A guerra mundial de Dilma em três meses decisivos
Na medida em que Barbosa consiga definir com clareza sua estratégia, haverá uma reação cada vez maior da opinião pública contra os oportunistas.
A primeira rodada do golpe paraguaio foi a tentativa de glosar a campanha de Dilma Rousseff no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), uma manobra envolvendo o presidente Dias Toffoli e seu líder Gilmar Mendes. Falhou no último instante graças ao recuo do Ministro Luiz Fux.
A segunda foi a de abrir o ritual do impeachment com base nas pedaladas, obra do presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Com os índices de popularidade de Dilma em patamares mínimos, pensava-se que a mera abertura do rito do impeachment seria suficiente para derrubar a presidente.
A manobra expôs de modo imprudente o perfil da frente de conspiradores: Aécio Neves, José Serra, FHC, Gilmar Mendes, Paulinho da Força, Michel Temer, Eduardo Cunha, Paulo Skaf, Ronaldo Caiado, Agripino Maia. Pela primeira vez se via, de forma panorâmica, o que seria a partilha do bolo e quem seriam os novos vitoriosos.
Pelo efeito comparação, estão criando um movimento de reversão da imagem negativa de Dilma.
O segundo movimento termina com alterações em relação ao cenário de 2015:
1. O STF projeta-se, de fato, como poder mediador, pouco propenso a endossar aventuras caudilhescas.
2. A reação geral comprovou que não existirá impeachment indolor, como foi no caso de Fernando Collor. A gana com que os conspiradores se atiraram ao pote despertou um movimento de proteção à presidente. Ficou claro quem representava os vícios do modelo político vigente.
3. A crise interna do PMDB demonstrou também que a frente PMDB-PSDB não seria nenhuma garantia de aglutinação e estabilização política.
A segunda rodada termina com a alternativa Michel Temer queimada e com o impeachment via Câmara inviabilizado. Todo o trabalho de construir a imagem de Temer mediador virou pó com alguns dias de exposição ao sol.
A próxima rodada será novamente no TSE. Com as últimas revelações da parceria Camargo Correia-Cunha-Temer, o vice-presidente será jogado ao mar pela mídia. Restará ao PSDB – liderado por Gilmar Mendes – o protagonismo solitário da próxima tentativa de golpe. O ápice do jogo acontecerá ainda no primeiro trimestre.
O cenário do golpe paraguaio
A substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa permitirá um recomeço na política econômica. Ambos têm como meta a recomposição fiscal. Mas há diferenças radicais nos estilos e propósitos.
Levy tem a mentalidade do Tesouro, de analisar os gastos apenas do lado quantitativo, sem se preocupar com os efeitos sobre a economia. Para ele, bastaria um superávit consistente para imediatamente os investimentos voltarem. Nada de pensar em criar demanda.
Barbosa tem uma visão sistêmica. Sabe que o ajuste não pode ser o único fator motivador dos investimentos. Há desafios na manutenção da demanda, no destravamento de setores baleados.
Essa diferença de visão manifestava-se nas conversas com parlamentares. Levy limitava-se a repetir a retórica do fim do mundo para sensibilizar os parlamentares. Barbosa mostra um todo lógico e acena com a volta do desenvolvimento calçada em uma série mais ampla de fatores: das concessões à recuperação da capacidade de investimento do Estado.
Finalmente, há uma diferença crucial na maneira de analisar o orçamento. Levy preferiria que as vinculações orçamentárias desaparecessem e que oi superávit surgisse da redução dos gastos com educação e saúde. Já Barbosa considera os gastos sociais como indissociáveis com o atual nível de avanço político do país. Aliás, esta é a posição de Dilma, que não permitiu que avançassem as ações visando a desvinculação.
O trimestre decisivo
Mesmo assim, Barbosa enfrentará desafios de monta pela frente.
No primeiro trimestre a crise econômica estará no auge. Haverá ainda pressões inflacionárias e um aumento substancial das taxas de desemprego. A sensação de mal-estar chegará ao auge.
Barbosa terá que atravessar esse período tendo que administrar duas expectativas até certo ponto conflitantes.
Do lado direito, o mercado, que terá que ser convencido de sua responsabilidade fiscal. Do lado esquerdo, os desenvolvimentistas e movimentos sociais terão que conter a impaciência.
O primeiro bicho a ser domado será o mercado.
A ideia de que o mercado é inimigo de Barbosa só se sustenta nas manchetes de jornais. O mercado quer regras claras e previsibilidade. E previsibilidade se consegue com um programa factível que exponha claramente os custos da travessia e o cenário a ser perseguido.
A grande bronca do mercado com o primeiro governo Dilma não foi a queda da taxa de juros. Naquele primeiro momento o mercado acreditou e iniciou uma realocação de recursos para o longo prazo, em infraestrutura. Quando Dilma inverteu a mão e passou a aumentar os juros, quebrou as pernas dos que apostaram no novo ciclo.
No intervalo entre um golpe paraguaio e outro, o desafio do governo será:
1. Acertar o ajuste fiscal com a aprovação da CPMF e demais micro-reformas fiscais anunciadas.
2. Destravar o setor de petróleo e gás em cima da nova Lei de Leniência.
3. Acelerar as concessões. Nesse campo, a indicação de Valdir Simão para o Planejamento é boa escolha. Trata-se do melhor gestor do governo.
4. Convencer o Banco Central a amenizar essa política monetária suicida.
Serão três meses de chumbo grosso. Sabendo que, completada a travessia, a economia terá condições de reagir no segundo semestre, o PSDB junto com parte da mídia apostará todas as fichas na estratégia da terra arrasada.
Mas, ao contrário de 2015, desta vez não haverá a mesma complacência com que suas diatribes foram tratadas pela opinião pública.
Na medida em que Barbosa consiga definir com clareza sua estratégia, e coloca-la em prática, haverá uma reação cada vez maior da opinião pública contra o oportunismo dos incendiários.
A segunda foi a de abrir o ritual do impeachment com base nas pedaladas, obra do presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Com os índices de popularidade de Dilma em patamares mínimos, pensava-se que a mera abertura do rito do impeachment seria suficiente para derrubar a presidente.
A manobra expôs de modo imprudente o perfil da frente de conspiradores: Aécio Neves, José Serra, FHC, Gilmar Mendes, Paulinho da Força, Michel Temer, Eduardo Cunha, Paulo Skaf, Ronaldo Caiado, Agripino Maia. Pela primeira vez se via, de forma panorâmica, o que seria a partilha do bolo e quem seriam os novos vitoriosos.
Pelo efeito comparação, estão criando um movimento de reversão da imagem negativa de Dilma.
O segundo movimento termina com alterações em relação ao cenário de 2015:
1. O STF projeta-se, de fato, como poder mediador, pouco propenso a endossar aventuras caudilhescas.
2. A reação geral comprovou que não existirá impeachment indolor, como foi no caso de Fernando Collor. A gana com que os conspiradores se atiraram ao pote despertou um movimento de proteção à presidente. Ficou claro quem representava os vícios do modelo político vigente.
3. A crise interna do PMDB demonstrou também que a frente PMDB-PSDB não seria nenhuma garantia de aglutinação e estabilização política.
A segunda rodada termina com a alternativa Michel Temer queimada e com o impeachment via Câmara inviabilizado. Todo o trabalho de construir a imagem de Temer mediador virou pó com alguns dias de exposição ao sol.
A próxima rodada será novamente no TSE. Com as últimas revelações da parceria Camargo Correia-Cunha-Temer, o vice-presidente será jogado ao mar pela mídia. Restará ao PSDB – liderado por Gilmar Mendes – o protagonismo solitário da próxima tentativa de golpe. O ápice do jogo acontecerá ainda no primeiro trimestre.
O cenário do golpe paraguaio
A substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa permitirá um recomeço na política econômica. Ambos têm como meta a recomposição fiscal. Mas há diferenças radicais nos estilos e propósitos.
Levy tem a mentalidade do Tesouro, de analisar os gastos apenas do lado quantitativo, sem se preocupar com os efeitos sobre a economia. Para ele, bastaria um superávit consistente para imediatamente os investimentos voltarem. Nada de pensar em criar demanda.
Barbosa tem uma visão sistêmica. Sabe que o ajuste não pode ser o único fator motivador dos investimentos. Há desafios na manutenção da demanda, no destravamento de setores baleados.
Essa diferença de visão manifestava-se nas conversas com parlamentares. Levy limitava-se a repetir a retórica do fim do mundo para sensibilizar os parlamentares. Barbosa mostra um todo lógico e acena com a volta do desenvolvimento calçada em uma série mais ampla de fatores: das concessões à recuperação da capacidade de investimento do Estado.
Finalmente, há uma diferença crucial na maneira de analisar o orçamento. Levy preferiria que as vinculações orçamentárias desaparecessem e que oi superávit surgisse da redução dos gastos com educação e saúde. Já Barbosa considera os gastos sociais como indissociáveis com o atual nível de avanço político do país. Aliás, esta é a posição de Dilma, que não permitiu que avançassem as ações visando a desvinculação.
O trimestre decisivo
Mesmo assim, Barbosa enfrentará desafios de monta pela frente.
No primeiro trimestre a crise econômica estará no auge. Haverá ainda pressões inflacionárias e um aumento substancial das taxas de desemprego. A sensação de mal-estar chegará ao auge.
Barbosa terá que atravessar esse período tendo que administrar duas expectativas até certo ponto conflitantes.
Do lado direito, o mercado, que terá que ser convencido de sua responsabilidade fiscal. Do lado esquerdo, os desenvolvimentistas e movimentos sociais terão que conter a impaciência.
O primeiro bicho a ser domado será o mercado.
A ideia de que o mercado é inimigo de Barbosa só se sustenta nas manchetes de jornais. O mercado quer regras claras e previsibilidade. E previsibilidade se consegue com um programa factível que exponha claramente os custos da travessia e o cenário a ser perseguido.
A grande bronca do mercado com o primeiro governo Dilma não foi a queda da taxa de juros. Naquele primeiro momento o mercado acreditou e iniciou uma realocação de recursos para o longo prazo, em infraestrutura. Quando Dilma inverteu a mão e passou a aumentar os juros, quebrou as pernas dos que apostaram no novo ciclo.
No intervalo entre um golpe paraguaio e outro, o desafio do governo será:
1. Acertar o ajuste fiscal com a aprovação da CPMF e demais micro-reformas fiscais anunciadas.
2. Destravar o setor de petróleo e gás em cima da nova Lei de Leniência.
3. Acelerar as concessões. Nesse campo, a indicação de Valdir Simão para o Planejamento é boa escolha. Trata-se do melhor gestor do governo.
4. Convencer o Banco Central a amenizar essa política monetária suicida.
Serão três meses de chumbo grosso. Sabendo que, completada a travessia, a economia terá condições de reagir no segundo semestre, o PSDB junto com parte da mídia apostará todas as fichas na estratégia da terra arrasada.
Mas, ao contrário de 2015, desta vez não haverá a mesma complacência com que suas diatribes foram tratadas pela opinião pública.
Na medida em que Barbosa consiga definir com clareza sua estratégia, e coloca-la em prática, haverá uma reação cada vez maior da opinião pública contra o oportunismo dos incendiários.
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