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O compromisso de pensar
Dizem que, no Brasil, as atividades do ano só começam mesmo depois do Carnaval. Só a partir dessa semana, Escolas, universidades e empresas retomam seu ritmo normal. Os meios de comunicação nos bombardeiam com notícias de crise e corrupção. Algumas são verdadeiras, mas se misturam com boatos e delações que condenam as pessoas antes mesmo de serem julgadas. Em tudo isso, o que parece mais em crise é a capacidade das pessoas pensarem. Será que as nossas escolas e universidades incentivarão seus alunos a pensar? Teremos algum dia meios de comunicação social que divirtam as multidões sem reduzi-las ao pão e circo concedido pelos senhores do mundo?
Como saber que cada um/uma de nós mesmos assumimos nossa missão humana de pensar e não aceitamos ser simplesmente repetidores de fórmulas feitas e macaquinhos de gestos ensaiados? É claro que, de alguma maneira, todo ser humano pensa. Processa o que acontece em redor de si e o compreende, mas isso pode ser feito de modo superficial e até irresponsável. Todos nós vivemos sob a cultura da notícia imediatizada e produzida em pílulas. Os instrumentos da internet e recursos virtuais de comunicação são valiosos e úteis, mas algumas vezes, criam uma onda de sensações que substituem o verdadeiro pensar crítico e autônomo. Sem dúvida, não é fácil nem cômodo o compromisso de pensar quando se trata de procurar compreender profundamente o que acontece e tomar uma posição verdadeiramente crítica e responsável. Na história da Filosofia, alguns reduziram o pensar a uma operação racional que ocupa apenas parte do intelecto humano. Para alguns filósofos modernos, como Heidegger, pensar é caminhar. Só pode dizer que realmente pensa quem aceita percorrer uma estrada pessoal de busca e com o espírito aberto. E não é fácil rever nossas certezas adquiridas e colocar em questão nossos dogmas culturais, religiosos ou políticos.
Sobre a tragédia do não pensar, Hannah Arendt escreveu o seu livro mais importante: “A banalidade do mal”. Para a filósofa judia, a verdadeira tragédia é que o mal se origina no não pensar. O carrasco nazista Adolf Eichmann exterminou multidões nos campos de concentração não porque fosse um monstro sádico. Era um homem normal e bom pai de família. Mas, tinha renunciado a pensar e apenas cumpria ordens dos superiores. Do mesmo modo, até hoje, a publicidade enganosa, o doutrinamento ideológico e o impacto sensacionalista nascem quando a pessoa renuncia a pensar criticamente e simplesmente se deixa levar por uma onda que acaba conduzindo a alguma forma de totalitarismo.
Às vezes, para instituições como o Exército, a Escola e mesmo a Igreja, é mais fácil ter pessoas que seguem normas e obedecem mecanicamente do que aceitar pessoas que pensam. O militar que, para cumprir o seu dever, usa violência ou agride pessoas, o funcionário que não é capaz de ir além de sua estrita obrigação e o religioso que repete fórmulas de crenças acabam colaborando para a cultura da indiferença geral que domina a sociedade. O papa Francisco tem denunciado que essa indiferença está na base do sofrimento de tantas pessoas.
A revista Le Monde des Religions, em seu número atual (janeiro-fevereiro 2016) tem uma página com um mapa de todas as guerras e conflitos provocados pela religião. Pude contar 17 regiões do mundo nas quais cristãos extremistas combatem outras religiões, hindus lutam contra muçulmanos, judeus perseguem muçulmanos e assim por diante. No Brasil, que não consta desse mapa de guerras declaradas, a cada dia acontecem ataques e atos de discriminação contra cultos de matriz afrodescendente. Um amigo italiano repete um filósofo ao dizer: “A diferença não é entre quem é religioso e quem não é. A diferença está entre quem pensa e quem não pensa”.
No caminho das religiões, todas contaram com figuras proféticas que procuraram ser fieis à sua tradição, mas ao mesmo tempo apontaram para a responsabilidade do pensar de forma pessoal e amoroso. Nos evangelhos, Jesus diz: “Eu não vim destruir a lei ou os profetas. Ao contrário, vim para levá-los à sua plenitude. Nem um j desaparecerá da lei até que tudo seja realizado” (Mt 5, 17- 18). No entanto, afirmou também: “A lei e o sábado foram feitos para o ser humano e não o ser humano para a lei e o sábado” (Mc 2, 27).
Como saber que cada um/uma de nós mesmos assumimos nossa missão humana de pensar e não aceitamos ser simplesmente repetidores de fórmulas feitas e macaquinhos de gestos ensaiados? É claro que, de alguma maneira, todo ser humano pensa. Processa o que acontece em redor de si e o compreende, mas isso pode ser feito de modo superficial e até irresponsável. Todos nós vivemos sob a cultura da notícia imediatizada e produzida em pílulas. Os instrumentos da internet e recursos virtuais de comunicação são valiosos e úteis, mas algumas vezes, criam uma onda de sensações que substituem o verdadeiro pensar crítico e autônomo. Sem dúvida, não é fácil nem cômodo o compromisso de pensar quando se trata de procurar compreender profundamente o que acontece e tomar uma posição verdadeiramente crítica e responsável. Na história da Filosofia, alguns reduziram o pensar a uma operação racional que ocupa apenas parte do intelecto humano. Para alguns filósofos modernos, como Heidegger, pensar é caminhar. Só pode dizer que realmente pensa quem aceita percorrer uma estrada pessoal de busca e com o espírito aberto. E não é fácil rever nossas certezas adquiridas e colocar em questão nossos dogmas culturais, religiosos ou políticos.
Sobre a tragédia do não pensar, Hannah Arendt escreveu o seu livro mais importante: “A banalidade do mal”. Para a filósofa judia, a verdadeira tragédia é que o mal se origina no não pensar. O carrasco nazista Adolf Eichmann exterminou multidões nos campos de concentração não porque fosse um monstro sádico. Era um homem normal e bom pai de família. Mas, tinha renunciado a pensar e apenas cumpria ordens dos superiores. Do mesmo modo, até hoje, a publicidade enganosa, o doutrinamento ideológico e o impacto sensacionalista nascem quando a pessoa renuncia a pensar criticamente e simplesmente se deixa levar por uma onda que acaba conduzindo a alguma forma de totalitarismo.
Às vezes, para instituições como o Exército, a Escola e mesmo a Igreja, é mais fácil ter pessoas que seguem normas e obedecem mecanicamente do que aceitar pessoas que pensam. O militar que, para cumprir o seu dever, usa violência ou agride pessoas, o funcionário que não é capaz de ir além de sua estrita obrigação e o religioso que repete fórmulas de crenças acabam colaborando para a cultura da indiferença geral que domina a sociedade. O papa Francisco tem denunciado que essa indiferença está na base do sofrimento de tantas pessoas.
A revista Le Monde des Religions, em seu número atual (janeiro-fevereiro 2016) tem uma página com um mapa de todas as guerras e conflitos provocados pela religião. Pude contar 17 regiões do mundo nas quais cristãos extremistas combatem outras religiões, hindus lutam contra muçulmanos, judeus perseguem muçulmanos e assim por diante. No Brasil, que não consta desse mapa de guerras declaradas, a cada dia acontecem ataques e atos de discriminação contra cultos de matriz afrodescendente. Um amigo italiano repete um filósofo ao dizer: “A diferença não é entre quem é religioso e quem não é. A diferença está entre quem pensa e quem não pensa”.
No caminho das religiões, todas contaram com figuras proféticas que procuraram ser fieis à sua tradição, mas ao mesmo tempo apontaram para a responsabilidade do pensar de forma pessoal e amoroso. Nos evangelhos, Jesus diz: “Eu não vim destruir a lei ou os profetas. Ao contrário, vim para levá-los à sua plenitude. Nem um j desaparecerá da lei até que tudo seja realizado” (Mt 5, 17- 18). No entanto, afirmou também: “A lei e o sábado foram feitos para o ser humano e não o ser humano para a lei e o sábado” (Mc 2, 27).
Marcelo BarrosMarcelo Barros é monge beneditino e teólogo especializado em Bíblia. Atualmente, é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT). Assessora as comunidades eclesiais de base e movimentos sociais como o Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST). Tem 45 livros publicados dos quais está no prelo: "O Evangelho e a Instituição", Ed. Paulus, 2014. Colabora com várias revistas teológicas do Brasil, como REB, Diálogo, Convergência e outras. Colabora com revistas internacionais de teologia, como Concilium e Voices e com revistas italianas como En diálogo e Missione Oggi. Escreve mensalmente para um jornal de Madrid (Alandar) e semanalmente para jornais brasileiros (O Popular de Goiânia e Jornal do Commercio de Recife, além de um jornal de Caracas (Correo del Orinoco) e de San Juan de Puerto Rico (Claridad).
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