O procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux participaram de reuniões privadas com banqueiros. A revelação foi feita há pouco pelo jornalista Reinaldo Azevedo, no programa O É da Coisa, na BandNews FM, em parceria com o Intercept.
Reinaldo Azevedo, em seu blog e Leandro Demori do "The Intercept Brasil"
Os encontros devem ser chamados, sem exagero, de clandestinos
Falemos um pouco das personagens que aparecem no diálogo. Débora Santos é mulher do procurador Eduardo Pelella, que foi chefe de gabinete e braço direito de Rodrigo Janot quando procurador-geral da República. Era, de fato, dizem as boas línguas, quem tocava a PGR. Ela já foi personagem deste blog. E por uma razão singularíssima: trabalhava na área de "consultoria em comunicação social e gestão de crises" no gabinete de ninguém menos do que Edson Fachin, o ministro do Supremo que é o relator do petrolão. Vocês entenderam direito: Pelella, o marido de Débora, traçava as estratégias do procurador-geral da República, também chefe do Ministério Público Federal, o órgão que acusa.
E Débora, a mulher de Pelella, traçava as estratégias de comunicação de Fachin, o relator do petrolão, o homem que julga. A promiscuidade entre acusador e juiz parece que tenta se estabelecer como regra no país. O resultado é desastroso.
MUDANDO DE ARES, MAS NÃO DE RAMO…
Quando Janot deixa a PGR, em setembro de 2017, Pelella migra para a Procuradoria Regional da República da 3ª Região, em São Paulo, e Débora, com a experiência acumulada de mulher do ex-número dois do órgão e de assessora pessoal de Fachin, o relator do petrolão, arruma um emprego na XP Investimentos como "consultora/analista de política e Judiciário". E é nessa condição que ela fala com Deltan.
Ao convidá-lo para o "evento privado", observem que ela se refere ao marido, numa evidência de que a Lava Jato já é mais do que uma simples força-tarefa. Tornou-se uma tropa de elite do estado paralelo, um verdadeiro círculo aristocrático. Como, por aqui, a ruína se traveste de inovação, Débora apela a esse vínculo para convencer Deltan a participar não de uma conferência aberta, a que a imprensa, por exemplo, poderia ter acesso. Essa já estava em sua agenda e aconteceria em setembro do ano passado.
O convite é para que ele seja a estrela de uma "reunião privada" — remunerada, sim! — com investidores, que tem um caráter que se pode dizer clandestino. Afinal, Deltan é um homem pago pelo Estado brasileiro para atuar como procurador. O órgão que ele integra é o titular da ação penal e pode, adicionalmente, atuar também na investigação. Eis o palestrante disputado a peso de ouro. E que tem de falar em segredo.
LAVA JATO E ELEIÇÕES Débora quer que Deltan discorra sobre "Lava Jato e eleições" a quem regula suas apostas a depender de cenários que, ora vejam, dependem, por sua vez, em grande parte, das decisões do próprio procurador. Quanto custa a bola de cristal do vidente que tem como interferir no futuro? Reitere-se: Débora, a mulher de Pelella, o íntimo de Janot, que desenhou a Lava Jato, não está convidando o buliçoso procurador para falar a uma plateia ampla — a conferência —, que ela trata até com certo desdém. Afinal, um evento assim, aberto, seria formado por um "público heterogêneo", que se contenta "meio com o que já está nos jornais."
Não! A Pelella do Pelella quer mais — e sabe que Deltan vai oferecer: "O convidado fica à vontade para fazer análises e emitir pareceres sobre os temas em um ambiente mais controlado".
Ou por outra: aquele que representa o órgão que é o titular da ação penal e que detém praticamente o poder de vida e morte sobre carreiras políticas vai desenhar cenários, que ele próprio tem o poder de fabricar, a banqueiros, em "reuniões privadas".
E, claro!, seria dispensável dizer que todas essas empresas — a XP e seus convidados — têm suas respectivas áreas de "compliance". Certamente são adversárias da corrupção, não é mesmo? Tanto é assim que convidam um verdadeiro astro desse combate para, homem público que é, falar como agente privado, a peso de ouro, a investidores. E tudo no mais absoluto sigilo.
Compliance" por aqui ganhou um sentido muito particular..
LUIZ FUX ESTEVE LÁ Débora quer passar segurança a Dallagnol. Quer que ele tenha a certeza de que não será uma palestra comum. Trata-se, efetivamente, de uma "reunião privada". E ela tem um trunfo e tanto nas mãos: ninguém menos do que Luiz Fux, ministro do Supremo! Na condição, então, de presidente do TSE, foi ele a falar primeiro com banqueiros sobre "Lava Jato e Eleições". E a assessora da XP se orgulha da reunião clandestina estrelada pelo presidente de um tribunal superior: "Semana passada, recebemos o presidente do TSE, ministro Fux, por exemplo e não saiu nenhuma nota na imprensa. Nem sobre a presença dele na XP. Assim já aconteceu com vários personagens importantes do cenário nacional, como você".
Notem no diálogo que Deltan, como não poderia deixar de ser, se interessa pelo cachê: "Débora, a ida dos Ministros é remunerada como palestra?" E ela responde: "Temos como hábito respeitar a privacidade dos nossos convidados". E Deltan: "Opa! Entendo perfeitamente". Claro que entende! Afinal, o procurador se tornou um dos maiores cachês da ruína brasileira.
Ou por outra: aquele que representa o órgão que é o titular da ação penal e que detém praticamente o poder de vida e morte sobre carreiras políticas vai desenhar cenários, que ele próprio tem o poder de fabricar, a banqueiros, em "reuniões privadas".
E, claro!, seria dispensável dizer que todas essas empresas — a XP e seus convidados — têm suas respectivas áreas de "compliance". Certamente são adversárias da corrupção, não é mesmo? Tanto é assim que convidam um verdadeiro astro desse combate para, homem público que é, falar como agente privado, a peso de ouro, a investidores. E tudo no mais absoluto sigilo.
Compliance" por aqui ganhou um sentido muito particular..
LUIZ FUX ESTEVE LÁ Débora quer passar segurança a Dallagnol. Quer que ele tenha a certeza de que não será uma palestra comum. Trata-se, efetivamente, de uma "reunião privada". E ela tem um trunfo e tanto nas mãos: ninguém menos do que Luiz Fux, ministro do Supremo! Na condição, então, de presidente do TSE, foi ele a falar primeiro com banqueiros sobre "Lava Jato e Eleições". E a assessora da XP se orgulha da reunião clandestina estrelada pelo presidente de um tribunal superior: "Semana passada, recebemos o presidente do TSE, ministro Fux, por exemplo e não saiu nenhuma nota na imprensa. Nem sobre a presença dele na XP. Assim já aconteceu com vários personagens importantes do cenário nacional, como você".
Notem no diálogo que Deltan, como não poderia deixar de ser, se interessa pelo cachê: "Débora, a ida dos Ministros é remunerada como palestra?" E ela responde: "Temos como hábito respeitar a privacidade dos nossos convidados". E Deltan: "Opa! Entendo perfeitamente". Claro que entende! Afinal, o procurador se tornou um dos maiores cachês da ruína brasileira.