Por Renata Mielli, no site da Mídia Ninja:
É preciso admitir: a performance da mídia privada nacional é digna de um Oscar.
É verdade que o roteiro não é nada original, mas a construção midiática da narrativa martelada cotidianamente por Globo, Folha, Estadão & cia – de que uma quadrilha de corruptos tomou de assalto o governo, como se nunca antes neste país houvesse qualquer tipo de corrupção – convenceu muita gente.
Escandalizados, os porta-vozes desses veículos de comunicação iniciaram uma verdadeira pregação em defesa da ética e da moral. Se colocaram como defensores de uma depuração, de uma cruzada para dizimar os políticos corruptos.
Neste processo, alçaram à condição de heróis da nação os “caçadores de corruptos”: o Juiz Sérgio Moro virou capa de revista semanal algumas vezes. “Ele salvou o ano”, “O Juiz vê mais longe”...
É verdade que o roteiro não é nada original, mas a construção midiática da narrativa martelada cotidianamente por Globo, Folha, Estadão & cia – de que uma quadrilha de corruptos tomou de assalto o governo, como se nunca antes neste país houvesse qualquer tipo de corrupção – convenceu muita gente.
Escandalizados, os porta-vozes desses veículos de comunicação iniciaram uma verdadeira pregação em defesa da ética e da moral. Se colocaram como defensores de uma depuração, de uma cruzada para dizimar os políticos corruptos.
Neste processo, alçaram à condição de heróis da nação os “caçadores de corruptos”: o Juiz Sérgio Moro virou capa de revista semanal algumas vezes. “Ele salvou o ano”, “O Juiz vê mais longe”...
Cada delação é tratada com estardalhaço. Na verdade, algumas cenas entram para o “filme”, outras ficam de fora, numa operação de edição cirurgicamente construída para dar sustentação à narrativa de que Lula, Dilma e o PT criaram o maior esquema de corrupção da história do Brasil.
Mas eis que no meio do caminho surge o patriarca da família Odebrecht, Emílio.
Intimado a depor sobre os esquemas de corrupção envolvendo a construtora e os governos Lula/Dilma, reitera que a corrupção não começou nos últimos cinco ou dez anos.
Esse “esquema” já existe há pelo menos 30 anos. E pior, a mídia sempre soube de tudo e só resolveu falar sobre o assunto agora.
Emílio Odebrecht: “O que me surpreende é quando vejo todos esses poderes, até a imprensa, todos agindo realmente como se fosse uma surpresa. Me incomoda isso. Não exime em nada nossa responsabilidade. Não exime em nada nossa benevolência. Não exime em nada que nós praticamente passamos a olhar isso com normalidade. Porque em 30 anos, é difícil não ver isso como normalidade. (…) A imprensa toda sabia que efetivamente o que acontecia era isso. Por que agora estão fazendo tudo isso? Por que não fizeram há 10 ou 15 anos atrás? (…) A própria imprensa… Essa imprensa sabia de tudo e agora fica nessa demagogia. Eu acho que todos deveriam fazer uma lavagem de roupa nas suas casas”.
Eu sei o que vocês fizeram no verão passado
Não se trata aqui de defender a corrupção, muito menos os corruptos, mas de refletir sobre o papel que a mídia privada tem neste processo.
Eles sabiam de tudo e não disseram nada. Não abriram o bico antes, porque resolveram falar agora? Pior, porque adotaram a postura de indignados, de escandalizados como se fosse uma terrível descoberta?
Essas perguntas podem ser respondidas de várias maneiras.
Começo lembrando como surgiram parte destes conglomerados midiáticos no país, dos compromissos históricos dos proprietários dos grandes meios de comunicação com a elite econômica, com um projeto político de redução de direitos sociais e trabalhistas, de privatização do Estado, de negação do protagonismo internacional do Brasil. É um bom caminho para começar a entender as posturas da mídia.
Porque será que pós-impeachment a crise econômica praticamente sumiu dos jornais?
Ficou famoso no segundo semestre de 2016 os memes nas redes do Apesar da crise. “O país voltou a crescer. Não fale em crise, trabalhe!”
Os milhões de reais que já eram injetados na mídia privada, mesmo nos anos de Lula e Dilma, cresceram assustadoramente pós-impeachment, apesar da crise. Afinal, aprovou-se o congelamento dos gastos públicos com Educação e Saúde por 20 anos, mas nos meses de maio a agosto de 2016:
Aumentou-se em 78% os pagamentos federais à Folha/UOL, comparando com o que foi gasto no mesmo período de 2015.
Não se trata aqui de defender a corrupção, muito menos os corruptos, mas de refletir sobre o papel que a mídia privada tem neste processo.
Eles sabiam de tudo e não disseram nada. Não abriram o bico antes, porque resolveram falar agora? Pior, porque adotaram a postura de indignados, de escandalizados como se fosse uma terrível descoberta?
Essas perguntas podem ser respondidas de várias maneiras.
Começo lembrando como surgiram parte destes conglomerados midiáticos no país, dos compromissos históricos dos proprietários dos grandes meios de comunicação com a elite econômica, com um projeto político de redução de direitos sociais e trabalhistas, de privatização do Estado, de negação do protagonismo internacional do Brasil. É um bom caminho para começar a entender as posturas da mídia.
Porque será que pós-impeachment a crise econômica praticamente sumiu dos jornais?
Ficou famoso no segundo semestre de 2016 os memes nas redes do Apesar da crise. “O país voltou a crescer. Não fale em crise, trabalhe!”
Os milhões de reais que já eram injetados na mídia privada, mesmo nos anos de Lula e Dilma, cresceram assustadoramente pós-impeachment, apesar da crise. Afinal, aprovou-se o congelamento dos gastos públicos com Educação e Saúde por 20 anos, mas nos meses de maio a agosto de 2016:
Aumentou-se em 78% os pagamentos federais à Folha/UOL, comparando com o que foi gasto no mesmo período de 2015.
As empresas da Globo receberam R$ 15,8 milhões de repasses federais (sem contar as estatais!), 24% a mais que no mesmo período do ano anterior.
E a Abril que recebeu apenas R$ 52 mil nos quatro meses de 2015, contou com uma verba de R$ 380,77 mil nos quatro meses de 2016, um crescimento de 624%.
Todos esses dados estão na tabela abaixo, com os números oficiais da Secretaria de Comunicação Social do governo:
E não parou por aí, não.
No meio de um discurso de austeridade com os gastos públicos, de que é preciso reduzir direitos constitucionais que não cabem no orçamento, e percebendo que o terreno para a aprovação das Reformas da Previdência e Trabalhista é hostil, o governo Temer deu seguimento à sua “benevolência com a mídia”.
No final de março desse ano, o governo anunciou o fim da desoneração sobre a folha de pagamento de 50 setores da economia.
Apenas três segmentos mantiveram o benefício: a construção civil, transporte rodoviário de passageiros e transporte ferroviário/metroviário de passageiros e…. a comunicação.
Para os dois primeiros pode-se argumentar que são áreas sensíveis da economia – uma para a geração de emprego e a outra para evitar um efeito cascata de reajustes impactando no combate à inflação.
Mas e a Comunicação, qual a explicação para que este setor mantenha a desoneração da folha?
A mídia privada continua recebendo uma enxurrada de dinheiro. O cheque polpudo mais recente foi para veicular a campanha de Temer em defesa da Reforma da Previdência. Acontece que a campanha é um verdadeiro abuso de poder e subverte o que determina a legislação de campanhas de interesse público, uma vez que a peça nem explica o conteúdo do projeto, só tenta convencer a população de algo.
Me pergunto o escândalo que seria se Lula ou Dilma tivessem feito “campanha de interesse público” para defender a aprovação de alguma proposta do seu governo.
Tudo isso só mostra que a postura de donzela enganada e escandalizada com a corrupção é bem encenada. Afinal, como pode estar indignado, revoltado e na caça dos corruptos; como pode criminalizar cotidianamente o diálogo entre empresas e governo federal e mesmo assim continuar recebendo somas estratosféricas do governo federal e de governos que estão nos top 5 das delações da Lava Jato?
Como disse no início, esse pessoal, ó, merece um Oscar.
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