações internacionais +custos de internação e “riscos”);
2) a não garantia integral do abastecimento do mercado brasileiro, por entender que, em sua lógica de negócios, há a previsão do ingresso de mais agentes (privados)para o atendimento total da demanda; e;
(3) o desenvolvimento de parcerias no downstream, possibilitando a introdução de outros atores no refino e na logística.”
Assim, a estratégia central para o refino e a distribuição é a de atrair investidores privados a fim de aumentar a concorrência neste setor dentro do país. Como fazer isso?
Em primeiro lugar, liberar totalmente os preços, deixando-os flutuar livremente, sem nenhuma modulação estratégica de médio e longo prazo, o que introduz alta volatilidade no mercado, e também maximizá-los artificialmente, incorporando em seu cálculo fatores subjetivos, como os “riscos” políticos. Observe-se que, no governo Lula, o diesel foi reajustado 8 vezes, no governo Dilma, ele foi reajustado também 8 vezes e, no governo Temer, em apenas 2 anos, ele foi reajustado 229 vezes!
Em segundo lugar, reduzir a capacidade de utilização de suas refinarias, estimulando a importação de derivados por agentes privados (nacionais e internacionais).
Esses dois movimentos simultâneos aumentam muito o preço dos derivados do petróleo no mercado interno. É por isso que o preço do diesel no Brasil está bem acima do preço internacional do produto (50% acima). É por isso que o Brasil está com a segunda gasolina mais cara do mundo. É por isso que a população mais pobre não consegue mais comprar botijões de gás. É por tal razão que a economia brasileira está paralisando. É por isso que o Brasil está importando combustíveis de grandes petroleiras norte-americanas, como Chevron, Exxon, etc.
Ao mesmo tempo, aumentam as exportações de petróleo cru do Brasil. Muito desse combustível importado deve ter sido manufaturado com óleo brasileiro.
Tudo isso é feito, frise-se, não para “recuperar a Petrobras”, mas sim para atrair investidores privados para esse mercado, remunerar acionistas e vender partes da empresa.
Saliente-se que a Petrobras pretende vender 4 refinarias (Landolpho Alves, Abre e Lima, Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini), Elas representam 40% da capacidade instalada da Petrobras no refino brasileiro. Neste sentido, a Petrobras está abrindo mão do controle de 40% da sua capacidade de refino no país, mesmo depois de ter consolidado os enormes investimentos nestas refinarias. Ademais, como ressalta Cararine Pereira, a empresa está criando competidores para si mesma, em um mercado muito rentável e do qual tinha total controle.
Na prática, isso significa uma menor participação da Petrobras no refino e uma menor utilização das suas refinarias. Também significa menor participação na distribuição. No caso do setor petroquímico, a coisa é pior, pois a Petrobras anunciou sua saída deste segmento.
Em suma, com essa estratégia privatizante e desintegradora, a estatal deixa de ser a empresa integrada do “poço ao posto”, como vinha sendo, para se tornar mera produtora e exportadora de petróleo cru, ou seja, uma empresa do “poço ao porto”.
Na realidade, essa política está matando a Petrobras como empresa integrada, capaz de gerar produtos de alto valor agregado e de estimular uma grande cadeia nacional de petróleo e derivados. Lembre-se que o governo Temer acabou com a política de conteúdo nacional e, agora, importamos navios e sondas da China, Coreia, Holanda, etc.
Uma empresa como a Petrobras tinha de ser gerida com amplo sentido estratégico, visando propiciar modicidade de preços para beneficiar o público e estimular a economia nacional. As empresas estatais chinesas e a francesa Total, por exemplo, são geridas com essa perspectiva e, mesmo assim, dão lucro.
A Petrobras, frise-se, sempre deu lucro operacional. Suas dificuldades conjunturais ocorreram após a grande queda do preço do petróleo e os efeitos profundamente negativos da Lava Jato. A Petrobras, que era a operadora única de uma das maiores jazidas de petróleo do mundo, nunca esteve nem perto de “quebrar”, como mentiram os interessados na venda do pré-sal e da empresa.
Entretanto, o imperador Pedro III gere a empresa como se fosse uma bolha privada, que não tem nenhuma relação com o resto da economia nacional e com o interesse público. A única coisa que importa é o lucro dos acionistas e os negócios privatizantes com os “parceiros”. Se para isso se cria uma volatilidade monstruosa e irracional, que se dane o público e o resto da economia.
Trata-se de uma política de país colonizado, que produz e exporta óleo cru. Assim, a Petrobras vai se assemelhar cada vez mais às petroleiras africanas, como a Sonangol angolana e a NNPC nigeriana, empresas que produzem apenas matéria-prima para as grandes petroleiras dos países desenvolvidos.
Quando os preços do petróleo saltaram no início da década de 1970, nosso grande Celso Furtado escreveu o seguinte:
“Poucas vezes um desafio tão sem ambiguidades se apresentou a um grupo de dirigentes, ampliando abruptamente o campo do possível....... Nos próximos dois decênios, a Venezuela poderá ter saltado a barreira que separa subdesenvolvimento de desenvolvimento, sendo quiçá o primeiro país da América Latina a realizar essa façanha, ou terá perdido a sua chance histórica. Pelo menos sobre um ponto básico existe consenso: a inação ou a omissão do Estado não constitui uma opção.
A Venezuela, infelizmente não aproveitou essa “ampliação abrupta do campo do possível”.
O pré-sal, descoberto graças aos esforços isolados da Petrobrás, representa exatamente essa “ampliação do campo do possível” para o Brasil. Com ele, com uma empresa integrada e com uma grande cadeia nacional de petróleo e gás, poderíamos estimular como nunca nosso desenvolvimento e nossa Educação.
Mas os míopes privatizantes não conseguem perceber essa imensa oportunidade histórica. Eles não estão apenas paralisando agora a economia nacional e empobrecendo a população. Eles estão jogando fora o nosso futuro.
O imperador Pedro III precisa fazer um baile na Ilha Fiscal.
EDITORIAL DA REVISTA FÓRUM: A intervenção militar pura é algo que poderia escancarar o golpe no Brasil e prejudicar a continuidade do projeto neoliberal radical que vem sendo implementado pelo governo Temer. Mas uma solução “café com leite”, com o Supremo e com tudo, poderia ser melhor aceita e envolver também as Forças Armadas.
Por Renato Rovai e Ivan Longo
O pais está em alerta não mais com a greve dos caminhoneiros, mas com o que ela pode gerar. As consequências com a possível paralisação de aeroportos e desabastecimento a partir de amanhã podem criar um ambiente mais do que propício para intervenções radicais.
A paralisação dos caminhoneiros por conta dos sucessivos aumentos no preço do diesel já fazem postos de combustível vender gasolina a quase R$9,00 o litro, como acontece em um posto de Recife. Além disso, temendo mais aumentos, a população faz filas e lota postos de combustível em todo o país. Assim como os supermercados, que são afetados com a paralisação por conta do abastecimento de alimentos. No Ceasa do Rio de Janeiro, que é a principal central de abastecimento de alimentos da cidade, por exemplo, já há falta de produtos, provocando a alta dos preços. O saco de batatas que era vendido a R$60 chega a ser comercializado por R$400. Já a BRF, maior empresa brasileira de carne de frango e carne suína, informou hoje que paralisou totalmente quatro unidades por conta dos protestos. Além disso, outros nove frigoríficos da companhia terão atividades suspensas (total ou parcialmente) pois a greve, de acordo com nota da empresa, inviabilizou o recebimento de matérias-primas.
Supermercados desabastecidos, preços de combustíveis e alimentos nas alturas, serviços interrompidos e insatisfação popular generalizada: um ambiente mais do que propício para que cresça o apoio a uma intervenção militar.
Os indícios são de que parte dessas mensagens está sendo enviada não de maneira orgânica ou espontânea, mas por postagens pagas e provavelmente a partir de distribuição por linhas telefônicas do exterior
A intervenção militar pura é algo que poderia escancarar o golpe no Brasil e prejudicar a continuidade do projeto neoliberal radical que vem sendo implementado pelo governo Temer. Mas uma solução “café com leite”, com o Supremo e com tudo, poderia ser melhor aceita e envolver também as Forças Armadas.
Os próximos dias são decisivos para o país. E o adiamento das eleições com a constituição de um governo interventor jurídico-militar é uma possibilidade que não pode ser descartada. Por isso, mais do que nunca as forças progressistas têm que disputar as ruas e articular fortemente um campo civil democrático para resistir ao que pode estar sendo construído nas sombras e nas casernas. O momento não é apenas de mais uma crise. Mas de uma grave crise político-institucional. Que pode nos levar a um túnel ainda mais escuro do que o atual.
Faleceu nesta terça-feira (22) Alberto Dines, jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor. A informação foi publicada pela página do Repórter Brasil, telejornal da TV Brasil, em rede social. Dines ingressou em 1962 no JORNAL DO BRASIL, onde foi responsável por uma profunda reformulação que levou o jornal a se consolidar na vanguarda da imprensa nacional.
O jornalista, diretor do programa Observatório da Imprensa da TV Brasil, faleceu às 6h no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado devido a uma pneumonia. A causa da morte do ex- editor do JORNAL DO BRASIL foi insuficiência respiratória. A viúva, jornalista Norma Couri, ainda resolve se o enterro será na capital paulista ou no Rio de Janeiro.
"É com profunda tristeza que a equipe do Observatório da Imprensa comunica o falecimento de seu fundador, Alberto Dines (1932-2018), na manhã de hoje no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Estamos preparando uma edição especial sobre o legado do Mestre Dines a ser publicada em breve", diz nota do instituto.
Alberto Dinesnasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 19 de fevereiro de 1932, filho de Israel Dines e de Raquel Dines, ambos de origem judaica. Fez os cursos primário e ginasial em colégios israelitas do Rio.
Em 1943 teve sua primeira experiência jornalística como um dos organizadores do boletim estudantil Horta da Vitória, do Ginásio Hebreu Brasileiro. Cursou o científico no Colégio Andrews.
Iniciou sua carreira em 1952 como crítico de cinema da revista A Cena Muda. No ano seguinte foi convidado por Nahum Sirotsky para trabalhar como repórter na recém-fundada revista Visão, cobrindo assuntos ligados à vida artística, ao teatro e ao cinema. Passou a fazer reportagens políticas, cobrindo as campanhas de Jânio Quadros para a prefeitura de São Paulo em 1953 e, um ano mais tarde, para o governo do Estado.
Permaneceu na Visão até 1957, quando foi levado por Nahum Sirotsky para a revista Manchete. Tornou-se assistente de direção e secretário de redação. Após desentendimentos com Adolpho Bloch, demitiu-se da empresa e tentou criar, com recursos próprios, uma revista que não chegou a ser editada.
Em 1959 assumiu a direção do segundo caderno do jornal Última Hora, depois foi diretor da edição matutina e, mais tarde, das duas edições diárias (matutina e vespertina).
No ano seguinte foi nomeado editor-chefe da recém-criada revista Fatos e Fotos, tendo colaborado, nessa ocasião, no jornal Tribuna da Imprensa, então pertencente ao Jornal do Brasil. Em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o Diário da Noite, dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, convertendo-o em tabloide vespertino. Deixou o jornal, demitido por Chateaubriand, por não obedecer a ordem de ignorar o sequestro do navio Santa Maria, em Recife, feito em protesto contra a ditadura de Antônio Salazar em Portugal.
JORNAL DO BRASIL
Ingressou em janeiro de 1962 no JORNAL DO BRASIL como editor-chefe, aos 30 anos e dez de profissão. Segundo o diretor Manual Francisco do Nascimento Brito, com a entrada de Dines, a reformulação do jornal foi afinal consolidada, pois ele sistematizou as modificações que levaram o JBa ocupar outra posição na imprensa brasileira.
Em 1963 Dines criou e ocupou a cadeira de jornalismo comparado na Faculdade de Jornalismo da PUC. No período fundou, dirigiu e colaborou regularmente com os Cadernos de Jornalismo e Comunicação do JORNAL DO BRASIL. Em 1965, instituiu a cadeira de Teoria da Imprensa na PUC, onde lecionou até 1966.
“Tempo negro. Temperatura sufocante" e a capa de Allende
Quando da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, coordenou a edição da célebre primeira página que se valeu de recursos como a previsão do tempo – “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos...” – e de um anúncio no alto da página: “Ontem foi o dia dos cegos”, como parte de uma estratégia para denunciar a censura imposta à redação a partir de então, em consequência da nova ordem política autoritária instalada.
Convidado para ser paraninfo de uma turma da PUC logo após a edição do AI-5, fez um discurso criticando a censura e, em consequência, foi preso em dezembro de 1968 e em janeiro de 1969 e submetido a inquérito. Em 1971, recebeu o prêmio Maria Moors Cabot da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Foi demitido em 1973 do JB, depois de 12 anos como editor. No JB, criou o Departamento de Pesquisa, a Editoria de Fotografia, a Agência JB e os Cadernos de Jornalismo. Um dos episódios que marcaram sua passagem pelo jornal foi a cobertura da deposição por golpe militar do presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. Como a censura havia proibido a publicação de qualquer manchete sobre o assunto, Dines coordenou com o diagramador Ezio Esperanza a edição de uma primeira página sem manchete.
Jornalista, professor, biógrafo e crítico
Em 1974 deixou, depois de 12 anos, a Fatos e Fotos, viajando para os Estados Unidos, onde foi professor visitante, durante um ano, na Universidade de Columbia. Retornou em julho de 1975 e assumiu a chefia da sucursal carioca da Folha de São Paulo, convidado por Cláudio Abramo, diretor de redação. Em 1980, Dines deixou a Folha de São Paulo, demitido por Boris Casoy, após escrever um artigo denunciando a repressão do governador Paulo Maluf à greve do ABC. Colaborou, durante todo esse ano, no semanário O Pasquim, onde reeditou a coluna Jornal dos jornais. Nesse período, escreveu a biografia do escritor Stefan Zweig.
Em seguida assumiu o cargo de secretário editorial da editora Abril, em São Paulo. Como diretor-editorial-adjunto, participou da criação de revistas com a Exame de Portugal e instituiu os cursos de extensão e aperfeiçoamento.
Em Lisboa, entre 1988 e 1995, como diretor do grupo Abril em Portugal e consultor editorial da Sojornal ¾ que edita o maior semanário português, o Expresso, e o único vespertino do país, A Capital. Foi também diretor da empresa Jornalistas Associados, que prestava serviços de consultoria no Brasil e em Portugal. Em 1994 criou em Portugal o Observatório da Imprensa. Concluiu e editou a biografia de Antônio José da Silva, o Judeu, e o primeiro volume do livro Vínculos de Fogo.
Veja o vídeo produzido pelo Observatório da Imprensa em 2012, em homenagem aos 80 anos de Alberto Dines
De volta ao Brasil, em 1994 foi o responsável pela criação do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Passou também a escrever, entre agosto de 1994 e setembro de 1995, uma coluna de crítica ao jornalismo na revista Imprensa.
Em abril de 1996, lançou a versão eletrônica do Observatório da Imprensa, jornal de crítica e debate sobre o jornalismo contemporâneo, que passou a ter uma edição na TV Educativa do Rio de Janeiro em maio de 1998, e meses depois passou também a integrar ao vivo a programação da Rádio e Televisão Cultura de São Paulo.
Voltou ao JORNAL DO BRASILem outubro de 1998, onde passou a manter coluna semanal de crítica jornalística. Foi ainda consultor da Grande Enciclopédia Larousse e colaborador de O Estado de São Paulo e do Observador Econômico, de São Paulo. Fez estágios em jornais estrangeiros, como o Daily News e o New York Times, em Nova Iorque; o Daily Mirror, em Londres; o Paris Match e o Paris Jour, na França. Recebeu o título de notório saber em História e Jornalismo da Universidade de São Paulo (USP).
Casou-se pela primeira vez com Ester Rosali Dines, sobrinha de Adolfo Bloch, com quem teve quatro filhos. E, pela segunda, com a jornalista Norma Couri.
Publicou Vinte histórias curtas (contos, em co-autoria, 1960), Os idos de março e a queda de abril (co-autoria e organização, 1964), O mundo depois de Kennedy (1965), Jornalismo sensacionalista (em co-autoria, 1969), Comunicação e jornalismo (1972),Posso? (contos, 1972), O papel do jornal (1974), E por que não eu? (sátira política, 1979), A imprensa em debate (em co-autoria, 1981), Morte no paraíso - A tragédia de Stefan Zweig (biografia, 1981), O baú de Abravanel: uma crônica de sete séculos até Silvio Santos (biografia, 1990), Vínculos de fogo: Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil(biografia, 1992, volume 1), 20 textos que fizeram história (1992), As transformações da revolução global e o Brasil (1995), Diários completos do capitão Dreyfuss (organizador, 1995).
Papa condena golpes forjados pela mídia Na manhã desta quinta (17), na missa em Santa Marta, que o papa preside sempre que está no Vaticano, Francisco condenou o golpe de maneira dura. Sem citar o Brasil ou o nome de Lula diretamente, fez uma descrição perfeita do que acontece no país. O Papa descreveu à perfeição a situação brasileira: "a mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas". Depois chega a justiça, "as condena e, no final, se faz um golpe de Estado".
Jornal do Brasil
Em missa, Francisco condenou intriga como método utilizado para dividir as pessoas na vida política
Em missa celebrada nesta quinta-feira (17), na Casa Santa Marta, no Vaticano, o Papa Francisco comentou sobre o papel da mídia e da Justiça na vida política de um país. “A mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas”. Depois chega a Justiça, “as condena e, no final, se faz um golpe de Estado”.
Durante a homilia, o papa também disse que “criam-se condições obscuras” para condenar uma pessoa. Segundo o pontífice, prática similar usada na perseguição de Jesus Cristo, Paulo, Estevão e outros mártires; e muito usada ainda hoje.
"A fofoca é uma atitude assassina"
A condenação dos mártires, ainda segundo Francisco, vem de um "ambiente de falsa unidade". Para o pontífice, um grupo se reúne e cria inverdades a fim de condenar uma figura específica. O papa também fez questão de destacar que, posteriormente, as mesmas pessoas se voltam umas contra as outras, por conta, exatamente, da "falsa unidade". "Por isso a fofoca é uma atitude assassina, porque mata, exclui as pessoas, destrói a 'reputação' das pessoas", comentou Francisco.
Hollande, Zapatero e outros líderes europeus defendem Lula candidato
Carta Capital
Seis ex-chefes de Estado pediram para ex-presidente participar das eleições e o chamaram de "incansável arquiteto da redução das desigualdades"
AFP
Hollande é um dos signatários da nota em defesa do ex-presidente
Seis ex-chefes de Estado e de governo europeus, entre eles o francês François Hollande e o espanhol José Luis Rodriguez Zapatero, assinaram um comunicado que exige a participação de Lula nas eleições presidencias de 2018, para "se submeter livremente ao sufrágio do povo brasileiro".
A nota é assinada também por Massimo D'Alema, Enrico Letta e Romano Prodi, três ex-presidentes do Conselho de ministros da República italiana (cargo equivalente ao de primeiro-ministro), além de Elio di Rupo, ex-primeiro ministro da Bélgica.
Segundo os signatários, a prisão "apressada" de Lula "só pode despertar nossa emoção". Os seis líderes afirmam que o ex-presidente foi um "incansável arquiteto da redução das desigualdades no Brasil".
De acordo com eles, o impeachment de Dilma, "eleita democraticamente por seu povo e cuja integridade nunca foi questionada", já era "uma preocupação séria". "A luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e o direito dos povos de eleger os seus governantes", dizem. Por fim, eles solicitam que Lula seja candidato.
Lula está preso há 38 dias em Curitiba, na Superintendência da Polícia Federal. Em tese, a Lei da Ficha Limpa o torna inelegível, pois ele foi condenado em segunda instância pelo processo do tríplex. O ex-presidente deve inscrever sua candidatura e terá de ir à Justiça Eleitoral para evitar a impugnação de seu nome.
Desde que a justiça liberou visitas religiosas, fui o segundo a ter graça de visitar o presidente Lula em sua prisão. (Quem abriu a fila foi Leonardo Boff na segunda-feira passada).
Eram exatamente 16 horas quando cheguei na dependência da Polícia Federal onde o presidente está aprisionado. Encontrei-o sentado na mesa devorando alguns livros, entre os quais vários de espiritualidade, levados por Leonardo.
Cumprimentou-me. Entreguei as muitas cartas e mensagens que levei, algumas com fotografias. (Mensagem do Seminário Fé e Política, de um núcleo do Congresso do Povo na periferia do Recife, da ASA (Articulação do Semi-árido de Pernambuco) e de muitos amigos e amigas que mandaram mensagens.
Ele olhou uma a uma com atenção e curiosidade. E depois concluiu: - De saúde, estou bem, sereno e firme no que é meu projeto de vida que é servir ao povo brasileiro como atualmente tenho consciência de que eu posso e devo. Você veio me trazer um apoio espiritual. E o que eu preciso é como lidar cada dia com uma indignação imensa contra os bandidos responsáveis por essa armação política da qual sou vítima e ao mesmo tempo sem dar lugar ao ódio.
Respondi que, nos tempos do Nazismo, Etty Hillesum, jovem judia, condenada à morte, esperava a hora da execução em um campo de concentração. E, naquela situação, ela escreveu em seu diário:
“Eles podem roubar tudo de nós, menos nossa humanidade. Nunca poderemos permitir que eles façam de nós cópias de si mesmos, prisioneiros do ódio e da intolerância”.
Vi que ele me escutava com atenção e acolhida. E ele começou a me contar a história de sua infância. Contou como, depois de se separar do marido, dona Lindu saiu do sertão de Pernambuco em um pau de arara com todos os filhos, dos quais ele (Lula) com cinco anos e uma menina com dois.
Lembrou que quando era menino, por um tempo, ajudava o tio em uma venda. E queria provar um chiclete americano que tinha aparecido naqueles anos. Assim como na feira, queria experimentar uma maçã argentina que nunca havia provado. No entanto, nunca provou nem uma coisa nem outra para não envergonhar a mãe.
E aí ele prosseguia com lágrimas nos olhos: "Agora esses moleques vêm me chamar de ladrão. Eu passei oito anos na presidência. Nunca me permiti ir com Marisa a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém... Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia... E agora, os caras me tratam dessa maneira..."
Eu também estava emocionado. O que pude responder foi: - O senhor sabe que as pessoas conscientes, o povo organizado em movimentos sociais no Brasil inteiro acreditam na sua inocência e sofrem com a injustiça que lhe fizeram. Na Bíblia, há uma figura que se chama o Servo Sofredor de Deus que se torna instrumento de libertação de todos a partir do seu sofrimento pessoal. Penso que o senhor encarna hoje, no Brasil essa missão.
Comecei a falar da situação da região onde ele nasceu e lhe dei a notícia de que a ASA (Articulação do Semi-árido) e outros organismos sociais estão planejando um grande evento para o dia 13 de junho em Caetés, a cidadezinha natal dele. Chamar-se-á “Caravana do Semi-árido pela Vida e pela Democracia" (contra a Fome – atualmente de novo presente na região – e por Lula livre).
A partir daquela manifestação, três ônibus sairão em uma caravana de Caetés a Curitiba para ir conversando com a população por cada dia por onde passará até chegar em Curitiba e fazer uma festa de São João Nordestino em frente à Polícia Federal.
Ele riu, se interessou e me pediu que gravasse um pen-drive com músicas de cantores de Pernambuco, dos quais ele gosta. Música de qualidade e que não estão no circuito comercial. Vergonha. Nunca tinha ouvido falar de nenhum e nem onde encontrar. Ele me disse que me mandaria os nomes pelo advogado e eu prometi que gravaria.
Distenção feita, ele quis me mostrar uma fotografia na parede na qual ele juntou os netos. Explicou quem é cada um/uma e a sua bisneta de dois anos (como parece com dona Marisa, meu Deus!).
Começou a falar mais da família e especialmente lembrou um irmão que está com câncer. Isso o fez lembrar que quando Dona Lindu faleceu, ele estava na prisão e o Coronel Tuma permitiu que ele saísse da prisão e com dois guardas fosse ao sepultamento da mãe. No cemitério, havia uma pequena multidão de companheiros que não queriam deixar que ele voltasse preso. Ele teve de sair do carro da polícia e falar com eles pedindo para que deixassem que ele cumprisse o que tinha sido acertado. E assim voltou à prisão.
A hora da visita se passou rápido. Perguntei que recado ele queria mandar para a Vigília do Acampamento e para as pessoas às quais estou ligado.
Ele respondeu: - Diga que estou sereno, embora indignado com a injustiça sofrida. Mas, se eu desistir da campanha, de certa forma estou reconhecendo que tenho culpa. Nunca farei isso. Vou até o fim. Creio que na realidade atual brasileira, tenho condições de ajudar o Brasil a voltar a ser um país mais justo e a lutar para que, juntos, construamos um mundo no qual todos tenham direitos iguais.
Para concluir a visita, propus ler um texto do evangelho e ele aceitou.
Li o evangelho do próximo domingo – festa de Pentecostes e apliquei a ele – os discípulos que estão em uma sala fechada, Jesus que se deixa ver, mesmo para além das paredes que fechavam a sala. E deu aos seus a paz, a alegria e a capacidade de perdoar no sentido de discernir o julgamento de Deus sobre o mundo. E soprando sobre eles lhes deu a vida nova do Espírito.
Segurei em suas mãos e disse: Creio profundamente que isso se renova hoje com você.
Vi que ele estava emocionado. Eu também fiquei. Abri o pequeno estojo e lhe mostrei a hóstia consagrada que lhe tinha trazido da eucaristia celebrada na véspera. Oramos juntos e de mãos dadas o Pai Nosso.
Eu tinha trazido duas hóstias. Eu lhe dei a comunhão e ele me deu também para ser verdadeiramente comunhão.
Em um instante, eram vocês todos/as que estavam ali naquele momento celebrativo e eu disse a ele: “Como uma alma só, uma espécie de espírito coletivo, muita gente – muitos companheiros e companheiras estão aqui conosco e estão em comunhão e essa comunhão eucarística representa isso.
Eu lhe dei a bênção e pedi a bênção dele para todos vocês.
Foi isso.
Quando o policial que me foi buscar me levou para fora e a porta se fechou atrás de mim, me deu a sensação profunda de algo diferente.
Senti como se eu tivesse saído de um espaço de liberdade espiritual e tivesse entrando na cela engradeada do mundo que queremos transformar.
Que o Espírito de Deus que a celebração desses dias invoca sobre nós e sobre o mundo nos mergulhe no amor e nos dê a liberdade interior para irmos além de todas essas grades que aprisionam o mundo.