Em nove capitais, o número de votos brancos, nulos e de eleitores que não compareceram foi maior do que do candidato que ficou em primeiro lugar. A situação aconteceu nos dois maiores colégios eleitorais do país. Em São Paulo, João Dória (PSDB) ganhou a eleição no 1º turno com 3.085.187 votos. O número é menor do que a soma de votos brancos e nulos e ausências: 3.096.304.
No Rio de Janeiro, a situação também se repetiu. Mesmo que fossem somados os votos dos dois candidatos que passaram para o 2º Turno, o número ainda é menor do que votos inválidos e ausências. O total de brancos, nulos e abstenções no Rio é 1.866.621. Marcelo Crivella (842.201) e Marcelo Freixo (553.424) somam 1.395.625 votos.
Além de São Paulo e Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Belém (PA), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS) e Aracaju (SE) também tiveram mais votos inválidos do que o primeiro colocado nas eleições.
Abstenções, brancos e nulos superam votos de João Leite e Kalil juntos.
Considerações de Robson Sávio Reis Souza (Prof. PUC Minas) do seu facebook:
Que terrível! Vejam como o discurso da criminalização da política é bom para os "interessados na política":
1º turno em BH:
Abstenções - 417.537
João Leite - 395.952 (PSDB)
Nulos/Branco - 324.378
Kalil - 314.845 (PHS )
O discurso da criminalização da política venceu. Mas, o Apolo Heringer-Lisboa tem razão. Há um outro recado, presente desde as manifestações de 2013: esse tipo de política e de políticos já não nos representam mais. E, os partidos, inclusive de esquerda, não se reciclaram e mantiveram a velha política. Soma-se, ainda, o fator impeachment, ou seja, se os poderosos e a justiça não respeitam as deliberações populares, pra que votar? Acho que essas três variáveis sinalizam a decadência completa do nosso sistema político. Urge uma profunda reforma desse sistema. Mas, com os políticos e partidos que temos, isso é totalmente improvável. O que sobra, então? Uma mudança através das bases populares. Pergunta: será que há consciência política para acionar essa empreitada? No momento, acho que não. Tempos muito difíceis.
Considerações de Apolo Heringer- Lisboa(Prof. Medicina UFMG)
Precisamos também Robson apreciar devidamente novos fenômenos pois do velho nasce o novo. Isto não quer dizer que basta ser novo, já que o novo pode nascer envelhecido e não passar de novidade. Vamos ter que ter a coragem intelectual de enfrentar as novidades também não somente o velho.
Ivan Batista Coelho, do seu facebook:
Primeiro turno das eleições em Belo Horizonte
Foi trágco. O número de pessoas que não optaram por candidatos (43% de abstenções, nulos e brancos) supera a soma dos votos dos candidatos que vão ao segundo turno. A indiferença venceu. É a decepção com a política e com a esquerda, o PT em especial... As escolhas de candidaturas que privilegiam o fortalecimento de grupos internos do partido ao invés das melhores alternativas resultaram nesse quadro que estamos vivendo. Pouco mais de 7% dos votos, quarto lugar na preferência de um eleitorado que já foi firmemente aderido a propostas progressistas.
Aldo Fanaziere ( Prof. de Filosofia Política):
As eleições municipais reduziram o PT a pouco mais que escombros. Não faltaram advertências, principalmente a partir de 2013, de que o partido se encaminhava para um desastre...
O poder fez muito mal ao PT: a estrutura partidária e dirigentes se corromperam, a militância se domesticou e os movimentos sociais que orbitavam em torno do PT começaram a orbitar em torno do Estado, sendo cooptados e perdendo a energia combativa na luta por direitos e justiça. O PT se transformou no partido dos palácios, dos gabinetes, do luxo e da arrogância. Ninguém promove tal movimento sem que desabe sobre ele, mais dia menos dia, o merecido castigo do povo.
O PT alimentou a mesma crença que as elites históricas conservadoras alimentaram desde os tempos coloniais no Brasil: a de que a sociedade pode ser moldada e transformada desde o alto, desde o Estado. Esta prática sempre engendrou dominação e não liberdade e cidadania. Enquanto esta crença permanecer vigente, o Brasil permanecerá eternamente deficiente em seu conteúdo nacional e popular e a sociedade carecerá de vínculos societários republicanos, orientados para o bem comum e para o interesse público. Aqueles que chegam ao poder sempre se tornarão representantes de grupos e interesses particularistas, a se apossar do erário público em detrimento dos interesses de caráter universalizante. Será sempre o velho patrimonialismo
Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares e também da Frente Brasil Popular :
Segundo o dirigente não se pode ocultar o fato de que o resultado das eleições municipais deste domingo (2) é também “uma continuidade do roteiro traçado pela direita: golpe midiático, jurídico empresarial e também eleitoral”. Para Raimundo, o desgaste da esquerda e do PT vinha sendo preparado, em relação ao país inteiro.
Mas é fato que a esquerda precisa avaliar os erros que cometeu no processo. “Afastar-se das bases, dos movimentos sociais, não ter feito as reformas necessárias, como a política, foram alguns”, afirma Raimundo.
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