segunda-feira, 30 de abril de 2018

Editorial do JB: uma trama contra Minas

Jornal do Brasil



Editorial

As eleições dos últimos anos têm revelado a capacidade do eleitorado mineiro de influir nos destinos da política nacional. Não tanto, como nos tempos da Velha República, quando seu estado dividia com São Paulo, no chamado período do café-com-leite,  o poder de revezamento no Palácio do Catete, algumas vezes com  resultados proveitosos, sem que faltassem, também, casos em que os resultados não foram os mais adequados. À sombra daquelas montanhas e sobre aquele chão de ferro, muita coisa se decidiu para o Brasil e para os brasileiros. Exemplo mais recente e edificante foi a travessia para a redemocratização, sob o comando de Tancredo Neves, que inaugurou a Nova República. 
A observação faz sentido e ganha atualidade, no momento em que a Assembleia Legislativa  do estado decide instaurar inquérito, em comissão para esse fim constituída,  a fim de apurar responsabilidades do governador Fernando Pimentel, acusado de desonrar compromissos na transferência de verbas para os municípios. Trata-se de uma acusação que, sendo levada a sério, cabe estender a todos os demais governadores, sem exceção, eis que, diante das imensas dificuldades financeiras do país, têm enfrentado obstáculos para tal compromisso. São raros os casos em que os compromissos são necessariamente adiados. A propósito, tal situação tem sido suficiente para recomendar uma nova discussão sobre o pacto federativo. Convém lembrar, ao impacto da tragédia nos estados, que tarda compreender melhor que somos uma federação, não a confederação que faz pensar no isolamento em que se acham os entes estaduais. 
Sem procuração do governador para defendê-lo neste espaço, mesmo porque não seria aceita, cabe lembrar que a referida CPI aparece sob a capa de larga suspeita, por coincidir, maldosamente, com o fim do mandato daquela governadoria e, mais ainda, no momento em que já se trata diretamente do processo eleitoral. 
A suspeição haveria de se justificar, também, pelo fato de que o inquérito contra o governador tem sua origem nos gabinetes de Brasília, muito provavelmente sob o objetivo, até agora com subterfúgios, de desaquecer a candidatura ao Senado Federal da ex-presidente Dilma, que, tão logo colocada frente ao eleitorado daquele estado, já surge com a simpatia de 20% dos votos. Dona Dilma não faz parte dos projetos imediatos do Palácio do Planalto, como também do MDB. Este partido, que é dirigido no estado por Antônio Andrade, vice de Pimentel, arquitetou seus projetos em várias direções, uma delas contra o próprio governador; outra, a ex-presidente. 
O esforço do comando nacional do MDB para defender candidatura própria naquele estado está longe de sugerir boas intenções, eis que o sonho que povoa o gabinete do presidente Temer é provocar prejuízos ao Partido dos Trabalhadores. 
Quanto à situação em Minas, cabe informar que o quadro calamitoso que ali se traça resulta dos maus caminhos que lhe foram destinados nas gestões de Aécio Neves e Antônio Anastasia. O então governador Anastasia, que todos sabem ser criação aecista, deixou, como indesejável herança, uma robusta dívida de R$ 7,5 bilhões. Esses números são mais que suficientes para constatar a irresponsabilidade fiscal dos antecessores de Pimentel. Para este e para os mineiros de hoje, os resultados são as dívidas, a impossibilidade de realização de obras, as dificuldades com as folhas do funcionalismo. 
Para tudo, além da concretude desses fatos, haveria de concorrer também o improvável, o imprevisível. Outra coisa não ocorreu além da morte inesperada da sra. Adriane Andrade, do Conselho do Tribunal de Contas, do que resultou vaga para uma das funções mais concorridas e melhor remuneradas do estado de Minas Gerais. Foi o bastante para que a corrida à cadeira vaga se manifestassem várias “vocações” conselheiras. Ora, qualquer vaga na política ou na administração pública é suficiente para excitar o MDB. Ei-lo, portanto, empenhado em outra grande campanha. Os resultados estão vistos na atual política de Minas, pois o Tribunal de Contas tem poder e prestígio suficientes para dar norma e norte aos objetivos políticos. 
Tais observações fazem sentido para um melhor entendimento do que se trama em Minas e contra os mineiros, estes servindo de instrumento para um projeto destinado a servir ao comando nacional do MDB. É preciso estar atento, porque os prejuízos, longe de estarem reservados apenas aos montanheses, mas a todos nós deste sofrido Brasil.

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