Jornal GGN - Em dezembro de 2015, o historiador Leandro Karnal fez uma palestra na Universidade Federal de Uberlândia na qual falou sobre as transformações tecnológicas e as mudanças na linguagem.
Um dos destaques da sua fala foi a análise do discurso da revista Veja. Para ele, a publicação entende a história com "um sentido teleológico", e seus recursos persuasivos querem fundamentar que "a história nos ensina que não deu certo".
Da Carta Campinas
Por Glauco Cortez
Em uma palestra primorosa pelo bom humor e pelo conteúdo, o historiador Leandro Karnal arrancou risos da platéia ao expor de forma jocosa, mas também realista, o leitor da revista Veja, a mais reacionária e segregadora do Brasil.
Karnal fez uma palestra para estudantes de história, na Universidade Federal de Uberlândia, mas é fundamental para os analfabetos políticos que decidiram expor suas ideias sobre a política nos últimos anos. O analfabeto político é, por excelência, um sujeito sem referência histórica, visto que a história é, no mínimo, o ABC da política. Chico Buarque que o diga.
Na palestra Tempo, historicidade e tempo líquido, Karnal falou sobre as obras clássicas e necessárias, assim como obras capazes de ter a reflexão rigorosa sem deixar de lado a beleza da narrativa. Ele passou sobre os significados das transformações tecnológicas, na linguagem e falou sobre a vivência atual no mundo de incertezas.
Também mostrou como o Positivismo, que é muito criticado no Brasil, está mais do que presente, inclusive nas bancas de defesas de teses e dissertações. “Ser positivista é um xingamento que atinge a todas as pessoas. Não obstante, em todas as bancas os temas mais tratados são: erros de redação, falhas da ABNT e erros de data. Nós odiamos o Positivismo, mas as bancas são positivistas”, ressaltou.
Também ironizou as três grandes “teologias do século 20”: o empreendedorismo, a prosperidade e a auto-ajuda.
Um dos destaques foi a análise do discurso da Revista Veja, que entende a história com “um sentido teleológico”. Assim, os recursos persuasivos são “a história nos ensina que não deu certo…”, “a história já provou que….” é sempre uma profecia etc. “A história está conduzindo as pessoas à iluminação”, resumiu Karnal.
Mais à frente, ele disse que respeita historiadores que falam ao grande público, mas são honestos com a história, como Laurentino Gomes. “É o lúdico no sentido da grande massa, enfatiza o anedótico em detrimento do analítico”, diz. Para ele, as pessoas não estão divididas entre ler história de uma forma lúdica ou um texto de Jugen Habermas, autor alemão bastante hermético. E sentenciou: “quem lê a revista Veja não está dividido com nada; é absolutamente fascista, tapado, em qualquer sentido”. E tirou gargalhadas da platéia.
Poderia dizer em que momento estão essas falas sobre a revista Veja, mas você perderia uma bela palestra. Bom programa.(Glauco Cortez)
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