¨Não se trata de uma comparação entre pessoas e suas trajetórias de vida, mas entre fenômenos políticos.
Jânio, Collor e Marina têm um ponto em comum: lançaram-se candidatos com discursos contra a "velha política", à margem dos grandes partidos, prometendo nas campanhas criar um "novo Brasil" e uma "nova política", baseados unicamente em suas vontades e carismas, como se isso fosse possível. Pelos exemplos do passado, sabemos que isso não dá muito certo.
Os três lançaram candidaturas mais simbólicas do que reais: Jânio era o "homem da vassoura" e Collor o "caçador de marajás", ambos tendo como bandeira o combate à corrupção, a bordo do velho mantra udenista, moralista e hipócrita. Na mesma linha, Marina também aparece como a candidata "contra tudo isto que está aí", a bordo das manifestações de protesto de junho de 2013
Bancados todos pela grana gorda do empresariado paulista, sempre em busca de um candidato viável que atenda aos seus interesses.¨
Por
Ricardo Kostcho, no blog Balaio do Kotscho:
Advertência necessária: quero deixar bem claro, antes de começar a escrever
este texto, no qual venho pensando desde que Marina Silva explodiu como
candidata favorita a presidente da República, após a tragédia aérea que matou
Eduardo Campos, para que ninguém entenda errado o título: não se trata de uma
comparação entre pessoas e suas trajetórias de vida, mas entre fenômenos
políticos.
Nos últimos dias, apareceram
muitos comentários na mídia comparando Marina a Lula, ambos com origens bem humildes e
histórias de vida comoventes, que acabaram construindo seus próprios caminhos,
os dois fundadores do PT e vitoriosos em suas caminhadas. Por diferentes
caminhos, eles agora se encontram frente a frente em mais uma disputa pela
Presidência da República do Brasil, e há quem chame Marina de "Lula de saias", a
mulher que desafia Dilma Rousseff, candidata de Lula.
A única vantagem de
ficar velho, trabalhando no mesmo ofício, é ser testemunha de tantas histórias
acontecidas ao longo deste enredo político dos últimos 50 anos. Conheci e
convivi com os quatro personagens citados no título deste artigo e tenho
condições de escrever sobre as coincidências e as diferenças entre
eles.
Chamar Marina de "Lula de saias" é um grande equívoco. O professor
mato-grossense Jânio Quadros, o playboy alagoano Fernando Collor, o metalúrgico
pernambucano Lula, criado no ABC paulista, e a ambientalista acreana Marina da
Silva chegaram onde chegaram por caminhos muito diferentes.
Embora os
quatro sejam um retrato da diversidade social brasileira, com algumas
semelhanças no surgimento do fenômeno político, há enormes abismos entre as
motivações e os apoiadores das suas candidaturas. Jânio, Collor e Marina têm um
ponto em comum: lançaram-se candidatos com discursos contra a "velha política",
à margem dos grandes partidos, prometendo nas campanhas criar um "novo Brasil" e uma "nova política",
baseados unicamente em suas vontades e carismas, como se isso fosse possível.
Pelos exemplos do passado, sabemos que isso não dá muito certo.
Os três
lançaram candidaturas mais simbólicas do que reais: Jânio era o "homem da
vassoura" e Collor o "caçador de marajás", ambos tendo como bandeira o combate à
corrupção, a bordo do velho mantra udenista, moralista e hipócrita. Na mesma
linha, Marina também aparece como a candidata "contra tudo isto que está aí", a
bordo das manifestações de protesto de junho de 2013, candidata provisoriamente
abrigada no PSB, partido do falecido Eduardo Campos que, até meados do ano
passado, estava na base aliada do governo petista.
Ao contrário destes
três fenômenos eleitorais anteriores, bancados todos pela grana gorda do
empresariado paulista, sempre em busca de um candidato viável que atenda aos
seus interesses, Lula só foi eleito presidente da República em 2002, depois de
três campanhas presidenciais fracassadas, e da longa construção de um amplo apoio na sociedade civil,
que começou pelos sindicatos, passou pelos meios acadêmicos e culturais, e
conquistou a juventude, combatendo justamente estes grandes barões paulistas
aboletados na Fiesp e na Febraban, que financiaram Jânio, Collor e, agora,
Marina, para evitar que seus inimigos de classe chegassem ao poder
central.
Não tenhamos ilusões neste momento: é exatamente isto que está
em jogo, não as personalidades de Marina e Dilma, os seus defeitos e virtudes
pessoais, que são subjetivos. O mais importante é saber quem está de que lado,
quais os interesses de classe que estão em disputa, quem apoia quem e por qual
motivo.
Eu nunca escondi de que lado estou: diante deste quadro, apoio
Dilma Rousseff, com certeza.
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