segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Robin Willians e ¨Sociedade Dos Poetas Mortos¨



O ator americano Robin Willians, que deu vida ao médico Patch Adams no cinema, venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante por Gênio Indomável e protagonizou outros tantos sucessos, como Amor Além da Vida, O Homem Bicentenário e Sociedade dos Poetas Mortos, foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira, de acordo com o departamento de polícia do condado de Marin, na Califórnia.
Williams, que tinha 63 anos, foi achado inconsciente em sua residência na cidade de Tiburon. Ele foi declarado morto minutos depois. A suspeita da polícia é de que o ator tenha cometido suicídio por asfixiamento.
Vamos relembrar uma  grande interpretação do ator no inesquecível filme Sociedade dos Poetas Mortos:


Sociedade Dos Poetas Mortos
"Não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana está repleta de paixão. E medicina, advocacia, administração e engenharia são objetivos nobres e necessários para manter-se vivo. Mas a poesia, beleza, romance, amor, é para isso que vivemos."
John Keating (interpretado por Robin Willians), professor da Welton Academy.



Capa da cópia em DVD 

Por Marcelo Lopes Vieira
do blog  O Priorado:


Algo quanto a este filme sempre me chamou a atenção. Toda pessoa que o tenha assistido geralmente cita Sociedade dos Poetas Mortos como um dos melhores filmes que já viu. Bom, creio que a maioria dos críticos de cinema também tivera o prazer de passar 129 minutos em frente a uma tela para assistir esta fabula sobre tolerância, amizade e aprendizagem. Então, por qual motivo, razão ou circunstância ele nunca figura nas listas de grandes obras da sétima arte? Só em minhas mãos tenho três listas, das mais respeitáveis (dentre elas o livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer), de melhores filmes da história e nenhuma delas cita este filme dentre seus enumerados.

Mas por qual motivo, eu que não sou um crítico de cinema, posso dizer que a película deveria estar  nestas listas? Simplesmente pelo motivo de ser um filme com diálogos ricos e trazer uma carga lírica e emocional que o cinema da década pós 1980 nos brindou poucas vezes, pela razão de um roteiro simples e um elenco mínimo fazer algo tão grandiosamente denso e ímpar. Ainda posso apontar  a atuação de
Robin Williams
 com um efetiva circunstância para que este filme não seja esquecido e rotulado como algo além de um bom filme. 

Concordo que meus motivos esbarram no terreno escorregadio do gosto pessoal. Para ajudar a  validar minha tese, vamos a alguns fatos documentados, que para mim, diversas vezes não significam nada (afinal Titanic é um dos maiores vencedores do Oscar e um dos piores filmes que eu já tive o desprazer de assistir!). Sociedade dos Poetas Mortos é vencedor do Oscar de melhor roteiro original e recebeu indicações como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator (Robin Williams). Concorreu nas mesmas categorias ao Globo de Ouro, foi eleito Melhor Filme Estrangeiro do Prêmio César na França e Melhor Filme no BFTA.


A Sinopse...
 Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos". (FONTE: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-5280/)
 O filme foi lançado em 1989 e fora dirigido por Peter Weir (Mestre dos Mares e O Show de Truman.). No elenco Robin Williams, Ethan Hawke e Robert Sean Leonard.


Uma análise imparcial...

A grande vantagem em ser um expectador que não se preocupa com detalhes técnicos ao assistir um filme é que a única coisa que julga a qualidade deste filme é se ele provocou alguma sensação em você durante sua exibição. Este sentimento é que irá dizer se este é ou não um bom filme pra você, e somente isso. Não importa se a iluminação está no ponto certo ou se o figurino parece tirado de um teatro mambembe. Por isso, considero minha análise subsequente como imparcial, afinal esta opinião é norteada somente pelo meu gosto pessoal.
John Keating e seus métodos pouco ortodoxos de ensino. Williams em uma de suas melhores atuações.

Primeiramente, acredito que todo professor em formação ou em início de carreira deveria assistir este filme. Dito isso, posso mergulhar de cabeça na película propriamente dita, tentando dar o mínimo possível de spoilers.  No elenco temos um time juvenil de atores promissores como Ethan Hawke e Robert Sean Leonard ao lado de Robin Williams, que naquele período já era um ator consagrado, aqui interpretando o professor de John Keating. A Welton Academy, escola que Keating, outrora aluno, leciona segue rígidos padrões de conduta e métodos ortodoxos de ensino que muitas das vezes são desencorajadores, para não dizer desestimulantes e até intimidadores, aos estudantes.



A aula de poesia...

 O novo professor chega com métodos diferentes de lecionar poesia (o antigo professor muito preocupado com a métrica dos versos e a técnica poética, Keating traz o encorajamento ao pensamento livre e o sentimento puro ao invés do rigor técnico), inspirando seus alunos a não desistir de suas ideias, seus amores e principalmente de seus anseios. É interessante o que uma expressão simples como Carpe Diem pode causar em jovens  pressionados pelas forças que convergem sobre si como medos e inseguranças da idade e até mesmo cobrança de pais e professores. Creio que todos nós já nos sentimos  de maneira semelhante, e pior, muitos de nós ainda somos pressionados desta forma no dia-a-dia. Sendo assim, é impossível não haver uma identificação entre o drama da tela e o expectador.  No contexto do filme, a expressão em latim que pode ser interpretada como aproveite o dia, dá ao grupo de alunos da Welton Academy uma necessidade de viver cada dia plenamente. Esta ação possui reação no novo comportamento do grupo de estudantes.

Keating e seus alunos. Para manter os jovens bem unidos, Peter Weir, diretor do filme,
 manteve todos eles no mesmo quarto durante as filmagens.
É nesta impulsão de vida plena que é formada a Sociedade dos Poetas Mortos, um grupo de alunos que motivados pelo novo sabor que a poesia tem querem vivenciar o caráter de livres pensadores. Digo impulsão, pois os membros desta sociedade secreta dentro da Welton Academy, em sua inocência juvenil, levam o carpe diem  até as últimas consequências ou se preferir, até as últimas inconsequências. Estas inconsequências nos levam à questão do quão tênue é a linha que separa a liberdade do carpe diem e as amarras do bom senso. Ou seja, somos levados a avaliar a capacidade humana de pensar sobre sua condição, transgredir regras e interdições, sem que isso esbarre em consequências irreversíveis como acontece a um dos membros da sociedade.

Algumas reflexões sobre certas passagens do filme nos revelam que pequenos detalhes pode guardar significados gigantescos. A maneira como o mestre Keating mostra que a poesia não é um gênero entediante, se for lida com paixão nos dá uma lição de vida. Qualquer momento da nossa existência pode ter seu sabor alterado conforme o sentimento que dispomos para aquela situação.  Infelizmente não sou apto a discorrer sobre o mérito filosófico da película. Para tal, cabe uma consulta ao site http://blogfilosofiaevida.com/index.php/2011/06/25/filosofia-com-filmes-sociedade-dos-poetas-mortos/.


A "sociedade secreta"...


A Sociedade dos Poetas Mortos em uma de suas reuniões sigilosas.
Como já está implícito em parte do texto acima, o professor Keating é um ex-aluno da Welton Academy. Quando nesta condição, anos antes, ele fez parte de um grupo que se autodenominava Sociedade dos Poetas Mortos, que nada mais era do que um grupo de amantes da poesia e de grandes pensadores que se reuniam para desfrutar dos clássicos de grandes autores. Este fato do passado é descoberto por seus alunos de hoje que decidem reativar o clube com novos membros que fazem suas reuniões em uma caverna localizada em alguma área nos fundos do colégio.  Percebendo a movimentação de seus alunos, Keating indiretamente lhes dá o livro que era lido nas reuniões do grupo original, do qual fizera parte. O interessante das reuniões é perceber o contraponto da liberdade de expressão, pensamento e conduta da sociedade dos poetas mortos com o rigor e controle absoluto da academia. No entanto, o comportamento não disfarçado de alguns membros da sociedade fizeram gerar alguns problemas com a diretoria intolerante da Welton Academy.


Cena Inesquecível...


Oh Captain! My Captain...
É claro que os métodos de Keating são reprovados pela diretoria da academia. A mente arcaica dos líderes da instituição vai de encontro ao métodos do professor que levavam seus alunos ao pensamento próprio. Com este cenário em desfavor, o Keating é demitido da escola e em um último ato libertário e recheado de significado para mestre e discípulos, o grupo de alunos sobe em suas carteiras e recitam o primeiro verso de um poema de Walt Whitman.

 


Curiosidades:

- Quando os alunos do professor Keating (Robin Williams) mostram para ele uma foto antiga, como se fosse de uma turma antiga da escola, ela é na verdade uma foto real dos tempos de escola de Williams, quando ele estudou em Redwood High School, no norte de San Francisco, na Califórnia, Estados Unidos.

- Sociedade dos Poetas Mortos representa a primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme do estúdio Touchstone Pictures.


O Poema de Walt Whitman...
Notas da revisão que Whitman fez em um dos rascunhos do poema.

Walter Whitman foi um jornalista, ensaísta e poeta americano considerado o "pai do verso livre" e o grande poeta da revolução americana sendo homenageado pelo maior poeta da língua portuguesa, Fernando Pessoa em "Saudações a Walt Whitman".
O poema que tem importância ímpar no filme, "Oh Captain! My Captain", foi escrito após o assassinato de Abrahan Lincoln. Podemos interpretar o "navio" como uma representação metafórica aos E.U.A., bem como a "terrível viagem" representa a guerra civil americana e, claro, o capitão seria o assassinado Lincoln.  O que causa curiosidade é que a métrica utilizada é a convencional o que não era comum na obra de Whitman. Abaixo, trago o poema na íntegra. Um dos conjuntos de versos mais emocionantes que já tive o prazer de assimilar.

Oh Captain! My Captain

Oh capitão! Meu capitão! nossa viagem
medonha terminou;
O barco venceu todas as tormentas,
O prêmio que perseguimos foi ganho;
O porto está próximo, ouço
Os sinos, o povo todo exulta,
Enquanto seguem com o olhar a quilha firme,
O barco raivoso e audaz:

Mas oh coração! coração! coração!
Oh gotas sangrentas de vermelho,
No tombadilho onde jaz meu capitão,
Caído, frio, morto.

Oh capitão! Meu capitão! Erga-se
e ouça os sinos;
Levante-se – por você a bandeira dança – por
você tocam os clarins;
Por você buquês e fitas em grinaldas -
por você a multidão na praia;
Por você eles clamam, a reverente multidão
de faces ansiosas:

Aqui capitão! pai querido!
Este braço sob sua cabeça;
É algum sonho que no tombadilho
Você esteja caído, frio e morto.

Meu capitão não responde, seus lábios
estão pálidos e silenciosos
Meu pai não sente meu braço, ele não
tem pulsação ou vontade;
O barco está ancorado com segurança
e inteiro, sua viagem finda, acabada;
De uma horrível travessia o vitorioso barco
retorna com o almejado prêmio:

Exulta, oh praia, e toquem, oh sinos!
Mas eu com passos desolados,
Ando pelo tombadilho onde jaz meu capitão,
caído, frio, morto.

"Carpe diem. Aproveite o dia, meninos. Façam suas vidas extraordinárias"
 
 

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