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O ex-presidente desbancou as táticas usadas pela Operação Lava Jato e acusou os procuradores de sustentarem mentiras com mais e mais mentiras que, até agora, não foram provadas
Jornal GGN - "Aqui, na sua sala, tiveram 73 testemunhas. Grande parte de acusação do Ministério Público. E nenhuma me acusou. O que aconteceu nos últimos 30 dias, doutor Moro, vai passar para a história como o 'mês Lula'. Porque foi o mês em que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer todo mundo para falar uma senha chamada 'Lula'. O objetivo era dizer 'Lula', se não dissesse 'Lula' não valia", disse o ex-presidente, em confronto direto à Lava Jato e ao juiz Sérgio Moro.
De maneira sacárstica, o magistrado da Lava Jato de Curitiba questionou: "O senhor entende que existe uma conspiração, então?". E Lula novamente o cortou, criticando, desta vez, a estratégia de delações premiadas criada na Operação com o juiz.
"Não, não", respondeu, continuando: "Eu entendo, e acompanho pela imprensa, que pessoas como o Léo Pinheiro já estão há algum tempo querendo fazer delação. Primeiro, ele foi condenado a 23 anos de cadeia, depois se mostra na televisão como é que vive a vida de 'nababo' dos delatores, e o cara fala: 'porra, eu to condenado a 23 anos, e os delatores pagaram uma parte e estão vivendo essa vida?'", ativou Lula.
"Delatar virou, na verdade, quase que o alvará de soltura dessa gente. Eu tenho acompanhado, eu estou atento e percebendo, porque eu vou discutir em algum momento o contexto. O contexto está baseado num power point mal feito, mentiroso da Operação Lava Jato", emendou o ex-presidente, exaltado.
Sem conseguir conter as palavras e críticas sem receios do ex-presidente à toda aquele equipe presente na audiência, Moro tentou, sem sucesso: "certo, doutor, senhor ex-presidente, nós estamos aqui fazendo...".
Sem se deixar abalar, Lula seguiu: "Que aliás, o doutor Dallagnol que fez essa apresentação não está aqui. Ele deveria estar aqui, para explicar aquele famoso power point. Aquilo é uma caçamba, aonde cabe tudo. Aquele power point, doutor, não tá julgando o Lula pessoa física, pessoa jurídica, está julgando o Lula presidente da República. E isso eu quero discutir", fechou o ex-presidente, deixando um silência na sala da Justiça Federal de Curitiba.
O trecho pode ser acompanhado a partir dos 06:23:
ANOMALIAS DA LAVA JATO
Ainda no terceiro trecho do depoimento de Lula, o juiz fez referência a trecho da denúncia apresentada pela força-tarefa, sob o comando do procurador Deltan Dallagnol, que aponta que o ex-presidente teria solicitado a construção de um elevador no apartamento triplex.
"O senhor tem conhecimento que o elevador privativo no apartamento só foi implantado a partir de 15 de setembro de 2014, conforme os documentos apresentados constantes no processo?", perguntou Moro.
"Não", respondeu Lula. "Se o senhor me permite [interrompendo a próxima pergunta do juiz], essa do elevador é uma das anomalias da denúncia do Ministério Público. Pelo menos do pessoal da Lava Jato. Eu vi pela imprensa que o Ministério Público tinha dito que eu tinha pedido para o Léo colocar um elevador", seguiu o ex-presidente, separando uma fotografia.
"Isso aqui, doutor, é uma escada caracol, o senhor deve conhecer. Essa escada tem 60 graus. Essa escada é do meu apartamento em que eu moro há 18 anos. A dona Marisa, há 6 anos, há exatamente 6 anos, tomava remédio todo santo dia para dor na cartilagem. Será que alguém de bom senso nesse país imagina que eu ia pedir um elevador, num apartamento que não era meu, e deixar de pedir para fazer no apartamento do prédio que a dona Marisa mora há 20 anos, e que tomava remédio todo santo dia?", afirmou Lula, inconformado.
Para o ex-presidente, as teses levantadas pela acusação da Lava Jato são inconcebíveis. "Quer dizer, é no mínimo, no mínimo, cumpriram o ditado de que quem conta uma mentira, passa a vida inteira mentindo para justificar a primeira mentira", respondeu.
O trecho pode ser verificado desde 02:48 até 04:30.
LAVA JATO É PRISIONEIRA DA IMPRENSA
Em dois momentos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou a comentar perguntas feitas pelo juiz Sérgio Moro, por usarem como sustentação reportagens publicadas pela Folha de S. Paulo e por O Globo, que sequer trouxeram entrevista do próprio ex-presidente.
Em um dos trechos, a primeira em que Moro comenta noticiário, o juiz introduz: "Consta uma matéria de jornal que foi juntado...". E Lula imediatamente corta: "Depende de que jornal, viu". "A Folha de S. Paulo?", perguntou Moro, claramente receoso da reação de seu interrogado. "É, não, não", respondeu Lula. "Não?", questionou Moro, quase como um pedido de permissão. "Não. Depois eu tenho uns dados aqui sobre a imprensa", contestou incisivo.
Mas o magistrado resolveu seguir: "Mas essa matéria da Folha de S. Paulo, de 29/12/2014, diz o seguinte: 'o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda vender o triplex no Guarujá que adquiriu em 2005 a sua mulher, Marisa Letícia, em um prédio construído pela Bancoop. Segundo interlocutores do ex-presidente, a repercussão de reportagens sobre o apartamento fez com que Lula reavaliasse a efetivação da compra do imóvel, cuja reforma e decoração estão quase no fim'. Consta na matéria que 'segundo o Instituto Lula, não informações sobre o prazo para que a Marisa e o senhor presidente façam a escolha'. O senhor sabe explicar o conteúdo dessas informações que teriam sido repassadas a jornalistas?.
"Eu me recuso a responder uma matéria da Folha de S. Paulo que não tenha autor, que não tenha a entrevista [comigo]. É o achismo!", disse o ex-presidente.
Em outro episódio em que Sérgio Moro pediu esclarecimentos, sobre a imprensa ter noticiado que Lula desistiu da compra do imóvel no Guarujá apenas após a prisão do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, e com a negativa, o juiz insistiu: "não foi isso que aconteceu? O senhor Léo Pinheiro foi preso, o apartamento foi descoberto pela imprensa, e aí sim o senhor, ex-presidente, resolveu...".
"O apartamento não poderia ser descoberto pela imprensa em 2014. O apartamento foi descoberto pela imprensa quando eu fui candidato à Presidência, porque eu tenho que fazer declaração de renda, doutor. E na declaração está obrigado a colocar o que a gente tem. Como eles [procuradores da Lava Jato] contaram uma primeira inverdade, eles vão morrer contando a inverdade, porque ficaram prisioneiro da imprensa", disse o ex-presidente.
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